Festival Heineken Paredes de Coura 2007 Como já aqui tinha avançado, as férias que se aproximam vertiginosamente do seu término ficam marcardas por mais uma presença em Terras do Alto Minho naquele que teima em ser o único festival realizado neste país onde a música é colocada à frente dos interesses puramente mercantilistas. Apesar das evidências de algum amadorismo na organização e da desorientação no cartaz, e edição deste ano do Paredes de Coura (PdC) teve motivos bastantes de satisfação.
Notas breves sobre o que foi visto e sobre o que, por opção, não foi visto nas linhas que se seguem. Com pontuções e tudo!
DeVotchKa
Melancolia indie pop contaminada dos sons mais díspares: música cigana, bolero, mariachi. Um belo início de festival que conheceu os seus pontos altos nas soberbas versões de "The Last Beat Of My Heart" (Siouxsie & The Banshees) e de "Venus In Furs" (The Velvet Underground). Nos momentos mais ritmados alguns juvenis fizeram questão de mostrar que estavam lá e, quanto a mim, fizeram muito bem. (8/10)
Simian Mobile Disco
Reduzidos a apenas um elemento, apresentaram, ou melhor, apresentou um DJ set pastilhado e ultra-datado que nem sequer conseguiu agradar ao público mais afecto às sonoridades que marcaram forte presença nas after hours. (2/10)
New Young Pony Club
Mimetismo de sons e tiques que deveriam ter sido ocultados da humanidade há mais de vinte anos. Pelos vistos as moçoilas têm visto as VHS das mães em doses desmesuradas. A vocalista até é mais gira do que nas fotos, aqueles trapinhos da linha Fame e derivados é que não favorecem ninguém. (3,5/10)
Sparta
Desfizeram-se os grandes At The Drive-in e surgiram duas bandas redundates: os pretensiosos Mars Volta e estes Sparta. Rock supostamente raivoso e notoriamente inconsequente. (4/10)
Blasted Mechanism
Aquelas fatiotas entre os Power Rangers e o Dragonball, apesar de ridículas, até conseguem atingir o seu propósito: ocultar o vazio de ideias enquanto se distrai a populaça. "We are the true revolutionaries" dizem eles naquele sotaque jamaicano tão típico da Linha de Cascais... Desamparem-me a loja, sff! (2,5/10)
M.I.A.
Notoriamente desenquadrada do resto do cartaz, a moça deu um show muito acima das (minhas) expectativas. Um espectáculo hip hop como raramente se vê por cá. Bastardo quanto baste, mas ainda assim hip hop. Não vem da favela, não vem de Bombaim, vem das ruas de Londres e ainda bem! (7/10)
BabyShambles
Tanto a imprensa como a maioria do público esperavam que o rapaz se espalhasse ao comprido. Pete Doherty fez questão de os desiludir. Quando houver vontade, o talento latente pode gerar grandes canções. Para já, PdC foi brindado com o trio de temas da era Libertines ("Time For Heroes", "What Katie Did" e "Can't Stand Me Now") e por esse diamante em bruto intitulado "Fuck Forever". (6,5/10)
Crystal Castles
Duo canadiano de "terrorismo digital" que se move em territórios limítrofes aos dos norte-americanos Adult.. Ao vivo e em doses moderadas, como foi o caso, a coisa resulta bem melhor do que em disco. (6/10)
Guns n' Bombs
Duo giradisquista eclético que cumpriu o seus desígnios: fazer dançar os corpos ainda não vencidos pelo cansaço que se manifestaria nos dias seguintes. (5/10)
Spoon
Apesar de injustiçados pela posição que lhes foi reservada no cartaz (primeira banda do dia no palco principal às 18h00!), os texanos fizeram questão de brindar os presentes com um concerto de pura alquimia pop, assente nos dois álbuns mais recentes mas com algumas incursões por um passado mais distante. Tenho então a agradecer à (des)organização do PdC tamanha injustiça, pois a hora revelou-se altamente propícia para a degustação na sua plenitude de todos os detalhes que a música dos Spoon encerra. (8,5/10)
Gogol Bordello
Todos aqueles que concebem um festival de música como uma imensa aula de aeróbica tola não terão dúvidas em eleger o gypsy punk (sic.) pejado de clichés dos Gogol Bordello como a banda sonora ideal. A coisa até é bem disposta e ritmada, mas ao fim de três temas indistintos toda aquela alegria e energia encenadas começam a cansar. (5/10)
Architecture in Helsinki
Não se sabe bem porquê, mas nos dias que antecederam PdC, a "imprensa" criava grandes expectativas para a actuação destes proto-músicos australianos. Acidentalmente, a minha opinião, que já vinha de umas quantas audições a um dos seus discos, surgiu resumida na boca de um desconhecido: "estes são aqueles gajos que vieram cá ensaiar e ainda são pagos por isso". (3/10)
Mão Morta
Em pose descontraída, como quem vem directamente da praia para o palco, foram iguais a si mesmos, naquele que poderá ter sido o seu último concerto em "formato rock". Até esta data a dúvida permanece. Se as afirmações de Adolfo se confirmarem, pode dizer-se que encerraram as actividades com uma autêntica retrospectiva onde não faltou nenhum dos celebrados hinos do underground portuga das últimas duas dezenas de anos. (7,5/10)
New York Dolls
Reuniões destas, que desvirtuam todo o legado de uma banda, deveriam ser proibidas. Longo, monótono, caricatural, e a chuva que teimava em cair... Blame it on Morrissey, outro causador de alguns amargos de boca há pouco mais de um ano... (2/10)
Dinosaur Jr.
A recompensa divina pela resistência à chuva e aos New York Dolls haveria de chegar sob a forma de uma outra reunião, esta a valer realmente a pena. Não andassem os nossos "historiadores" demasiado entretidos com modas efémeras, e este concerto entraria directamente para o compêndio da História do Rock em Portugal. "Freak Scene", "Little Fury Things", "Feel The Pain", "Bones", "Just Like Heaven", "Back To Your Heart", clásicos de hoje e de sempre servidos aos fiéis que fizeram por os merecer. E o herói deste PdC foi encontrado: Lou Barlow. (9,5/10)
Electrelane
A maioria dos presentes não sabia bem o que os esperava. Por isso as descargas de energia prenhes de emoção vindas do palco foram uma surpresa agradável para muitos dos convivas em PdC. "To The East" e uma versão enérgica de "I'm On Fire" de Bruce Springsteen foram os momentos altos de um concerto irrepreensível. Do lado esquerdo do palco, imperturbável e em pose angelical, a soltar espasmos da guitarra, revelava-se a heroína deste festival. O seu nome, Mia Clarke. (9/10)
The Sunshine Underground
Mas o quê que estes gajos fazem aqui? Passo. Vou mas é guardar energias para Sonic Youth! (-)
Peter, Bjorn & John
São de facto algo mais do que um assobio engraçadote. Indie pop competente, daquele que os britânicos ainda produzem em doses massivas mas que nem sempre tem a sorte de ter um... assobio... (5,5/10)
CSS
Não pretendia sequer pôr-lhes a vista em cima. Porém, a presença despropositada do lado do palco de algumas das meninas durante a maior parte da actuação das Electrelane deu para conferir que, para além de não terem nada de sexy, têm um péssimo gosto no trajar. (-)
Sonic Youth
Dado o estauto que detêm, a imensa multidão que acorreu para os ver perdoa-lhes tudo. Até o facto de só terem tocado dois "hits": "100%" e "Bull In The Heather". Eu bem pedi o "Teen Age Riot"... Num alinhamento em que o recente Rather Ripped teve a parte de leão, tiveram a "ousadia" de apresentar, na íntegra, a lendária "Trilogy" da obra-prima Daydream Nation. Tal como os Mão Morta, foram iguais a si próprios, e isso é o bastante. (8/10)
U-Clic
U quê?! No dia em que o death metal virar moda, estes rapazes ostentarão orgulhosamente t-shirts dos Morbid Angel. Até lá, é ir treinando a voz, do grave fingido de hoje, para o gutural grunho de amanhã. (1/10)