"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Discos pe(r)didos #60








THE PALE FOUNTAINS
Pacific Street
[Virgin, 1984]




Podem nunca ter gozado do reconhecimento público de um Ian McCulloch ou de um Julian Cope, mas o que é certo é que o tempo e obra têm feito dos irmãos Michael e John Head duas das figuras de referência da "cena" de Liverpool da última trintena de anos. Actualmente a militar nos semi-obscuros mas meritórios Shack, os dois irmãos iniciaram o percurso musical nos alvores de oitentas, então como fundadores dos The Pale Fountains, banda de vida breve com um fascínio pelos Love e, previsivelmente, pelos Beatles que, em certa medida, poderá ser vista como o elo perdido entre os arremedos psicadélicos dos Echo & The Bunnymen e a sofistificação pop dos Prefab Sprout.

Para a posteridade ficou um par de discos, o primeiro dos quais Pacific Street, obra prenhe de urgência juvenil e exímia na assimilação das referências para a confecção de uma pop sem pruridos em se assumir como tal. O positivismo que o percorre poderá ter sido determinante para o relativo insucesso, ou não fossem aqueles tempos de gravidade e dramatismo encarnados pelos Smiths ou pelos próprios Bunnymen. Esse factor, que faz de Pacific Street um disco alheado do seu tempo, acaba por resultar, volvido mais de um quarto de século, como a pedra de toque para o estatuto de culto que a voragem do tempo lhe conferiu. 

À margem dos ícones incontornáveis e já citados, os Pale Fountains olham para as manifestações pop recentes, operadas ali perto, a norte, na Escócia, por gente como os Orange Juice ou os Aztec Camera. Os primeiros estão bem presentes no frenesim de sopros e no balanço funky que percorrem, respectivamente, temas como "Unless" ou "Natural", os segundos no carácter delicodoce, no sentido melódico, e nos tiques de flamenco de "Beyond Friday's Field", "Reach", e "Something On My Mind". Este último é, inclusive, um dos temas imediatamente mais cativantes de todo o disco, apenas superado por "You'll Start A War", tratado pop em pouco mais de três minutos e meio impregnados de um romantismo que já não se usa. Como jovens letrados e ambiciosos, aos Pale Fountains perdoa-se algum pretensiosismo próprio da idade, na circunstância manifestado no díptico "Faithfull Pillow", dois curtos instrumentais que em nada beliscam o cariz intensamente pop do todo.

No ano seguinte ao de Pacific Street, os Pale Fountains deram à estampa ...From Across The Kitchen Table, disco seguidor das premissas do antecessor mas caracterizado por uma maior efusividade. Ao virar da esquina estava a dissolução e a formação dos Shack, mais uma banda para a qual a indiferença do público é compensada pelo reconhecimento crítico e pelo facto, mais ou menos consumado, de, juntamente com os conterrâneos The La's, terem estado na origem daquilo que convencionou chamar-se britpop. Os anos a pregar aos peixes dos irmãos Head tiveram também a merecida recompensa nas muitas vezes que acompanharam em palco o guru Arthur Lee, tal como eles alguém a quem nunca terá sido dado o devido crédito.


"Something On My Mind"


"You'll Start A War"


"Natural"

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