"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Em escuta #44







YO LA TENGO Popular Songs [Matador, 2009]

Um quarto século de história, doze álbuns, e os YLT ainda conseguem surpreender, mesmo tendo em consideração que Popular Songs não assinala um desvio à faceta estelar dos registos mais recentes. Porém, fá-lo com a luminosidade e a graciosidade que não encontrávamos, por exemplo, no sombrio e meditativo And The Nothing Turned Itself Inside-Out (2000), até agora último registo marcante da carreira do trio de Hoboken. As contaminações soul e funk alastram por todo o disco na directa proporção do recurso aos teclados retro e às vozes sussurradas. Para satisfação dos saudosistas mais ortodoxos, não faltam números de distorção ao serviço da causa pop, de que são bons exemplos "Nothing To Hide" e "More Stars Than There Are In Heaven", este último o primeiro de três (!) épicos em combustão lenta que encerram o disco. Vão bem de amores estes três e, pelos vistos, dispostos a partilhar desse estado de felicidade. Um disco imenso até na duração - 73 minutos que passam num ápice. [9]


WILD BEASTS Two Dancers [Domino, 2009]

Quero-vos confessar que a minha reacção ao anterior disco dos Wild Beasts - o primeiro - foi de uma clara repulsa, não só pelo omnipresente falsetto da voz, mas sobretudo por uma certa propensão para a pop barroca da qual já vou ficando farto. Em Two Dancers o caso muda significativamente de figura. Isto, desde logo, porque o rapaz cujos dotes vocais foram abençoados pela Mãe Natureza - Hayden Thorpe, de sua graça - opta por um registo sobejamente contido, algures entre um Jimmy Sommerville e um Billy Mackenzie. Quando o moço se excede, como em "All The King's Men", surge o tom grave do baixista Tom Flemming (que assumiu maior protagonismo neste novo disco) a serenar os ânimos. A teatralidade do passado surge igualmente diminuída em desfavor de um crescente apuro pop, salvas as devidas distâncias, reminiscente da elegância e da sensibilidade reconhecidas nos clássicos The Smiths e Suede. [7,5]


THE xx XX [Young Turks, 2009]

Goste-se ou não, tem de se concordar que o jovem quarteto The xx veio dar um safanão no marasmo em que mergulhou a produção musical britânica dos últimos 4/5 anos. Por preguiça intelectual podem estabelecer-se comparações entre esta proposta deveras original e a simplicidade de processos do único disco dos Young Marble Giants. A receita dos The xx é, por sinal, sobejamente contemporânea. Partindo de batidas do mais moderno R'n'B devidamente desaceleradas, criam onze temas que transpiram sensualidade. As vozes são duas: a dela murmurante, a dele de tempero soul. Tudo isto é filtrado através de um vidro baço, o que confere uma certa aura de mistério. O badalado tema "Crystalised" soa ao hipotético cruzamento de Missy Elliott com os Portishead, o que me leva a avançar com um novo rótulo - trip-R'n'B. A ver se pega... [8]


THE ANTLERS Hospice [Frenchkiss, 2009]

Hospice foi concebido durante um período de auto-reclusão de Peter Silberman, mentor deste trio de Brooklyn. A voz, habitualmente em falsetto, traça uma narrativa (com um prelúdio e um epílogo) na qual a dor se adensa à medida que a pessoa amada vai sendo consumida pela doença (leucemia, presume-se). E os paralelismos com a obra que revelou Bon Iver ficam-se por aqui, pois os Antlers não se ficam pelo recato folksy deste, deixando bastas vezes que as canções rebentem em picos de expressividade dorida. Por outro lado, há uma certa tendência para deixar prolongar os temas para desvarios instrumentais, nos quais a distorção, trompetes em desalinho, e alguns ruídos incidentais conferem uma certa dose de experimentação. Sufocante, mas de um intimismo tocante, Hospice ameaça tornar-se objecto de um pequeno culto que perdurará no tempo. Se quisermos compartimentá-lo, podemos acrecentar que vem traçar novos trilhos para o denominado sadcore. [8,5]


BLANK DOGS Under And Under [In the Red, 2009]

Blank Dogs é o projecto de um homem só, no caso um misterioso músico não identificado que opera a partir de Brooklyn. É também mais um nome a acrescentar ao cada vez mais extenso rol de instigadores lo-fi que o underground norte-americano tem produzido nos últimos tempos. Não sendo uma proposta plenamente conseguida, não podemos negar a Under And Under a sua dose de originalidade: parte de uma matriz surf rock a que são sobrepostos muros de distorção, electrónica rudimentar, e ruídos avulsos que tanto podem provir de velhos cartoons, como de filmes de terror série B. Tangencialmente toca sonoridades tão díspares como o shoegazing e a cold wave. Sob a nuvem cacofónica, temas como "Open Shut" deixam entrever uma melodia pop, quais Mary Chain fechados no quarto dos fundos. Já "L Machine" e "Setting Fire To Your House" caracterizam-se por um frieza robótica. Este último é prenúncio de uma amoralidade doentia que percorre todo o disco. Pena é que, aos ouvidos menos treinados, a ruideira não permita descobrir diferenças significativas nos restantes temas. [7]

4 comentários:

hg disse...

Yo La Tengo: como é que, passados tantos anos, ainda conseguem fazer música tão fresca?
Wild Beasts: não lhes dei muita atenção.
The xx: adoro a primeira metade do disco.
The Antlers: estes chegaram-me muito bem referenciados mas não pegou.
Blank Dogs: eu gostei muito.

eduardo disse...

Yo La Tengo: bom como sempre

Wild Beasts - bom instrumental, voz irritante

XX - ainda tenho de ouvir melhor, mas pelos singles a coisa deve ser interessante

Antlers - ainda não ouvi mas não devo curtir muito

Blank Dogs: Esperava mais

Shumway disse...

Popular Songs está em escuta permanente cá no tasco.
Uma maravilha.

Hospice tb é muito bom.

Abraço

strange quark disse...

Tenho que dar uma voltinha pelos Yo La Tengo...