Festival Heineken Paredes de Coura, 01/08/2008Depois de uma viagem de 400 e tal quilómetros, perto da hora marcada para o início dos concertos no palco principal, eis-me naquela que é, por esta altura do ano, a mais concorrida vila do Alto Minho. O primeiro passo, antes da entrada no recinto, era o levantamento dos bilhetes previamente adquiridos on line no sítio da empresa que detém o monopólio da venda dos ditos. A operação, que esperava demorasse alguns segundos, acabou por ser bem mais complicada, já que não constava qualquer registo da compra nos terminais do Festival. Por entre telefonemas e conversas entre os senhores da organização, volvidos uns bons vinte minutos, tinha finalmente na mão os dois ingressos para uma tarde/noite de boa música. Além da espera, o ser previdente custou-me ainda € 2,40 de comissão por cada bilhete. A queixa segue dentro de instantes para as entidades competentes...
Sem mais delongas, com histórias tristes, passemos ao que interessa:
Two Gallants
Ainda o sol ia alto quando este duo californiano deu entrou em palco. Embora escasso, o público parecia ser, na sua maioria, conhecedor das canções dos Two Gallants (2Gs). Quem não o era, terá ficado rendido aos primeiros acordes desse assombro que é "Seems Like Home To Me". No tempo restante, munidos apenas de uma guitarra e uma bateria, os 2Gs desfiam um rol de canções que, embora rockeiras, descendem directamente da música tradicional norte-americana, como se de uma versão "rural" dos Trail of Dead se tratasse. Para encerrar em beleza, um concerto que pecou pela curta duração, nada melhor que a sinistra "Age Of Assassins", canção macabra povoada pelos mesmos personagens dos romances de Cormac McCarthy. Espera-se que voltem em breve, no cenário mais adequado, i.e., no aconchego de uma sala de concertos. [8/10]
The Rakes
Depois de um excelente disco de estreia e uma sequela menos conseguida, as expectativas para o concerto desta banda londrina alternavam entre a apreensão e algum optimismo. Para gáudio da maioria do público, os Rakes deram um concerto que, não sendo excepcional, foi bem positivo. O vocalista Alan Donohoe mostrou ser dono de um sentido de humor muito próprio. Goste-se ou não, é um estilo. Pela parte que me toca, acho que o rapaz tem bastante piada. Mesmo sem aderirem às palhaçadas, os mais cépticos não ficaram indiferentes a temas como "22 Grand Job", "Strasbourg", "We Danced Together", ou "The World Was A Mess But His Hair Was Perfect", esta última exemplo máximo de um certo cinismo interventivo que caracteriza a banda. Nos vários temas novos apresentados pressente-se a propensão para um som mais austero na linha de uns Gang of Four. Boas indicações, portanto... [7/10]
The Sounds
Vou ali comer uma bucha e já volto... [-]
Editors
Se é aos Ramones que se atribui o mérito da composição de canções pop de três acordes, ao guitarrista dos Editors já ninguém retira a proeza de pôr milhares em delírio com um único acorde. Obviamente, isto faz com que cada tema seja rigorosamente igual ao anterior e aos seguintes. Espectáculo competente e sincero de uma banda a quem sobra em vontade o que falta em talento. Tal como no caso dos Coldplay (aquilo que eles querem ser quando forem grandes), os Editors são, no mínimo, entediantes. [4/10]
Primal Scream
Dispostos a agarrar o público desde o primeiro instante, os Primal Scream atacam logo com "Can't Go Back", o fortíssimo single de apresentação do novo álbum. Dos restantes temas novos, despachados na primeira parte do concerto, especial destaque para "Suicide Bomb", pouco menos que demolidor. Já com o público na mão, chegam os temas mais esperados: "Swastika Eyes", "Rocks", " Miss Lucifer", "Kill All Hippies", "Country Girl", "Jailbird", "Shoot Speed Kill Light", e o celebradíssimo "Movin' On Up". Como se pode constatar pela set list, só mesmo num concerto dos Primal Scream é possível viajar, num ápice, das memórias stonesianas aos delírios "pastilhados" de noventas. No fundo, um ritual de celebração do rock'nroll, naquilo que ele tem de mais rebelde. Pena foi que não tivessem tocado "Kowalski" e "Higher Than The Sun". Mas isso, seria pedir a perfeição! [9/10]
These New Puritans
Encerradas as actividades do dia no palco principal, o início do after hours deu-se com uma das mais badaladas novas bandas britânicas. Tal como no único álbum que têm no currículo, em concerto, os These New Puritans (reduzidos a um trio pela ausência do elemento feminino) revelam ainda alguma indefinição, disparando em vários sentidos. À parte o muito rodado "Elvis", a maioria dos temas causam alguma estranheza, não só pela aplicação dos vocais à la Mark E. Smith em contexto electrónico speedado, como pelo recurso abusivo dos ecos, segundo os ensinamentos dos mestres Spacemen 3. [6,5/10]