CARIBOU _ Swim [Merge, 2010]
Por entre os assomos de bizarria em que se tornou pródigo, tanto com a anterior designação Manitoba, como com a nova Caribou, o canadiano Dan Snaith já vinha a prometer aproximações ao formato canção. O anterior Andorra (2007) foi o passo mais brusco nesse sentido, e o novo Swim é a consumação dessa vontade, mesmo que essas canções venham imbuídas de uma estranheza que integra resquícios de psicadelismo e de kraut. A somar à equação, o novo álbum deixa-se contaminar por sonoridades disco-sound liquefeitas de um extremo bom-gosto. Daí tanto podem resultar pedaços musicados que convidam à dança em pistas para seres mutantes ("Odessa", "Kaili", "Leave House"), como assombrações do intimismo do negligenciado Arthur Russell ("Found Out"), como ainda abstraccionismos oníricos ("Bowls"). [8,5]
SENNEN _ Age Of Denial [Hungry Audio, 2010]
Há alguns anos, o nome desta banda britânica (o mesmo que o de um tema dos saudosos Ride) levou-me a comprar o seu primeiro álbum. Deparei-me com um disco empastelado, sem traços distintivos entre cada tema, envolvido no torpor de que o pior shoegaze. Escusado será dizer que foram de esquecimento rápido. Recentemente, algumas (boas) notas soltas, alertaram-me para a existência deste terceiro álbum. Reconheço agora nos Sennen um desenvolvimento evolutivo gigantesco, com um conjunto de canções escorreitas que, só não são descaradamente pop devido às doses moderadas de melancolia sonhadora, de sujidade granulosa, e do inevitável apego à distorção enquanto arma. Suficientemente eficaz sem necessitar de uma extrema originalidade pois, na maior parte do tempo, Age Of Denial lembra os citados Ride daquela fase intermédia em que procurava fugir do rótulo shoegaze que ajudaram a criar. Quando assim não, ganham um pendor espectral que levanta a hipótese do que seriam os Spacemen 3 com uma dose de sacarina. [7,5]
MALCONTENT _ Love The Gun [edição de autor, 2009]
Quem passou pelo SBSR deste fim-de-semana teve a oportunidade de verificar o valor dos Malcontent em palco, justamente escalados para o certame através de um concurso que almejava dar alguma visibilidade a bandas nacionais arredadas das playlists radiofónicas. Quem teve tal sorte, terá notado que, enquanto os nossos programadores ficam deslumbrados com o último bocejo da miúda dos sapatos vermelhos, ou do outro que gostava de viver nos eighties, há por esse país bandas que ousam contrariar o previsível. Não que os Malcontent primem pela originalidade, bem pelo contrário. Porém, mais do que um embaraço, a colagem aos Jesus and Mary Chain (em particular da "fase" que integra os discos Automatic e Honey's Dead) é um emblema que ostentam com orgulho. De auto-editado e auto-produzido Love The Gun ressaltam um conjunto de temas urdidos por alguém que conhece a cartilha toda. Contaminada por uma irresistível sujidade a transpirar lascívia e algum negrume, e versando a dicotomia amor-ódio, esta dúzia de canções exibe um notável ar de modernidade por via da discrição dos samplers, estrategicamente "disparados" por entre as linhas melódicas. [7,5]
THE RADIO DEPT. _ Clinging To A Scheme [Labrador, 2010]
Na área do mobiliário, a Suécia é conhecida por vender artigos de qualidade questionável através da embalagem atraente e do preço apelativo. Na música, a estratégia dos súbditos de Carlos Gustavo não difere grandemente. Nesta disciplina, ultimamente, têm-se especializado a polir a ingenuidade twee-pop, tarefa que na qual têm vindo a cativar alguns incautos. O caso dos Radio Dept. até era promissor, com um primeiro álbum a enveredar por um noise-pop adocicado que a editora Slumberland não desdenharia. Já ao segundo, caíram num torpor letárgico capaz de solucionar o mais grave caso de insónias. Este terceiro não desce a esse patamar, pois, aqui e ali, quando um ou outro ritmo (eu falei em ritmo?!) mais crispado dos sintetizadores analógicos contraria o enjoo da voz de cordeiro-mal-morto, os sonos mais leves podem ser facilmente perturbadozzzzzzzzzzzzzzzzzz... [3]