"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sábado, 20 de março de 2010

Discos pe(r)didos #36






YO LA TENGO
Painful
[Matador, 1993]

Apesar de contarem já com um punhado de discos satisfatórios, foi ao registo meia-dúzia que os Yo La Tengo (YLT) se afirmaram definitivamente como uma das  bandas mais coerentes do último quarto de século. Se os registos anteriores não passavam de interessantes explorações do compêndio velvetiano, via The Feelies, Painful - o primeiro disco com o baixista James McNew a tempo inteiro - desenvolve aquela que é a fórmula que faz da banda de Hoboken nome de culto que atravessa gerações: uma feliz combinação que alterna paisagens sonoras idílicas com momentos de deriva eléctrica.
Logo no pontapé de saída com "Big Day Coming", ou mais à frente em "I Was The Fool Beside You For Too Long" e "I Heard You Looking", os YLT encontram na sua música uma apetência cinemática  inaudita, algo que tem marcado pontos nos registos de então para cá. O primeiro, marcado por um certo minimalismo instrumental e pela voz sussurante de Ira Kaplan, é serenidade adulterada pelas intromissões discretas de distorção. Uma versão alternativa deste mesmo tema, colocada perto do final do alinhamento, contrasta pela tensão eléctrica. "From A Motel 6", um dos temas com lugar reservado na antologia do essencial dos YLT, é claro sinal de uma mudança de referências e reverências. Com vocalizações aéreas de Georgia Hubley e os devaneios de guitarra distorcida, "Motel 6" tem um efeito anestésico semelhante ao de uns My Bloody Valentine situados algures entre os seus dois únicos álbuns de originais. Tal como "Double Dare" é uma certa forma distinta e sofisticada da pop de guitarras, partilhada, na altura, com os velhos comparsas dos Sonic Youth. Na sua parte intermédia, Painful conduz o ouvinte a um torpor lânguido, propiciado em "Nowhere Near" pela contenção instrumental e vocal, e em "Sudden Organ" pela sensualidade vintage de um órgão.
Não estaríamos perante mais um disco dos YLT sem a habitual cover, desta feita propiciada por uma reinterpretação de "The Whole Of The Law", tema da autoria dos The Only Ones do errático Peter Perrett. No original transgressão vaudeville à medida do seu autor, "The Whole" conhece na versão YLT uma roupagem de balada lisérgica com arremedos folksy.
Embora tenha conhecido um maior refinamento no superlativo I Can Hear The Heart Beating As One (1997), a fórmula que é hoje marca-de-água da banda conheceu o momento inaugural no transitório Painful. Só por isso, este deverá ser sempre o ponto de partida para qualquer iniciado na gratificante tarefa que é a exploração da excelsa discografia dos Yo La Tengo.


"Big Day Coming"


"From A Motel 6"


"The Whole Of The Law"

3 comentários:

hg disse...

No meu caso foi mesmo este o meu ponto de partida. E ainda hoje um dos meus Yo La Tengo preferidos.

Shumway disse...

Apesar de já terem dado boas indicações em "Fakebook", este é o primeiro grande disco dos YLT.

Abraço

O Puto disse...

Aqui está uma grande lacuna na minha discografia, pois conheço apenas alguns temas deste disco. Tenho que colmatar isso.