"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

domingo, 14 de março de 2010

Good cover versions #34











X  "Soul Kitchen" [Slash, 1980]
[Original: The Doors (1967)]

Quem me conhece sabe da aversão, quase irracional, que nutro pelos Doors. Neles, não suporto as guitarras bluesy, o órgão monocórdico, as letras pretensamente poéticas, e a pose messiânica do vocalista. Sem lhes querer retirar o (pouco) mérito merecido, irrita-me a sobrevalorização relativamente a outras bandas bem mais interessantes, do mesmo período e da mesma zona geográfica. Love, Jefferson Airplane, anyone? Face ao que atrás foi dito, "Soul Kitchen" é um daqueles temas que reúnem todos os clichés que fizeram de Jimbo um dos maiores ícones da azeiteirice rock'n'roll.
Parece quase impossível que, pouco mais de dez anos depois de ter parido os Doors e de ter sido um dos principais centros do movimento hippie,  a mesma cidade de Los Angeles tenha assistido a nascimento dos X, um dos mais originais colectivos do antagónico punk-rock. Mais incrível é que o seu primeiro álbum, singelamente intitulado Los Angeles, tenha sido produzido por Ray Manzarek. Esse mesmo, o teclista dos Doors a provar que duas "ideologias" tão distintas podem conviver pacificamente.  No alinhamento desse disco, já pertencente à galeria dos clássicos, pode encontrar-se uma cover quase irreconhecível do citado tema. Se o original sintetizava o pior dos Doors, esta nova versão de "Soul Kitchen" evidencia todas as marcas identitárias que fizeram a fama dos X: um vitaminado punk-rock que vai beber sem pudores ao rockabilly, à country, e à folk norte-americana em geral. O "diálogo" entre a vocalista Exene Cervenka e o baixista John Doe recusa os maneirismos grandiloquentes do original, preferindo acentuar o cariz sexual implícito na letra.

5 comentários:

Shumway disse...

Grandes X.
Apesar de poucas vezes referenciados, a sua influência foi enorme.
Fundamentais para quem pretende compreender o "underground" americano.

Abraço

strange quark disse...

Qualquer semelhança com o original é pura coincidência, só lá ía mesmo pela (pretensa) letra. Por outro lado, e dado que até colocaste uma versão de uma banda que tu, e muitos outros, detestam visceralmente merece um comentário. Em primeiro lugar, as guitarras bluesy e o som do órgão, mesmo monocórdico, confere-lhes uma sonoridade muito característica que os identifica sem grandes margens para dúvidas, e isso é algo que poucas bandas possuem. Quanto às qualidades pretensamente poéticas das letras estamos de acordo, mas quando eu os ouvia não percebia patavina de inglês pelo que não me incomodava, e mesmo quando passei a perceber, também não. Mais, mesmo sendo pretensamente poéticas de uma forma geral são melhores que a média que se faz no meio. A seguir podes referir que os outros não têm as pretensões do Jimbo, mas aí também há muita gente que se aborrece por o Mourinho ser um pretencioso e arrogante de merda, mas ganha campeonatos uns atrás dos outros, e essa é que é essa. Quanto à pose messiânica, quando os ouvi pela primeira vez, o Jimbo já tinha morrido há quase uma década, por isso também não me afectou. Finalmente, neste aspecto até nem podemos acusar o Jimbo de falta de honestidade, é que o gajo adorava e alimentava o culto que existia à volta da banda, e não escondia isso, ao passo que há por aí muito boa gente que despreza muito estas coisas mas lá no fundo, se a mesma fama lhes bater à porta não enjeitam a oportunidade. Posto isto, pergunto: e o que é que isto tudo tem a ver com a qualidade da música? A meu ver, nada. No fundo isto resume-se a: uns gostam outros não. ;)

Um abraço e espero por mais posts do género para apimentarmos umas discussões :)

M.A. disse...

Pois, é mais ou menos isso... Só que, neste caso, além de não gostar, acho-os uma banda extremamente sobrevalorizada junto de um público que cristalizou o gosto há décadas. Os tipos que ouvem a RFM e afins...
Até te vou confessar que, em puto, como qualquer outro, tive a minha "fase Doors". Daí, talvez, esta aversão irracional :)

Abraço!

strange quark disse...

Pois, há sempre essa franja de públicos que cristalizam no tempo. Eu também corri esse risco, pois há fases na vida em que deixas de acompanhar o que vai saindo e às tantas dás por ti desfasado de tudo e a leste do paraíso. Para isto contribui muito não haver divulgação musical decente nos meios radiofónicos. Até nem peço que todas as rádios sejam como uma Radar, que até é uma espécie de farol neste meio muito pobre, mas pelo menos mais exigentes na programação e não tratem os públicos como imbecis, que até nem o são apesar de se tornarem pela imbecilização da programação (ou playlists, se quisermos). O facto de agora, eu próprio, andar a companhar melhor o que sai (devido a muita coisa e ao teu blogue, por exemplo) dou comigo a retribuir ao meu irmão mais velho, como reconhecimento do que ele me deu a conhecer quando eu era um mero puto de fraldas, este mesmo conhecimento actualizado. E a coisa passa, porque a maioria às tantas afirma que "a música no meu tempo é que era boa", e na realidade houve sempre boa música em todas as alturas, e no presente não é excepção.

Quanto aos Doors, acho que essa sobrevalorização decorreu também do desaparecimento precoce do Morrison e do mito que cresceu à volta dele, mais talvez do que do impacto que eles tinham na altura junto da juventude, até porque muitas bandas houve com impacto equivalente que não gozam de tanta veneração. Mas um facto é que com o desaparecimento do Jim Morrison aquilo desmoronou-se que nem um castelo de areia. Por isso, é como te digo, alguma importância (e não era pouca) o gajo tinha na banda.

Já agora: e não é que o Mourinho despachou a sua antiga equipa? :)

Um abraço

M.A. disse...

Para mal dos meus pecados, despachou. :(
Não deixa de ser irónico que, por mais títulos que ganhe, as principais conquistas continuam a ser aquelas que obteve neste país que o gajo faz questão de desprezar.

Abraço!