"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O bom selvagem

















Talvez o nome Jason Quever não seja vendável o suficiente para o artista nascido como tal preferir editar sob a marca Papercuts. Apesar de uma relativa obscuridade, entre 2000 e 2011, foram uma mão cheia os álbuns lançados com aquela designação, qualquer deles a adiar a promessa do autor como um exemplar dessa espécie cada vez mais rara dos artífices pop. Eram óptimos discos, contudo, parecia faltar-lhes uma maior definição, já que Quever e os colaboradores pontuais optavam normalmente por um despojamento, até uma magreza quase rural, que empobrecia canções que pareciam aspirar a algo maior. No entanto, essa opção pela simplicidade, não tem impedido que Quever seja normalmente requisitado para tratar dos arranjos nos trabalhos de outrem. Certamente ainda estarão recordados do belíssimo trabalho levado a cabo no EP surpresa e surpreendente de Dean Wareham no ano passado.

A colaboração com o ex-Galaxie 500 terá sido mesmo um tudo de ensaio para Life Among The Savages, o sexto álbum de Papercuts e aquele que eleva, em definitivo, Jason Quever à primeira divisão dos grandes criadores de canções pop. Sem qualquer ponta de exagero, podemos afirmar que estes onze temas estão ao nível da criação de gente como Joe Pernice, Norman Blake, ou Matthew Sweet, alguns dos - poucos - mestres dessa arte da canção pop que o mundo parece já não querer saber. Num balanço equilibrado entre a luminosidade californiana que lhe serve de habitat e uma suave melancolia, Life Among The Savages é um disquinho que transpira emoção desde a primeira audição. A pureza inocente que lateja em cada esquina, e a predilecção por letras sobre amores esquivos, estabelecem pontes com o universo dos citados Galaxie 500, sugerindo que o convívio com Dean Wareham possa ter tido os seus efeitos. Contudo, Life Among... demarca-se nitidamente daquela banda mítica pela riqueza orquestrada dos temas, que juntam ao naipe de instrumentos tradicionais da pop, um violino aqui, um piano acolá, um violoncelo mais além. Como tal, este é um disco que inscreveremos naquela categoria a que chamam chamber pop, no entanto, com a ressalva de que a sua leveza o afasta de qualquer opulência barroca.

"Life Among The Savages" [Easy Sound Recording Co., 2014]

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