"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sábado, 10 de julho de 2010

Discos pe(r)didos #41







BIG DIPPER
Heavens
[Homestead, 1987]





Formados em Boston por dissidentes de várias bandas locais com diferentes graus de relevância (Volcano Suns, The Embarassment, Dumptruck), os Big Dipper dificilmente encaixam no universo do underground norte-americano de oitentas, todo ele um reflexo ou uma reacção ao surto hardcore de inícios daquela década. Em terras do Tio Sam talvez apenas tenham algumas afinidades com os R.E.M. dos primórdios, não tanto pelo apelo rootsy, mas mais pelo empenho na construção de canções estruturadas. Profusamente melódicos, no seu auge, os Big Dipper encontravam correspondência nos jangle-poppers que à data ditavam regras no cenário indie britânico.
Emancipados pelo obrigatório EP, os Big Dipper entraram nos emblemáticos estúdios Fort Apache para a gravação do primeiro longa-duração acompanhados de uma dupla de produtores que em breve haveria de se tornar selo de confiança: Paul Q. Kolderie e Sean Slade. Escolha acertada, pois a dupla de técnicos conseguiu extrair da banda toda a sua urgência angustiada, bem como a tendência para as melodias irremediavelmente catchy. Heavens abre com "She's Fetching", provavelmente o tema mais rodado de todo o catálogo dos Big Dipper e que assenta num riff de guitarra que, sem ser particularmente original, revela um estranho poder de adicção. Este tema é daqueles que justifica o emprego do adjectivo "intemporal". Como o próprio título sugere, "Man O' War" pauta-se por um teor belicista, sublinhado pelo ritmo marcial da bateria. Exala um leve travo marítimo que revela parentescos da banda com os australianos The Go-Betweens. "Easter Eve", "Humason", "Younger Bums", "Mr. Woods", ou o derradeiro e semi-intrumental "A Guitar Named Desire", seguem uma via de maior crueza, própria da cartilha indie da época, tanto pela aspereza das guitarras de pontas afiadas, como pelo tom menos cuidado da voz. No extremo oposto estão "Lunar Module", "All Going Out Together", ou o soberbo "Wet Weekend", exemplos de uma sensibilidade tensa e vagamente nerdish que é um dos maiores trunfos da banda.
Tal como outras luminárias antes deles (The Replacements, Hüsker Dü), os Big Dipper foram o alvo do aliciamento das multinacionais, numa era pré-grunge já desconfiadas do potencial que emanava dos pequenas salas de concertos da América profunda. Após a cedência, tal como nos casos citados, as pressões mercantilistas e a incompatibilidade entre ambas as partes haveriam de gerar conflitos no seio da banda que conduziram a um fim prematuro.

"She's Fetching"


"Younger Bums"


"Wet Weekend"

3 comentários:

Gravilha disse...

ena! julgava eu ser a unica pessoa a gostar dos big dipper! :) mas gosto mais do craps, o album que se seguiu ao heavens, onde estão os "classicos" Meet the Witch, Ron Klaus, BONNIE (uma das minhas canções preferidas de sempre), a song to be beautiful, etc.
já agora, os tempos dos BD na Homestead estão documentados em Supercluster: The Big Dipper Anthology.
abraço!

M.A. disse...

Sim, sim. Como não era fácil arranjar os discos deles, o "Supercluster" foi a que encontrei para ter a obra dos Big Dipper pelas vias legais ;)
Abraço!

Shumway disse...

Excelente recordação.
Este e o CRAPS são excelentes.

Abraço