Fotos: mrpunch; Juan The Fly Factory
San Miguel Primavera Club '09 @ Madrid, 09-13/12/2009
Em eventos deste tipo, em que a oferta é muita, há sempre o risco das sobreposições. Desta vez, e a muito custo, calhou a Kurt Vile e aos Woods serem preteridos. Para consolo, uma boa parte da restante oferta musical, acrescida da sobredose de arte que Madrid tem para oferecer a quem a visita, deu para suprir a falta. Em traços largos, o relato da aventura madrilena:
The Ladybug Transistor Pese embora ter uma carreira com mais de dez anos, e de ter estado ligado ao colectivo Elephant 6, desconhecia em absoluto este combo norte-americano. Do que vi e ouvi, ficou uma sensação de agrado moderado em relação à pop melancólica para dias de chuva com reminiscências de Felt e The Clientele. Fica também na memória o esforço do vocalista em reproduzir aquele sotaque cockney tão apropriado à ocasião.
Little Joy E se, por hipótese, no lugar dos Television, os Beach Boys tivessem constituído a dieta musical da adolescência dos Strokes? O resultado poderiam ser estes Little Joy, praticantes de uma pop soalheira, positiva, pacata, e relativamente agradável. Acresce que o vocalista Rodrigo Amarante tem um timbre rouco em tudo semelhante ao de Julian Casablancas. Quanto a Frabrizio Moretti, assume com discrição o papel de guitarrista, aparentemente a aproveitar da melhor forma o longo interregno da sua banda principal.
Devendra Banhart & The Grogs Em tempos um prodígio freak folk, Devendra mantém-se um freak. Porém, a faceta folk foi substituída pela propensão para o rock setenteiro, citando os Stones no começo, e os menos recomendáveis Deep Purple mais para o final. Nos discursos desconcertantes, consegue, de uma só vez, ser aborrecido, mariquinhas, e imperceptível. Depois do final, a penosa experiência foi compensada pelas criteriosas escolhas do DJ de serviço, com "My Favourite Dress" dos Wedding Present a ser recebida num misto de euforia e estupefacção.
Cymbals Eat Guitars Mais jovens do que os imaginava, estes quatro rapazes foram capazes de criar momentos de forte tensão emocional na exiguidade da sala Nasti, ao ponto de provocar arrepios, como foi o caso. Inicialmente surpreendido pelo esbanjamento do maior trunfo com o fabuloso "And The Hazy Sea" logo na abertura, cedo compreendi que as exigências vocais deste tema o tornariam impraticável numa fase mais avançada, com a voz do vocalista nitidamente a pedir descanso. A entrega do moço é tal que, ao fim de cinco minutos, o suor escorre em abundância. Intenso e impressionante são termos que só pecam por defeito.
A Place to Bury Strangers Ao começo, envoltos numa densa nuvem de fumo que apenas permite discernir três silhuetas no palco, parecem não fazer jus à fama que os precede - the loudest band in NY. Atempadamente corrigidos os problemas de adaptação à acústica da sala Caracol, somos irremediavelmente engolidos no turbilhão de distorção e negrume. Os temas mais fortes dos dois discos com que contam no currículo sucedem-se, irrepreensíveis e perante a inexplicável apatia do público madrileno. Para o final, já dissipado o nevoeiro, é possível vislumbrar estes três cavaleiros do Apocalipse a executar um extenso número de deriva sónica capaz de tocar o lado mais obscuro de cada um de nós.
Cass McCombs Esqueçam a intensidade melancólica e a riqueza dos arranjos que conhecem dos discos. Em palco, Cass McCombs desfila um lote de temas indistintos dentro do pop-rock americanizado mais banal. Nem a assumida bebedeira da véspera lhe serve de desculpa.
Sr. Chinarro Com tão boas bandas no panorama indie espanhol, torna-se incompreensível a escolha desta espécie de David Fonseca - desmazelado e menos convencido - andaluz para o cartaz do PC'09. Entediante é dizer pouco...
The Black Heart Procesion Do pouco que vi, nada detectei do elemento latino que percorre a obra deste colectivo californiano que poderia fazer transportar-se numa carrinha funerária. Assim, as canções, debitadas com postura austera, realçam o seu romantismo negro, quase críptico.
Neon Indian Mais um rapazola - de melena encaracolada, para que conste - e sua banda a tentar reciclar o lixo synthpop que encontraram na colecção de discos dos pais. Se as canções podem satisfazer os saudosistas deste circo, já os interlúdios pretensamente experimentais não passam de mero exercício de vaidade sem qualquer nexo.
Beach House Apesar do esforço da dupla nuclear dos Beach House em proporcionar as atmosferas idílicas dos discos, as tentativas esbarram na voz arruinada de Victoria Legrand. Ficou-lhe bem pedir desculpa e agradecer por este ser o último concerto da tournée.
The Pastels Com o aproximar da hora do concerto, e em crescendo de ansiedade, apostava-se numa espécie de best of. Em vez disso, os Pastels optaram por um alinhamento centrado no lado mais bucólico e cinemático da sua obra recente, em perfeita sintonia com as belas imagens nostálgicas projectadas. A inclusão de uma trompetista e de um flautista ajudam na criação de uma atmosfera refinada. A única concessão ao passado longínquo foi o final apoteótico com "Baby Honey". Embora não tenha sido o concerto mais desejado, não há palavras para descrever o que é estar, pela primeira vez, a escassa meia dúzia de metros do guru Stephen McRobbie a.k.a. Pastel. Ainda para mais coadjuvado, no baixo, por Gerard Love, dos adorados Teenage Fanclub...
HEALTH Inexplicavelmente, a vertigem e imponência noise casam na perfeição com a suavidade da voz, provocando delírios de dança neurótica. E é tudo quanto tenho a dizer, pois com os HEALTH trata-se essencilamente de sentir.
School of Seven Bells Duas meninas, irmãs gémeas e com carinha de bonecas, um menino com corte de cabelo a régua e esquadro. Querem, ao mesmo tempo, ser os My Bloody Valentine, os Cocteau Twins, e as Miranda Sex Garden. Porém, não passam de um pastiche arraçado de new age para entreter saudosistas equivocados. Com imagens pretensamente psicadélicas sacadas ao ideário oriental incluídas.
The Ladybug Transistor Pese embora ter uma carreira com mais de dez anos, e de ter estado ligado ao colectivo Elephant 6, desconhecia em absoluto este combo norte-americano. Do que vi e ouvi, ficou uma sensação de agrado moderado em relação à pop melancólica para dias de chuva com reminiscências de Felt e The Clientele. Fica também na memória o esforço do vocalista em reproduzir aquele sotaque cockney tão apropriado à ocasião.
Little Joy E se, por hipótese, no lugar dos Television, os Beach Boys tivessem constituído a dieta musical da adolescência dos Strokes? O resultado poderiam ser estes Little Joy, praticantes de uma pop soalheira, positiva, pacata, e relativamente agradável. Acresce que o vocalista Rodrigo Amarante tem um timbre rouco em tudo semelhante ao de Julian Casablancas. Quanto a Frabrizio Moretti, assume com discrição o papel de guitarrista, aparentemente a aproveitar da melhor forma o longo interregno da sua banda principal.
Devendra Banhart & The Grogs Em tempos um prodígio freak folk, Devendra mantém-se um freak. Porém, a faceta folk foi substituída pela propensão para o rock setenteiro, citando os Stones no começo, e os menos recomendáveis Deep Purple mais para o final. Nos discursos desconcertantes, consegue, de uma só vez, ser aborrecido, mariquinhas, e imperceptível. Depois do final, a penosa experiência foi compensada pelas criteriosas escolhas do DJ de serviço, com "My Favourite Dress" dos Wedding Present a ser recebida num misto de euforia e estupefacção.
Cymbals Eat Guitars Mais jovens do que os imaginava, estes quatro rapazes foram capazes de criar momentos de forte tensão emocional na exiguidade da sala Nasti, ao ponto de provocar arrepios, como foi o caso. Inicialmente surpreendido pelo esbanjamento do maior trunfo com o fabuloso "And The Hazy Sea" logo na abertura, cedo compreendi que as exigências vocais deste tema o tornariam impraticável numa fase mais avançada, com a voz do vocalista nitidamente a pedir descanso. A entrega do moço é tal que, ao fim de cinco minutos, o suor escorre em abundância. Intenso e impressionante são termos que só pecam por defeito.
A Place to Bury Strangers Ao começo, envoltos numa densa nuvem de fumo que apenas permite discernir três silhuetas no palco, parecem não fazer jus à fama que os precede - the loudest band in NY. Atempadamente corrigidos os problemas de adaptação à acústica da sala Caracol, somos irremediavelmente engolidos no turbilhão de distorção e negrume. Os temas mais fortes dos dois discos com que contam no currículo sucedem-se, irrepreensíveis e perante a inexplicável apatia do público madrileno. Para o final, já dissipado o nevoeiro, é possível vislumbrar estes três cavaleiros do Apocalipse a executar um extenso número de deriva sónica capaz de tocar o lado mais obscuro de cada um de nós.
Cass McCombs Esqueçam a intensidade melancólica e a riqueza dos arranjos que conhecem dos discos. Em palco, Cass McCombs desfila um lote de temas indistintos dentro do pop-rock americanizado mais banal. Nem a assumida bebedeira da véspera lhe serve de desculpa.
Sr. Chinarro Com tão boas bandas no panorama indie espanhol, torna-se incompreensível a escolha desta espécie de David Fonseca - desmazelado e menos convencido - andaluz para o cartaz do PC'09. Entediante é dizer pouco...
The Black Heart Procesion Do pouco que vi, nada detectei do elemento latino que percorre a obra deste colectivo californiano que poderia fazer transportar-se numa carrinha funerária. Assim, as canções, debitadas com postura austera, realçam o seu romantismo negro, quase críptico.
Neon Indian Mais um rapazola - de melena encaracolada, para que conste - e sua banda a tentar reciclar o lixo synthpop que encontraram na colecção de discos dos pais. Se as canções podem satisfazer os saudosistas deste circo, já os interlúdios pretensamente experimentais não passam de mero exercício de vaidade sem qualquer nexo.
Beach House Apesar do esforço da dupla nuclear dos Beach House em proporcionar as atmosferas idílicas dos discos, as tentativas esbarram na voz arruinada de Victoria Legrand. Ficou-lhe bem pedir desculpa e agradecer por este ser o último concerto da tournée.
The Pastels Com o aproximar da hora do concerto, e em crescendo de ansiedade, apostava-se numa espécie de best of. Em vez disso, os Pastels optaram por um alinhamento centrado no lado mais bucólico e cinemático da sua obra recente, em perfeita sintonia com as belas imagens nostálgicas projectadas. A inclusão de uma trompetista e de um flautista ajudam na criação de uma atmosfera refinada. A única concessão ao passado longínquo foi o final apoteótico com "Baby Honey". Embora não tenha sido o concerto mais desejado, não há palavras para descrever o que é estar, pela primeira vez, a escassa meia dúzia de metros do guru Stephen McRobbie a.k.a. Pastel. Ainda para mais coadjuvado, no baixo, por Gerard Love, dos adorados Teenage Fanclub...
HEALTH Inexplicavelmente, a vertigem e imponência noise casam na perfeição com a suavidade da voz, provocando delírios de dança neurótica. E é tudo quanto tenho a dizer, pois com os HEALTH trata-se essencilamente de sentir.
School of Seven Bells Duas meninas, irmãs gémeas e com carinha de bonecas, um menino com corte de cabelo a régua e esquadro. Querem, ao mesmo tempo, ser os My Bloody Valentine, os Cocteau Twins, e as Miranda Sex Garden. Porém, não passam de um pastiche arraçado de new age para entreter saudosistas equivocados. Com imagens pretensamente psicadélicas sacadas ao ideário oriental incluídas.
TOP 5
- A PLACE TO BURY STRANGERS
- HEALTH
- THE PASTELS
- CYMBALS EAT GUITARS
- LITTLE JOY
1 comentário:
Eh pá, ter que deixar Woods e Kurt Vile de fora parece-me uma crueldade.
Por cá, o Kurt Vile até se portou bem, pese o erro de casting na escolha do local. A banda quase não cabia em palco (e pobre Kurt que nem a guitarra podia mexer, correndo o risco de bater na bateria ou numa coluna de som) e o público só pelo tardar da hora - que parece ter levado a algumas desistências - conseguiu caber todo no Frágil.
Quanto aos Woods, pode ser que, com muita muita sorte, toquem no Primavera de Maio (dessa forma também os poderia ver).
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