"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 30 de março de 2010

10 anos é muito tempo #19





16 HORSEPOWER
Secret South
[Razor & Tie / Glitterhouse, 2000]

Filho de um pastor evangélico, Dave Eugene Edwards é hoje um dos mais reconhecidos represantantes do crossover entre a tradição do americana e a "modernidade" do rock. Actualmente dedicado em exclusivo aos Woven Hand, destacou-se previamente como líder dos 16 Horsepower (16HP), banda que fundou ainda em tenra idade em Denver, no Colorado. Primeiramente ocupados na elaboração de paisagens sonoras desoladas como meio de disseminação das mensagens de fé, ao terceiro álbum, os 16HP dão um claro passo evolutivo, concentrando-se agora no contar de pequenas histórias de pecado, redenção e salvação.
Secret South abre com "Clogger", tema de uma tensão eléctrica inaudita movido pela propulsão de um baixo arrasador. Se mais evidências fossem pedidas, este é o exemplo acabado do paralelismo entre Edwards e Jeffrey Lee Pierce, caso o malogrado líder dos Gun Club fosse crente. Substancialmente menos frenéticos, o cavalgante "Cinder Alley" e o magistralmente épico e redentor "Splinters" são mais dois exemplares destes "novos" 16HP empenhados em imprimir uma maior densidade a cada canção. No primeiro, realcem-se as similitudes com algumas abordagens de um Nick Cave da fase "madura". Reverente das raízes da música norte-americana, o trio não só recorre abundantmente a instrumentos habitualmente estranhos ao universo rock (mandolim, banjo, acórdeão, violoncelo, serra com arco), como revisita amiúde esse velho e rico cancioneiro. Em Secret South, há uma dupla visita ao passado: primeiro numa interpretação crua do tradicional "Wayfaring Stranger", a conferir uma dose de rusticidade; depois com uma versão sentida e belíssima de "Nobody 'Cept You", obscura balada da autoria Bob Dylan.
Quando confrontados com a atmosfera opressiva, quase gótica, que percorre todo o disco somos levados a crer que no fim iminente, tal o empenho posto em favor da densidade textural de cada canção. Contudo, mais atentos ao teor das palavras, indubitavelmente sinceras, Secret South propaga uma mensagem de esperança que encontra destinatário em qualquer ouvinte, temente ou não.


"Clogger"


"Splinters"


"Wayfaring Stranger"

segunda-feira, 29 de março de 2010

Júlia dos espíritos

















Há muito, muito tempo, Julie Doiron foi uma das vozes dos "sónicos" Eric's Trip. Após o fim prematuro - em 1996 - deste colectivo canadiano relativamente esquecido, e impulsionada pelo guitarrista e então companheiro Rick White, inciou desde logo uma carreira a solo que, até há pouco tempo, desconhecia. "Descobri-a" através de um tema integrado no alinhamento do CD gratuito que acompanhou um número recente de uma conceituada publicação britânica, que me levou a querer explorar I Can Wonder What Did Your Day, já o nono álbum de originais se contarmos com o homónimo lançado sob o pseudónimo Broken Girl. Dei de caras com um disquinho simpático e descomprometido que nos faz viajar até às memórias indie-rock no feminino de noventas. Compõem-se de uma dúzia de temas equitativamente distribuídos entre o intimismo predominantemente acústico e a distorção electrificada. Em certa medida um regresso às raízes, I Can Wonder... denota um relativo afastamento das linguagens indie-folk que, segundo sei, constituiram a receita musical da anterior obra gravada desta cantautora. Segue um pequeno excerto que, julgo, fará as delícias dos saudosistas dos Helium e quejandos:

"Consolation Prize" [Endearing / Jagjaguwar, 2009]

quinta-feira, 25 de março de 2010

Singles Bar #42





SHOP ASSISTANTS
Safety Net  
[53rd & 3rd, 1986]

Apesar da escassa obra registada, os (ou as) Shop Assistants foram, ainda que fugazmente, uma das bandas mais marcantes no turbilhão indie, gerado pelos Mary Chain e pela C86, de meados de oitentas. Oriundo de Edimburgo, Escócia, o quinteto (quatro raparigas, um rapaz) foi um dos nomes constantes do alinhamento da mítica cassete oferecida pelo semanário New Musical Express com o tema "It's Up To You". 
Um dos grandes entusiastas desde a primeira hora foi o conterrâneo Stephen Pastel, que lhes endereçou o convite para estrearem o catálogo da editora por ele criada. As honras de inauguração da 53rd & 3rd Records (nome sacado do título de um velhinho single dos Ramones) couberam precisamente a Safety Net. Mais do que qualquer outro registo posterior, este single define a "marca" Shop Assistants: um concentrado do enfado imerso em feedback da banda dos irmãos Reid com o magnificiência pop das Shangri-Las. Menos de dois minutos e meio foram o suficiente para fazer de Alex Taylor, cantora de uma ambiguidade entre o pueril e o preverso, a musa de uma orda de pós-adolescentes alheios à ditadura das tabelas de vendas. E, de repente, a inanidade dos Ramones estava de novo na ordem do dia...
A ilusão de uma mudança no panorama musical fez dos Shop Assistants alvo preferencial dos convites das multinacionais. Na disputa, levou a melhor a Chrysalis, responsável pela edição do único álbum de originais. Esse, porém, fica reservado para futuros episódios...

É (quase) tempo de dar as mãos

















Em separado, ou integrados noutras bandas, Carl Newman, Daniel Bejar, e Neko Case têm já obra de monta. Mas é juntos, com os restantes New Pornographers, que estes três valem mais do que a soma das partes. Quem profere estas palavras é alguém que tem nesta a banda de eleição, de entre as inúmeras que emergiram do Canadá ao longo da última década. Contudo, o fervor saiu algo abalado depois do desequlibrado Challengers (2007), disco apenas mediano para os parâmetros pornógrafos, algo que gostava de ver corrigido por Together, o quinto álbum de originais agendado para inícios de Maio. A lista de convidados, que inclui Zach Condon (Beirut), Will Sheff (Okkervil River), e Annie Clark (St. Vincent), o que me faz temer por uma eventual rendição do super-grupo de Vancouver a uma certa forma barroca de entender a pop para a qual já falta pachorra. Contudo, os sinais dados pelo primeiro tema divulgado são contrários, i.e., o regresso da euforia power-pop contagiante do efusivo e brilhante Twin Cinema (2005). É ouvir e cruzar os dedos:


"Your Hands (Together)" [Matador, 2010]

quarta-feira, 24 de março de 2010

First Exposure #8

















WARPAINT

Formação: Emily Kokal (voz, gtr); Theresa Wayman (voz, gtr); Jenny Lee Lindberg (bx, voz); Stella Mozgawa (btr)
Origem: Los Angeles, Califórnia [US]
Género(s): Indie-Pop, Dream-Pop, Psych-Pop
Influências / Referências: Cat Power, Vivian Girls, Belly, Yeah Yeah Yeahs

http://www.myspace.com/worldwartour

segunda-feira, 22 de março de 2010

Visita ao Museu da Baixa Fidelidade

















Fundada e gerida pelos membros dos nova-iorquinos Woods, a Woodsist (subentende-se o porquê desta designação) tem desempenhado um papel fulcral na divulgação da actual produção underground norte-americana. No currículo, esta editora conta já com edições de Vivian Girls, Real Estate, Blank Dogs, Crystal Stilts, Wavves, e dos próprios Woods, só para citar alguns. A mais recente aposta recai sobre a dupla The Art Museums, projecto que integra Josh Alper (dos obscuros Whysp) e Glenn Donaldson (dos mais "afamados" The Skygreen Leopards). Contrariamente ao expectável, a dupla não embarca na toada psych-folk habitualmente seguida pelos seus elementos, nem tão pouco no rol de bandas fuzz-pop ligadas à Woodsist. Optam antes por curtas canções em registo lo-fi, tremendamente catchy, a evocar as imperfeições propositadas dos criminalmente menosprezados Television Personalities de Dan Treacy, um compositor que, nos melhores dias, congrega o melhor de Ray Davies e de Syd Barrett numa só pessoa. Fiel a esse propósito, a parelha acaba de lançar Rough Frame, um EP de nove temas breves que é, para já, um dos registos discográficos mais entusiasmantes do corrente ano.

http://www.myspace.com/theartmuseums

sábado, 20 de março de 2010

Discos pe(r)didos #36






YO LA TENGO
Painful
[Matador, 1993]

Apesar de contarem já com um punhado de discos satisfatórios, foi ao registo meia-dúzia que os Yo La Tengo (YLT) se afirmaram definitivamente como uma das  bandas mais coerentes do último quarto de século. Se os registos anteriores não passavam de interessantes explorações do compêndio velvetiano, via The Feelies, Painful - o primeiro disco com o baixista James McNew a tempo inteiro - desenvolve aquela que é a fórmula que faz da banda de Hoboken nome de culto que atravessa gerações: uma feliz combinação que alterna paisagens sonoras idílicas com momentos de deriva eléctrica.
Logo no pontapé de saída com "Big Day Coming", ou mais à frente em "I Was The Fool Beside You For Too Long" e "I Heard You Looking", os YLT encontram na sua música uma apetência cinemática  inaudita, algo que tem marcado pontos nos registos de então para cá. O primeiro, marcado por um certo minimalismo instrumental e pela voz sussurante de Ira Kaplan, é serenidade adulterada pelas intromissões discretas de distorção. Uma versão alternativa deste mesmo tema, colocada perto do final do alinhamento, contrasta pela tensão eléctrica. "From A Motel 6", um dos temas com lugar reservado na antologia do essencial dos YLT, é claro sinal de uma mudança de referências e reverências. Com vocalizações aéreas de Georgia Hubley e os devaneios de guitarra distorcida, "Motel 6" tem um efeito anestésico semelhante ao de uns My Bloody Valentine situados algures entre os seus dois únicos álbuns de originais. Tal como "Double Dare" é uma certa forma distinta e sofisticada da pop de guitarras, partilhada, na altura, com os velhos comparsas dos Sonic Youth. Na sua parte intermédia, Painful conduz o ouvinte a um torpor lânguido, propiciado em "Nowhere Near" pela contenção instrumental e vocal, e em "Sudden Organ" pela sensualidade vintage de um órgão.
Não estaríamos perante mais um disco dos YLT sem a habitual cover, desta feita propiciada por uma reinterpretação de "The Whole Of The Law", tema da autoria dos The Only Ones do errático Peter Perrett. No original transgressão vaudeville à medida do seu autor, "The Whole" conhece na versão YLT uma roupagem de balada lisérgica com arremedos folksy.
Embora tenha conhecido um maior refinamento no superlativo I Can Hear The Heart Beating As One (1997), a fórmula que é hoje marca-de-água da banda conheceu o momento inaugural no transitório Painful. Só por isso, este deverá ser sempre o ponto de partida para qualquer iniciado na gratificante tarefa que é a exploração da excelsa discografia dos Yo La Tengo.


"Big Day Coming"


"From A Motel 6"


"The Whole Of The Law"

sexta-feira, 19 de março de 2010

Ao vivo #49


















Lætitia Sadier @ Galeria Zé dos Bois, 18/02/2010

Não se tratou propriamente de um concerto o evento que levou uma pequena multidão de curiosos à ZdB na noite de ontem. Aquela que alcançou notoriedade como a mais enigmática das vozes dos grandes Stereolab, e que há muito trocou a França natal pela terra das oportunidades do Reino Unido, tinha reservado para os convivas um curto showcase informal apenas com voz e guitarra. Aproveitando uma pausa nas actividades daquela banda, Lætitia Sadier prepara-se para lançar o primeiro álbum a solo, cujas canções vem apresentar o em formato reduzido esqueleto. Quem esperava os mantras circulares derivadas do kraut que fizeram a fama dos Stereolab, sai obviamente frustrado e, até eventualmente aborrecido. Porém, com alguma compreensão e boa-vontade, é possível extrair alguns pontos positivos deste pacato serão. Reconheça-se então alguma surpresa (agradável) perante a novidade do intimismo destas novas canções, que chegam a abordar temas pessoalíssimos como o divórcio (de Tim Gane, mentor dos Stereolab). Ou então, admitam-se as qualidades inequívocas de uma voz que, sem virtuosismos bacocos, se liberta e respira à medida que cresce a empatia com o público.
Na despedida, depois de uma sentida versão de Wendy & Bonnie, uma humilde Lætitia agradece gentilmente o empréstimo do amplificador e da guitarra (para destros), cujas cordas foram previamente trocadas para esta encantadora esquerdina. 

R.I.P.

ALEX CHILTON
[1950-2010]

Thank you, friends
Wouldn't be here if it wasn't for you
I'm so grateful for all the things you helped me do.

Alex Chilton deixou este mundo anteontem. Tinha 59 anos de idade. Partiu para o Paraíso do Rock'n'Roll, aquele lugar a que faziam referência os Sonic Youth, onde agora está junto a Chris Bell, antigo companheiro nos Big Star que a má fortuna levou ainda jovem. Vitimado por um ataque cardíaco, Chilton planeava actuar este fim-de-semana em Austin, por ocasião de mais uma edição do South by Southwest, com a renovada formação dos Big Star, da qual faziam parte Ken Stringfellow e Jon Auer, a dupla inseparável dos The Posies, apenas uma das milhentas bandas que reclamam a herança do colectivo fundado em Memphis na década de 1970. De uma vida conturbada à qual faltou o merecido estrelato, ficam para a posteridade alguns dos mais belos pedaços de música da história da pop. A tremenda injustiça da quase obscuridade é compensada pela infinita devoção de uma imensa minoria à qual as canções de Alex Chilton enriqueceu a existência.  
Thank you friend!


Big Star "O My Soul" [Ardent, 1974]


Big Star "Kangaroo" [PVC, 1978]


Alex Chilton "Can't Seem To Make You Mine" [Fun, 1978]


The Replacements "Alex Chilton" [Sire, 1987]

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mergulho nas sombras



















Ainda a navegar em mares power-pop, gostava de vos falar dos Teenage Fanclub. Não que as novidades sobre o já lendário grupo de Glasgow abundem, mas há rumores mais ou menos confirmados que Shadows, o nono álbum de originais (ou décimo, se contarmos com o disco em colaboração com Jad Fair), possa chegar brevemente. Em declarações recentes, Norman Blake afirmava que o título deriva da maior densidade deste trabalho, em clara dissonância com a leveza do apenas mediano Man-Made (2005). Justificando esta mudança de rumo com o avançar da idade, o guitarrista-vocalista-compositor fala ainda em doses massivas de overdubs, de arranjos de cordas e, claro está, das habituais melodias guitarrísticas. Enquanto não é levantada a ponta do véu, vai-se vivendo de recordações:


"Star Sign" [Creation, 1991]

New Adventures in Hi-Fi


















No momento em que são anunciadas algumas datas europeias (Portugal uma vez mais fora de rota), sabe-se também que os power-poppers Nada Surf se aprestam para lançar o seu sexto álbum, mais concretamente um disco de versões. Auto-editado em inícios de Junho, if i had a hi-fi (assim mesmo, em minúsculas) recria uma dúzia de temas de popularidade variável. Entre as escolhas, incluem-se originais de Depeche Mode, The Go-Betweens, Kate Bush, Arthur Russell, The Moody Blues, e Spoon. Curiosamente, o primeiro tema revelado corresponde a uma das escolhas mais obscuras. Trata-se de um original de Bill Fox, antigo líder dos esquecidos The Mice, velhos companheiros de estrada dos Guided by Voices e dos Yo La Tengo em inícios de carreira. No dito, saliente-se o tratamento birdsyano inaudito na obra do trio de Brooklyn.


"Electrocution"
[Mardev, 2010]

terça-feira, 16 de março de 2010

Ao vivo #48













Yo La Tengo @ Aula Magna da U.L., 14/03/2010

Já por diversas ocasiões aqui me insurgi contra o elevado preço dos bilhetes dos concertos que vão acontecendo neste rectângulo da Europa ocidental. Os promotores (e os seus defensores, que normalmente assistem aos concertos de borla) justificam-se com a posição periférica do nosso país como principal factor de inflacionamento do cachet das bandas que nos visitam. Nós, melómanos minimamente inteligentes e esclarecidos, sabemos que as razões são outras que nem interessa enumerar. Por uma vez, tenho de admitir que € 23,00 é o preço justo a pagar pelo memorável concerto de domingo à noite, mesmo tendo por cenário a Aula Magna. Fossem outras as condições da sala (como as da Casa da Música no dia seguinte, por exemplo) e o poder mesmerizante de "More Stars Than There Are In Heaven", por si só, seria suficiente para duplicar o preço a pagar por tão grata experiência. 
Os Yo La Tengo são já velhas raposas nestas andanças e, em palco, mais do que nos discos raramente abaixo do muito-bom, fazem valer o profundo conhecimento (e o respeito) das heranças rock'n'roll. Com um quarto de século nas pernas, a máquina mostra-se bem oleada, independentemente do ecletismo estético assumido sem amarras: seja no experimentalismo puro de "And The Glitter Is Gone", no paradigma indie-pop açucarado de "Sugarcube", na perenidade pop de "You Can Have It All", na descarga eléctrica em desalinho de "Double Dare", ou no lounge para bar de hotel de "Periodically Double Or Triple". O segredo desta inesperada coerência feita de extremos estará, porventura, na delimitação bem definida dos papéis desempenhados por cada um dos membros do trio de Hoboken. Ira Kaplan é todo ele irreverência, tanto nos abundantes espasmos de distorção, como na excentricidade dos teclados. Como mestre de cerimónias, tem um sentido de humor seco e bem doseado, sem cair no exagero que causa a desconfiança. Já a esposa Georgia Hubley, com a batida certeira e a voz sonhadora, representa a contenção e a emoção. James McNew, o baixista que acompanha o destilar de doçura do casal vai para duas décadas, é uma espécie de confidente, que apazigua os conflitos e injecta sensatez. Na companhia destes três, e do seu jogo de contrastes, as mais de duas horas de concerto (duplo encore incluído) apenas pecam por escassas...

domingo, 14 de março de 2010

Good cover versions #34











X  "Soul Kitchen" [Slash, 1980]
[Original: The Doors (1967)]

Quem me conhece sabe da aversão, quase irracional, que nutro pelos Doors. Neles, não suporto as guitarras bluesy, o órgão monocórdico, as letras pretensamente poéticas, e a pose messiânica do vocalista. Sem lhes querer retirar o (pouco) mérito merecido, irrita-me a sobrevalorização relativamente a outras bandas bem mais interessantes, do mesmo período e da mesma zona geográfica. Love, Jefferson Airplane, anyone? Face ao que atrás foi dito, "Soul Kitchen" é um daqueles temas que reúnem todos os clichés que fizeram de Jimbo um dos maiores ícones da azeiteirice rock'n'roll.
Parece quase impossível que, pouco mais de dez anos depois de ter parido os Doors e de ter sido um dos principais centros do movimento hippie,  a mesma cidade de Los Angeles tenha assistido a nascimento dos X, um dos mais originais colectivos do antagónico punk-rock. Mais incrível é que o seu primeiro álbum, singelamente intitulado Los Angeles, tenha sido produzido por Ray Manzarek. Esse mesmo, o teclista dos Doors a provar que duas "ideologias" tão distintas podem conviver pacificamente.  No alinhamento desse disco, já pertencente à galeria dos clássicos, pode encontrar-se uma cover quase irreconhecível do citado tema. Se o original sintetizava o pior dos Doors, esta nova versão de "Soul Kitchen" evidencia todas as marcas identitárias que fizeram a fama dos X: um vitaminado punk-rock que vai beber sem pudores ao rockabilly, à country, e à folk norte-americana em geral. O "diálogo" entre a vocalista Exene Cervenka e o baixista John Doe recusa os maneirismos grandiloquentes do original, preferindo acentuar o cariz sexual implícito na letra.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Ao soar do gongo

 



Sam Coomes foi em tempos membro dos Heatmiser, a banda aparentada ao grunge onde militava um tal de Elliott Smith. Janet Weiss foi durante largos anos baterista das saudosas Sleater-Kinney, e é actualmente integrante dos Jicks, a banda que acompanha Stephen Malkmus. Em 1993, o casal fundou os Quasi, visto durante muito tempo como uma espécie de projecto paralelo de ambos. O que é certo é que, passados todos estes anos, e apesar do rompimento do laço conjugal, os Quasi ainda por cá andam e acabam de lançar novo disco. American Gong é já o oitavo álbum de originais de uma carreira pautada por um certa discrição, e o primeiro gravado com a baixista Joanna Bolme, companheira de Weiss nos Jicks.
Quero confessar-vos que sempre achei que faltava algo aos Quasi para que se destacassem no meio do pelotão das bandas indie-rock norte-americanas. Esse algo parece finalmente suprido por American Gong, um disco em que Coomes tira partido desta nova nova composição da banda, assumindo-se agora como o líder de um power-trio obcecado por um certo soft-rock com travo setentista, mas que não enjeita aventurar-se por territórios da psicadelia e do garage. As guitarras, bluesy, sujas, e propiciadoras de riffs contundentes, têm desta feita primazia sobre os teclados, ainda assim com algum destaque em alguns dos temas mais mid-tempo. Mais diluídas estão as aproximações ao universo dos Flaming Lips do passado recente,  apesar da presença em estúdio de Dave Fridmann, responsável pela produção dos trabalhos de Wayne Coyne & C.ª há mais de década e meia.


"Repulsion"
[Kill Rock Stars, 2010]

quarta-feira, 10 de março de 2010

Na companhia dos lobos





BEN FROST 
By The Throat 
[Bedroom Community, 2009]

O primeiro calafrio advém do título, apresentado como se duma produção de accção hollywoodesca se tratasse. Depois a capa, capaz de nos fazer sentir acossados ao primeiro vislumbre. Para compor o quadro sinistro, arriscaria também uma menção ao nome do autor de By The Throat, não fosse Ben Frost o verdadeiro nome de baptismo deste músico, compositor, e produtor australiano que encontrou na infertilidade gelada da Islândia, onde actualmente reside, o berço perfeito para esta música que nos revolve as entranhas, pela sua fealdade, mas ao mesmo tempo nos enfeitiça pelo mistério que carrega.
Para evitar (im)possíveis equívocos, Frost abre o disco com "Killshot", um tema no qual a discrição da electrónica minimalista é assaltada por torrentes de guitarra processada e um drone de baixo ensurdecedor, evidenciando linguagens próximas do black metal. Contudo, Frost é compositor de múltiplas sensibilidades e, ao longo destes onze temas de durações muito variáveis, socorre-se também de field recordings ou de cordas dissonantes a acentuar o caos, propiciando uma mescla grosseiramente rotulável como musique concrète. Tome-se como exemplo "The Carpathians", onde um contínuo em crescendo, já de si suficientemente aterrador, é acompanhado pelo rosnar ameaçador de uma alcateia., remetendo para o realismo atroz da imagem da capa e, consequentemente, gelando o sangue. "Leo Needs A New Pair Of Shoes" é raro momento de harmonia no clima de paranóia instalado, com a cadência de um piano a combinar com a raios de luz de um banjo. Porém, a paz é breve, já que, progressivamente, as mesmas feras vão-se mostrando, desta vez uivando ao longe e frustrando uma réstia de esperança. Tal como em The Road - o livro e o filme - o distúrbio opressivo de By The Throat é contrariado por um profundo sentido de humanismo, ainda que a voz humana esteja apenas presente nas duas partes do tema "Peter Venkman". Surge por via das interjeições ocasionais de um coro feminino, a pairar, quase fantasmagórico, como se de um coro de anjos se tratasse.
Convido-vos então a entrar, com as devidas cautelas, neste mundo obscurecido de By The Throat. Este mundo de sombras e temores sintetizado pela revista Vice nos seguintes termos: "The compositional complexity of Arvo Pärt and the sonic nothingness of Wolf Eyes...Yes, it is that good.". Eu assino por baixo!


segunda-feira, 8 de março de 2010

Ecos matinais

 

Chamam-se The Morning Benders e são um quarteto indie-pop oriundo da pequena cidade universitária de Berkeley, na Califórnia. Há dois anos, estrearam-se com o longa-duração Talking Through Tin Cans, motivo de elogios por parte da crítica e de indiferença por parte do público. Tenho de confessar que sou um daqueles a quem esse disco passou ao lado, algo que não terá sucedido com os executivos da sucursal norte-americana da Rough Trade que, amanhã mesmo, fará chegar às lojas o sucessor. Com a aproximação desta data, tenho detectado nos diversos canais disponíveis por essa blogosfera um buzz crescente em torno da banda, algo que me aguçou a curiosidade. Daí que Big Echo conte já com um dois ou três pares de audições (ver abaixo) atentas por parte deste que vos escreve. Num primeiro contacto, estas canções apenas aparentemente simples remetem para o neo-psicadelismo happy/sad multicolorido que deu fama aos Shins. Igualmente imediata é a detecção de afinidades com a faceta mais luminosa desenvolvida recentemente pelos Grizzly Bear. Apenas a espaços, de forma mais dissimulada, há também parentescos com a pop barroca, quase progressiva, de alguns dos projectos ligados ao colectivo Elephant 6, mormente dos saudosos Olivia Tremor Control. Esta aposta no trunfo da familiaridade, que não significa necessariamente falta de inventidade, leva-me a apontar os Morning Benders que um dos mais sérios candidatos a "pequeno fenómeno" do ano corrente. Am I wrong?

domingo, 7 de março de 2010

Em escuta #48

 

THESE NEW PURITANS _  Hidden [Angular/Domino, 2010]

Revelados há coisa de dois anos, os TNPs ficaram conhecidos como seguidores da facção mais cerebral do post-punk, com os The Fall a sobressairem no leque de referências. Ainda que algo desequilibrado e pecando por tardio, o registo de estreia deu provas de que ainda era possível extrair ideias do revivalismo das sonoridades que fizeram história no período 1978-82. Neste segundo fôlego, das guitarras de pontas afiadas restam apenas vestígios imersos na profusão de sintetizadores, sopros, e percussões imponentes. Cria-se assim um ambiente austero, de frieza pós-apocalíptica que faria outro sentido há 10-12 anos, quando pairava no ar a tensão pré-milenar. Nesta mudança de azimutes não estará inocente o produtor Graham Sutton, mentor dos Bark Psychosis, pioneiros das linguagens post-rock e um dos mais enigmáticos colectivos da década de 1990. Com esta proposta a roçar a globalidade e a erudição vanguardista, louvam-se os TNPs pela coragem de assunir o risco. Contudo, a ambição desmedida esbarra na relativa inexperiência da banda para tal empreitada, o que faz com que Hidden seja um disco de conceitos algo baços. [6,5]


BEACH HOUSE _  Teen Dream [Sub Pop, 2010]

Se uns operam transformações estéticas radicais, dos Beach House não se esperam mudanças de rumo abruptas, mas antes fidelidade às paisagens idílicas em tons sépia que se propiciam a servir de música genérica. Porém, Teen Dream até abdica em certa medida do intimismo folky carregado de misticismo do par de registos anteriores, abrindo-se à entrada de alguma luz e aspirando à grandeza épica. Sem querer negar legitimidade aos intentos do duo de Baltimore, tenho de admitir que o minimalismo resultante da combinação dos teclados vintage e das caixas de ritmos conduzem a um estado de letargia que não permite vislumbrar diferenças significativas entre cada tema. "Norway" e "10 Miles Stereo" são raros momentos de elevação acima da superfície, com a voz grave de Victoria Legrand a criar um misto de volúpia e desconforto. No resto, fica assegurado o ambiente pacífico e acolhedor no qual os velhinhos discos dos Mazzy Star costumam envolver-nos. [7]


THE SOFT PACK  _ The Soft Pack [Kemado/Heavenly, 2010]

Vindo ao mundo como The Muslims, designação abandonada depois de alguma controvérsia que envolveu acusações de xenofobia, este colectivo californiano estreia-se como The Soft Pack com um suculento menu garage-rock com a dose suficiente de groove para fazer sacudir o corpo ao mais empedernido dos ouvintes. Pela façanha, deverá ser dado o devido mérito à produção do ex-Girls Against Boys Eli Janney que, mesmo com os típicos órgãos ébrios e dissonantes a darem um ar da sua graça ("Move Along"), faz de The Soft Pack um disco livre de qualquer resquício de sujidade, o que abona em favor de um maior imediatismo. À receita básica são adicionados elementos surf-rock e punk-pop, pelo que estão garantidas as manifestações de ennui juvenil ("Answer To Yourself", "Down On Loving" ) e as declarações inequívocas de intenções ("C'mon"). E, por momentos, fui atacado pela saudade dos tempos em que os Strokes eram uma banda relevante... [8,5]


FANFARLO _ Reservoir [Topspin, 2009]

Chego tarde, mas ainda a tempo, ao disco de estreia deste combo que, por manifesta preguiça mental, tem sido rotulado de "Arcade Fire ingleses". Não que a pop de câmera dos Fanfarlo não tenha afinidades com a banda de Win Butler. Tem-nas e bastante evidentes, sobretudo no cariz orquestral destes onze temas, que para além dos utensílios usuais na pop, recorrem a uma panóplia de instrumentos que inclui acordeão, mandolim, trompete, clarinete, saxofone, glockenspiel, piano, violino, e até serra com arco. Sucede que as canções dos londrinos, cuidadosamente elaboradas ao ponto de adquirirem uma aura de intemporalidade, não resvalam para a pompa que se reconhece aos de Montreal, preservando toda a sua frescura a cada nova audição. Por outro lado, o vocalista Simon Balthazar tem um timbre sóbrio, bem distinto do histeriónico Butler, o que faz com que as canções, necessariamente melancólicas, soem apenas moderamente dramáticas. Para rematar, refira-se a ainda abundância de guitarras jangly e os de floreados de uma certa folk pastoral, que fazem de Reservoir um produto genuinamente britânico. [8]

R.I.P.

 
MARK LINKOUS
[1962 - 2010] 

Através de comunicado, a família de Mark Linkous, líder de sempre dos Sparklehorse, ou os próprios Sparklehorse, faz saber o seguinte:

It is with great sadness that we share the news that our dear friend and family member, Mark Linkous, took his own life today [ontem]. We are thankful for his time with us and will hold him forever in our hearts. May his journey be peaceful, happy and free. There's a heaven and there’s a star for you.

Tal como no caso recente do amigo e colaborador Vic Chesnutt, a decisão de Linkous pôr termo à vida não constituirá surpresa. Até porque existem relatos de algumas tentativas nesse sentido. Mas, quando se encontra estabelecida uma relação de quase intimidade com a obra de um músico, torna-se sempre triste a sua despedida.

Sparklehorse "Sick Of Goodbyes" [Parlophone, 1998]

sábado, 6 de março de 2010

Perfect Sound Forever

 
A semana que termina fica marcada pelo regresso aos palcos dos Pavement, volvidos que estão mais de dez anos desde o primeiro fim envolvido em alguma acrimónia entre Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Para já localizada em terras distantes da Oceânia, será precisamente esta reunião que me permitirá em breve avistá-los na capital da Catalunha, no mesmo cenário onde um ano antes presenciei o concerto a todos os títulos demolidor do My Bloody Valentine. É pois imperativo que o happening seja condignamente assinalado, ou não estivéssemos perante a banda que um dia deixou a Califórnia natal, como um colectivo de geeks obcecados pelos The Fall, e rumou a Portland, no Oregon, para se tornar um dos maiores símbolos - se não mesmo o maior - do rock dito alternativo da década de 1990. Com esse propósito, o April Skies deixa-se contaminar pelo vírus High Fidelity e apresenta-vos, em formato countdown, o top ten possível de uma obra composta por cinco álbuns e quase o dobro de EPs. A caixa de comentários fica aberta a sugestões e/ou reclamações.

10. "Box Elder" [1989]
09. "Trigger Cut" [1992]
08. "Shady Lane" [1997]
07. "Cut Your Hair" [1994]
06. "Grounded" [1995]
05. "Texas Never Whispers" [1992]
04. "Summer Babe (Winter Version)" [1992]
03. "We Dance" [1995]
02. "Gold Soundz" [1994]

01. "Here" [Matador, 1992]

sexta-feira, 5 de março de 2010

A zona de guerra

 

O April Skies tem o prazer de anunciar que entrou em contagem decrescente para a edição do segundo álbum dos Titus Andronicus. Chama-se The Monitor e chegará às melhores lojas na próxima segunda-feira, dia 8. Sairá com selo da britânica XL Recordings, o que garante à banda jersiana uma exposição que a poderá catapultar para outros patamares. Entre outros, a lista de convidados inclui membros dos Wye Oak, das Vivian Girls, e dos Hold Steady.
Se no primeiro disco - o superlativo The Airing Of Grievances (Troubleman Unlimited, 2008) - já se pressentia um certo desejo de unicidade, com temas que relatavam o estado de alienação da juventude norte-americana actual, o novo disco concretiza a ambição conceptualista: os onze temas de The Monitor têm como tema comum a Guerra Civil Americana. Meia dúzia de audições atentas aqui permitem aferir que os Titus Andronicus continuam a levantar bem alto a bandeira do socialismo patriótico, mesmo que os novos temas, quase invariavelemnte longos para os padrões vigentes, se focalizem mais na complexidade, em detrimento da brutalidade urgente de outrora. Musicalmente nota-se também um maior apego às raízes  tradicionais da música norte-americana. Contudo, a filiação punk do quinteto encontra ainda expressão na angústia berrada de Patrick Stickles
Posto isto, pergunto-me se ainda haverá alguém que queira saber dos chatinhos pretensiosos The Trail of Dead?...

quinta-feira, 4 de março de 2010

First Exposure #7

 

TRAILER TRASH TRACYS

Formação: Susanne Aztoria (voz); Jimmy-Lee (gtr); Adam Jaffrey (bx); Dayo James (btr)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Dream-Pop, Noise-Pop, Shoegaze, Twee-Pop
Influências / Referências: Cocteau Twins, The Jesus and Mary Chain, This Mortal Coil, A Sunny Day in Glasgow


terça-feira, 2 de março de 2010

Samba no Velho Continente















Foram buscar o nome a um tema de Serge Gainsbourg mas, esteticamente, pouco ou nada têm em comum com a música carregada de erotismo do bardo gaulês. Os Sambassadeur são apenas um dos muitos representates do revisionismo twee-pop sueco em que a editora Labrador parece ter-se especializado. Acabado de editar, European é já o terceiro longa-duração de uma carreira iniciada nos alvores do novo século, que em nada se afasta do percurso anteriormente traçado, propondo mais um conjunto de canções ternas embrulhadas em sumptuosos arranjos de cordas. Há, portanto, nestas nove doses de sacarina matéria de sobra para saciar os seguidores de Camera Obscura e aparentados. Mesmo a encerrar o alinhamento, o quarteto de Gotemburgo dá mais uma prova cabal da sua aptência para a reinterpretação de canções de outrém, tal como já tinha sucedido no anterior Migrations (2007), no qual a escolha recaiu sobre um velho tema do consagrado Brian Wilson. Desta feita, a opção é bem mais obscura, por via de uma belíssima versão de "Small Parade", não menos belo original do ex-Guided by Voices Tobin Sprout.


segunda-feira, 1 de março de 2010

Singles Bar #42






















HUGGY BEAR
Her Jazz [Wiiija, 1993]

When you say it say it is us two too
True you taught me how to shoot
And best pull up my skirt
And put up with hurt
Boy/girl revolutionaries you lied to me
Boy/girl revolution teaze

Há cerca de 20 anos, um estranho impulso levou a que um número significativo de mulheres, insatisfeitas com o estatuto de meras figurantes, ousasse desafiar o domínio masculino no rock. Eram movidas por um bem vincado manifesto feminista que, alto e bom som, apontava o dedo às injustiças  e às discrminações de que ainda eram alvo no mundo ocidental de finais de século. Movimento altamente politizado, essencialmente assente em território dos Estados Unidos, ficou adequadamente baptizado de Riot Grrrl. Porém, foi em Inglaterra que teve origem um dos mais imaginativos e incisivos colectivos do género. Chamavam-se Huggy Bear e, em boa verdade, eram uma banda apenas 3/5 feminina. Ao contrário das congéneres norte-americanas, vistas como uma mera actualização do velho punk-rock, os Huggy Bear tinham um espectro de influências mais alargado, o que muito contribuiu para a sua originalidade: ao rock primordial foram buscar o groove animalesco, dos girl-groups de sessentas recuperaram o sentido melódico, do punk herdaram a postura confrontacional.
"Her Jazz" é o tema mais emblemático de uma curta carreira e, simultaneamente, resumo perfeito dos intentos da banda: riffs corrosivos, um balanço irresistível, e verborreia capaz de fazer corar os rapazes de conduta menos correcta para com o sexo oposto. Para a posteridade fica uma passagem caótica da banda pelo programa The Word, do canal 4 britânico, que terminaria com a expulsão do estúdio depois de manifestações ruidosas contra uma reportagem de suposto teor sexista no boletim noticioso.