"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Ao vivo #85


Foto: Bloodbuzzed

San Miguel Primavera Sound 2012 @ Arc de Triomf, Parc del Fòrum - Barcelona, 30/05-03/06/2012

À semelhança de anos anteriores gostaria de lhes fazer uma resenha exaustiva, concerto a concerto, daquele que será, porventura, o melhor festival de música popular da actualidade no continente europeu. Porém, a escassez de tempo, algo que o meu vasto auditório já terá detectado pela redução drástica no número de postadelas mensais, impede-me de o fazer. Não queria, no entanto, defraudar as expectativas de um punhado de gente que ainda tem a paciência para ler o que por aqui se escreve e gostava de deixar uns breves considerandos.

Por exemplo, gostava de vos dizer que, não obstante o acréscimo de público das últimas edições, o Primavera Sound ainda é festival para deixar o melómano menos dado aos cartazes assentes em valores seguros plenamente satisfeito. Este ano, e em particular no campo das electrónicas, ninguém se pôde queixar. A tendência dominante é a do recuperação dos sons da época dourada de noventas, a cargo de gente como Hype Williams, Benga, Rustie, ou Aeroplane. Mais radical, a dupla Demdike Stare impressiona com a sua muralha drone de paisagens apocalípticas. 

Como não podia deixar de ser, as velhas "glórias" indie, algo que, ao contrário do que sucede por cá, o público espanhol ainda não deixou de acreditar, foram representadas por Saint Etienne, Spiritualized, Yo La Tengo e The Wedding Present. Os últimos eram desejo antigo deste escriba, que foi contemplado com o magistral Seamonsters na íntegra e ainda dois ou três clássicos da dor-de-corno. A prestação da banda merecia um tratamento de som mais esmerado. Também os regressos ao serviço do saudosismo preencheram boa parte do cartaz. Com diferentes níveis de interesse, Archers of Loaf, Mazzy Star, Codeine, The Afghan Whigs e The Pop Group não desapontaram e, no caso dos últimos, apesar do estado ébrio de Mark Stewart, atingiram níveis próximos da perfeição. O mesmo se pode dizer da maioria das novas coqeluches (The Drums, Girls Names, Lower Dens, The xx, The Walkmen, e os incontornáveis Real Estate). Uns furos abaixo estiveram Dirty Beaches e os dinamarqueses Iceage, em qualquer dos casos prejudicados pelo som sofrível do palco Pitchfork, algo que, lamentavelmente, já começa a tornar-se um hábito. Por seu turno, os Wild Beasts, aos quais dava ainda o benefício da dúvida, só não levam o coroa de bosta do festival à conta de um tal Neon Indian. À falta de personalidade e de garra, some-se uma irritante e ostensiva "deriva U2" (algo de que as novas canções dos The Walkmen tmabém padecem mas que é compesado com uma entrega inesgotável), para obter o momento mais amorfo de todo o festival

O escasso tempo disponível entre concertos e deslocações entre palcos permitiu ainda assim algumas abertas, aproveitadas na circunstância para espreitar as chamadas "sonoridades extremas". Os contemplados pela minha faceta voyeurista foram os Napalm Death e os Mayhem. Nos primeiros apreciei a atitude positiva que a brutalidade e algum preconceito nem sempre permitem discernir. Nos últimos, sai reforçada a ideia pré-concebida de que são um bando de sociopatas dos quais, em habitat natural, não teria a coragem de me aproximar.

A finalizar gostava de realçar a melhor organização dos últimos quatro anos em termos logísticos (bares, casas-de-banho), o que evitou as sempre desagradáveis esperas, tanto mais quando o tempo urge. Ou ainda o ambiente descontraído que prevaleceu, agora que os hipsters e o cocaine chic parecem começar a perder terreno.

Portanto, praticamente só notas positivas para um festival que teve a particularidade de me oferecer um bom punhado de concertos para mais tarde recordar. Um em particular, por diversas ordens de razões, algumas emocionais, entra directamente para aquele grupo restrito dos concertos de uma vida. Mais do que um concerto, um verdadeiro all-star: Jody Stephens, Ken Stringfellow, Jon Auer, Norman Blake, Ira Kaplan, Mitch Easter, Georgia Hubley, Ken Stringfellow, Jon Auer, Mike Mills, Alexis Taylor, Sharon van Etten, Jeff Tweedy, Chris Stamey e mais uns quantos em homenagem à memória de Alex Chilton e das suas canções. Com arranjos de cordas de Stamey, porque a POP com maiúsculas se presta a estes serviços, reinterpretou-se essencialmente o disco maldito Third/Sisters Lovers, mas também um par de pérolas esquecidas dos Big Star e outras tantas de Chris Bell. No final, o estado de êxtase era tal que, ninguém resistiu a quebrar a circunspecção do auditório e todos correram para as proximidades do palco a pular de alegria e satisfação ao som de "September Gurls". Foi bonito, pá!

TOP 15:

  1. BIG STAR'S THIRD
  2. THE POP GROUP
  3. MAZZY STAR
  4. THE AFGHAN WHIGS
  5. SPIRITUALIZED
  6. THE DRUMS
  7. REAL ESTATE
  8. THE WALKMEN
  9. THE WEDDING PRESENT
  10. LOWER DENS
  11. THE xx
  12. YO LA TENGO
  13. BENGA
  14. GIRLS NAMES
  15. DEMDIKE STARE

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