"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Há 20 anos era assim #13









RODAN
Rusty
[Quarterstick, 1994]




Corria o ano de 1994 quando, a propósito do excelso Hex, dos britânicos Bark Psychosis, o jornalista musical Simon Reynolds fazia pela primeira vez uso da expressão post-rock. A designação não pretendia abarcar uma estética estanque, mas sim definir algo que, usando as ferramentas rock, dificilmente poderia ser catalogado como tal. Reynolds recorria ao "neologismo" detectando uma tendência em vigor à época no Reino Unido, e na qual incluía coisas tão díspares como os Stereolab e os High Llamas. Com o passar dos anos, e à medida que a expressão começou a vulgarizar-se, em particular no continente norte-americano, o conceito post-rock foi subvertido para se restringir quase exclusivamente às divagações maioritariamente instrumentais que tinham nos canadianos Godspeed You! Black Emperor e nos escoceses Mogwai os modelos a seguir. No entanto, lá atrás, e ainda que não em regime instrumental, os Slint tinham definido as regras posteriormente usadas e abusadas com o histórico Spiderland (1991), disco superlativo que denunciava as raízes post-hardcore da coisa e que, só com o passar de muitos anos, saiu do culto restrito para o estatuto de pioneiro.

Distando três anos daquele, mas ainda no período de obscuridade de Spiderland, merece igual estatuto enquanto pedra basilar do post-rock norte-americano Rusty, álbum isolado dos Rodan. Não fosse o hiato temporal a separar a sua gestação, e arriscaria nomeá-los discos gémeos, ambos de bandas oriundas de Louisville, no Kenrucky, e com uma forma muito própria de exprimir o ennui juvenil que era característica do post-hardcore. Registe-se uma maior apatia no caso dos Slint, e uma maior expressividade no caso dos Rodan. Também mais abrasivo, Rusty, assim intitulado por ser essa a alcunha do engenheiro de som Bob Weston (baixista dos Shellac), cai facilmente no rótulo math-rock, porém com demasiados recursos para se deter unicamente nos espasmos provocados pelas acelerações e paragens bruscas. Para o conferir basta escutar "Bible Silver Corner", tema instrumental que abre o disco num diálogo em toada contemplativa das guitarras de Jason Noble e Jeff Mueller, com uma aridez provavelmente derivada das origens sulistas do quarteto. No pólo oposto está o curto "Shiner", petardo de bílis na linha de uns Fugazi, mas com uma propulsão no baixo de Tara Jane O'Neil que confere um inusitado sentir funky. Este jogo de contrastes coabita em "Jungle Jim", que vive da dinâmica da alternância do lamento minimalista da baixista com as descargas ásperas de dissonância. Se neste tema a dualidade daqueles elementos é uma constante apenas repetida, no derradeiro "Tooth Fairy Retribution Manifesto" os Rodan apostam numa variedade de nuances mais vasta e imprevisível, o que nos leva a pensar que há no regime de composição da banda afinidades com algumas formas mais livres do jazz. Porém, ao nível da complexidade, na meia dúzia de temas do alinhamento, nenhum supera "The Everyday World Of Bodies", o mais longo de todos e porventura a peça central de Rusty. Com vocalizações virulentas e guitarras rasgadinhas ao começo, este detém-se em contemplação por diversas vezes, progredindo gradualmente até à explosão final naquilo que tem tanto de fúria violenta como de desespero incontido.

Ainda no mesmo ano da edição de Rusty, os Rodan colocaram um ponto final nas actividades, espalhando-se os seus membros por projectos com algum reconhecimento, também veículos para as diferentes sensibilidades presentes: Noble embarcou nos Rachel's, Mueller nos June of 44; ambos fundaram posteriormente os Shipping News. Por seu lado, antes de iniciar uma carreira a solo já com reportório considerável, Tara Jane O'Neil fundou primeiro os Retsin e depois The Sonora Pine, estes últimos também com o baterista Kevin Coultas no line up. Quanto aos Rodan, e ao seu papel percursor na música dita "alternativa" destas duas décadas, digamos que só foi verdadeiramente reavaliado há dois anos e pelos piores motivos: a morte de Jason Noble. Este evento fatídico terá também motivado a edição de Fifteen Quiet Years no ano passado, compilação que reúne temas dispersos por lançamentos anteriores a Rusty, e que com este constitui o escasso mas valioso legado desta banda que urge (re)descobrir.

Bible Silver Corner by Rodan on Grooveshark

The Everyday World Of Bodies by Rodan on Grooveshark

Jungle Jim by Rodan on Grooveshark

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