"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 27 de abril de 2007

MUSAS INDIE #1

Com uma ideia descaradamente pillhada ao Dedos Bionicos, inicio hoje uma nova rubrica mais ou menos regular neste blogue.
Pretendo com esta nova rubrica prestar a devida homenagem a algumas meninas que, quer pelos seus encantos, quer pelo seu carisma, constituem autênticas musas de qualquer indie kid que se preze.
E a primeira é uma musa por direito próprio:

TANYA DONELLY

quinta-feira, 26 de abril de 2007

TRIBUTOS #1

ADRIAN BORLAND
1957-1999

Não se pode dizer que os The Sound fossem uma banda particularmente original. No entanto, a sua música, um misto da claustrofobia dos Joy Division e a grandiosidade dos Echo & The Bunnymen, granjeou um culto que, embora restrito, se manteve até aos dias de hoje.
Dois anos após a sua formação, em 1980, a banda lançava Jeopardy, o seu primeiro álbum que, embora ainda exibisse alguma inexperiência, deixava já evidente a atracção do vocalista Adrian Borland pelo lado mais negro da existência.
O ano seguinte conheceria a edição de From The Lions Mouth, obra-prima da banda, e claro sinal de maturidade. Obra simultaneamente densa e atmosférica, From The Lions... é um marco do seu tempo. Apesar da aclamação crítica, não teve resultados comerciais visíveis, o que levou a editora Korova a pressionar Borland no sentido de reduzir o teor descarnado das suas letras, de forma a tornar a música da banda mais vendável.
A resposta a esta pressão seria All Fall Down, o disco mais impenetrável e negro de toda a sua discografia. Obviamente que seria o último disco de The Sound com o selo Korova.
Até à dissolução em 1987, precipitada pelo estado de saúde mental de Borland, haveria ainda o EP Shock Of Daylight (1984) e os álbuns Heads And Hearts (1985) e Thunder Up (1987), recebidos com relativo sucesso nos países do Benelux, onde a banda sempre fora mais do que meros outsiders.
Perante a indiferença geral, Alexandria (1989) marcaria o pontapé de saída da carreira de Adrian Borland a solo, a qual renderia ainda mais quatro registos de longa duração. Mergulhado na depressão, que a falta de reconhecimento ao longo dos anos adensara, em 1999 Adrian Borland poria termo à sua vida atirando-se para a frente de um comboio em andamento. Aconteceu na sua Londres natal, faz hoje oito anos.

terça-feira, 24 de abril de 2007

SINGLES BAR #7

THE SUGARCUBES
Birthday (One Little Indian, 1988)

Corria o ano de 1988 quando o mundo tomou o primeiro contacto com o estranho mundo de Björk, então integrada no colectivo de freaks que respondia pelo nome de The Sugarcubes.
Como cartão de visita, a banda islandesa apresentava uma autêntica lufada de ar fresco no meio indie pop de então. Baixo pulsante, guitarras cristalinas em desalinho, e uma voz do outro mundo, conferiam a Birthday um exotismo inusitado. Não menos exótica era a letra cantada por Björk, onde se falava de uma espécie de Alice de cinco anos coleccionadora de larvas, asas de insectos e aranhas e que, nas festas de aniversário, fumava charutos na companhia de um pequeno amigo. A este ambiente bizzarro não será alheia a imunidade aos esteriótipos da pop anglo-saxónica que o isolamento da vida na Islândia proporcionava.
E perante tal frescura pop a aclamação crítica não se fez esperar: Birthday era, em simultâneo, single da semana no NME e no Melody Maker, as duas principais publicações da imprensa musical britânica de então.
Ainda hoje, e apesar da excelência da carreira de Björk pós-Sugarcubes (sobretudo em Debut), Birthday será o seu momento mais marcante. Por tudo isso, nada melhor para assinalar a véspera da Revolução do que uma canção verdadeiramente revolucionária.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

MAGNET'S LOST CLASSICS

Como forma de assinalar a sua edição n.º 75, a excelente publicação norte-americana Magnet traz um interessante artigo onde enumera 75 discos, ordenados por ordem cronológica, que considera clássicos perdidos dos 14 anos de edições que a revista já leva.
Para além do opus de 1993 So Tonight That I Might See, dos Mazzy Star do sorumbático David Roback e da estonteante e assombrosa Hope Sandoval, há por lá muitos outros a merecer alguma atenção. Aqui fica uma pequena amostra:

  • THE ARCHERS OF LOAF Icky Mettle
  • SWELL 41
  • VELOCITY GIRL Copacetic
  • SWERVEDRIVER Mezcal Head
  • CARDINAL Cardinal
  • BOWERY ELECTRIC Beat
  • BRAINIAC Hissing Prigs In Static Couture
  • COME Near Life Experience
  • CHAVEZ Ride The Fader
  • THE TRASH CAN SINATRAS A Happy Pocket
  • THE HALO BENDERS The Rebels Not In
  • CORNELIUS Fantasma
  • GRANT HART Good News For Modern Man
  • NEUTRAL MILK HOTEL On Avery Island
  • BEACHWOOD SPARKS Once We Were Trees
  • EX MODELS Other Mathematics
  • THE NOTWIST Neon Golden
  • THE ORGAN Grab That Gun
  • ANTIPOP CONSORTIUM Arrythmia

domingo, 22 de abril de 2007

EM ESCUTA #12

LOW
Drums And Guns (Sub Pop, 2007)

Como prometido por Alan Sparhawk há uns meses atrás, o oitavo disco dos Low é composto por treze canções sobre homicídios. Com uma temática destas, e tendo em conta as mudanças estéticas ameaçadas pela banda em Trust e consumadas no fabuloso The Great Destroyer, em que o "som Low" se abriu à força das guitarras barulhentas, era de esperar o disco mais abrasivo de toda a sua carreira.
Perante estas expectativas, a desilusão que Drums And Guns constitui é grande. Os Low não só não aprofundaram as experiências mais recentes, como não retrocederam à tensão arrastada do passado mais distante, preferindo dar um passo ao lado num disco envolto num torpor que muitas vezes roça o aborrecimento. Suspeitas de que Zak Sally, o baixista de longa data que abandonou o barco após The Great..., teria um papel mais preponderante do que se suporia são assim perfeitamente fundamentadas.
Feito de órgãos, pianos, percussão minimalista e omnipresentes contaminações de electrónica abstracta, Drums And Guns consegue ser, apesar do teor negro das letras, o disco mais luminoso dos Low, facto a que não será alheio o polimento inesperado na voz de Sparhawk e a curta duração da maioria das faixas, insuficiente para ganharem a densidade habitual.
Na segunda metade do disco, as guitarras ainda dão um ar da sua graça em três dos melhores temas: "Hatchet", com a excelente tirada "let's bury the hatchet like The Beatles and The Stones", "Your Poison", que se prolonga por pouco mais de um minuto, e "In Silence", feita em crescendo com fim abrupto. Mas a parte de leão acaba mesmo por pertencer a "Take Your Time", com intro de sinos e piano, com mudanças de velocidade e um vocal de um arrebatamento bigger than life.
Não tivessem os Low um catálogo suficientemente meritório para construir bons espectáculos aos vivo, e as minhas expectativas para 2 de Junho ficariam mais reduzidas.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O CLUBE DOS BÓFIAS JAPONESES

Sob o nome meio apalermado de Tokyo Police Club esconde-se um quarteto de Toronto (Canadá) praticante de um indie pop-rock frenético e desregrado à la Pixies.
A Lesson In Crime, o registo de estreia lançado no final do ano passado na terra natal e que conheceu edição europeia recente através da Memphis Industries, é um disco directo com 0% de matéria gorda: oito faixas que em nenhum dos casos chegam aos três minutos de duração.
Pensem na postura naïf que-se-lixe dos Shout Out Louds, subtraídos do romantismo totó desengonçado, e terão uma ideia do som praticado por estes rapazes.
Um conselho: chamem a polícia!

quinta-feira, 19 de abril de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #9

THE AUTEURS
New Wave (Hut, 1993)

Enquanto militava numa banda indie semi-obscura na segunda metade dos anos oitenta (The Servants), nada fazia prever o génio escondido no rapaz loiríssimo que respondia pelo nome de Luke Haines.
Já com a última década do milénio a decorrer, Haines criaria The Auteurs, nada mais do que um veículo para discorrer de forma verrinosa sobre a sociedade britânica.
A abrir as hostilidades, este New Wave pintava o retrato das estrelas do show bizz com um repúdio, um distanciamento e uma falsa ingenuidade tais que, por vezes, roçavam a arrogância. Antecedendo em doze meses Parklife dos Blur, New Wave acabaria por ser o pontapé de saída da febre britpop, honra que o subservivo Haines sempre rejeitou. Mas, ao invés do folclore garrido da banda de Damon Albarn, os Auteurs optavam pela confecção de uma pop sóbria e elegante, devedora de antepassados do calibre de The Kinks e The Go-Betweens, ambas referências incontornáveis de um cinismo venenoso mascarado de alquimia pop. Como exemplo, oiçam o veludo da voz a esconder as farpas afiadas de temas como "Showgirl", "Bailed Out", "Starstruck" ou "How Could I Be Wrong". E digam lá se neste último não lhes vem à memória o nosso actual PR?
Pararelamente à carreira dos Auteurs, encerrada em 1999 ao fim de quatro álbuns e sem o reconhecimento merecido, Luke Haines encontrou ainda outras duas formas de destilar veneno: Baader Meinhof e Black Box Recorder.
E é na derradeira faixa do derradeiro disco dos Auteurs que se lança a profecia: as gerações futuras saberão reconhecer o génio de Mr. Haines. Esperemos bem que a profecia esteja certa...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

FITAS #2

SUNSHINE (Reino Unido, 2007)
Danny Boyle
(c/ Cillian Murphy, Rose Byrne, Chris Evans, Cliff Curtis)

Desde a sua estreia no fulgurante Shallow Grave que este ilustre cidadão de Manchester tem traçado um percurso errático e eclético. Com um breve período de desnorte assinalado na parelha de filmes que sucederam a consagração através do iconográfico Trainspotting, Boyle haveria de recuperar a boa forma, perante a indiferença de muitos, no delirante 28 Days Latter.
Perante semelhante currículo, já nada surpreende em Danny Boyle, nem mesmo o mergulho no género sci-fi puro-e-duro (com laivos de filme B) que Sunshine constitui.
A partir de um engenhoso e original argumento do romancista Alex Garland (autor de The Beach, já adaptado por Boyle), o realizador britânico constrói um espectáculo visual no qual se conta o trajecto da tripulação de 8 elementos da Icarus II numa viagem rumo ao Sol. Estando a estrela-rainha a morrer, o objectivo destes astronautas é detonar aí uma bomba de poder desconhecido, permitindo a continuidade da vida na Terra.
Assim "no papel" o enredo não parece mais do que uma entre tantas outras histórias esgrouviadas, tão frequentes no cinema de aventura. Mas o que torna Sunshine único é a sua beleza, tanto lírica como visual, proporcionando um filme de uma dimensão humana pouco habitual no género. Sendo sobretudo um ensaio da impotência da ciência perante a "força de Deus", Sunshine retrata ainda de forma crua a conduta do Homem perante a adversidade, a solidão e o medo do desconhecido.
Referências notórias a 2001 de Kubrick e Alien de Ridley Scott, antes de serem plágio, são tributo.
Uma palavra elogiosa ainda para a música, resultante da colaboração de John Murphy com os Underworld, que constitui um bom complemento para a beleza das imagens.

terça-feira, 17 de abril de 2007

EM ESCUTA #11

BEXAR BEXAR
Tropism
(Own, 2007)


Projecto proveniente de Austin, no Texas, Bexar Bexar apresenta-nos neste segundo trabalho dez peças instrumentais de um minimalismo encantatório, com detalhes que só aturadas audições revelam.
Envolto num ténue manto de melancolia, Tropism flui calmamente sem nunca cair no facilitismo do recurso ao crescendo óbvio e dispensável que alguns momentos de maior tensão chegam a prometer, o que só distingue e engrandece esta bela obra recomendada para fruição ao fim da tarde.
Construída apenas de guitarra acústica e subtis drones de electrónica, a música contida em Tropism é música capaz de no seu todo criar ambiências opostas: densa e cristalina, urbana e bucólica. Face a estas premissas, e caindo na comparação fácil, tanto podemos podemos evocar reminiscências do austríaco Fennesz, como das criações do escocês Kieran Hebden sob a "capa" Four Tet. Esticando mais a corda, mas ainda assim sendo injusto para com a singularidade deste disco, lembrar a obra de Ben Chasny enquanto Six Organs of Admittance não é de todo descabido, dando neste caso mais uma prova da importância que a figura tutelar de John Fahey assume em muita da actual música produzida nas franjas do americana.
Como já devem ter percebido, é de música sensorial que aqui se fala.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

25 VEZES STEVE ALBINI

De entre os milhares (!) de discos onde já pôs o dedo, na lista infra enumeram-se 25 motivos pelos quais Steve Albini é um nome incontornável do underground e um dos meus heróis. Há de tudo e para todos os gostos...

  • THE AUTEURS After Murder Park 1996
  • BIG BLACK Songs About Fucking 1987
  • THE BREEDERS Pod 1990
  • CATH CARROLL England Made Me 1991
  • ELECTRELANE Axes 2005
  • THE JESUS LIZARD Goat 1991
  • JOANNA NEWSOM Ys 2006
  • THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION Acme 1998
  • LABRADFORD Fixed:Context 2001
  • LOW Secret Name 1999
  • MCLUSKY Mclusky Do Dallas 2002
  • MOGWAI My Father, My King 2001
  • NEUROSIS The Eye Of Every Storm 2004
  • NINA NASTASIA The Blackened Air 2002
  • NIRVANA In Utero 1993
  • PALACE MUSIC Viva Last Blues 1995
  • PIXIES Surfer Rosa 1988
  • PJ HARVEY Rid Of Me 1993
  • PLUSH More You Becomes You 1998
  • THE PONYS Celebration Castle 2005
  • PUSSY GALORE Dial M For Motherfucker 1989
  • RAPEMAN Two Nuns And A Pack Mule 1988
  • SHELLAC At Action Park 1994
  • SLINT Tweez 1987
  • THE WEDDING PRESENT Seamonsters 1991

quarta-feira, 11 de abril de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #8

HÜSKER DÜ
Zen Arcade (SST, 1984)

Desde a sua formação, no final da década de 1970, que a ambição do trio constituído por Bob Mould (voz, guitarra), Grant Hart (voz, bateria) e Greg Norton (baixo) era desmedida para as amarras do hardcore. Confessos admiradores tanto dos Beatles como dos Byrds, os Hüsker Dü, ao contrário da linha dura do hardcore de Washington DC, sempre gostaram de dar uma pincelada pop às suas composições enraizadas no punk norte-americano. Mas o verdadeiro ponto de viragem seria apenas dado em Zen Arcade, o seu terceiro LP.
Um verdadeiro choque para os seguidores mais fundamentalistas, Zen Arcade era, simultaneamente, um disco duplo e conceptual. Acusações de vendidos não faltaram ao trio por estes dias e, para cúmulo, em jeito de provocação Bob Mould costumava empunhar uma Flying V, imagem pouco consentânea com o meio. Mas com a alienação dos fãs da primeira hora viria também a conquista do lugar na história, confirmada pela devoção confessa de nomes posteriores como The Pixies e Nirvana.
Com Mould e Hart dividindo quase equitativamente os créditos das 23 faixas, cantando cada um as suas composições (o guitarrista com a sua voz de arame farpado era responsável pelos momentos de maior rugosidade, cabendo ao baterista os momentos mais melódicos), Zen Arcade faz o relato na primeira pessoa de um adolescente insatisfeito que abandona o lar para procurar a felicidade no mundo exterior. Mas cedo percebe que esse mundo é ainda pior. Pelo caminho acontece o contacto com a religião ("Hare Krsna") e com as drogas (o genial "Pink Turns To Blue"). No final, através da longa jam intrumental de "Reocurring Dreams" fica a sugestão de que tudo poderá não ter passado de um sonho...
Musicalmente a paleta sonora não poderia ser mais rica: temas punk acelerados ("Something I Learned Today"), arremedos folk psicadélicos ("Never Talking To You Again"), indie pop melodioso ("Pink Turns..."), interlúdios noise ("Dreams Reocurring") e improviso vanguardista ("Reocurring Dreams").
Dois anos mais tarde, já com os dois compositores em rota de colisão e mergulhados no calvário do álcool e das drogas, os Hüsker Dü haveriam que concretizar a metamorfose completa em mais uma obra-prima: Candy Apple Grey.

terça-feira, 10 de abril de 2007

FENOMENAL

MENOMENA
Friend And Foe (Barsuk, 2007)

Desde o já longínquo ano da graça de 1998, data do renascimento dos Mercury Rev através do sublime Deserter's Songs, que a produção musical ancorada na vasta tradição do continente norte-americano não pára de surpreender.
A mais recente "descoberta" são estes Menomena, trio de Portland (Oregon) que ao seu terceiro lançamento nos presenteia com uma obra densa e complexa feita de melodias circulares, daquelas que primeiro se estranham e depois se entranham.
De uma forma simplista, poderemos situar a música cerebral contida em Friend And Foe na confluência dos Flaming Lips com os TV on the Radio, devidamente contaminada por dinâmicas free jazz típicas do post-rock de Chicago. Resultado: um dos melhores discos de 2007, até agora!
E como os olhos são tão importantes como os ouvidos, o notável art work de Friend And Foe, cortesia do artista gráfico Craig Thompson, não fica nada atrás da música em termos de qualidade.
Numa palavra: IMPERDÍVEL!

segunda-feira, 9 de abril de 2007

EM ESCUTA #10

THE RAKES
Ten New Messages
(V2, 2007)

Já alguém disse que os Rakes eram uma versão indie do projecto The Streets de Mike Skinner, muito por via da forma corrosiva e amarga com que relatam pequenos filmes do quotidiano londrino. Não sendo totalmente descabida, a afirmação parece-me algo redutora, pelo que prefiro olhar para este quarteto como pontas de lança de um grupo cada vez mais alargado de bandas que têm nos Buzzcocks as suas figuras tutelares.
Depois do excelente Capture/Release em 2005, os Rakes, ao contrário dos seus pares mais mediáticos, não terão sentido o estigma do difícil segundo álbum de forma tão intensa, o que lhes permitiu experimetar outras sonoridades. E isso nota-se logo desde a primeira audição: perdeu-se a urgência punky da estreia, é certo, mas em contrapartida estas Ten New Messages exibem já uma certa mestria na confecção de canções pop com algo para dizer.
Tratando-se de um disco semi-conceptual, com os atentados terroristas ocorridos Londres em Julho de 2005 a servir de mote à maioria dos temas, Ten New Messages consegue ser imediato e de fácil digestão, apesar da seriedade do tema. Com isto, a ironia de outrora aparece agora mais camuflada, mas nem por isso menos cáustica. Como constatação deste facto temos o soberbo tema de abertura "The World Is A Mess But His Hair Is Perfect", o eficaz primeiro single "We Danced Together", e ainda "When Tom Cruise Cries". Neste último bate-se forte-e-feio na forma hipócrita como a comunicação social aborda este tipo de tragédias. Mas o grande momento é mesmo o belíssimo "Suspicious Eyes", com uma letra genial sobre o racismo paranóico do "dia seguinte" cantada pelo vocalista Alan Donohoe em colaboração com outras vozes de diferentes raças e registos, resultando num melting pot de belo efeito.
Revelando ainda assim alguma indefinição quanto ao futuro, Ten New Messages aponta já algumas pistas e, ao contrário da maioria da "concorrência", impede os Rakes de se esapalharem ao comprido neste segundo fôlego.

domingo, 8 de abril de 2007

DISCOS PE(R)DIDOS #7

SWELL MAPS
A Trip To Marineville (Rough Trade, 1979)

Formados em inícios da década de 1970 pelos mologrados irmãos Nicholas e Kevin Godfrey (mais conhecidos por Nikki Sudden e Epic Soundtracks, respectivamente), os Swell Maps apenas se tornaram uma banda no verdadeiro sentido da palavra após a explosão do punk britânico de 1976.
Influências tão díspares como glam e kraut rock fizeram dos Swell Maps, não só uma das mais originais bandas do período post-punk, como também o expoente máximo da filosofia do it yourself lançada nessa era.
Ouvir ...Marineville pela primeira vez pode provocar alguma confusão no ouvinte, tais as diferenças estéticas entre as diversas faixas: temas punk de 2 minutos, interlúdios de alguns segundos com ruídos acidentais, longos e complexos temas de puro experimentalismo sónico. Se é verdade que todo este ecletismo pode transmitir uma ligeira sensação de incoerência, também é verdade que torna ...Marineville um disco desafiador, com novas revelações a cada audição.
Apesar de serem uma influência de vulto nas bandas britânicas da geração C86, tanto em termos estritamente musicais, como em termos de atitude (muita ingenuidade, enorme paixão, amadorismo militante), os maiores ecos da escassa obra dos Swell Maps fazem-se sentir do outro lado do Atlântico, alcançado um largo espectro que vai do lo fi ao experimentalismo noise, passando por duas das mais respeitáveis "instituições" da música americana dos últimos 20 anos: Pavement e Sonic Youth. A respeito destes dois nomes, oiçam "Harmony In Your Bathroom", "Midget Submarines", ou "Gunboats" e irão facilmente perceber a importância deste bando de derrotados da vida...

sexta-feira, 6 de abril de 2007

BACK FROM THE DEAD - Pt. 523

Carter The Unstoppable Sex Machine, duo constituído por Jim Bob e Fruitbat que teve o seu tempo de glória em inícios da década de 1990, é a mais recente banda defunta a anunciar o regresso à vida.
Um dos vértices do triângulo que incluia ainda os EMF e os Jesus Jones, praticantes de uma sonoridade direccionada tanto às pistas de dança como aos estádios de futebol que mesclava guitarras indie e samples, os Carter USM caracterizavam-se pela sua postura subversiva e de confronto, sempre em prol das classes mais desfavorecidas. Essa atitude está bem patente em "Sheriff Fatman", "Anytime, Anyplace, Anywhere" ou "The Only Living Boy In New Cross", os mais significativos testumunhos em formato canção que deixaram para a posteridade.
Por enquanto, o regresso dos Carter USM consiste num único concerto marcado para 2 de Novembro na Brixton Academy de Londres, mas vamos aguardar pelos próximos desenvolvimentos...

quinta-feira, 5 de abril de 2007

13 ANOS DEPOIS


"I HATE MYSELF AND I WANT TO DIE"
(Foto: Anton Corbijn)

terça-feira, 3 de abril de 2007

EM ESCUTA #9

MODEST MOUSE
We Were Dead Before The Ship Even Sank (Epic, 2007)

Este de que agora vos falo irá ser certamente um dos discos mais falados do ano. Quinto álbum de originais dos Modest Mouse (MM) e sucessor de Good News For People Who Love Bad News, disco responsável pelo crescimento significativo do número de seguidores da banda, We Were Dead... não revela grandes evoluções em relação ao seu antecessor. Diria mesmo que o pendor expremintalista do anterior foi suprimido, dando lugar a uma maior homogeneidade que, se por um lado transmite maior acessibilidade e coesão, por outro pende ligeiramente para a repetição.
Não se pense com isto que estamos perante um mau disco. Não, longe disso! Eu até duvido que os MM saibam fazer maus discos...
Descrito por Isaac Brock, líder dos MM, como "a nautical balalaika carnival romp", We Were Dead... é desde o primeiro segundo um carrossel esquizofrénico onde e vocalista canta, grita (muito), uiva, rosna, sussura... muitas vezes apenas no espaço de um verso! Só não faz falsete: para isso os MM contam com a colaboração de James Mercer (The Shins) em duas faixas, uma das quais a magnífica "We've Got Everything", a minha aposta para segundo single depois do óptimo "Dashboard". E os tais motivos náuticos estão lá bem evidentes, tanto na temática das letras como em certos ritmos típicos das "canções de marinheiros".
Resta acrescentar que a entrada de Johnny Marr não pôs os MM a soar a The Smiths (nem tal lhe seria pedido), mas mesmo assim, tanto no já citado "You've Got Everything" como em "Invisible", estão bem evidentes as qualidades que o tornaram um guitarrista de excepção. E isso é uma mais-valia de We Were Dead...!

FINALMENTE AS LOIRAS

A pouco e pouco, o "Portugal musical" acorda para os Long Blondes. Podia ser pior: no caso de The Gossip a coisa levou mais de um ano (ou vários se tomarmos a estreia por referência).
E já agora, seria pedir muito não referirem os Blondie cada vez que aparece uma vocalista giraça e com carisma? Obrigado!

segunda-feira, 2 de abril de 2007

iLiKETRAiNS COM NOVO SINGLE

Os iLiKETRAiNS são uma banda de Leeds, cidade do Norte de Inglaterra com grandes tradições no espectro indie, que navega serenamente num misto de shoegazing com post-rock adornado com uma voz com tanto de gélido como de melodramático, por vezes reminiscente de um Michael Gira.
Progress/Reform, o seu primeiro álbum editado através da Fierce Panda, foi uma das boas surpresas do ano passado. Agora, com casa nova (Beggars Banquet), os iLiKETRAiNS lançam "Spencer Perceval", mais um longo e intenso tema épico sem grandes novidades e, à semelhança do magistral "Terra Nova" do ano passado, inspirado em mais um episódio trágico da história do Império Britânico.
iLiKETRAiNS no MySpace

ARCTIC MONKEYS POR CÁ

À margem dos festivais de Verão, já com alguns nomes interessantes anunciados, a oferta dos próximos meses em matéria de concertos em solo luso não pára de crescer. Desta vez é notícia o regresso dos Arctic Monkeys (18 de Julho @ Coliseu dos Recreios, Lisboa) após o histórico concerto de Maio do ano passado no Paradise Garage.
Por essa altura, o quarteto de Sheffield virá promover Favourite Worst Nightmare, o seu segundo álbum a editar brevemente.
Como aperitivo, já se encontra disponível "Brianstorm", o single de avanço. Após algumas audições no sítio da banda no MySpace, nota-se uma certa evolução na continuidade com um notório corte na rispidez do som de um passado bem recente. No entanto, a imagem de marca dos Monkeys permanece intocável: letras mordazes de fino recorte (excelente o trocadilho do nome) e a voz de Alex Turner poderosa, como sempre.
Ainda em relação ao engrossar da oferta a que faço referência no primeiro páragrafo deste post, quer-me parecer que, tendo em conta o estado debilitado das carteiras, ainda vamos ter mais cancelamentos como o do concerto dos !!! desta semana... a ver vamos...