"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 10 de março de 2010

Na companhia dos lobos





BEN FROST 
By The Throat 
[Bedroom Community, 2009]

O primeiro calafrio advém do título, apresentado como se duma produção de accção hollywoodesca se tratasse. Depois a capa, capaz de nos fazer sentir acossados ao primeiro vislumbre. Para compor o quadro sinistro, arriscaria também uma menção ao nome do autor de By The Throat, não fosse Ben Frost o verdadeiro nome de baptismo deste músico, compositor, e produtor australiano que encontrou na infertilidade gelada da Islândia, onde actualmente reside, o berço perfeito para esta música que nos revolve as entranhas, pela sua fealdade, mas ao mesmo tempo nos enfeitiça pelo mistério que carrega.
Para evitar (im)possíveis equívocos, Frost abre o disco com "Killshot", um tema no qual a discrição da electrónica minimalista é assaltada por torrentes de guitarra processada e um drone de baixo ensurdecedor, evidenciando linguagens próximas do black metal. Contudo, Frost é compositor de múltiplas sensibilidades e, ao longo destes onze temas de durações muito variáveis, socorre-se também de field recordings ou de cordas dissonantes a acentuar o caos, propiciando uma mescla grosseiramente rotulável como musique concrète. Tome-se como exemplo "The Carpathians", onde um contínuo em crescendo, já de si suficientemente aterrador, é acompanhado pelo rosnar ameaçador de uma alcateia., remetendo para o realismo atroz da imagem da capa e, consequentemente, gelando o sangue. "Leo Needs A New Pair Of Shoes" é raro momento de harmonia no clima de paranóia instalado, com a cadência de um piano a combinar com a raios de luz de um banjo. Porém, a paz é breve, já que, progressivamente, as mesmas feras vão-se mostrando, desta vez uivando ao longe e frustrando uma réstia de esperança. Tal como em The Road - o livro e o filme - o distúrbio opressivo de By The Throat é contrariado por um profundo sentido de humanismo, ainda que a voz humana esteja apenas presente nas duas partes do tema "Peter Venkman". Surge por via das interjeições ocasionais de um coro feminino, a pairar, quase fantasmagórico, como se de um coro de anjos se tratasse.
Convido-vos então a entrar, com as devidas cautelas, neste mundo obscurecido de By The Throat. Este mundo de sombras e temores sintetizado pela revista Vice nos seguintes termos: "The compositional complexity of Arvo Pärt and the sonic nothingness of Wolf Eyes...Yes, it is that good.". Eu assino por baixo!


1 comentário:

strange quark disse...

Atendendo ao aperitivo que me deixaste no fb, eu diria que vou abrir os cordões à bolsa sem mais concessões...