"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 13 de abril de 2010

Discos pe(r)didos #38





GUIDED BY VOICES
Bee Thousand
[Scat, 1994]

Quando iniciou a aventura Guided by Voices, em meados da década de 1980, Robert Pollard pretendia apenas passar um bom bocado na companhia de alguns companheiros de copos, igualmente devotos da causa rock'n'roll. Ao sétimo álbum, contudo, o crescente interesse em torno das diversas movimentações no universo underground fez dos GbV referidos com maior insistência por crítica e público. Este súbito reconhecimento levou Pollard, já na casa dos trintas, a abandonar a carreira de professor para assumir em pleno os GbV. Na sua companhia estava aquela que deverá ser lembrada como a formação canónica (das muitas formações) da banda de Dayton, Ohio, a qual incluía o irmão Jim e o guitarrista e co-compositor Tobin Sprout. Este último assume o especial papel de aliado de Pollard nesta missão de reverência apaixonada pelas memórias da British Inavsion, com especial enfoque nos The Who e nos incontornáveis The Beatles. O kraut e as expressões mais artesanais do post-punk actuam, sobretudo, ao nível do modus operandi.
Bee Thousand - o título contém referências simultâneas e toscas ao compositor clássico Ludwig van Beethoven e ao guru Pete Townshend - é um conjunto de canções em miniatura (são vinte em pouco mais de 36 minutos!) registadas em gravador de quatro pistas, sem qualquer tipo de produção externa à banda. Porém, esta opção pela pureza íntegra e granulosa, em detrimento dos artificialismos dos estúdios sofisticados, permite detectar inúmeras gemas por lapidar. Pollard serve-se de um método de escrita muito peculiar, partindo dos títulos dos temas para a posterior criação das letras. Daí resultam um sem número de divagações surrealistas gratuitas, mas também evocações a entidades místicas ("The Goldheart Mountaintop Queen Directory"), referências sci-fi ("Hardcore UFOs"), ou devaneios etílicos ("Queen Of Cans And Jars"), todas temáticas já recorrentes na prolífica criação pollardiana. Dispensam-se maneirismos pomposos ou tecnicistas, mesmo quando, ao de leve, há aproximações ao universo blues ("Hot Freaks"), ou ao chamado arena rock ("Buzzards And Dreadful Crows"). Tobin Sprout, por seu turno, com um contributo menor, é ainda mais contido, recorrendo asssencialmente à via acústica e não disfarçando filiações nos devaneios de Lennon, ou até de Syd Barrett.
No seu amadorismo deliberado, Bee Thousand serve hoje de fonte de pesquisa e inspiração privilegiada para as imensas sementes lo-fi que germinam no underground norte-americano. Para os jovens integrantes desse interminável rol de bandas, resultam proféticas as palavras de Pollard no genial "I Am A Scientist" (atente-se no vídeo, com mimetismos reverentes a Pete Townshend): "I am a pharmacist, prescriptions I will fill you / Potions, pills, and medicines to ease your painful lifes". 


"Tractor Rape Chain"


"I Am A Scientist"


"Hot Freaks"


"The Goldheart Mountaintop Queen Directory"

2 comentários:

Shumway disse...

Fundamental.
O meu disco favorito deles. Juntamente com o "Alien Lanes" e o "Under the Bushes Under the Stars" constituem para mim o seu periodo mais criativo.

Abraço

M.A. disse...

Sou da mesma opinião em relação aos três. Como de resto, julgo ser a maioria dos "pollardianos".

Abraço.