"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 31 de março de 2009

Duetos #11


Aztec Camera & Mick Jones
"Good Morning Britain"
[WEA, 1990]

segunda-feira, 30 de março de 2009

Discos pe(r)didos #24


















A.R. KANE
69
[Rough Trade, 1988]

Sem o saber, haverá desse lado muita gente que conhece o trabalho de Rudi Tambala e Alex Ayuli pelo seu envolvimento em "Pump Up The Volume", hit massivo dos M/A/R/R/S em 1987 que soa hoje algo datado mas que, à data, constituiu um marco na afirmação da música de dança. Bem menos conhecido das massas é o trabalho da dupla a tempo inteiro enquanto A.R. Kane, nome que, na minha opinião, é merecedor de um estatuto semelhante ao dos My Bloody Valentine como pioneiros na exploração das potencialidades do estúdio de gravação.

Recorrendo em igual medida aos instrumentos convencionais e às novas ferramentas tecnológicas para a feitura de 69, o primeiro álbum depois de um conjunto de singles promissores, os A.R. Kane obtêm um melting pot surpreendentemente coeso de diferentes expressões musicais: do jazz à distorção pura, do dub à dream pop, da música latina à música ambiental. Sob o véu negro que se derrama ao longo de todo o disco, é possível vislumbrar diferentes ambientes, sejam o torpor de "Scab", o desespero iminente de "Suicide Kiss, a languidez indisfraçável de "Spermwhale Trip Over", a cerimónia funérea de "The Madonna Is With The Child", ou o mais negro dos abismos de "Dizzy". No instante seguinte aos últimos segundos do derradeiro "Spanish Quay (3)", enfeitiçados e com um nó na garganta, vemo-nos irremediavelmente impelidos a carregar de novo na tecla do play.

Após a fruição de 69, sugere-se a exploração de "i", o duplo do ano seguinte que demonstra um claro desenvolvimento de muitas das ideias afloradas no antecessor. Deixa-se no entanto o aviso que um e outro podem abalar seriamente a vossa consideração pela "originalidade" dos TV on the Radio...

quarta-feira, 25 de março de 2009

For all the fucked up children of the world #7


Hoje fui ver The Wrestler, o último opus de Darren Aronofsky que recomendo a toda a navegação e que, inadvertidamente ou talvez não, nos mostra uma outra face do 80s revival. De cada vez que o grande Mickey Rourke e a belíssima Marisa Tomei (permitam-me a brejeirice: ela e a Cate Blanchett são como o Vinho do Porto) se cruzavam no ecrã, vinham-me à memória as personagens de Nicolas Cage e Elisabeth Shue em Leaving Las Vegas. Mas também esta melodia que, ainda agora, meio atordoado, entoo mentalmente:



[Arts & Crafts / Bella Union, 2007]

"You and I are on the outside

of almost everything

You and I are on the other side

of almost everything"

terça-feira, 24 de março de 2009

This is the one


Neste mês de Março cumprem-se exactamente 20 anos desde a edição do álbum de estreia homónimo dos quatro rufias de Manchester albergados sob a designação The Stone Roses. Sobre a música nele contida - um dos mais perfeitos conjuntos de canções pop -, já quase tudo foi dito e/ou escrito. Por isso, chamo hoje a vossa atenção para a capa do mesmo, já uma imagem icónica da história da música popular. Intitulada Bye Bye Badman, a imagem é uma criação do guitarrista John Squire sob forte influência de Jackson Pollock e com inspiração nos motins estudantis do Maio de '68, facto desde logo evidenciado nas cores da bandeira francesa do lado esquerdo. Já os limões, segundo sei, eram o antídoto utilizado contra os efeitos do gás lacrimogénio lançado pelas forças policiais para dispersar os amotinados.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ao vivo #36














Gallon Drunk + Murdering Tripping Blues @ Gasoiil, 21/03/2009

Estranho país este, em que o cidadão australiano nascido Nicholas Edward Cave é recebido nas palminhas das mãos a cada visita, e os Gallon Drunk, seus parentes estéticos que preservam a visceralidade de outros tempos, têm uma recepção de quase indiferença. Se lembrarmos que o frontman James Johnston era até há poucos meses membro da pandilha Bad Seeds, mais incompreensível torna a ausência de referências nos media à segunda vinda a Portugal deste quarteto londrino. Apesar dos contras derivados da promoção escassa, a cave do Gasoiil conseguiu, ainda assim, reunir uma moldura humana aceitável, onde não faltavam figuras pitorescas em elevado número.
Não obstante as deficientes condições de acústica, o cenário montado parece o ideal para as canções soturnas dos Gallon Drunk. Nos temas de cavalgada electrizante, como "Arlington Road" ou o já clássico "Some Fool's Mess", tais condições não parecem afectar grandemente a performance da banda, pois nestes a atitude confrontacional de um Johnston espasmódico chama a si todas as atenções. Já nos momentos de maior recato intimista, como no belíssimo "You Should Be Ashamed", a prestação sai claramente prejudicada. Mas isto são apenas pormenores de somenos importância num concerto intensíssimo de uma banda que, desconfio, atinge níveis excessivos de entrega de cada vez que pisa um palco. Independentemente da exiguidade do mesmo e do adiantado da hora...

Antes do prato principal, os surpreendentes Murdering Tripping Blues foram aperitivo à altura da ocasião. Praticante de um mistura explosiva de blues, garage-punk e rockabilly, o trio lisboeta até teve uma entrada em palco algo nervosa. Ultrapassada a "timidez" inicial, cedo se percebeu estarmos na presença de conjunto de músicos conhecedores dos códigos dos géneros que assume como bandeira. De uma prestação avassaladora, fica na retina um vocalista/guitarrista animalesco com genes de Iggy, Lux Interior e Jeffrey Lee Pierce.

domingo, 22 de março de 2009

A asfixia da sociedade
















Chega já esta semana às salas portuguesas Choke, a adaptação cinematográfica do romance de Chuck Palahniuk (sim, o de Fight Club!), comédia negra que traça um retrato corrosivo e grotesco da sociedade americana. Sob a direcção de Clark Gregg, estiveram, nos papéis principais, Sam Rockwell, Anjelica Huston e Kelly Macdonald. Na banda sonora, apenas com edição em formato digital, podem encontrar, entre outros, temas dos Radiohead, Death Cab For Cutie, Buzzcocks ("Orgasm Addict", obviamente!), Shout Out Louds, My Morning Jacket, The Fiery Furnaces, e Clap Your Hands Say Yeah. Estes últimos, contribuem com aquele que é um dos poucos motivos de interesse do seu último álbum:

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sacanas, mas com coração















Foto: Felicia Graham

Cansados do virtuosismo masturbatório de Jack White? Sem paciência para estes Gossip rendidos às pistas de dança? Pouco dados às incursões rootsy dos Black Keys?
Pois então, gostava de vos anunciar que a salvação para a vossa fé no garage-blues-rock pode estar nestes Heartless Bastards, uma banda de Dayton, no Ohio, terra de gente tão ilustre como Robert Pollard ou Kim Deal. The Mountain, produzido por Mike McCarthy e lançado no mês passado pela Fat Possum, é já o terceiro álbum de uma carreira iniciada em 2003. Neste disco, qualquer vestígio da rugosidade do passado foi eliminado pelo habitual produtor dos Spoon, abrindo alas para a portentosa voz de Erika Wennerstrom, uma menina cheia de soul e, aparentemente, com um grande coração...

http://www.myspace.com/heartlessbastards

quarta-feira, 18 de março de 2009

Isto é Portugal
















No próximo dia 16 de Abril chega finalmente às salas portuguesas This Is England, filme semi-autobiográfico de Shane Meadows. Esta estreia nacional ocorre precisamente dois anos depois do debute no Reino Unido, país de origem da película, e mais de dois anos e meio depois da primeira exibição em festivais de cinema. Pelo caminho, This Is England arrecadou galardões, acolheu os louvores da crítica um pouco por todo o lado, e gerou um pequeno fenómeno de culto com eco na blogosfera, entre outros media.
O desfazamento de datas diz bem das prioridades e da perspicácia dos nossos distribuidores e/ou programadores em matéria de cinema, os mesmos que não se coíbem de exibir cada bocejo de Woody Allen em estreia quase mundial, ou que não perdem pitada do cada vez mais desinteressante cinema francês.
Lamentações à parte, let's look at the trailer:


10 anos é muito tempo #13


















BLUR
13 [Food, 1999]

Algures em meados da década passada, os Blur deram o pior passo de toda a sua carreira: entraram - e perderam - na batalha travada nos media britânicos com a banda do irmãos Gallagher. Lambidas as feridas, a banda renasce em 1997 com um surpreendente álbum homónimo fortemente alinhado nas tendências indie vindas do outro lado do Atlântico, algo que ficará a dever-se à amizade da banda com Stephen Malkmus, líder dos Pavement. Dois anos depois, os Blur apanham novamente desprevenidos os mais incrédulos com 13, afirmação definitiva do quarteto londrino como a única banda inglesa da geração de noventas capaz de se reinventar com renovado interesse. Nada mau para uma banda que nasceu hesitante entre as ondas baggy e shoegazer...
Curiosamente, 13 foi concebido num clima marcado por duas cisões importantes no ambiente bluriano: a interrupção da ligação da banda a Stephen Street, o produtor de sempre, e o fim do romance do frontman Damon Albarn com Justine Frischmann. O primeiro viu o seu o lugar ocupado por William Orbit, indutor da sujidade digital que percorre 13, enquanto Justine é o motivo da profunda melancolia expressa nas palavras e na voz de Albarn.
Ainda que, pelos motivos referidos, este seja o disco mais pessoal do vocalista dos Blur, o produtor, inicialmente visto com algum cepticismo pelos seguidores da banda, acaba por ter um papel determinante no resultado final. Será a Orbit que fica a dever-se o alargar de fronteiras, criando um eficaz melting pot de estilos para o qual concorrem alguns truques já nossos conhecidos, mas também muitas novidades no léxico do Blur. Assim, temos canções de comunhão à volta da fogueira com coro gospel incluído("Tender"), a propensão de Graham Coxon para o lo-fi ("Coffe & TV"), um piscar de olho saudosista à infância do grupo ("1992"), ironia embrulhada em descargas punk ("B.L.U.R.E.M.I."), deriva espacial à la Spacemen 3 ("Battle"), nebulosidade trip-hop com vestígios kraut ("Trailerpark" e "Trimm Trabb"), e baladas confessionais de cortar a respiração (o soberbo "No Distance Left To Run"). Para este último tema, seguramente uma das mais bonitas break-up songs de sempre, o dinamarquês Thomas Vinterberg criou um original exercício de intimismo. Ou de voyeurismo, se preferirem...

terça-feira, 17 de março de 2009

Tentáculos de cristal














Caso ainda não se tenham dado conta, chamo a vossa atenção para a aproximação da data de edição do primeiro álbum dos incendiários Crystal Antlers. Tentacles chega ao mercado a 7 de Abril e pode, na pior das hipóteses, ser o último disco com música nova da história da Touch and Go Records, tal como referido neste post. A confirmar-se o o triste desfecho, estou certo que será uma despedida em beleza, como de resto me faz crer "Andrew", aperitivo descarregável legal e gratuitamente aqui.

domingo, 15 de março de 2009

Deviam ter vergonha!

Então os Gallon Drunk vêm cá e ninguém me dizia nada? Na próxima sexta-feira na Invicta (Armazém do Chá), um dia depois na capital (Gasoil), exige-se indumentária negra.


[Live @ Later, with Jools Holland]

Em escuta #39

... agora com apreciação quantitativa! De zero a dez, e com intervalos de meia unidade, notas de forma alguma definitivas.









COMET GAIN Broken Record Players [Milou Studios, 2008]

Quinze anos de carreira, marcados por constantes mudanças de line-up e passagens por diversas editoras, não renderam aos Comet Gain mais que um culto diminuto. Esta compilação retrospectiva de singles pode agora servir de meio de aproximação a uma banda que tem feito da resistência a sua bandeira. Sem compromissos com qualquer família estética, abraçam a rudeza riot grrrl e o charme northern soul derivado dos Dexys Midnight Runners com igual afeição. Daí resultam temas assumidamente pop - no sentido estrito do termo - com leve aroma retro. Num mundo perfeito, a saltitona "Love Without Lies", ou as classicistas "Jack Nance Hair" e "If I Had A Soul" seriam sucessos massivos. [7,5]


THE JOY FORMIDABLE A Balloon Called Moaning [edição de autor, 2009]

Com o apetite aguçado por alguns registos em formatos mais pequenos, é com expectativas em alta a primeira abordagem ao álbum debute deste trio inglês. Com um ligeiro teor sombrio, não necessariamente miserabilista, nenhum dos seis temas novos consegue atingir os altos patamares do nossos conhecidos "Cradle" e "Austere", ambos recuperados para o longa-duração. No entanto, é com algum agrado que somos guiados pelos Joy Formidable numa viagem saudosista até às boas memórias indie pop no feminino de há 15 anos (Belly, Velocity Girl). [7]


THE MANHATTAN LOVE SUICIDES Burn Out Landscapes [Magic Marker, 2008]

Enquanto não chega um segundo álbum, este quarteto pioneiro da vaga revivalista noise pop oferece-nos uma colecção exaustiva de singles, raridades e radio sessions. Ingleses de Leeds, é com muita destreza que os Manhattan Love Suicides se movem por entre o fuzz dos Mary Chain e a sacarina twee da geração pós-C86. Ainda que nem todos os 27 temas estejam ao nível dos irresistíveis "Clusterfuck", "You'll Never Get That Guy", e "Kick It Back", na actual conjuntura, Burn Out Landscapes revela-se documento fundamental de uma banda talhada para altos vôos. [8]


VOLCANO SUNS The Bright Orange Years [Merge, 2009]

Da mesma cena de Boston que gerou bandas como The Lemonheads, Dinosaur Jr., ou Pixies, parece-me seguro dizer que nunca os Volcano Suns gozaram do mesmo mediatismo de alguns conterrâneos. Porém, num largo espectro que vai do grunge ao math rock, o seu legado tem deixado marca indelével na cena "alternativa" norte-americana das últimas duas décadas, tal como os Mission of Burma, a anterior banda do fundador Peter Prescott.
Alegadamente registado numa única noite de consumo pouco moderado de álcool, The Bright Orange Years foi, em 1985, o longa-duração de estreia na mítica editora Homestead e conhece agora a primeira reedição em CD, com remasterização a cargo de Bob Weston, baixista dos Shellac e engenheiro de estúdio de méritos reconhecidos. Nele podem ver reflectido o espírito da época: canções curtas e enérgicas, com igual afinidade com as famílias hardcore e indie-rock. Pensem nuns Replacements com uma dose excessiva de adrenalina, e terão uma imagem aproximada daquilo que este disco vos reserva. De entre os esperados extras (inéditos supostamente inacabados e faixas ao vivo), destaco uma versão, com tanto de inesperado como de caótico, de "1999" de Prince. Imprescindível para "estudiosos" e interessados no riquíssimo historial do underground norte-americano. [8,5]

quinta-feira, 12 de março de 2009

O espírito da moda















E já que falamos em carinhas larocas, fiquem ainda a saber que os Duke Spirit, da oxigenada Liela Moss, têm um novo disco no mercado, mais concretamente uma compilação com venda exclusiva nas lojas Target (apenas nos Estados Unidos). Paralelamente, e em íntima relação, a cadeia vende em exclusivo a nova colecção do criador de moda britânico Alexander McQueen, alegadamente inspirada na frontwoman dos Duke Spirit. A iniciativa, segundo as partes, nasceu de algo mais que uma admiração mútua. Passamos a palavra a Liela: “I am ecstatic to be an aspect of Alexander McQueens work. Thematically, The Duke Spirit and McQueen tread a similar path at times...antlers, feathers and the stuff of the pastoral idyll, stumble into a loud, sweaty pit of punk rock.”. Aos indefectíveis da banda londrina, residentes fora dos states, que não queiram perder a fabulosa versão de "Baby Doll" do mestre Alex Chilton, e outros temas inéditos, resta a possibilidade da compra on-line.

Os dias da rádio

















Caso ainda não tenham reparado, gostava de lembrar que já chegou às lojas o segundo álbum dos Howling Bells, colectivo onde pontifica a Juanita Stein, miúda com alta cotação na bolsa de valores aprilskiesiana. Radio Wars assinala uma nova etapa na vida da banda australiana, agora ligada contratualmente à editora Independiente, depois de um primeiro disco homónimo lançado há três anos pela Bella Union de Simon Raymonde. Quanto a novidades, não esperem encontrar muitas mais no disco. Isto significa que podemos continuar a contar com uma boa dose de pop elegante e luminosa, mais que adequada a estes dias ociosos de céu azul e brilho intenso do astro-rei. Segue uma amostra com som e imagem:

terça-feira, 10 de março de 2009

Vvagas de distorção














Wavves é a designação sob a qual se esconde Nathan Williams, um miúdo californiano de 22 anos seguidor da máxima faça-você-mesmo. No ano passado, através de uma cassete homónima de edição limitada, provocou algum burburinho no meio blogosférico. Já na próxima semana, chega o primeiro álbum propriamente dito. Apropriadamente intitulado Wavvves (assim mesmo, com três vv), tem selo da Fat Possum e promete ser uma das agradáveis surpresas deste ano.
Membro da mesma família ruidosa que integra os Times New Viking e os No Age, o rapaz não esconde a sua devoção pela baixa-fidelidade dos Beat Happening e dos Guided by Voices, pela coolness algo tola dos Pavement, e até pelas melodias solarengas dos Beach Boys. Por sinal, influências que não esperamos ver assumidas por gente de tão tenra idade.

http://www.myspace.com/wavves

segunda-feira, 9 de março de 2009

Good cover versions #18















SPIREA X "Signed D.C." (4AD, 1991)
[Original: Love (1966)]

Hoje vistos como uma mera nota de rodapé na "cena" shoegaze e dos seus territórios contíguos, os Spirea X foram, essencialmente, o veículo para Jim Beattie - integrante da formação original dos Primal Scream - rever as memórias folk pop dos sixties (com os Byrds à cabeça) à luz da estética dominante em inícios da década passada. A sua carreira efémera deixou para a posteridade apenas um registo de longa-duração (Fireblade Skies, de 1991), um disco menor que considero essencial apenas para os completistas do género.
Sintomaticamente, num álbum particularmente desequilibrado, o ponto alto acaba por ser uma canção de outrém, na circunstância "Signed D.C.", tema incluído na estreia homónima dos Love, e no qual um Arthur Lee simplesmente tocante relata, na primeira pessoa, a espiral de decadência de um junkie. Na versão dos Spirea X, "Signed D.C. não foge em demasia à matriz do original. Porém, a toada atmosférica e as percussões orientais conferem-lhe uma aura de mistério quase sacra.

domingo, 8 de março de 2009

A linha do horizonte
















No meio musical, facção mercenária, a semana que passou fica marcada pelo regresso aos discos dos quatro irlandeses agraciados pelo nosso ex-Presidente com a Ordem da Liberdade. O "acontecimento" teve honras de telejornais e motivou o prolongamento do horário nocturno das lojas para receber as habituais romarias de batalhões de nerds, algo que já não era visto desde o lançamento do último livro de J. K. Rowling.
Sobre o disco propriamente dito pouco posso dizer, pois não o ouvi nem tenciono ouvi-lo. No entanto, não consegui evitar ser bombardeado com o novo single, mais um que irá fazer as delícias das RFMs deste mundo. O dito, que vem embrulhado num videoclipe de dispendiosa pirotecnia, suscita-me a seguinte questão: para que o mundo precisa de uns Queens of the Stone Age sintéticos se os naturais já cá estão a mais?
A fazer fé no que tenho lido e ouvido da generalidade dos especialistas, No Line On The Horizon é o melhor disco dos U2 desde Pop. Ou até, na opinião de alguns, o melhor desde Zooropa. Lembro no entanto que, neste contexto, "o melhor" significa "o menos mau". Lembro também que algo de semelhante já tinha sido dito sobre o anterior. E, em jeito de premonição, posso garantir que há-de ser dito sobre o seguinte... Vai uma aposta?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Singles Bar #31



















GRANT HART
2541 [SST, 1988]

"Jimmy gave us the number
and Gerry gave us a place to stay
and Billy got a hold of a van
and man, we moved in the very next day
to twenty-five forty-one
big windows to let in the sun
twenty-five forty-one
(...)
now everything is over
everything is done
everything's in boxes
at twenty-five forty-one"

Muitas vezes visto como figura secundária quando comparado com o ex-ccompincha Bob Mould, Grant Hart foi cantor/compositor de quase metade das canções dos Hüsker Dü na sua fase mais relevante. Na influente banda de Minneapolis, Hart era sobretudo o principal impulsionador da veia melódica, por oposição ao pendor mais abrasivo das composições de Mould. Curiosamente, após o fim acrimonioso dos Hüsker Dü, o início da aventura a solo de Hart foi até mais fulgurante do que a do seu antigo colega. Pelo menos enquanto o consumo de drogas não se tornou uma actividade quase a tempo inteiro...
O cartão de visita ao mundo pós-huskers deu-se com este single, talvez intencionalmente, a milhas de distância da sonoridade anteriormente praticada. O tema-título baseia-se essencialmente numa melodia simples de guitarra acústica, em crescendo de tensão nos momentos mais dramáticos da voz. Com a totalidade dos instrumentos tocados pelo autor, "2541" revela-se uma canção de um intimidade chocante. Nela se conta a ascensão e queda de um relacionamento que parece ter deixado marcas profundas em, pelo menos, uma das partes. Quando questionado, Grant Hart nunca escondeu haver em "2541" não só uma referência explícita à história dos Hüsker Dü, mas simultaneamente a uma aventura amorosa: por coincidência, o número do título era o da porta da sala de ensaios da banda, e também o do apartamento partilhado com outra pessoa.
Robert Forster, o membro sobrevivo dos Go-Betweens, ele próprio um artesão de grandes canções, haveria de reconhecer as qualidades de "2541" gravando uma versão. O próprio Grant Hart, no ano seguinte ao da edição original, haveria de incluir uma nova versão, com arranjos mais elaborados, no álbum Intolerance (Aviso à navegação: obrigatório!). Como grande canção que é, a segunda gravação de "2541" sobrevive com distinção à operação de cosmética, mas não supera a simplicidade despida da original.

terça-feira, 3 de março de 2009

Em escuta #38 - Especial compilações










Motown 50 - Yesterday, Today, Forever [Motown/Universal, 2008]

Compilação comemorativa dos 50 anos do nascimento da Motown (então Tamla Records), principal pilar da afirmação da música negra nos Estados Unidos da década de 1960. Como o próprio nome indica, Motown 50 reúne aqueles que foram considerados - segundo votação on-line - os cinquenta melhores temas da história da editora fundada em Detroit. Como esperado, não falta nenhum dos incontornáveis do período de ouro de '60s e '70s: Marvin Gaye, Jackson 5, The Supremes, Martha Reeves & The Vandellas, The Temptations, Smokey Robinson, Stevie Wonder, Michael Jackson, Four Tops, etc. No fundo, falamos de clássicos. E os clássicos são sempre obrigatórios. Diria até, sem qualquer ponta de ironia, que a esmagadora maioria da música habitualmente abordada neste blogue empalidece na presença destes tesouros intemporais.


Dark Was The Night [4AD, 2009]

Nova compilação com a chancela da Red Hot Organization com o intuito de recolher fundos na luta contra a SIDA. Pela terceira vez, depois de No Alternative (1993) e Red Hot + Bothered (1995), e sob a supervisão dos gémeos Dessner (The National), procura tomar-se o pulso ao actual estado da nação indie. Porém, Dark Was The Night peca por falta de abrangência, ao centrar-se essencialmente nos grandes nomes do barroquismo pop que, nos últimos anos, tem chegado da América do Norte para gáudio de um público "adulto" pretensamente esclarecido.
Como é hábito neste tipo de compilações, os resultados são desequilibrados, embora o saldo final seja francamente positivo. Sintomaticamente, as surpresas mais agradáveis provêm das colaborações mais improváveis: David Byrne com os Dirty Projectors, Buck 65 com Sufjan Stevens, e The Books com José González numa inspiradíssima versão de "Cello Song", original de Nick Drake. Aos Spoon, Arcade Fire, e My Morning Jacket, pela nobreza da causa, exigia-se mais que eventuais "sobras". Na generalidade, os restantes envolvidos estão à altura daquilo que deles se espera, o que poderá ser o garante de bons resultados comerciais.


War Child: Heroes [Astralwerks, 2009]

Terceira compilação com o patrocínio da ONG War Child com vista à angariação de apoios às crianças vítimas dos cenários de guerra. Composto na sua totalidade por versões, Heroes tem a particularidade de os intérpretes terem sido escolhidos pelos compositores dos originais.
Com alguma suspresa, o destaque vai todo para a mais jovem estrela da companhia: Lily Allen, com a colaboração de Mick Jones (guitarrista também na versão original), no soberbo "Straight To Hell" dos Clash. Em bom plano surgem também Peaches (The Stooges), The Like (Elvis Costello), Beck (Bob Dylan), e The Hold Steady a interpretar o magistral "Atlantic City" (de Bruce Springsteen, claro está!). Apenas satisfatórios, porque demasiado colados ao original, são Yeah Yeah Yeahs (Ramones), The Kooks (The Kinks), Duffy (Wings), e Estelle (Stevie Wonder). Já as radicais adaptações dos Hot Chip, com "Transmission" dos Joy Division, e dos TV on the Radio ("'Heroes'" de Bowie), são para mim, até ao momento, inclassificáveis.
Evitáveis eram as contribuições dos Franz Ferdinnd ("Call Me" dos Blondie gravado ao vivo), Scissor Sisters (Roxy Music), e Rufus Wainwright (medley de Brian Wilson), com estes dois últimos a exporem os seus piores tiques até ao limite do suportável. Em todo o caso, nenhum consegue ser pior que Adam Cohen com uma intragável versão em espanholês de "Take This Waltz", original de gosto duvidoso do pai, Leonard.
Pesem embora os acidentes de percurso, os melhores exemplos acima citados justificam a adesão à causa. Sobretudo por parte dos inscansáveis "caçadores" de versões em que me incluo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Get on your knees!





















Estou quase certo de que o nome The Wounded Knees seja desconhecido da maioria dos visitantes deste blogue. O mesmo já não se poderá dizer do par que constitui o núcleo duro do projecto: ele é Jimi Shields, irmão de Kevin (o instigador-mor dos My Bloody Valentine) e em tempos guitarrista nos saudosos Rollerskate Skinny; ela é Suzanne Thorpe, flautista que fez parte da formação original dos Mercury Rev. O conhecimento vem dos idos de noventa, quando as citadas bandas chegaram a partilhar palcos.
Para já, a ligação rendeu apenas All Rise Up, um EP 10" de edição limitada saído no ano passado, no qual a dupla continua a navegar por sonoridades apontadas directamente ao subconsciente. O rol de "convidados" para concepção do disco não é de desprezar: Kevin Shields é o responsável pelas misturas, J Mascis (Dinosaur Jr.) colabora nas guitarras, e o designer Josh McPhee é o responsável pelo artwork.

http://www.myspace.com/wknees