"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 24 de julho de 2012

A sexta mentira


















Quando apareceram, nos alvores do século XXI, os Liars foram pioneiros na reapropriação das linguagens post-punk que, em pouco tempo, se tornaria uma tendência gasta. Os próprios terão profetizado tal esgotamento rápido, e cedo se demarcaram da "corrente". Abandonaram Nova Iorque, rumaram a Nova Jérsia, depois a Berlim, e foram operando metamorfoses estéticas capazes de apanhar desprevenido o mais acérrimo seguidor. Nos três álbuns seguintes à estreia, sucessivamente, ensaiaram o experimentalismo noise, as potencialidades da percussão como ferramenta principal, e o indie-rock de cariz fuzzy. Só no último Sisterworld (2010) davam alguns sinais de abrandamento com um disco que resulta como uma mescla dos vários caminhos percorridos.

Se esse último álbum, o primeiro concebido desde a mudança para Los Angeles, dissertava sobre a vivência naquela metrópole, o novo WIXIW (leia-se "wish you") é anunciado como uma viagem interior dos membros da banda na sua relação com a nova cidade de acolhimento. Criado e gravado numa cabana nos arredores remotos de L.A., sob a supervisão de Daniel Miller (fundador e patrão da Mute Records), o disco, o mais reflexivo dos Liars até à data, espelha essa atmosfera de isolamento numa aura vagamente sinistra. Falta dizer que marca também mais uma reviravolta estilística, desta feita privilegiando as ferramentas electrónicas. É por isso, o disco mais "sintético" da meia dúzia que os Liars já levam no currículo. Não se pense, porém, que houve uma rendição a qualquer praga dançante da época. Longe disso, WIXIW mantém intactos os impulsos experimentalistas, fazendo da criação de atmosferas uma prioridade em relação à elaboração de temas indistintos. Não é descabido, salvas as devidas distâncias, citar alguns trabalhos de Aphex Twin ou The Future Sound of London como produtos aparentados. Como um todo, WIXIW deixa escapar um certo mal de vivre, bem evidente na voz desencantada de Angus Andrew, por vezes num timbre assustadoramente semelhante ao de um Beck em dia não. A única excepção à toada dominante talvez seja "Brats", um assalto de bleeps distorcidos com vocalizações animalescas. Para ilustrar WIXIW, porque melhor representa o conjunto, escolhemos aquele que foi o single de avanço, merecedor de vídeo promocional ao nível do melhor que os Liars já nos habituaram.

 
"No. 1 Against The Rush" [Mute, 2012]

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