"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Sonhos de toupeira














Por esta altura, decerto que já deverão ter ouvido pelo menos falar dos Cardinal. Se não for esse o caso, digo-vos, com toda a franqueza, que não o que andam a fazer neste mundo. A título adicional, gostava ainda de vos dizer que o álbum homónimo que editaram em 1994, apesar de ter passado despercebido a muita boa gente, tornou-se com tempo objecto de um culto fervoroso, um autêntico tratado de qualquer coisa como a pop de câmara/orquestral/barroca (riscar o que não interessa). Esse trabalho, concebido em Boston com alguns colaboradores locais, é fruto do génio do australiano Richard Davies, complementado pelos arranjos luxuosos do americano Eric Matthews. O primeiro encontrava-se ali deslocado por razões sentimentais, depois de ter seguido a sina de muitos artistas conterrâneos e tentar a sorte, sucessivamente em Nova Iorque e Londres, com a sua banda prévia: The Moles.

Deixando a dica de que Cardinal foi (mais uma vez) reeditado recentemente, hoje é destes últimos que me apetece falar-vos, até porque, tentando combater a obscuridade a que foram votados, acabam de ser alvo de uma retrospectiva integral da (escassa) obra numa única edição. De título genérico Flashback And Dream Sequences, o disco duplo tem selo precisamente da britânica Fire Records, neste momento a principal editora responsável pela revitalização do passado e presente da música das antípodas. Num total de 35 temas, inclui os dois álbuns da banda - Untune The Sky (1991) e Instinct (1994) -, bem como todas as canções originalmente espalhadas por uns escassos pequenos formatos. Se os pergaminhos de Richard Davies nos Cardinal, assim como a tradição das bandas clássicas australianas (The Go-Betweens, The Triffids), pode fazer crer que também os The Moles eram dados a um romantismo maior que a própria vida, desenganem-se, pois estes estavam na realidade mais sintonizados com as bandas da vizinha Nova Zelândia da década anterior à da sua existência. Assim, em Flashback And Dream Sequences podem encontrar o mesmo espírito indie-pop imperfeito, salpicado de psicadelismo e kraut, que habitava nos trabalhos seminais de gente como Tall Dwarfs, The Clean, The Chills. Refira-se ainda que estes últimos têm especial impacto ao nível da essência pop das canções. No entanto, apesar da opção pela imperfeição, no último longa-duração, que é na prática já um trabalho a solo de Richard Davies creditado à marca The Moles, já são audíveis alguns ímpetos orquestrais.

Resta acrescentar que, movido pelo súbito reavivar do interesse na banda, Davies decidiu reactivar o projecto The Moles, embora com diferentes acompanhantes. Há até planos para um álbum futuro que, a julgar pelo single de avanço, parece justificar a ressurreição. Sugiro que aproveitem o limitado Flashback And Dream Sequences, e que estejam preparados para receber o novo trabalho com o conhecimento da obra passada desta pequena mas belíssima obscuridade.

Bury Me Happy by The Moles on Grooveshark
[Seaside, 1991]

Eros Lunch (1963) by The Moles on Grooveshark
[Flydaddy, 1994]

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