WRECKLESS ERIC
Whole Wide World
[Stiff, 1977]
Sede oficiosa da descendência pub-rock, a Stiff Records foi, a bem dizer, um poiso de aves raras no contexto punk/new-wave. Assim, só na classe de '77, o catálogo da editora londrina incluía a diversão dos The Damned, a sobriedade de Nick Lowe, a irreverência de Ian Dury & The Blockeads, e a neurose interventiva de Elvis Costello. No entanto, talvez a maior ave rara de todas fosse Wreckless Eric, nascido Eric Goulden, com o viço da juventude daquele último, mas com outra capacidade para ser interlocutor directo junto dos seus semelhantes. Escritor de canções de manifestação precoce, anunciava-se como a potencial estrela da Stiff, algo que esteve longe de concretizar-se em virtude de a embriaguez das canções e dos palcos ter passado a ser uma constante na "vida real". Eric ficou, portanto longe do estrelato, ofuscando-se até ao ponto de os seus sucessivos discos progressivamente mais escassos não irem além da devoção de um punhado de devotos.
E a história até podia ter sido bem diferente, como o levava a crer "Whole Wide World", a magistral canção com que se apresentou ao mundo. É um clássico instantâneo de uma época pródiga em tais espécimes, mas, mais que isso, é um clássico de qualquer era, uma canção exemplar com o código rock'n'roll nos genes, mas contaminada pelo germe punk. Alegadamente escrita ainda nos teens de Eric, "Whole Wide World" é um grito de angst juvenil, com uma simplicidade alarmante, mas com as palavras mais adequadas para expressar uma urgência incontrolada. Resumindo a coisa, é a velha história do adolescente descrente na possibilidade de encontrar a miúda certa, mas em simultâneo capaz de percorrer este mundo e outro em busca do amor idealizado. Algum do mérito da eficácia desta canção deverá ser repartido com Nick Lowe, à época produtor quase exclusivo das edições da Stiff, mas também responsável pela guitarra e outros instrumentos, bem como pelo minimalismo de "While Wide World", sublimado na explosão juvenil do refrão. Depois disto, Wreckless Eric praticamente não saiu da casa de partida, quanto mais correr o mundo na perseguição da quimera do sucesso. No entanto, esta espécie de romantismo boémio deixou descendência em muita da música intrinsecamente britânica subsequente. Entre os filhos bastardos conta-se Pete Doherty, nos seus vários projectos, ele que muitas vezes se inspirou tanto na música como na modo de vida de Wreckless Eric.
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