"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Good cover versions #36















SPIRITUALIZED "Anyway That You Want Me" [Dedicated, 1990]
[Original: The Troggs (1966)]

Influenciados pelos Beatles e pelos Kinks, os Troggs apropriaram-se das ideias pop daqueles e transferiram-nas para um habitat garage-rock. Neste cenário, ficavam-se pelo meio termo, ou seja, apontando às tabelas de vendas, despiam as canções de qualquer tipo de sujidade. Meros carreiristas, nunca passaram da mediania. Porém, saltando para o comboio da British Invasion já em movimento, obtiveram significativo reconhecimento um pouco por todo o lado, inclusive nos states. Afinal, quem é que nunca ouviu "Wild Thing", símbolo maior de um certo rock enérgico e acéfalo com presença em inúmeros filmes hollywoodescos e noutros tantos anúncios publicitários? Bem diferente é "Anyway That You Want Me" (escrita por Chip Taylor, irmão do actor Jon Voigt), tentativa de seguir as tendências psych-pop que há época também estavam na ordem do dia.
Quando parecia condenada ao estatuto de mera nota de rodapé, em meados da década de 1990, a banda liderada por Reg Presley foi alvo de uma "redescoberta" materializada na adoração dos R.E.M. e numa versão insossa dos xoninhas Wet Wet Wet. Antes disso, já com os Spacemen 3 em estado de degradação, Jason Pierce escolheu uma reinterpretação de "Anyway That You Want Me" para carta de apresentação do novo projecto: os Spritualized. Ainda sem os assomos orquestrais da fase posterior, esta versão é um lamento "dopado" e letárgico que não dispensa os picos emotivos que fizeram a fama do seu intérprete. No fundo, retrata um Jason Pierce em processo de transição.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Em escuta #49









FRIGHTENED RABBIT _ The Winter Of Mixed Drinks [FatCat, 2010]

Logo no tema de abertura teme-se que os escoceses Frightened Rabbit se tenham juntado à pandilha insossa a que pertencem os conterrâneos Snow Patrol. Felizmente, o pior dos medos desvanece-se ligeiramente em seguida, quando somos confrontados com o hiper-dramatismo miserabilista expresso no sotaque carregado de Scott Hutchison. Aumentados de trio a quinteto desde o anterior registo, os FR expandem agora a canções para uma grandiosidade quase épica que, não raras vezes, integra pomposos arranjos de cordas. Para trás ficou aquela naïvité genuína responsável por muito do seu charme. O próximo passo poderá muito bem ser a abertura de uma qualquer tournée dos fastidiosos Coldplay. Ou então dos U2... [6,5]


LIARS _ Sisterworld [Mute, 2010]

Depois do tropel de mudanças estéticas, ao quinto registo, os Liars repetem-se. Ou melhor, reformulam e aprumam as premissas do segundo álbum - o incompreendido They Were Wrong, So We Drowned (2004). Gravado em Los Angeles, Sisterworld recupera a opção dos discos vagamente conceptuais, discorrendo sobre os truques necessários para preservar a sanidade numa grande metrópole. Os temas alternam entre discursos contemplativos e surrealistas e tiradas de insanidade a cargo do berrador de serviço Angus Andrew, estas convenientemente acompanhadas de descargas vitriólicas das guitarras. As letras, quando decifráveis, remetem para imagens tétricas, aterradoras, quando não cómicas. Escusado será dizer que Sisterworld é um trabalho de difícil digestão mas que, depois de devidamente assimilidado, reforça a convicção que, na sua imprevisibilade estonteante, os Liars são uma das mais importantes bandas dos últimos dez anos. [8]


THE BESNARD LAKES _ ...Are The Roaring Night [Jagjaguwar, 2010]

Três anos depois de se fazer notado, o colectivo reunido em volta do casal Jace Lasek e Olga Goreas repete muitos dos truques que fizeram de ...Are The Dark Horse um disco singular. Por conseguinte, o terceiro álbum dos Besnard Lakes é, mais uma vez, feito de atmosferas gélidas, paisagens desoladas, e cavalgadas épicas. No falsetto de Jace e no timbre imaculado de Goreas reside luminosidade suficiente para iluminar as trevas em que os temas parecem mergulhados. Embora deixe escapar um travo de dejá vu, ...Are The Roaring Night é o assumir definitivo das tendências prog do combo canadiano, algo apenas aflorado no predecessor e agora bem evidente nos quatro temas que se complementam em parelhas. A rematar, sustentado em sintetizadores generosos, "The Lonely Moan" pode assinalar a porta de entrada dos Besnard Lakes nos teritórios da "música cósmica". Aguardam-se as cenas dos próximos capítulos... [7,5]


SERENA-MANEESH _ No. 2: Abyss In B Minor [4AD, 2010]

Pelo título e pelo longo período de gravação (quatro anos) supõe-se que, ao segundo registo, os estratega Emil Nikolaisen se tenha rendido à megalomania latente na estreia homónima dos Serena-Maneesh. Puro engano! Com os créditos vocais quase exclusivamente entregues à esposa Hilma, No. 2 é claro exemplo de contenção. A voz etérea, sobreposta às camadas granulosas de distorção, é até causadora de uma certa leveza. As eventuais simetrias com o clássico Loveless dos My Bloody Valentine esbarram numa evidente constatação: os S-M empenham-se na estruturação de canções pop (sonhadoras, é certo), por contraponto aos extractos de sonhos arquitectados pelos MBV. A subverter a atmosfera idílica reinante, o inaugural "Ayisha Blues" é evocativo das tendências mais abrasivas do drum'n'bass de outras eras, enquanto "Honeyjinx" é lamento fantasmagórico a duas vozes. [8,5]

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ao vivo #51

















Foto: Hallie Newton

Oneohtrix Point Never + Frango @ Galeria Zé dos Bois, 24/04/2010

Depois da enchente de quarta-feira, estranha-se a fraca afluência de público à ZdB, no passado sábado, para uma noite dedicada às electrónicas leftfield. Tanto mais que a principal atracção era Oneohtrix Point Never, projecto do norte-americano de origem russa Daniel Lapotin até há um ano semi-obscuro mas, presentemente, elevado aos píncaros por publicações como a revista Wire, uma espécie de bíblia nesta matéria. Munido de três sintetizadores analógicos, OPN vagueia por territórios que vão do ambient ao drone, roçando ligeiramente o minimalismo. Muitas vezes ressalta uma graciosa façanha rítmica que contrasta com as progressões lentas e repetitivas que redundam, invariavelmente, no clímax sensorial. Apesar da dominância de uma certa estética fria, vislumbra-se em Lapotin uma rara empatia que não precisa das palavras (inexistentes) para se manifestar.

O aquecimento da noite foi entregue aos Frango, dupla portuguesa definitivamente afastada das linguagens rock. Estão agora equidistantes dos Tangerine Dream e dos Fuck Buttons, embora sem o pendor cósmico dos primeiros, nem o sentido de groove destes últimos. Detectam-se algumas boas ideias a merecer algum aperfeiçoamento, sobretudo a nível da coerência. Por vezes, a dupla investe em mudanças abruptas que desvanecem o efeito hipnótico pretendido. Noutras, arrastam-se por desnecessários excessos minimalistas que não conduzem a lado nenhum.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

R.I.P.


GURU
[1966-2010]
Keith Elam, mais conhecido por Guru, sucumbiu no passado dia 19 a um cancro. Tinha apenas 43 anos. Para os menos familiarizados - ou preconceituosos - com o hip hop o nome de Guru pouco ou nada dirá. Porém, os mais versados no género reconhecem o seu papel pioneiro, em inícios da década de 1990, de uma tendência francamente positivista do hip hop, por oposição à agressividade vigente do gangsta rap, subliminarmente fundido com elementos de jazz, e tangendo aquilo a que se convencionou chamar acid jazz. MC de inegáveis skills, afirmou-se como uma das metades dos Gang Starr, dupla de Boston que integrava ainda o produtor DJ Premier. A parceria desfez-se, com significativa acrimónia, em inícios da década passada. A solo, aprofundou a mescla nos discos da série Jazzmatazz - os dois primeiros volumes (um de 1993, o outro de 1995) são obrigatórios para qualquer melómano digno desse epíteto -, conjunto de obras que contou com um extenso rol de convidados de ambas as áreas.
Segue-se o obrigatório exercício de saudosismo:

Gang Starr "Mass Appeal" [Chrysalis, 1994]

Ao vivo #50
















Times New Viking + Lee Ranaldo / Rafael Toral @ Galeria Zé dos Bois, 21/04/2010

Provenientes de Dayton, no Ohio, cidade que pariu os incontornáveis Guided by Voices, os Times New Viking são muitas vezes apontados como os patronos do novo lo-fi ruidoso - vulgo shitgaze - que se produz nos Estados Unidos. Em palco, o trio faz por se libertar de tal espartilho, deixando desprender-se o tempero pop inerente aos seus esboços de canção. Efectivamente, aquilo que a sala apinhada da ZdB presenciou ontem à noite foi uma banda na boa tradição indie-pop que não enjeita alguma sujidade do garage e um ou outro delírio surf-pop. Das micro-canções debitadas em cadência vertiginosa sobressai um pendor melódico que, nos discos, está disfarçado pelas camadas de ruído. Esta faceta fica a dever-se, em grande medida, à prestação do guitarrista Jared Phillips que, qual  Joey Santiago rejuvenescido, vai aguentando os assaltos dissonantes debitados pelo teclado da Lolita Beth Murphy. A carinha laroca, misto de inocência e perversão, por seu turno, é a arrivista geradora de todo o entusiasmo da plateia que resiste estoicamente à alta temperatura da sala.

Com falta de coragem para desafiar a mole humana que sobrelotava a ZdB, e adivinhando as precárias condições de climatização do "aquário", optei por "assistir" ao concerto de Lee Ranaldo e Rafael Toral do lado de fora deste (do "aquário", entenda-se). A mesma medida sensata foi tomada pela restante família Sonic Youth (Coco Gordon Moore incluída), aqui deslocada para assistir à prestação dos dois mestres da distorção. Sem a mais que provável envolvência do in loco, disfrutei de uma longa peça de drone contínuo e em progressão, primeiro com ruídos esparsos, perto do final em esplendor sónico.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

First Exposure #10













BROWN RECLUSE

Formação: Timothy Meskers (voz, gtr); Herbie Shellenberger (gtr, voz); Dan Steinberg (bx); Mark Saddlemire (tcls); Jesse D. Todd (trmpt, prcs); Patrick S. Todd (btr)
Origem: Filadélfia, Pennsylvania [US]
Género(s): Pop, Indie Pop, Psychedelia
Influências / Referências: The Zombies, Love, Beachwood Sparks, The Clientele


terça-feira, 20 de abril de 2010

Singles Bar #43




NED'S ATOMIC DUSTBIN
Kill Your Television
[Chapter 22, 1990]

Na viragem dos eighties para os nineties do século passado, enquanto no noroeste de Inglaterra se aplicavam os ensinamentos retirados da explosão acid house ao psicadelismo de finais de 1960s, ligeiramente mais a sul, nas Midlands, os mesmos elementos dançantes eram cruzados com a agressividade do punk e com o tribalismo das primeiras manifestações do gothic rock. Esta tendência de vida breve ficou baptizada de grebo, e teve pioneiros em bandas como The Wonder Stuff,  Gaye Bikers on Acid, ou os reinventados Pop Will Eat Itself . Antes da consagração mainstream pela mão dos Jesus Jones e dos EMF, o "género" revelou, entre outros, os Carter USM e os Ned's Atomic Dustbin. Durante a carreira, que se ofuscou com os alvores da britpop, estes últimos gozaram de uma relativa notoriedade que se estendeu aos Estados Unidos. A responsabilidade pelo moderado sucesso dos Neds é, quase em exclusivo, do primeiro single deste jovem quinteto, precisamente Kill Your Television. Exemplo perfeito do crossover entre rock e música de dança que à data ditava regras, este tema deve o seu ritmo contagiante não só às batidas aceleradas e enérgicas, mas também à imponência melódica retirada de dois baixos, uma das particularidades da banda. Como em muitos exemplares do género, o título é um slogan provocatório que ofusca as mundanidades da letra. Dedico-o aos actuais programadores de conteúdos telivisivos. A todos, sem excepção.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

10 anos é muito tempo #20




THE DELGADOS
The Great Eastern
[Chemikal Underground, 2000]

Apesar de não terem obtido o reconhecimento imediato (e o culto) dos conterrâneos e contemporâneos Mogwai, os The Delgados (o nome é inspirado no ciclista espanhol Pedro Delgado) acabaram por ter um papel central no cenário independente escocês da década de 1990. É propriedade deste extinto quarteto a editora (e os estúdios) Chemikal Underground, responsável pelo lançamento de discos dos próprios, mas também dos citados Mogwai, dos Bis, dos Arab Strap, e dos Aerogramme, todas bandas responsáveis pelo ressurgimento indie da Escócia, uma década depois das glórias twee-pop.
Depois de um par de discos relativamente interessantes, mas ainda em busca de uma identidade, para o terceiro álbum, a banda de Glasgow requisitou os serviços de Dave Fridmann, vindo de definir os parâmetros do novo psicadelismo com os já clássicos Deserter's Songs (Mercury Rev) e The Soft Bulletin (The Flaming Lips). Sob a batuta do credenciado produtor americano, os The Delgados refinam uma fórmula de pop sinfónica adornada por arranjos sumptuosos mas, ainda assim, perfeitamente contida e profundamente sincera. No conjunto, dominam a melancolia e as paisagens bucólicas. Como forma de escape aos paradigmas da pop de cariz pastoral, muitas vezes causadores de alguma sonolência, a banda recorre amiúde a picos de tensão sónica que tanto podem advir de arranjos de cordas saturados ("American Trilogy"), como de descargas de distorção ("Thirteen Gliding Principles"). Neste último, os créditos vocais repartem-se por Emma Pollock e Alun Woodward, num despique que realça as diferenças abissais entre as duas vozes. Ela mais cristalina, ele mais áspero, vão-se alternado nos restantes temas, criando uma dinâmica de contrastes que fazem de The Great Eastern um disco de digestão lenta mas de proveito duradouro.


"American Trilogy"


"Accused Of Stealing"


"Thirteen Gliding Principles"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Amanhã...

...vou dar um salto à Flur. Façam o mesmo - comprem discos!


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Buffalo Gals & Boyz















Avi é o diminutivo de Avigdor Zhaner-Isenberg, um miúdo ex-aspirante a skateboarder rendido às harmonias da pop west coast de outras eras. Sob o sol da Califórnia, na cidade costeira de Long Beach, conheceu duas miúdas e outro miúdo. Os quatro compõem a actual formação dos Avi Buffalo.
Na forma como regista os temas que compõe, o puto Avi não esconde alguma atracção pela pureza "caseira" de Robert Pollard ou Lou Barlow. Contudo, não ostenta o alheamento do primeiro, nem tão pouco a neurose deste último. Prefere conceber canções adocicadas mergulhadas em banho sulista. Por vezes lembram a jovialidade dos Beach Boys. Noutras ocasiões, lembram a inocência tresloucada dos Flaming Lips antes das super-produções em technicolor recentes. A todo o tempo revelam-se especialmente indicadas para degustação durante a estação quente. A prova dos noves é prestada em finais do mês corrente, via álbum homónimo com selo da Sub Pop Records.


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Duetos #20


Hazlewood & Sinatra? Não. Gainsbourg & Bardot? Não. Wareham & Phillips!
Dean & Britta"Words You Used To Say" [Zoë, 2007]

terça-feira, 13 de abril de 2010

Discos pe(r)didos #38





GUIDED BY VOICES
Bee Thousand
[Scat, 1994]

Quando iniciou a aventura Guided by Voices, em meados da década de 1980, Robert Pollard pretendia apenas passar um bom bocado na companhia de alguns companheiros de copos, igualmente devotos da causa rock'n'roll. Ao sétimo álbum, contudo, o crescente interesse em torno das diversas movimentações no universo underground fez dos GbV referidos com maior insistência por crítica e público. Este súbito reconhecimento levou Pollard, já na casa dos trintas, a abandonar a carreira de professor para assumir em pleno os GbV. Na sua companhia estava aquela que deverá ser lembrada como a formação canónica (das muitas formações) da banda de Dayton, Ohio, a qual incluía o irmão Jim e o guitarrista e co-compositor Tobin Sprout. Este último assume o especial papel de aliado de Pollard nesta missão de reverência apaixonada pelas memórias da British Inavsion, com especial enfoque nos The Who e nos incontornáveis The Beatles. O kraut e as expressões mais artesanais do post-punk actuam, sobretudo, ao nível do modus operandi.
Bee Thousand - o título contém referências simultâneas e toscas ao compositor clássico Ludwig van Beethoven e ao guru Pete Townshend - é um conjunto de canções em miniatura (são vinte em pouco mais de 36 minutos!) registadas em gravador de quatro pistas, sem qualquer tipo de produção externa à banda. Porém, esta opção pela pureza íntegra e granulosa, em detrimento dos artificialismos dos estúdios sofisticados, permite detectar inúmeras gemas por lapidar. Pollard serve-se de um método de escrita muito peculiar, partindo dos títulos dos temas para a posterior criação das letras. Daí resultam um sem número de divagações surrealistas gratuitas, mas também evocações a entidades místicas ("The Goldheart Mountaintop Queen Directory"), referências sci-fi ("Hardcore UFOs"), ou devaneios etílicos ("Queen Of Cans And Jars"), todas temáticas já recorrentes na prolífica criação pollardiana. Dispensam-se maneirismos pomposos ou tecnicistas, mesmo quando, ao de leve, há aproximações ao universo blues ("Hot Freaks"), ou ao chamado arena rock ("Buzzards And Dreadful Crows"). Tobin Sprout, por seu turno, com um contributo menor, é ainda mais contido, recorrendo asssencialmente à via acústica e não disfarçando filiações nos devaneios de Lennon, ou até de Syd Barrett.
No seu amadorismo deliberado, Bee Thousand serve hoje de fonte de pesquisa e inspiração privilegiada para as imensas sementes lo-fi que germinam no underground norte-americano. Para os jovens integrantes desse interminável rol de bandas, resultam proféticas as palavras de Pollard no genial "I Am A Scientist" (atente-se no vídeo, com mimetismos reverentes a Pete Townshend): "I am a pharmacist, prescriptions I will fill you / Potions, pills, and medicines to ease your painful lifes". 


"Tractor Rape Chain"


"I Am A Scientist"


"Hot Freaks"


"The Goldheart Mountaintop Queen Directory"

Catedral psicadélica


Sob o lema The night that celebrates itself foi, durante muito tempo, apenas uma evento clubbing de periodicidade irregular que expunha os noctívagos britânicos, não só às inúmeras ramificações das sonoridades shoegazing, mas também às sementes do "género". Agora também uma editora, a Sonic Cathedral apresta-se para editar um tributo a Roky Erickson, figura proeminente do psicadelismo da segunda metade da década de 1960 que, enquanto líder dos texanos 13th Floor Elevators, adquiriu o estatuto de figura tutelar de algumas das mais desalinhadas manifestações rock concebidas desde então. The Psychedelic Sounds Of The Sonic Cathedral chega dentro de aproximadamente dois meses, e inclui um lote considerável de contemporâneos adeptos do ruído e da distorção com o intuito de provocar estados alterados da mente. O próprio homenageado, regressado ao activo depois do apagão mental que  durou décadas, dá um ar da sua graça na interpretação live, coadjuvado por ilustres acólitos, de um dos seus temas mais emblemáticos. Segue-se o alinhamento e um brinde:

  1. "Roller Coaster" _ Roky Erickson & The Black Angels (w/ Kevin Shields)
  2. "Reverberation (Doubt)" _ The Strange Attractors
  3. "Don't Fall Down" _ All The Saints
  4. "Tried To Hide" _ A Place To Bury Strangers
  5. "Kingdom Of Heaven" _ Dead Meadow
  6. "She Lives (In A Time Of Their Own)" _ Darker My Love
  7. "Splash 1 (Now I'm Home)" _ Sarabeth Tucek
  8. "Fire Engine" _ Lower Heaven
  9. "Dr. Doom" _ Hush Arbors
  10. "You Don't Love Me Yet" _ Cheval Sombre (w/ Sonic Boom)
  11. "I Love The Living You" _ Le Volume Courbe (w/ Kevin Shields)
  12. "Unforced Peace" _ Black Acid
  13. "Goodbye Sweet Dreams" _ I Break Horses

The 13th Floor Elevators _ "You're Gonna Miss Me" [International Artists, 1966]

quinta-feira, 8 de abril de 2010

R.I.P.

MALCOLM McLAREN
[1946-2010]

Malcolm McLaren sucumbiu hoje a uma forma rara de cancro. Tinha 64 anos de idade.
Iniciado no mundo do showbiz através da moda, McLaren teve a primeira incursão no universo musical quando rumou aos Estados Unidos, onde concebeu as roupas e foi fugazmente agente dos já decadentes New York Dolls. Da breve experiência americana trouxe notas para um plano ambicioso. De volta a Inglaterra, tornou-se manager, porta-voz e, segundo o próprio, ideólogo, dos Sex Pistols, símbolo maior do rastilho punk que mudou irreversivelmente o curso da música popular dos últimos 35 anos. A ligação aos Pistols terminou em escassos meses e de forma quezilenta. Antes de se aventurar em nome próprio, em discos que vagueiam pelo hip-hop, pelas electrónicas, e pelo muzak, McLaren ainda teve tempo para gerar novas ondas de choque como conspirador por detrás dos Bow Wow Wow, banda com letras de teor sexual explícito na qual pontificava a adolescente Annabella Lwin.
Visionário astuto, mas também controverso, desbocado, e controlador, McLaren assegurou, por direito próprio, um lugar na História. Depois da experiência amarga com os Pistols, um Johnny Rotten inflamado de ressentimento, e agora rebaptizado de John Lydon, dirigia-se-lhe nestes termos no primeiro single da sua nova banda:

"Two sides to every story
Somebody had to stop me
I'm not the same as when I began
I will not be treated as property" 


Public Image Ltd. "Public Image" [Virgin, 1978]

quarta-feira, 7 de abril de 2010

First Exposure #9

















BRILLIANT COLORS

Formação: Jess Scott (voz, gtr); Michelle Hill (bx); Diane Anastasio (btr)
Origem: San Francisco, Califórnia [US]
Género(s): Indie-Pop, Noise-Pop, C86, DIY-Punk
Influências / Referências: Vivian Girls, The Raincoats, The Clean, Shop Assistants, Ramones

http://www.myspace.com/brilliantcolorssanfrancisco

Harlem Shuffle
















Foto: Pooneh Ghana

O espectro indie-rock - facção adepta da imperfeição deliberada - norte-americano não pára de dar cartas. Para engrossar o lote, os texanos - de Austin - Harlem estrearam-se no ano passado com o auto-editado Free Drugs;-) (assim mesmo, com emoticon incluído), um conjunto de temas impregnados de sujidade garage, qualquer um deles digno de figurar no volume da série Nuggets subordinado ao género. Acabam de editar Hippies, estreia no catálogo da Matador Records e, relativamente ao predecessor, um claro passo evolutivo no que concerne à escrita de canções. Embora fiel às principais premissas norteadoras, o power-trio investe em dezasseis temas que podem muito bem constituir o elo perdido entre o formalismo da pop clássica dos Kinks e a perversão esquizóide dos Pixies. Os Nirvana, em regime poppy, poderiam muito bem ser os patronos desta aliança geradora de ganchos melódicos que se agarram aos canais auditivos com extrema facilidade.


segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mil imagens #3

Elvis Costello - Amsterdam, 1977
[Foto: Anton Corbijn]

Ainda na Holanda natal, antes de ter rumado a Inglaterra onde ficou fascinado pelos Joy Division, Anton Corbijn era já um fotógrafo atraído pelas ebulições ocorridas nas franjas da música popular. Isto, muito antes do "estrelato" concretizado nas inúmeras fotos e nos videoclipes concebidos para nomes do calibre dos Depeche Mode, dos U2, dos R.E.M., ou dos Nirvana. Também muito antes da estreia na realização de longas metragens com o sofrível Control, eventual fecho de um ciclo novamente com a banda de Ian Curtis como pano de fundo. Este instantâneo data desse fase "juvenil" e capta Elvis Costello num quarto de hotel munido de uma guitarra eléctrica e um pequeno amplificador. Costello, recorde-se, era então uma das vozes mais contundentes do espectro post-punk/new-wave. Isto, muito antes do aburguesamento, das versões easy-listening para comédias românticas, dos discos chatinhos, e de uma tal de Diana Krall...

Good cover versions #35

 

ROGUE WAVE  "Debaser" [Warner Sunset, 2006]
[Original: Pixies (1989)]

Série televisiva sobre futilidades juvenis, The O.C. valeu, sobretudo, como montra de muito do indie-pop - facção "emocional" ou "lamechas", consoante o gosto - que se faz nos Estados Unidos e não só. Das sucessivas compilações associadas à série, tenho uma especial predilecção pelo sexto volume (recentemente adquirido), repleto de versões de temas mais ou menos do domínio público. Como em qualquer edição do género, o alinhamento de Music From The O.C. - Mix 6: Covering Our Tracks é composto de meras curiosidades e reinterpretações inspiradas. Nesta última categoria destacam-se os Rogue Wave, banda apenas engraçadita que, apesar de já ter feito parte do catálogo da prestigiada Sub Pop Records, nunca conseguiu descolar de uma certa mediania que não leva a lado nenhum. Porém, neste caso, o quarteto liderado por Zach Rogue revela  grande coragem ao apoderar-se de "Debaser", tema de abertura do genial Doolittle e um dos melhores exemplos da saudável demência que fez dos Pixies um caso sério na produção musical dos últimos 30 anos. Neste teste, a banda californiana passa com distinção ao reinventar este tema sob uma melodia pop elíptica que ostenta as marcas da cerebralidade que lhe é característica. Sem cortar em absoluto com o original, "Debaser" reinterpretado pelos Rogue Wave é, efectivamente, uma canção nova, que realça o sentimento em desprimor da insanidade berrada de um tal Black Francis.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

They are the ressurection and they are the life
















Talvez derivado de um certo desafogo, Ian Brown declinou todas as ofertas chorudas. John Squire nem sequer queria ouvir falar de tal coisa. De um Reni remetido ao silêncio, desconhecia-se a opinião. A derradeira esperança residia na vontade expressa de Mani em reunir as partes desavindas. Os aliciamentos sucediam-se, a parada subia, e nada... Finalmente, o poder diplomático do baixista que personifica a coolness surtiu efeito e os Stone Roses estão de regresso aos palcos, e já com presença confirmada nos principais festivais estivais do Reino Unido, concretizando a mais desejada das reuniões (eu sou da opinião que é melhor que os Smiths fiquem quietinhos). A boa notícia para os devotos destas paragens no extremo ocidental do continente, embora ainda rumor, é que os "outros" fab four de Manchester podem vir a fazer parte do cartaz do próximo Primavera Sound, festival para o qual tenho tratada quase toda a logística. Optimista, porque sei que estes catalães têm quase sempre o que querem, vou já ensaiando uns passos de dança...

"Fools Gold" [Silvertone, 1989]

Dumb, but not dumber
















Alguns dos clientes mais assíduos deste estabelecimento ainda estarão recordados da "apresentação" do projecto Dum Dum Girls, designação com alusão simultânea a um álbum dos Vaselines e a um tema de Iggy Pop. Na altura, era anunciado como uma das mais recentes apostas da Sub Pop, e consistia na aventura solitária e caseira de Kristin Gundred, vulgo Dee Dee, às voltas com as memórias pop de sessentas em regime de baixa-fidelidade. Entretanto, o conceito evoluiu, e as DDGs são agora uma banda por direito próprio com a inclusão de mais três meninas, entre elas Frankie Rose, antiga baterista das Vivian Girls e actual integrante dos Crystal Stilts. Acabam de editar o prometido álbum-estreia, intitulado I Will Be e com participações especiais de Nick Zinner (guitarrista dos Yeah Yeah Yeahs) e Brandon Welchez (vocalista dos Crocodiles e marido de Dee Dee). Com alusões a comportamentos desviantes e referências sexuais mais ou menos explícitas, os onze temas que o compõem não resultaram desta feita de meras gravações domésticas, pois contaram com a produção de Richard Gottehrer. Porém, não se pense que aquele que esteve ligado a muitos êxitos sessentistas ("My Boyfriend's Back", "I Want Candy") e muitos mais da new wave (Blondie, The Go-Go's, Mental as Anything) eliminou a rugosidade natural das DDGs. Mantendo as camadas de fuzz, o reputado produtor sublinhou o imediatismo pop de cada tema, situando o quarteto num limbo equidistante das Shangri-Las, dos Ramones, e dos Black Tambourine. Num mundo perfeito, qualquer uma destas pequenas canções constituiria um potencial hit radiofónico.