"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Singles Bar #94









THE REPLACEMENTS
I Will Dare
[Twin/Tone, 1984]




Aos The Replacements é dedicado um dos dois principais capítulos da "cena" de Minnesota-Saint Paul de oitentas, a mesma que está na base da explosão "alternativa" na América da década seguinte. A outra parte, não menos importante desta bonita história, pertence aos conterrâneos e contemporâneos Hüsker Dü. Se os primórdios destes se distinguiam por uma certa ortodoxia fiel aos princípios do hardcore, nos The Replacements pressentia-se uma vontade precoce de escrever canções dignas desse nome, apesar da rapidez quase anárquica, movida a álcool, que caracterizava a rispidez dos primeiros registos. A promessa adiada haveria de se cumprir ao terceiro álbum, o histórico Let It Be, responsável também por firmar Paul Westerberg como um dos eleitos da sua geração na categoria dos escritores de canções pop/rock de três minutos.

Antecipando a edição daquele longa-duração em algumas semanas, o lançamento em single do tema de abertura "I Will Dare", que ficaria para a posteridade como o mais emblemático da banda a que carinhosamente chamavam Mats, confirmava já a vontade anunciada por Westerberg de compor temas mais directos e sinceros. Com uma capa que aproveita uma das fotos da sessão que rendeu ainda a icónica imagem da capa de Let It Be, esta é uma daquelas canções urgentemente pop, com todos os ingredientes dessa arte, mas que não corrompe a veia subversiva da banda. A letra, numa audição distanciada aparentemente imberbe, tem bastante de transgressor ao sugerir a atracção incontrolada por um destinatário feminino bastante mais novo (menor?). O título não deixa dúvidas quanto à opção do narrador Westerberg perante o risco. Por outro lado, movida pelo ritmo gingão do baixo de Tommy Stinson, quase country, "I Will Dare" encerra em si aquele gosto pela imperfeição que era característico na banda. Por exemplo, a guitarra do enfant terrible Bob Stinson está propositadamente desafinada, mal imaginado ele que com esse gesto deliberado iria lançar as sementes jangle que se espalhariam por muitas das bandas que fizeram a ementa college rock das ondas hertzianas da América dos anos seguintes. Já Paul Westerberg, na quebra algures a meio da canção, surpreende ao surgir com umas notas do então pouco usual mandolim. Foi o próprio Peter Buck quem admitiu a influência que essas singelas notas tiveram no seu contributo posterior para muitos dos temas dos R.E.M. ("Losing My Religion", conhecem?).

Por falar em R.E.M., que em meados de oitentas eram ainda uma banda ligeiramente obscura mas na iminência do estrelato, muito se especulou que os Mats os pudessem seguir na estrada do sucesso. Contudo, a atitude pouco profissional que lhe era imagem de marca, na qual o consumo excessivo de álcool era apenas um dos factores de instabilidade, sabotaria quaisquer planos mais optimistas, ficando a banda recordada apenas como um dos mais bonitos e românticos cultos da música popular das últimas quatro décadas. E não é que faltassem canções orelhudas do calibre de "I Will Dare", algumas delas logo em Let It Be, muitas outras repartidas pelos igualmente superlativos Tim (1985) e Pleased To Meet Me (1987), estes já lançados com selo de multinacional expectante quanto ao potencial (gorado) dos The Replacements.

I Will Dare by The Replacements on Grooveshark

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