"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Good cover versions #40

















BABES IN TOYLAND "All By Myself" [Reprise, 1995]
[Original: Eric Carmen (1975)]

Enquanto membro dos Raspberries, Eric Carmen pode gabar-se de ter estado na primeira linha daquilo a que convencionou chamar-se power-pop. A solo, especializou-se no género de baladas a escorrer azeite que fizeram as delícias do FM durante boa parte das décadas de 1970 e 1980. Nesse período, amealhou sucessos em solo norte-americano, entre eles o maior foi o hiper-meloso "All By Myself", balada apropriada a bodas e fins de noite em danceterias de gosto duvidoso. O último momento de relativa visibilidade foi quando, em perfeita sintonia com o público alvo, viu um tema seu incluído na banda-sonora de um determinado filme que ficou gravado no coração de qualquer sopeira com mais de 30 anos.
Vinte anos depois dos Raspberries, também as Babes in Toyland estavam na primeira linha do "movimento" riot grrrl. Três álbuns e uns quantos formatos reduzidos volvidos já definhavam. O último disco é já um desfile de tiques que redunda em auto-caricatura. Nemesisters vale apenas pelo trio de versões incluídas no final do alinhamento. Uma delas é o esventramento de "All By Myself" em modo tão desleixado que só pode ser chacota: a parte instrumental resume-se basicamente a uns escassos acordes de guitarra, a voz desperta de um estado lisérgico na berraria de um histerismo gratuito do refrão. Num número de pura diversão, as Babes in Toyland recolhem aprendizagem do amadorismo deliberado de uma Raincoats dos primórdios. E já que falámos em sopeiras, duvido que uma carpideira quebequiana cujo nome me recuso a pronunciar tenha retirado daqui alguns ensinamentos aquando da cópia quase fiel do êxito de Carmen.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

First Exposure #16















Foto: Laura Hernando

BO NINGEN


Formação:Taigen (voz, bx); Kohhei (gtr); Yuki (bx); Mon-chan (btr)
Origem: Londres, Inglaterra [UK] (com elementos de origem japonesa, está bom de ver)
Género(s): Jap-Rock, Psych, Space-Rock, Kraut-Rock, Doom Metal
Influências / Referências: Boredoms, Amon Düül, Acid Mothers Temple, Boris, Faust, Black Sabbath

http://www.myspace.com/boningen

terça-feira, 27 de julho de 2010

Confissões de gente crescida














Já não é novidade para ninguém o envolvimento dos membros dos Sonic Youth em variados  projectos pessoais que, muitas vezes, ultrapassam as fronteiras da música. O baterista Steve Shelley não é excepção e, ainda recentemente, foi avistado por este que vos escreve em  estado de puro delírio a ladear Michael Rother na celebração da música dos Neu!. Na altura, sabia já do seu envolvimento no projecto The High Confessions, espécie de super-grupo que envolve ainda a voz de Chris Connelly (dos Ministry e dos paralelos Revolting Cocks), as manipulações sonoras de Jeremy Lemos (dos terroristas noise White/Light), e o baixo de Sanford Parker (dos "metaleiros" Minsk). O primeiro fruto desta união é Turning Lead Into Gold With The High Confessions, disco acabadinho de aterrar no tasco e que integra apenas cinco (longos) temas banhados pelas atmosferas plúmbeas a que alude o título. Sem se deixar amarrar por espartilhos estilísticos, Turning Lead... reflecte, sem primazias, as sensibilidades pessoais de cada um dos seus criadores, seja pelas lenga-lengas malsãs de Connelly, pela deriva kraut que tem encantado Shelley, pelas incursões electro-noise de Lemos, ou pela imponência atmosférica trazida por Parker. O post-rock e o drone são também variáveis numa equação de difícil resolução. Sem ser propriamente o metal amarelo a que também se refere o título, este é um daqueles discos adequados a estranhos desejos de abalo mental, tal qual o primeiro tomo dos mui esquecidos The Hair & Skin Trading Company.


"Chlorine And Crystal" [Relapse, 2010]

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mil imagens #7

The Horrors - Junk Club, Southend-on-Sea, 2006
[Foto: Dean Chalkley]

Apesar de relativamente jovem, Dean Chalkley é já um dos mais consagrados fotógrafos rock britânicos da actualidade. O estatuto adquirido tem-lhe valido também diversos convites para campanhas publicitárias de algumas marcas multinacionais, sobretudo ligadas ao vestuário e à moda em geral. Nada de anormal se atentarmos que, na adolescência, Chalkley foi um fervoroso seguidor do "movimento" mod revival e que, quando ainda cursava fotografia, ingressou nos quadros da revista Dazed & Confused, publicação habitualmente dedicada ao estilo no contexto da cultura popular. Actualmente, é colaborador regular do New Musical Express, ligação que o tem levado a cruzar-se com inúmeras personagens do meio musical contemporâneo, desde os figurões consagrados, aos neófitos emergentes. As imagens captadas junto dos  conterrâneos The Horrors estiveram já patentes em várias exposições, tanto no Reino Unido, com em galerias no exterior. No caso em apreço, note-se na imagem o uso das sombras, perfeitamente adequado com o imaginário da banda desde os primórdios. Por outro lado, a fragilidade das silhuetas realça a fisionomia dos músicos.

domingo, 25 de julho de 2010

Discos pe(r)didos #42






THE MAKE-UP
Save Yourself
[K, 1999]






Embora longe das luzes da ribalta, Ian Svenonius leva já uns bons vinte anos de afirmação como uma das mais proeminentes figuras da cena musical de Washington D.C. em particular, e do underground norte-americano em geral. Iniciado nas lides à frente dos fugazes Nation of Ulysses, deu um forte contributo para produção musical pós-hardcore da capital dos states. Progressivamente, foi aprofundando os conhecimentos das raízes do rock'n'roll e seus derivados, com especial incidência na música negra. O resultado desse intenso "estudo" foram os Make-Up, banda constituída por 3/4 da formação dos NoU que funde, engenhosamente, a crueza do garage-rock com o charme do funk e da soul, como que a querer demonstrar que entre os Stooges e James Brown há uma relação relativamente estreita. Tal mistura foi rotulada pelo próprio Svenonius de gospel yeh-yeah e rendeu, segundo reza a lenda, inúmeros concertos de autêntica comunhão entre banda e audiência, com muito suor e meneares de ancas à mistura.
Save Yourself é o quarto álbum de estúdio de uma carreira marcada pela hiperactividade e, porventura, aquele em que a peculiar proposta dos Make-Up atinge o ponto-de-rebuçado. Abre com tema-título, assinalado por uma explícita lascívia e pelos expressivos gritos primevos, e encerra com uma versão do tradicional "Hey Joe", numa aproximação maioritariamente dengosa, mas a evoluir para uma descarga catártica semelhante à da conhecida interpretação do lendário Jimi Hendrix. Este tema é um dos raros casos no disco em que as guitarras assumem o papel principal, algo mais comum nos anteriores registos dos Make-Up. Os outros são o espasmódico e impregnado de sujidade "White Belts" e o charmoso "Feelin' Man". Neste último, Svenonius veste a pele de um velho soul-man ligado à corrente, algo que sucede com carga eléctrica reduzida no sedutor "I Am Pentagon". Mais focalizados que nos primeiros tempos, os Make-Up de Save Yourself chamam para a linha da frente os órgãos retro e libidinosos, o groove certeiro do baixo, ou até, mais ocasionalmente, a exuberância dos metais. Nas letras, para além da habitual agenda política orientada à esquerda, rejeitando a postura burguesa e sexista normalmente associada ao fenómeno rock, Save Yourself tem especial enfoque na temática da maternidade, algo de mais inusitado se atendermos ao facto de o único elemento feminino dos Make-Up - a baixista Michelle Mae - apenas cede a voz no dueto do tema derradeiro, curiosamente o único de autoria alheia.
Escassos meses após a edição de Save Yourself, e num contexto de crescente atenção para com a vertente mais rootsy do r'n'r (The Jon Spencer Blues Explosion e The Delta 72 eram outros dois nomes em foco), os Make-Up decidem, de forma inesperada, terminar actividades. De então para cá, Svenonius, juntamente com a baixista Mae, tem depurado a fórmula à frente dos Weird War, projecto que, na sua primeira encarnação, envolvia também o ex-Royal Trux Neil Hagerty.


"Save Yourself"


"White Belts"


"I Am Pentagon"

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sex sux? Amen.
















Foto: Wattie Cheung

Vinte anos são uma boa parcela de uma vida. No mundo da pop, então, são uma eternidade. É precisamente esse o período de tempo decorrido desde o primeiro e único álbum dos escoceses The Vaselines, banda que, a brincar, a brincar, acabou por se tornar uma das maiores referências do chamado twee-pop. Pormenor caricato é que, mesma semana que esse disco (Dum-Dum, de sua graça) era editado, a banda cessava funções. Os Vaselines pareciam assim condenados ao esquecimento, até que um sujeito baptizado Kurt Cobain começa a apregoar a sua devoção por aquelas canções frágeis nas quais Eugene Kelly e Frances McKee trocam piropos disfarçados de falsa ingenuidade. Através das versões dos Nirvana ("Son Of A Gun", "Molly's Lips" e "Jesus Doesn't Want Me For A Sumbeam") a música dos Vaselines chegava finalmente a um público mais alargado. Por alturas do apogeu dos Nirvana, Kelly e McKee cederam inclusive a convites para aparições esporádicas nos concertos daqueles. De há dois anos a esta parte, a dupla reaparecida sob a designação The Vaselines tem percorrido o mundo numa intensíssima agenda de concertos, um dos quais tive a felicidade de assistir há pouco mais de um ano. Contudo, nada nos tinha preparado para a boa nova: os Vaselines estão de regresso aos discos! O novo álbum dá pelo sugestivo título de Sex With An X e chega às lojas em Setembro próximo. Em baixo apresenta-se o primeiro avanço, augúrio de um regresso abençoado. O título e a letra podem não ser o garante do sucesso massivo, mas têm a minha inteira aprovação.


"I Hate The 80's"
[Sub Pop, 2010]

terça-feira, 20 de julho de 2010

R.I.P.


ANDY HUMMEL
[1951-2010]

Andy Hummel (na foto, o primeiro a contar da esquerda), baixista da formação original dos Big Star morreu ontem, vítima de cancro. Esta triste notícia surge escassos quatro meses após o inesperado desaparecimento do "chefe-de-fila" Alex Chilton, e faz com que Jody Stephens seja agora o único membro sobrevivente do quarteto fundador da banda que melhor definiu as "regras" do power-pop. Lembre-se que o torturado guitarrista/compositor Chris Bell pereceu a um acidente de viação no longínquo ano de 1978.
Hummel esteve com os Big Star por um curto período de tempo (entre 1971 e 1973), mas o suficiente para ter participado na feitura dos álbuns #1 Record (1972) e Radio City (1974), obras que, apesar do número de vendas desprezível, deixaram marca indelével na pop subsequente. Teenage Fanclub, The Replacements, The Posies, R.E.M., The Lemonheads, e Wilco são apenas alguns exemplos dos seguidores mais ou menos assumidos dos Big Star. Remetido à obscuridade desde então, Hummel também não esteve envolvido no renascimento da banda em 1993, com uma formação que integrava Jon Auer e Ken Stringfellow, ambos membros dos discípulos The Posies.


"The Ballad Of El Goodo"
[Ardent / Stax, 1972]

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Em escuta #50










CARIBOU _ Swim [Merge, 2010]

Por entre os assomos de bizarria em que se tornou pródigo, tanto com a anterior designação Manitoba, como com a nova Caribou, o canadiano Dan Snaith já vinha a prometer aproximações ao formato canção. O anterior Andorra (2007) foi o passo mais brusco nesse sentido, e o novo Swim é a consumação dessa vontade, mesmo que essas canções venham imbuídas de uma estranheza que integra resquícios de psicadelismo e de kraut. A somar à equação, o novo álbum deixa-se contaminar por sonoridades disco-sound liquefeitas de um extremo bom-gosto. Daí tanto podem resultar pedaços musicados que convidam à dança em pistas para seres mutantes ("Odessa", "Kaili", "Leave House"), como assombrações do intimismo do negligenciado Arthur Russell ("Found Out"), como ainda abstraccionismos oníricos ("Bowls"). [8,5]


SENNEN _ Age Of Denial [Hungry Audio, 2010]

Há alguns anos, o nome desta banda britânica (o mesmo que o de um tema dos saudosos Ride) levou-me a comprar o seu primeiro álbum. Deparei-me com um disco empastelado, sem traços distintivos entre cada tema, envolvido no torpor de que o pior shoegaze. Escusado será dizer que foram de esquecimento rápido. Recentemente, algumas (boas) notas soltas, alertaram-me para a existência deste terceiro álbum. Reconheço agora nos Sennen um desenvolvimento evolutivo gigantesco, com um conjunto de canções escorreitas que, só não são descaradamente pop devido às doses moderadas de melancolia sonhadora, de sujidade granulosa, e do inevitável apego à distorção enquanto arma. Suficientemente eficaz sem necessitar de uma extrema originalidade pois, na maior parte do tempo, Age Of Denial lembra os citados Ride daquela fase intermédia em que procurava fugir do rótulo shoegaze que ajudaram a criar. Quando assim não, ganham um pendor espectral que levanta a hipótese do que seriam os Spacemen 3 com uma dose de sacarina. [7,5]


MALCONTENT _ Love The Gun [edição de autor, 2009]

Quem passou pelo SBSR deste fim-de-semana teve a oportunidade de verificar o valor dos Malcontent em palco, justamente escalados para o certame através de um concurso que almejava dar alguma visibilidade a bandas nacionais arredadas das playlists radiofónicas. Quem teve tal sorte, terá notado que, enquanto os nossos programadores ficam deslumbrados com o último bocejo da miúda dos sapatos vermelhos, ou do outro que gostava de viver nos eighties, há por esse país bandas que ousam contrariar o previsível. Não que os Malcontent primem pela originalidade, bem pelo contrário. Porém, mais do que um embaraço, a colagem aos Jesus and Mary Chain (em particular da "fase" que integra os discos Automatic e Honey's Dead) é um emblema que ostentam com orgulho. De auto-editado e auto-produzido Love The Gun ressaltam um conjunto de temas urdidos por alguém que conhece a cartilha toda. Contaminada por uma irresistível sujidade a transpirar lascívia e algum negrume, e versando a dicotomia amor-ódio, esta dúzia de canções exibe um notável ar de modernidade por via da discrição dos samplers, estrategicamente "disparados" por entre as linhas melódicas. [7,5]


THE RADIO DEPT. _ Clinging To A Scheme [Labrador, 2010]

Na área do mobiliário, a Suécia é conhecida por vender artigos de qualidade questionável através da embalagem atraente e do preço apelativo. Na música, a estratégia dos súbditos de Carlos Gustavo não difere grandemente. Nesta disciplina, ultimamente, têm-se especializado a polir a ingenuidade twee-pop, tarefa que na qual têm vindo a cativar alguns incautos. O caso dos Radio Dept. até era promissor, com um primeiro álbum a enveredar por um noise-pop adocicado que a editora Slumberland não desdenharia. Já ao segundo, caíram num torpor letárgico capaz de solucionar o mais grave caso de insónias. Este terceiro não desce a esse patamar, pois, aqui e ali, quando um ou outro ritmo (eu falei em ritmo?!) mais crispado dos sintetizadores analógicos contraria o enjoo da voz de cordeiro-mal-morto, os sonos mais leves podem ser facilmente perturbadozzzzzzzzzzzzzzzzzz... [3]

domingo, 18 de julho de 2010

Singles Bar #49






THE SUNDAYS
Can't Be Sure
[Rough Trade, 1989]






Na Inglaterra da viragem dos oitentas para os noventas, dominada pelas tendências dançantes da Madchester, surgiu uma banda apostada em cruzar a dream-pop e o iminente shoegaze. Neste ambiente, os The Sundays nasceram do feliz encontro da cantora Harriet Wheeler e do guitarrista David Gavurin, dupla que, até aos dias de hoje, partilha uma vida em comum. Deram-se a conhecer com este "Can't Be Sure", tema assinalado pela filigrana das guitarras, como que a sugerir uma versão mais leve da densidade textural dos Cocteau Twins. Sobre a teia circular instrumental paira a voz ingénua e arejada de Harriet, que, com tais atributos se tornou musa imediata da comunidade indie. A confirmar os excelentes apontamentos deixados por este primeiro single, o ano seguinte trouxe o álbum-debute (Reading, Writing And Arythmetic) e o correspondente single (Here's Where The Story Ends) que mereceu intensa exposição radiofónica. Neste curto período de actividades ficou evidente o potencial dos The Sundays para aspirar a altos voos, quem sabe até capazes de penetrar no mainstream. Porém, o período de ruptura da Rough Trade Records que coincidiu com estes lançamentos haveria de condenar a banda a um lento definhar, sem mais encontrar a graça destes primeiros tempos.

First Exposure #15

















Foto: Brent Mullins

ACTIVE CHILD


Formação: Pat Grossi
Origem: Los Angeles, Califórnia [US]
Género(s): Lo-Fi Electronica, Ambient, Dark-Wave, Coral
Influências / Referências: New Order, This Mortal Coil, M83, Cold Cave, The Big Pink

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Love 'em tender




















Com Amelia Fletcher, rainha incontestada do "movimento" twee-pop, as coisas sempre funcionaram assim: a saída de um elemento significa o fim da banda, e o fim desta significa o nascimento de uma nova. Foi assim quando os fulgurantes Talulah Gosh evoluíram para os Heavenly. Estes, por seu turno, deram lugar aos Marine Research. Desta vez a transformação foi mais dolorosa, pois foi motivada pelo suicídio do irmão e baterista Matthew Fletcher. Por fim, e há quase uma década, com alguma discrição mas muita dignidade. Amelia lidera os Tender Trap (não confundir com aquela "coisa" do país dos cangurus, s.f.f.). Destes foram necessários quatro anos para termos novo álbum, na circunstância o terceiro. Ainda assim, chega a tempo de Amelia e C.ª reclamarem o ceptro da pop açucarada e cheia de fuzz, nesta era de The Pains of Being Pure  at Heart e Vivian Girls. Dansette Dansette  - óbvia referência aos velhinhos gira-discos mono - tem para oferecer um total de dez temas, de ética punk pela sua estrutura simplificada, mas irremediavelmente pop na essência. A voz de Amelia já não sugere aquela imagem da miúda ingénua que nos fascinou noutros tempos. Está mais madura mas também mais segura. Ao longo do disco, a presença dos incontornáveis The Jesus and Mary Chain é uma constante, não só em espírito como em referências directas. Ora vejam:

"Do You Want A Boyfriend?" [Fortuna Pop!, 2010]

terça-feira, 13 de julho de 2010

Falling & Laughing
















Os mui recomendáveis My Teenage Stride já os citavam algo timidamente. Os hipervalorizados Vampire Weekend herdaram parte do seu código genético, embora não o admitam. É pois, com alegria que constato a chegada de uma banda que não se envergonha de lembrar os valorosos Orange Juice, colectivo escocês que, há cerca de três décadas, lançou as sementes daquilo a que se decidiu chamar indie-pop (no sentido estrito do termo, entenda-se). São californianos de São Francisco estes Magic Bullets e vão já no segundo álbum (homónimo), no qual nos oferecem uma boa meia dúzia de canções com as mesmas guitarras chocalhadas, o mesmo balanço, e a mesma joie de vivre das da banda que lhes serve de principal referência. Têm até um tema intitulado "Pretend & Descend" que penso ser uma alusão indirecta a "Falling & Laughing", tema-título do clássico primeiro single dos de Glasgow. Uma boa parte do tempo que lhes resta ocupam-no a parafrasear os Smiths, também eles orgulhosos descendentes de Edwyn Collins & C.ª. Não os Smiths mais miserabilistas e das produções sofisticadas da fase evoluída, mas aqueles da ingenuidade desarmante dos primórdios. Porém, mais do que pela soma das suas significativas influências, os Magic Bullets merecem ser louvados pelo engenho na feitura de canções prenhes de luminosidade e jovialidade que nos fazem esquecer qualquer colagem mais óbvia.


"Lying Around" [Mon Amie, 2010]

Duetos #23


Nascido na Austrália, Ben Lee é um talento precoce há muito emigrado na terra das oportunidades dos Estados Unidos. Na sua estreia americana, naquilo que pensamos ser uma singela homenagem aos seus ídolos, teve o apadrinhamento de uma moça já algo sabichona.

Ben Lee w/ Liz Phair "Away With The Pixies" [Fellaheen / Grand Royal, 1995]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Good cover versions #39

















PJ HARVEY _ "Highway '61 Revisited" [Island, 1993]
[Original: Bob Dylan (1965)]

Polly Jean Harvey é o típico caso da artista cujo envelhecimento tem acompanhado o do seu público. Talvez por isso, continue a gozar de um culto que não dá mostras de esmorecer. Pela parte que me toca, atribuo-lhe a devida relevância pelos primeiros trabalhos, os do tempo de afronta ao establishment macho do universo rock. Isto, em detrimento da contenção que tem caracterizado os discos da idade adulta. 
Revelada ainda como líder do trio que recebia o seu nome, surpreendeu meio mundo pela visceralidade do soberbo Dry (1992). Para o segundo registo (Rid Of Me), entrou em estúdio na companhia de Steve Albini, porventura a única pessoa capaz de a ajudar a superar a "secura" do antecessor. Saiu de lá com o conjunto de temas mais cru de toda a sua carreira, alguns deles captados ao primeiro take. Entre eles está um ataque a golpes de guitarra contundente a um dos maiores clássicos da "vaca sagrada" Bob Dylan. Apesar de o conjunto de parábolas de "Highway '61 Revisited" ser, à data, um dos temas mais atípicos do cantautor folk, tanto pela estrutura, como pelo "exprimentalismo" dos sons incidentais,  nada faria supor que se dispusesse ao assalto sónico de miss Harvey.

A dar à costa
















Foto: Steven Andrew Garcia

Bethany Cosentino já não é propriamente uma novata no meio do novo lo-fi norte-americano que brota, essencialmente da Califórnia, pois, durante anos, militou nos relativamente exploratórios Pocahaunted. No ano transacto, talvez cansada de papéis secundários, abandonou aquela banda e deu por iniciada a aventura de um novo projecto, no qual tem sido o único elemento fixo. Fala-vos dos Best Coast, nome gerador de algum buzz com o par de EPs que já leva no currículo. Para inícios do próximo mês está marcada a prova de fogo, com a edição de Crazy For You, primeiro longa-duração com selo da Mexican Summer que, por entre referências avulsas às Ronettes, promete um Verão interminável. Enquanto não chega, pode ser escutado na íntegra aqui.

sábado, 10 de julho de 2010

Discos pe(r)didos #41







BIG DIPPER
Heavens
[Homestead, 1987]





Formados em Boston por dissidentes de várias bandas locais com diferentes graus de relevância (Volcano Suns, The Embarassment, Dumptruck), os Big Dipper dificilmente encaixam no universo do underground norte-americano de oitentas, todo ele um reflexo ou uma reacção ao surto hardcore de inícios daquela década. Em terras do Tio Sam talvez apenas tenham algumas afinidades com os R.E.M. dos primórdios, não tanto pelo apelo rootsy, mas mais pelo empenho na construção de canções estruturadas. Profusamente melódicos, no seu auge, os Big Dipper encontravam correspondência nos jangle-poppers que à data ditavam regras no cenário indie britânico.
Emancipados pelo obrigatório EP, os Big Dipper entraram nos emblemáticos estúdios Fort Apache para a gravação do primeiro longa-duração acompanhados de uma dupla de produtores que em breve haveria de se tornar selo de confiança: Paul Q. Kolderie e Sean Slade. Escolha acertada, pois a dupla de técnicos conseguiu extrair da banda toda a sua urgência angustiada, bem como a tendência para as melodias irremediavelmente catchy. Heavens abre com "She's Fetching", provavelmente o tema mais rodado de todo o catálogo dos Big Dipper e que assenta num riff de guitarra que, sem ser particularmente original, revela um estranho poder de adicção. Este tema é daqueles que justifica o emprego do adjectivo "intemporal". Como o próprio título sugere, "Man O' War" pauta-se por um teor belicista, sublinhado pelo ritmo marcial da bateria. Exala um leve travo marítimo que revela parentescos da banda com os australianos The Go-Betweens. "Easter Eve", "Humason", "Younger Bums", "Mr. Woods", ou o derradeiro e semi-intrumental "A Guitar Named Desire", seguem uma via de maior crueza, própria da cartilha indie da época, tanto pela aspereza das guitarras de pontas afiadas, como pelo tom menos cuidado da voz. No extremo oposto estão "Lunar Module", "All Going Out Together", ou o soberbo "Wet Weekend", exemplos de uma sensibilidade tensa e vagamente nerdish que é um dos maiores trunfos da banda.
Tal como outras luminárias antes deles (The Replacements, Hüsker Dü), os Big Dipper foram o alvo do aliciamento das multinacionais, numa era pré-grunge já desconfiadas do potencial que emanava dos pequenas salas de concertos da América profunda. Após a cedência, tal como nos casos citados, as pressões mercantilistas e a incompatibilidade entre ambas as partes haveriam de gerar conflitos no seio da banda que conduziram a um fim prematuro.

"She's Fetching"


"Younger Bums"


"Wet Weekend"

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Singles Bar #48






MEAT WHIPLASH
Don't Slip Up
[Creation, 1985]






Baptizados a partir de um tema dos post-punkers Fire Engines, os Meat Whiplash foram um agrupamento escocês de vida efémera que esteve entre a primeira leva de contratações da Creation Records. Para a posteridade, não deixaram registado mais do que um single. A capa desse registo isolado, que aproveita uma imagem do actor Robert Vaughn, foi concebida pelo compatriota Bobby Gillespie e executada manualmente pelo próprio Alan McGee, fundador da editora que acolheu a banda. Eram estes os tempos do espírito familiar de entre-ajuda em que as editoras independentes se podiam orgulhar de tal adjectivo... No currículo contam também com a abertura do primeiro concerto londrino dos Jesus and Mary Chain, já célebre pelos ondas de revolta provocadas na audiência pela postura de confronto dos Irmãos Reid & C.ª.
À parte estes factos mundanos, os Meat Whiplash merecem algo mais do que uma nota de rodapé no compêndio indie por culpa deste "Don't Slip Up", o típico mergulho na era dourada da pop através de uma faixa de alienação afogada num mar de distorção e batida minimalista reduzida ao essencial. Não fosse a velocidade mais acelerada, e encaixaria na perfeição no primeiro tomo da tal banda dos irmãos disfuncionais que pela mesma altura escrevia um dos mais belos capítulos da história da música popular. Comparações à parte, atribua-se a "Don't Slip Up" o mérito de ter servido de matriz às gerações indie futuras, tanto da emergente "vaga C86", como os estetas shoegaze. Mais tarde, o quarteto fundador dos Meat Whiplash haveria de prosseguir carreira conjuntamente com Alex Taylor, a vocalista dos Shop Assistants, agora sob a designação The Motorcycle Boy, outra das bandas criminalmente esquecidas do excelso catálogo pop produzido em terras da Escócia nos últimos trinta anos.

O chamamento das vozes do além

















Aqui há uns anos, li algures uma piada que envolvia a moda das reuniões e os Guided by Voices. O chiste anunciava para 2010 o regresso dos GvB e questionava-se quanto à formação envolvida. É preciso lembrar que os músicos que já passaram pela banda de Dayton, Ohio, somados aos que passaram pelos The Fall, perfazem em número metade da população do Luxemburgo. E não é que profecia marota se cumpriu? Ainda que por um dia, os GvB estarão de regresso aos palcos, mais precisamente em inícios de Outubro por ocasião do festival comemorativo do 21.º aniversário da Matador Records. O evento, a ter lugar em Las Vegas, conta ainda com a participação de muitos outros nomes relevantes no passado e no presente da editora nova-iorquina, tais como Pavement, Sonic Youth, Belle & Sebastian, Yo La Tengo, Girls, Superchunk, Cat Power, Chavez, ou The Jon Spencer Blues Explosion. Para o acontecimento, os GvB reuniram a formação que esteve mais intimamente ligada à concepção de Bee Thousand (1994) e Alien Lanes (1995), os dois discos fundamentais do seu extenso catálogo. A saber: o inevitável e intratável Robert Pollard (voz, guitarra), o co-compositor Tobin Sprout (guitarra, voz), o principal guitarrista Mitch Mitchell, o baixista Greg Demos, e o baterista Kevin Fennell. Ou seja, o quinteto responsável por este dois-em-um:

"Auditorium" / "Motor Away" [Matador, 1995]

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Surfin' USA
















Alguns incidentes ocorridos no ano passado poderão levar alguns, com alguma justiça, a apelidar Nathan Williams de puto birrento e algo desrespeitador do público. O que ninguém o pode acusar é de ser preguiçoso. Afinal de contas, o seu projecto Wavves, agora alargado a trio com a integração da secção rítmica que costumava acompanhar o malogrado Jay Reatard, vai já no terceiro álbum em tantos outros anos consecutivos. O novo rebento dá pelo nome de King Of The Beach e demarca-se da estética lo-fi dos anteriores pela produção merecedora desse nome - cortesia do prestigiado Dennis Herring (Throwing Muses, Modest Mouse). Sai assim realçado o teor pop que sempre esteve presente nas canções de Williams. Imutável permanece o apego pela distorção e, como o próprio título indica, pelas melodias surf-rock, desta feita com direito a harmonias vocais e falsettos a la Brian Wilson. Para já apenas disponível em formato digital, King Of The Beach conhece edição física em inícios do próximo mês, mesmo a tempo de ser tornar uma das bandas sonoras do Verão. Nas vozes, Bethany Cosentino, cabecilha dos emergentes Best Coast dá uma ajuda. Dá-se o caso neste tema, mais um para engrossar a lista dos que pilham a batida introdutória de um certo clássico da autoria de Phil Spector.


"When Will You Come" [Fat Possum, 2010]

quinta-feira, 1 de julho de 2010

First Exposure #14

















BUBBLEGUM LEMONADE

Formação: Laz (voz, gtr, btr)
Origem: Glasgow, Escócia [UK]
Género(s): Pop, Indie-Pop, Twee-Pop, Fuzz-Pop
Influências / Referências: The Jesus and Mary Chain, Biff Bang Pow!, The Byrds, Felt, The Pastels, The Velvet Underground, The Pains of Being Pure at Heart

http://www.myspace.com/bubblegumlemonade