"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Alvvays the sun















Foto: Gavin Keen

Desculpem a insistência, mas hoje voltamos a registar a proximidade do esgotamento da fórmula dos recuperadores da sonoridade C86. Para os mais distraídos, refira-se que aqui se fala daquela tendência, com uma meia dúzia de anos, para as jovens bandas indie americanas soarem às congéneres britânicas de há um quarto de século. Neste, como em qualquer "fenómeno" de maiores ou menores dimensões, o declínio verifica-se tanto pela progressiva falta de qualidade das novas apostas, como pela gradual falta de inspiração dos nomes firmados. A título de exemplo refiram-se The Pains of Being at Heart, que nos iludiram apenas com um álbum, ou Dum Dum Girls, cuja ambição da mentora em chegar às massas tem sacrificado os princípios iniciais em prol do imediatismo do óbvio. Lamentavelmente, já cá não andam as Vivian Girls que, por acaso, estiveram na génese da coisa e despediram-se sem mácula.

É neste contexto, próximo da descrença, que têm de ser recebidos de braços abertos os canadianos Alvvays (leia-se "always"), autores de um primeiro álbum homónimo que é das coisas mais estimulantes dentro do género que surgiram nos tempos mais recentes. Quando se escuta Alvvays, o disco com dedo de velhas raposas como Chad VanGaalen (produção) e John Agnello (mistura), é inevitável não estabelecer comparações com gente como Best Coast ou Bleached, quanto mais não seja para assinalar que a banda de Toronto tem de suposta ingenuidade o que àquelas sobra em atrevimento. Estão, portanto, no campo de acção de uns Magnetic Fields de outrora, ou de uns Camera Obscura de sempre, as belíssimas canções saídas da pena da cantora Molly Rankin, ela que é rebento de integrantes do colectivo folk The Rankin Family. Situando as coordenadas num passado mais distante, há nos Alvvays um sentido pop resgatado dos Teenage Fanclub da fase intermédia, ou o travo retro, muitas vezes surfy, dos subvalorizados The Primtives. Porém, mais do que uma amálgama de referências facilmente reconhecíveis, estas são canções em pleno estado de graça pop que valem por si, com o inevitável reverb spectoriano, e as bem equilibradas doses de melancolia tola juvenil e de luminosidade estival. São apenas nove, mas as bastantes para que possam eleger Alvvays a banda sonora do (muito) que ainda resta deste Verão.

 
"Archie, Marry Me" [Polyvinyl, 2014]

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