"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 27 de abril de 2010

Em escuta #49









FRIGHTENED RABBIT _ The Winter Of Mixed Drinks [FatCat, 2010]

Logo no tema de abertura teme-se que os escoceses Frightened Rabbit se tenham juntado à pandilha insossa a que pertencem os conterrâneos Snow Patrol. Felizmente, o pior dos medos desvanece-se ligeiramente em seguida, quando somos confrontados com o hiper-dramatismo miserabilista expresso no sotaque carregado de Scott Hutchison. Aumentados de trio a quinteto desde o anterior registo, os FR expandem agora a canções para uma grandiosidade quase épica que, não raras vezes, integra pomposos arranjos de cordas. Para trás ficou aquela naïvité genuína responsável por muito do seu charme. O próximo passo poderá muito bem ser a abertura de uma qualquer tournée dos fastidiosos Coldplay. Ou então dos U2... [6,5]


LIARS _ Sisterworld [Mute, 2010]

Depois do tropel de mudanças estéticas, ao quinto registo, os Liars repetem-se. Ou melhor, reformulam e aprumam as premissas do segundo álbum - o incompreendido They Were Wrong, So We Drowned (2004). Gravado em Los Angeles, Sisterworld recupera a opção dos discos vagamente conceptuais, discorrendo sobre os truques necessários para preservar a sanidade numa grande metrópole. Os temas alternam entre discursos contemplativos e surrealistas e tiradas de insanidade a cargo do berrador de serviço Angus Andrew, estas convenientemente acompanhadas de descargas vitriólicas das guitarras. As letras, quando decifráveis, remetem para imagens tétricas, aterradoras, quando não cómicas. Escusado será dizer que Sisterworld é um trabalho de difícil digestão mas que, depois de devidamente assimilidado, reforça a convicção que, na sua imprevisibilade estonteante, os Liars são uma das mais importantes bandas dos últimos dez anos. [8]


THE BESNARD LAKES _ ...Are The Roaring Night [Jagjaguwar, 2010]

Três anos depois de se fazer notado, o colectivo reunido em volta do casal Jace Lasek e Olga Goreas repete muitos dos truques que fizeram de ...Are The Dark Horse um disco singular. Por conseguinte, o terceiro álbum dos Besnard Lakes é, mais uma vez, feito de atmosferas gélidas, paisagens desoladas, e cavalgadas épicas. No falsetto de Jace e no timbre imaculado de Goreas reside luminosidade suficiente para iluminar as trevas em que os temas parecem mergulhados. Embora deixe escapar um travo de dejá vu, ...Are The Roaring Night é o assumir definitivo das tendências prog do combo canadiano, algo apenas aflorado no predecessor e agora bem evidente nos quatro temas que se complementam em parelhas. A rematar, sustentado em sintetizadores generosos, "The Lonely Moan" pode assinalar a porta de entrada dos Besnard Lakes nos teritórios da "música cósmica". Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos... [7,5]


SERENA-MANEESH _ No. 2: Abyss In B Minor [4AD, 2010]

Pelo título e pelo longo período de gravação (quatro anos) supõe-se que, ao segundo registo, os estratega Emil Nikolaisen se tenha rendido à megalomania latente na estreia homónima dos Serena-Maneesh. Puro engano! Com os créditos vocais quase exclusivamente entregues à esposa Hilma, No. 2 é claro exemplo de contenção. A voz etérea, sobreposta às camadas granulosas de distorção, é até causadora de uma certa leveza. As eventuais simetrias com o clássico Loveless dos My Bloody Valentine esbarram numa evidente constatação: os S-M empenham-se na estruturação de canções pop (sonhadoras, é certo), por contraponto aos extractos de sonhos arquitectados pelos MBV. A subverter a atmosfera idílica reinante, o inaugural "Ayisha Blues" é evocativo das tendências mais abrasivas do drum'n'bass de outras eras, enquanto "Honeyjinx" é lamento fantasmagórico a duas vozes. [8,5]

1 comentário:

Shumway disse...

Ainda só tenho dois - The Bernard Lakes e Serena-Maneesh, mas trocava o “score”.
Já com várias audições ao “ …Are The Roaring Night” norta-se que é um disco mais claro, e não é esmagadoramente original, mas aquela poderosa atmosfera é brilhante.