"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

terça-feira, 12 de julho de 2011

Discos pe(r)didos #55








14 ICED BEARS
14 Iced Bears
[Thunderball, 1988]




Hoje praticamente esquecidos pelas massas consumidoras de música, em tempos idos, os 14 Iced Bears foram uma das mais laudadas bandas da explosão indie da segunda metade de oitentas. Nascidos em Londres sob a égide das premissas da C86, assentaram arraiais na cidade de Brighton. Foi nessa sede que desenvolveram uma linguagem musical muito própria, que à raiz indie juntava uma indisfarçável devoção pelos sons da psicadelia de outras eras. E isto numa era de relativo desprezo pelas heranças dos sixties...

O primeiro álbum, homónimo, é bem demonstrativo da invulgar proposta dos 14 Iced Bears. A abrir, "Take It" é momento único em todo o reportório da banda, com uma tempestade de fuzz que liberta silvos de feedback. Nas vezes do refrão inexistente, uma rajada de distorção lança algumas das sementes dessa vertente da pop ruidosa a que se convencionou chamar shoegaze. Devidamente alinhadas no espírito psych, tal como professado pelos 13th Floor Elevators, pelos United States of America, ou por outras luminárias afins, são "Train Song" (tomado pelo ritmo vertiginoso), "Florence" (que evolui do difuso para uma espiral caocofónica), e Spangle (a expirar ares de "garagem"). No segmento intermédio de 14 Iced Bears, o quarteto investe todo o seu poder lisérgico, com uma dupla de semi-canções-de-embalar. Em "Moths", uma guitarra lânguida realça o tom terno da voz de Rob Sekula, enquanto "Hay Fever" envereda por uma via mais melodiosa, com discretas harmonias vocais incluídas. Outra faceta da banda, bem mais da acordo com o seu tempo, é expressa em temas como "Dust Remains" e "Cut", ambos em consonância com a facção indie letrada e sensível da qual foram expoentes The Housemartins e The Smiths. No último, significativamente mais jangly, os dedilhados característicos de um Johnny Marr espreitam a cada recanto. Para o encerramento fica guardado "Surfacer", o tema mais longo de todo o alinhamento e que lança pistas para o regime jam aflorado no subsequente Wonder (1991).

Depois de escassos dois álbuns, e um número razoável de singles, os 14 Iced Bears encerraram actividades em 1992, incapazes de remar contra a maré de bandas de guitarras que chegavam do outro lado do Atlântico. Recentemente, e de forma algo discreta, renderam-se ao mercado da saudade e reagruparam-se para alguns concertos. Por estas bandas, cruzam-se os dedos para que aterrem no cartaz de um "certo" festival do país vizinho.


"Take It"


"Florence"


"Cut"

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