"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 30 de junho de 2009

Discos pe(r)didos #27


















SWERVEDRIVER
Mezcal Head [Creation, 1993]

Embora pertencentes ao catálogo da Creation Records, pátria honorária do género, os Swervedriver sempre soaram demasiado abrasivos para encaixar nos parâmetros do shoegazing. Por contraste com os conterrâneos - de Oxford - Ride, derivados da veia espectral dos My Bloody Valentine, os Swervedriver preferiam citar a sujidade primária dos Stooges e respectivas descendências. Nas letras, demonstrativas de uma notória obsessão pelas temáticas do crime e da vida na estrada, pressentem-se influências da geração beat e demais simbologia da contra-cultura ianque.
Se o promissor debute Raise (1991) ainda padecia de um certo desequilíbrio derivado de ideias desenvolvidas em diferentes estádios de maturação, o subsequente Mezcal Head exibe uma banda plenamente confiante e certa do rumo a seguir, mesmo que no interim tenha ocorrido uma mudança de secção rítmica. Na coesão da dezena de temas, alguns sobressaem: "Duel", que com a suas guitarras elípticas originou um hit menor em terras do Tio Sam; o cintilante "Blowin' Cool", único desvio à toada negra instalada; o contemplativo, narcótico e mui psicadélico "Duress"; e sobretudo "Last Train To Satansville", peça central de Mezcal Head que traça o relato de uma viagem algo atribulada, com os riffs invasivos a causar alguns calafrios. Neste último, o segmento instrumental final faz-nos levantar a hipótese de os Swervedriver serem parentes bastardos das facções mais "jazzísticas" do post-rock.
Merecedores de um culto pouco mais que restrito na terra natal, os Swervedriver chegaram a ameaçar explodir do outro lado do Atlântico, tendo mesmo aberto alguns espectáculos para os Smashing Pumpkins na tour de promoção ao histórico Siamese Dream. Em inactividade desde 1999, após a edição do desapontante 99th Dream, foram em finais do ano passado atingidos pela febre de reuniões que marca este início de século, para já apenas para algumas aparições em palco. Paralelamente, o hiper-activo frontman Adam Franklin mantém uma carreira a solo e o projecto Magnet Morning, este em conjunto com o baterista dos Interpol.



"Last Train To Satansville"

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O regresso dos pastéis de nata










Se descontarmos The Last Great Wilderness (2003), que era uma banda sonora, os Pastels já não davam sinais de vida há precisamente doze anos, ou seja, desde a edição do genial Illumination. Neste hiato, Stephen Pastel esteve bastante ocupado, tanto com a sua loja de discos, como a descobrir novas contratações para a editora Geographic, subsidiária da Domino Records.
Em boa verdade, Two Sunsets, que terá edição em Setembro, ainda não é novo álbum dos Pastels (seria o quinto, em mais de 25 anos de história), mas antes um disco conjunto - não confundir com um split - com a dupla japonesa Tenniscoats. Do lado dos Pastels, para além de Stephen e Katrina Mitchell, participaram nas gravações dois Teenage Fanclub: Gerard Love (a tempo inteiro) e Norman Blake (em part-time). Antes do álbum, chega às lojas a 3 de Agosto o single Vivid Youth / About You. O tema do lado B pode já ser escutado aqui, numa versão provisória. Para assinalar tão boa e rara notícia, proponho-vos uma recordação com mais de duas décadas:


"Crawl Babies" [Glass, 1987]

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Promessas entre quatro paredes










Depois dos Twilight Sad (novo álbum ainda este ano!!!) e dos Frightened Rabbit, estes We Were Promised Jetpacks são a nova aposta da editora Fat Cat em matéria de bandas escocesas. Com aqueles dois colectivos, os Jetpacks partilham uma certa tendência para a grandiosidade melancólica, enaltecida naquele sotaque tão característico do território mais setentrional da Grã-Bretanha. Além disso, o quarteto que se mudou de Edimburgo para Glasgow cava profundo nas memórias do pós-punk original, com muito nervosismo nas guitarras e igual dose de tensão nos baixos. These Four Walls, o álbum de estreia, pode não ser uma das Sete Maravilhas de Origem Escocesa no Mundo, mas não deixa de ser merecedor de umas quantas audições atentas. Sob a forma de um vídeo algo tosco, segue uma singela amostra. Outras podem ser escutadas aqui.


"Quiet Little Voices"

terça-feira, 23 de junho de 2009

Singles Bar #34



















PUBLIC IMAGE LTD.
Death Disco [Virgin, 1979]

"Seen it in your eyes
Seen it in your eyes
Never no more hope away
Final in a fade
Watch her slowly die
Saw it in her eyes
Choking on a bed
Flowers rotting dead
Seen it in her eyes
Ending in a day
Silence was a way
Seeing in your eyes
Seeing in your eyes
Seeing in your eyes
I'm seeing through my eyes
Words cannot express
Words cannot express"


Descarregada a raiva do primeiro contra Malcolm McLaren e antigos companheiros nos Sex Pistols, John Lydon, Keith Lavene, e Jah Wobble - o trio criativo da primeira formação dos Public Image Ltd. (PiL) - estavam por fim preparados para a plena libertação das amarras impostas pela ortodoxia punk. Efectivamente, no single que sucedeu ao promissor álbum de estreia, os PiL dão um claro passo em frente, incorporando elementos disco e dub, à mistura com as originais linhas de guitarra de Levene. Nesta espécie de dança macabra, a voz habitualmente neurótica de Lydon surge desesperada, enaltecendo um certo tom doloroso. O teor catártico das palavras deriva da experiência recente do vocalista dos PiL ao acompanhar o sofrimento da mãe, antes desta perecer ao cancro. Alguns meses volvidos da edição original, ligeiramente alterado na parte final, e devido às alegadas semelhanças do trabalho de Lavene com excertos da obra de Tchaikovsky, este mesmo tema surgia em Metal Box - a obra definitiva do pós-punk - rebaptizado de "Swan Lake". Em qualquer das suas versões, "Death Disco" é um tema negro, profundamente opressivo, e assumidamente vanguardista, factores que não impediram uma carreira meritória nas tabelas de vendas britânicas. Mas esses, já todos o sabemos, eram outros tempos... Belos tempos, por sinal.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Em escuta #42








PINK MOUNTAINTOPS Outside Love [Jagjaguwar, 2009]

Ao terceiro registo do projecto pessaol paralelo aos Black Mountain, Stephen McBean propõe-se esmiuçar as questões do amor e do ódio, como se de um romance cheesy de Danielle Steele se tratasse. É o próprio quem o afirma e a capa de Outside Love não o desmente. Musicalmente, há uma vontade - pelo menos até ao segundo tema - em conjugar uma certa grandiosidade southern rock com o fuzz dos Mary Chain. No resto, McBean oferece-nos o lado mais contido e reflexivo da sua banda principal maquilhado pela reverberação spectoriana. [7]


MAGIK MARKERS Balf Quarry [Drag City, 2009]

Longe vão os tempos em que os Magik Markers eram conhecidos pelo abstraccionismo ruidoso. Tal como o anterior BOSS, o novo disco apresenta um conjunto de canções dignas desse nome, ainda que sabotadas pela estrutura pouco convencional, e obviamente alinhadas na corrente desalinhada iniciada pelos Sonic Youth nos idos de oitenta. O que distingue Balf Quarry do antecessor é a maior panóplia de soluções apresentadas, tanto na voz de Elisa Ambrogio, agora mais confiante e eclética, como na instrumentação, com maior recurso ao piano e aos sons acidentais. Não abolido em definitivo o ruído, os elementos folk e blues começam a ganhar terreno. [7,5]


HANDSOME FURS Face Control [Sub Pop, 2009]

Contrariamente à ebulição desorientante dos Swan Lake "de" Spencer Krug , seu colega nos Wolf Parade, Dan Boeckner opta por um minimalismo grintante, tanto de meios como de formas ,neste segundo longa-duração dos Handsome Furs, projecto que divide com a esposa. Basicamente, Face Control resume-se a electrónicas primitivas e drum machines, entrecortadas pela voz monocórdica e lementosa de Boeckner e, mais esporadicamente, por uma guitarra dissonante. No final, fica a sensação de se ter ouvido o mesmo tema doze vezes. [5]


THE VANDELLES Del Black Aloha [edição de autor, 2009]

Olha-se para a capa, lê-se o título, e a imaginação vagueia de imediato pelas paisagens idílicas do Hawaïi. E, apesar de o negrume imperar, se olhar-mos bem de perto, conseguimos vislumbrar a luminosidade das melodias surf rock estão lá, imersas na muralha de distorção e vozes abafadas. Discípulos dos Mary Chain e similares, é certo, mas senhores de uma linguagem muito própria que faz dos pedais a sua ferramenta predilecta. Não desiludirá todos aqueles que ficaram impressionados com a devastação perpretada pelos A Place To Bury Strangers há coisa de dois anos. [7,5]

terça-feira, 16 de junho de 2009

For all the fucked up children of the world #8

"I feel the pain of everyone
then I feel nothing"

Spike Jonze dirige...


Dinosaur Jr. "Feel The Pain" [Blanco y Negro, 1994]

domingo, 14 de junho de 2009

Of mice and horses
















Improvável, no mínimo, este trabalho conjunto de Brian Burton e Mark Linkous, que é como quem diz Danger Mouse e Sparklehorse. Depois de uma colaboração pontual no mais recente álbum deste último, a dupla descobriu afinidades que conduziram à concepção do disco Dark Night Of The Soul, ainda sem data de edição oficial avançada. No projecto está também envolvido o cineasta David Lynch, responsável pelas fotos do booklet de 100 páginas. Segundo algumas previews, Dark Night é uma espécie de narrativa não-linear sobre solidão, amores desfeitos, e sonhos perturbadores. Musicalmente, a dupla conjuga estilhaços de electro-pop, jingles publicitários, country e heavy metal. Nas vozes convidadas surge uma verdadeira galeria de notáveis: The Flaming Lips, James Mercer, Julian Casablancas, Gruff Rhys, Jason Lytle, Suzanne Vega, Nina Persson, Frank Black, Iggy Pop, Vic Chestnut, e o próprio David Lynch.
Curiosos? Eu estou!

Boy & Girls














God Help The Girl, o projecto, satisfaz dois desejos antigos de Stuart Murdoch: compor um musical e dirigir uma girl band. Em God Help The Girl, o disco, o líder dos Belle & Sebastian veste a pele dos lendários hitmakers dos sixties, dando os protagonismo a uma série de vozes femininas que interpretam as suas composições. Entre os temas, ordenados em jeito de história musicada, contam-se muitos inéditos e algumas versões de temas dos B&S já nossos conhecidos. Chega às lojas no próximo dia 22, e tem no primeiro vídeo promocional uma pequena obra de arte:


"Come Monday Night" [Rough Trade, 2009]

sábado, 13 de junho de 2009

Good cover versions #21














TEENAGE FANCLUB "Like A Virgin" [Creation, 1991]
[Original: Madonna (1984)]

Só pode ser visto como um gesto irónico, esta abordagem dos Teenage Fanclub ao hit que projectou Madonna à escala planetária. À data, o colectivo escocês era somente a coqueluche eminente da Creation Records, um mundo subterrâneo distante do mundo glamoroso habitado pelas estrelas maiores do showbiz, como La Ciccone. Lembre-se que o "fenómeno" grunge ainda estava para vir, e a indústria não tinha ainda inventado o rótulo "alternativo" para vender um produto que antes desprezava. Mas, a brincar, a brincar, e com muita distorção à mistura, os rapazes de Glasgow criam uma canção absolutamente nova, que não destoa do seu riquíssimo catálogo. Depois de ouvirem, digam-me se conseguem imaginar Norman Blake em poses provocantes à boleia de uma gôndola...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Miúdas atordoadas















Desde que se juntaram em Brooklyn, há escassos dois anos, as Vivian Girls têm mantido intensa actividade, tanto em actuações incendiárias nos palcos de todo o mundo, como em edições discográficas em número considerável. Enquanto não chega Everything Goes Wrong, o segundo longa-duração agendado para Setembro, os apreciadores do lo-fi/punk/surf/shoegaze do trio podem deliciar-se com Moped Girls, um 7" de edição limitadíssima. Para o promover, foi concebido o habitual vídeo de baixo orçamento de belo efeito:


[For Us, 2009]

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ao vivo #38











Estrella Damm Primavera Sound'09
@ Parc del Fòrum, Barcelona, 28 a 30/05/2009

Ainda antes da entrada no Parc del Fòrum é-se confrontado com uma realidade estranha às tentativas de festivais que se fazem por cá: no levantamento dos bilhetes, o atendimento é célere, simpático e descomplicado. Igual atitude estende-se ao controlo de segurança na entrada, como pessoas no lugar dos habituais gorilas acéfalos. Já dentro do recinto, em crescendo de emoção, adquirem-se as preciosas senhas para cerveja e faz-se uma volta de reconhecimento aos diferentes palcos. Montra de diferentes estilos de arquitectura e de diferentes paisagens (o betão e a natureza convivem harmoniosamente), o recinto revela-se extremamente funcional para o evento, mesmo nos momentos de maior afluência de público em constante trânsito entre palcos. Como ponto negativo, assinale-se o mau cheiro que emanava das tampas de saneamento e que, no último dia, se tornou quase insuportável.
O cansaço (sobretudo no primeiro dia), as idas à casa-de-banho, as sobreposições no cartaz, e algumas opções de última hora, fizeram com que perdesse os concertos de Spectrum, Squarepusher, Marnie Stern, Jay Reatard, Art Brut, Jesu, Jason Lytle, El-P, Gang Gang Dance, Black Lips,Sunn O))), e Wavves, para citar apenas alguns. Em relação a estes últimos, vim a saber mais tarde, tive a opção mais sensata. Ainda assim, ficam na memória três dezenas de concertos (nem todos vistos na íntegra, note-se), sobre os quais se discorre de seguida, e o desejo de repetir a experiência em 2010. No final desta resenha, apresenta-se o top ten das minhas preferências. [Palcos: ED - Estella Damm; RD - Rockdelux; ATP - All Tommrrow's Parties; P4K - Pitchfork; R-BV - Ray-Ban Vice]

DIA 28

Women (P4K)
Para a estreia, uma banda canadiana que não alinha pelo sinfonismo pop algo estafado geralmente associdado àquele país da América do Norte. Inicialmente prejudicado pelo som deficiente, o quarteto foi aos poucos conquistando a assistência com a estranha mistura de ruído e harmonia que os distingue. Simpáticos e comunicativos, tiveram em "Black Rice" o esperado momento de maior ovação.

The Bats (R-BV)
Pop melódica e melancólica irrepreensivelmente tocada por quatro músicos que têm sabido envelhecer com dignidade. O fim de tarde com o Mediterrâneo ao fundo é cenário perfeito para este bonito concerto que merecia maior adesão do público.

The Vaselines (RD)
Os anos passaram e Eugene Kelly e Frances McKee mantêm, pelo menos em espírito, a aura juvenil que transborda da sua música. Em constante diálogo alegre apimentado, o duo faz-se acompanhar por alguns elementos dos Belle & Sebastian. Escusado será dizer que temas como "Son Of A Gun", Molly's Lips", "Dying For It", ou "Jesus Wants Me For A Sunbeam", provocam neste escriba o inevitável arrepio saudosista.

Yo La Tengo (ED)
Assisti apenas à parte inicial, essencialmente marcada pela soul sonhadora que caracteriza os últimos registos deste trio. Registadas na memória, ficam não só as belas harmonias vocais, como o humor cáustico de Ira Kaplan dirigindo-se a um fotógrafo de ocasião. Já com o estômago parcialmente acomodado, ouvi ao longe o clássico "Tom Courtenay".

The Jesus Lizard (ATP)
Talvez seja de mim, provavelmete em dia pouco receptivo às descargas vitriólicas de David Yow e seus pares. Consequentemente, soou-me tudo algo repetitivo. O corpulento vocalista não dispensou o número de crowd surfing. Dos guerreiros que se degladiavam nas proximidades do palco louva-se a coragem.

Phoenix (RD)
Canções escorreitas, bem tocadas, e sobejamente dançáveis, é a receita dos Phoenix. Se fossem britânicos, não se distinguiriam da míriade de bandas medianas que surgem como cogumelos em terras de Sua Majestade. No entanto, são gauleses e têm um vocalista mediático, razões que não justificam um hype algo exacerbado.

My Bloody Valentine (ED)
Volume no vermelho, distorção, poses estáticas, vozes abafadas na massa de ruído ensurdecedor. Aqui e ali, surge um traço reconhecível de melodia. Irremediavelmente rendido a este estranho ritual hipnótico , o público reage, na sua maioria, em sinal de aprovação. Outros, vão abrindo clareiras que vão permitindo maior aproximação ao palco. Penso que, no fundo, era isto que Kevin Shields pretendia com Loveless, caso os meios de produção da altura o tivessem permitido. No derradeiro e interminável "You Made Me Realise" torna-se obrigatório o uso dos earplugs gentilmente cedidos à entrada.

Aphex Twin (RD)
Arrasado pelo concerto anterior, optei por passar uma tangente ao maverick dos laptops, aqui em apresentação próxima do dj-set.

The Horrors (R-BV)
O cenário escolhido foi demasiado pequeno para os interessados em testemunhar a metamorfose estética recentemente operada pelos Horrors. Em palco, as canções novas perdem alguma da carga dramática das versões de estúdio. Com mais alguma rodagem, estes putos ameaçam tornar-se um caso sério. Por ora, foram apenas satisfatórios.


DIA 29

Crystal Stilts (P4K)
Em palco, as canções perdem algum do efeito claustrofóbico. Em compensação, ganham um inesperado sentido melódico. Alguns temas novos, deixam antever uma ligeira mudança de rumo. Alargados a um quinteto, foram, para muitos uma das surpresas agradáveis do festival, ou a prova de que é possível evocar a memória dos Joy Division sem descambar para o dramatismo balofo.

Bat For Lashes (ED)
Da menina Natasha Khan fica na retina o gosto por roupas vistosas, que pouco a favorecem. Às influências confessas de Kate Bush, juntam-se agora alguns tiques de Tori Amos e de uma Björk em modo contido. Bonitinho, quase esotérico e algo inconsequente.

Vivian Girls (P4K)
Mais ruidosas do que o esperado, estas três meninas despacham temas à razão de quatro por cada dez minutos. Divertidas e bem humoradas, sentiram-se como peixe na água perante um público que sabia ao que vinha. Apresentaram alguns temas novos que seguem a linha do disco de estreia.

Spiritualized (RD)
Alinhamento irrepreensível num concerto com a moldura humana consentânea com o currículo de Jason Pierce, ao contrário do passagem por cá no ano passado. Como é habitual, os momentos de uma beleza arrepiante alternam com as descargas sónicas.

The Pains of Being Pure at Heart (P4K)
Diminídas do teor de sacarina dos originais, as canções adquirem em palco uma força renovada, mais ajustada aos cânones do rock'n'roll. Tal como as restantes bandas que passaram pelo mesmo palco, revelaram-se extremamente comunicativos.

Throwing Muses (RD)
Chega a ser confrangedor presenciar uma banda que nos é querida diminuída naquele palco palco sobredimensionado. Para agravar a situação, o som estridente não joga a favor das canções mais adaptáveis a ambientes de recato. Salva-se a voz elástica de Kristin Hersh, capaz de ir do grito lancinante ao murmúrio terno em fracções de segundo.

Crystal Antlers (P4K)
Sonoridades com quatro décadas praticadas com a energia inesgotável de gente com pouco mais de vinte anos. Intensos e viscerais, os Crystal Antlers confirmaram em pleno as esperanças neles depositadas. O percussionista auto-denominado Sexual Chocolate, tem aqui um papel semelhante ao de Bez nos Happy Mondays, e funciona como contraponto ao tom urgente da música. No último tema, juntaram-se-lhes diversos membros das bandas que os antecederam em palco para uma jam de celebração do novo espírito independente norte-americano.

Jarvis Cocker (ED)
Do ex-vocalista dos Pulp não sabia o que esperar. Quando assim é, só podemos ficar satisfeitos depois de uma hora inspiradíssima de um dos melhores pop entertainers que alguma vez pisaram um palco. Mais rockeiro e confessional do que no passado, Jarvis não perdeu ainda o humor mordaz que lhe deu fama. O reencontro fica marcado para Paredes de Coura.

Saint Ettiene (RD)
No guião estava previsto a apresentação do debutante Foxbase Alpha na íntegra. Ponto de encontro entre o balearic beat e a sofisticação pop, os Saint Ettiene foram o expoente máximo de charme de todo o festival. As imagens projectadas, provenientes de uma Inglaterra icónica de outras eras, proporcionaram um belo espectáculo. Tivesse a Estrella Damm outro teor alcoólico e seria inevitável a abordagem à belíssima Sarah Cracknel que aguardava pacientemente à entrada do hotel localizado à saída do recinto.

Shellac (ATP)
Ainda que seja um cliché geralmente associado ao math rock, é a esta a única forma de descrever a prestação destes semi-deuses: uma máquina precisa e rotinada, que se limita a executar o essencial, só possível graças a músicos tecnicamente evoluídos. No final, o profético "The End Of Radio" tem um efeito devastador. Termina em solo de bateria, com Steve Albini e Bob Weston a desmontarem o kit peça a peça.

A Certain Ratio (R-BV)
Pioneiros da miscigenação de música negra, dance e pop-rock, arriscam-se, neste erguer das cinzas, a hipotecar um passado relativamente respeitável.


DIA 30

Shearwater (P4K)
Canções prenhes de emoção, filiadas no imenso caldeirão do americana, e interpretadas no limite pela voz imensa de Jonathan Meiburg. Tiveram a honra de colher as ovações mais intensas do público espanhol, geralmente contido nos aplausos. A belíssima versão de "Tomorrow" dos Clinic foi recebida com alguma surpresa.

The Jayhawks (ED)
Country-rock solarengo de boa colheita. Extremamente prazenteiro em final de tarde estendido na relva.

Th' Faith Healers (ATP)
Confrontados com a destreza e à-vontade em palco, poucos adivinharão que este quarteto vem de uma longa paragem de década e meia. As estruturas musicais são complexas e propiciadoras do estado de transe. Porém, colam-se ao ouvido ao primeiro contacto. Com uma assistência mais numerosa e conhecedora, poderiam ter deixado marcas na presente edição do festival catalão.

Neil Young (ED)
Um nervoso miudinho antecedeu o meu primeiro contacto com este dinossauro que ainda ousa criar obra relevante, mais de quarenta passados desde o início de carreira. Do vasto repertório adaptável à curta duração do happening, Neil Young optou por apresentar um best of compactado, com temas como "Cortez The Killer", "Needle And The Damage Done", "Heart Of Gold", ou "Cinnamon Girl" interpretados de forma intensamente arrepiante. Para o encore, já sem a minha presença, estava guardada uma versão de "A Day In The Life", dos quatro de Liverpool. Pela falta, estou a penitenciar-me até ao dia de hoje.

Oneida (R-BV)
Ao longo de quarenta longos minutos, os Oneida desfilam ininterruptamente o seu último disco. Os sons extremos e circulares percorrem uma panóplia de géneros que podem ir do progressivo ao noise. Uma experiência dificilmente traduzível em palavras.

Liars (ATP)
De Angus Andrew e seus pares, nunca se esperam dois concertos iguais. Presentemente menos experimentais e mais directos, mantêm o bom-humor que os caracteriza desde a primeira hora.

Deerhunter (RD)
Inicialmente intimidados pelas dimensões do palco, souberam progressivamente desinibir-se e conquistar um público numeroso predisposto a disfrutar da dream pop aventureira deste quinteto de Atlanta. O fabuloso Microcastle foi, obviamente, o parto principal de um concerto, acima de tudo, competente.

Sonic Youth (ED)
Foi morna a parte inicial do concerto, a única a que assisti. Tal facto ficará a dever-se ao alinhamento escolhido, essencialmente composto por temas do novíssimo The Eternal, ainda pouco rodados e desconhecidos do público.

Simian Mobile Disco (RD)
Propósito único de abanar a anca, depois de uma dieta exclusiva de música de guitarras. Depois da experiência, não percebo porque são atribuídos rótulos pomposos a algo que não difere grademente das sonoridades mais dançantes da década passada.

Já passava das quatro da matina quando, ao som das escolhas criteriosas de DJ Coco, e já invadido por uma imensa saudade, disse o último adeus ao Parc del Fòrum. Pelo menos por este ano...

Os 10 +

01. MY BLOODY VALENTINE
02. THE VASELINES
03. JARVIS COCKER
04. NEIL YOUNG
05. SPIRITUALIZED
O6. CRYSTAL STILTS
07. SHEARWATER
08. CRYSTAL ANTLERS
09. SHELLAC
10. VIVIAN GIRLS

domingo, 7 de junho de 2009

Duetos #14

O puto traquinas e miss Polly Jean - dois anjos de cara suja. Um sufoco...


Tricky & PJ Harvey "Broken Homes"
[Live @ Later with Jools Holland*]

* Original no álbum Angels With Dirty Faces [Island, 1998]


quarta-feira, 3 de junho de 2009

Aviso à navegação

Com o avolumar de afazeres profissionais e de compromissos "sociais" neste regresso de mini-férias, escasseia o tempo para me dedicar a este tasco. Por conseguinte, o relato mais desejado terá de esperar, pelo menos, até ao fim-de-semana. Aos estimados clientes, a gerência agradece a compreensão.

Oh Captain, my Captains!










Foto: Raphael Olschner

Chega no próximo dia 15 à melhores lojas de discos Here And Elsewhere, primeiro longa-duração dos My Sad Captains, em tempos apresentados neste blogue como uma das mais recentes apostas da Stolen Recordings. No dito, o quinteto londrino promete um conjunto de canções de leves, poéticas, e com a dose certa de melancolia. Portanto, ideais para a estação que se aproxima. Em certos momentos partilham da faceta terna dos Yo La Tengo mais recentes, noutros evocam as melhores memórias da twee pop. O avanço que se segue colheu a aprovação do influente radialista Steve Lamacq.


"A Change Of Scenery"

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ao vivo #37

Antes do relato da aventura catalã, breves considerações sobre um dos poucos motivos de alegria no regresso...















Wilco @ Coliseu dos Recreios - Lisboa, 31/05/2009

Sem banda de aquecimento e quase pontualmente, os Wilco subiram ao palco de Coliseu perante um público que, em número, dificilmente atingiria 1/6 da capacidade do local. Pela frente, os escassos felizardos tinham pouco mais de duas horas da melhor música que se produz na América actual. Começou morna a noite, com o público ordeiramente sentado, mas terminou em delírio após a debandada geral para a frente do palco. Para gáudio da maioria, o superlativo Yankee Hotel Foxtrot foi percorrido quase na íntegra.
O que surpreende no sexteto de Chicago, e o torna tão especial, é a capacidade com que, a partir da tradição, constroem canções prenhes de emoção e experimentação. Neste particular, honra seja feita ao inesgotável talento de Jeff Tweedy, compositor muitas vezes torturado que, nesta ocasião em particular, surgiu em modo irónico respondendo às solicitações de um público que encara cada concerto como uma sessão de discos-pedidos. Outro pormenor que convém destacar é o virtuosismo dos músicos - em particular do guitarrista Nels Cline e do baterista Glenn Kotche -, usado não como manobra de exibicionismo, mas antes como meio de enriquecimento dos temas, simultaneamente complexos e cativantes.

NOTA: Não fosse o aspecto desolador da sala um ponto negativo da noite - memorável, repita-se - diria ser castigo merecido para uma promotora que, para ser simpático, apelaria de usurpadora.