"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Mil imagens #36



Scout Niblett - Stoke Newington, Londres, 2005
[Foto: Steve Gullick]

Em busca da redenção

















Retomando a personagem principal de um post recente, volto hoje a falar-vos de Dean Blunt, um nome que convém fixar. Hoje ainda apenas seguido pelos adeptos das electrónicas, sobretudo da facção pós-dubstep, este britânico é, a avaliar pelo ritmo das suas edições, um trabalhador incansável. No ano passado, não só nos deu o brilhante Black Is Beautiful, também creditado a Inga Copeland, que juntamente com ele antes respondia por Hype Williams, como The Narcissist II, um longo EP de uma única faixa dividida em vários segmentos. Neste último, era notório um afastamento dos abastraccionismos do passado, numa peça cinemática que nos revelava cenas da vida íntima de um casal à beira da ruptura.

Os desenvolvimentos do último registo em nome individual serão, certamente, seguidos no próximo - o álbum The Redemeer, agendado para inícios de Maio. Assim nos leva a crer "Papi", a primeira faixa tornada pública que, curiosamente, sampla ostensivamente "Echoes" dos Pink Floyd. Neste tema, Blunt surge-nos naquilo que poderemos catalogar como o seu registo mais "romântico". Com frases ternas como "You bring out the best in me", e num ritmo lento de music hall para horários tardios, é suprimida toda a asfixia do ambiente denso que ainda caracterizava The Narcissist II. Com a redenção, lá mais para a Primavera, virá um maior reconhecimento das massas. É só uma aposta...


"Papi" [Hippos in Tanks, 2013]

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Singles Bar #81









GALAXIE 500
Tugboat
[Aurora, 1988]




Sobre o primeiro contacto com os Galaxie 500, ao ouvir o mesmo acorde repetido durante cinco minutos, Mark Kramer disse um dia que pensou estar na presença de um grupo de debilitados. Ultrapassada a má impressão inicial, surgiu a química entre produtor e banda, gerando uma aliança que duraria até aos últimos dias do trio de Boston. A parceria renderia apenas três álbuns, todos eles contidos nas variantes melódicas, acolhidos apenas por uma escassa legião de fiéis durante a vida da banda, mas nas décadas seguintes citados por uma vasta descendência.

O primeiro fruto da sagrada aliança foi um single de tiragem limitadíssima, suficiente para seduzir os executivos da Rough Trade, que apostaram nos Galaxie 500 e fizeram deles nome de culto, não só no Reino Unido, mas um pouco por toda a Europa. "Tugboat", o tema principal desse registo, e um pouco à semelhança do que acontece com muitas bandas que realmente deixam marca, ainda hoje é apontado como um dos seus temas representativos. Curiosamente, a tentativa de melodia inicial, com a guitarra num triste lamento, é um dos raros momentos no reportório da banda que foge à repetição ostensiva e vagarosa de uma simples nota. Estão lá, contudo, outras marcas inconfundíveis da sonoridade típica dos Galaxie 500, que posteriormente ajudou a definir a matriz do sad/slowcore, tais como o abuso do delay e do reverb e a devoção sacramental pelos Velvet Underground. Na letra, da mais sincera inocência, Dean Wareham confessa-se um anti-social, um ser de um inconformismo passivo que não tem lugar junto do "rebanho" da normalidade. Versos como "I don't wanna stay at your party / I don't wanna talk with your friends / I don't wanna vote for your president / I just wanna be your tugboat captain", que soariam completamente tolos noutros, fazem todo o sentido quando entoados com a paixão dos Galaxie 500. Virada a rodela para o lado b, encontramos "King Of Spain", um tema talvez mais imberbe, imerso no terceiro disco dos citados Velvet Underground pelo timbre tipicamente reediano e a bateria esparsa, em voltas constantes em redor de único acorde.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

The last broadcast















Há coisa de duas semanas, cumpriram-se dois anos sobre o desaparecimento de Trish Keenan, triste acontecimento que gorou um encontro que tínhamos marcado para dali a escassos meses. Esta morte precoce ditou também o fim dos Broadcast, projecto que, apesar de não ser propriamente prolífico, deixou um dos mais singulares e personalizados catálogos musicais da última década e meia. Isto apesar de, na sua proposta que cruzava o digital e o orgânico, estarem bem patentes as referências à facção mais experimentalista do psych de sessentas, com The United States of America e Silver Apples à cabeça.

Soube-se há poucos dias que deixaram disco póstumo, na circunstância a banda sonora de Berberian Sound Studio, um thriller psicológico que constitui a segunda longa-metragem do britânico Peter Strickland. Confirmam-se assim as potencialidades cinemáticas da música dos Broadcast, latentes desde os primeiros registos, e já bem evidentes nas paisagens sonoras do anterior ...Investigate Witch Cults Of The Radio Age (2009), obra concebida em parceria com The Focus Group, alter-ego do artista do "corta-e-cola" Julian House. Tal como aquele, Berberian Sound Studio é composto por um número considerável de pequenos trechos. Ao todo são 39 os temas do disco, incluindo o score do filme e algumas falas do mesmo, que deixam supor que se trate de uma obra de cariz algo tétrico. Consta que as gravações tenham sido iniciadas pela dupla que constituiu a última formação dos Broadcast e concluídas por James Cargill, o membro sobrevivo à morte de Trish. Como é comum em trabalhos deste género, é sempre questionável se fazem sentidos quando separados das imagens. Nesse particular, sou da opinião que não só Berberian Sound Studio é uma óptima companhia para qualquer período nocturno no recato do lar, como me aguça a curiosidade quanto ao filme correspondente que, segundo sei, tem dividido algumas opiniões.

"The Equestrian Vortex" [Warp, 2013]

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Nas ondas da manhã



















Embora nunca tenham atingido popularidade junto de um público muito vasto, ao longo da década passada, as Mika Miko foram alvo de um culto sólido e gradualmente crescente. Por isso, foi com alguma decepção junto das hostes que foi recebida a notícia do fim desta banda que tão bem soube recuperar a doutrina riot-grrrl de inícios de noventas no quotidiano acelerado do novo século. Aconteceu em 2010, e o que nos valeu, em compensação, é que as suas integrantes se espalharam por novos projectos, todos eles um passo evolutivo à frente da postura de afronta da banda-mãe. De todos eles, talvez o mais conhecido sejam as Bleached, dupla que integra as manas Clavin e que, muito brevemente, lançará o primeiro álbum.

Menos divulgados, mas num estádio evolutivo mais avançado, os Dunes são um trio que integra a baterista Kate Hall na companhia de outras duas personagens com currículo no circuito underground de L.A.. Ainda na primeira metade do ano transacto, lançaram o longa-duração Noctiluca, um disquinho que, infelizmente escapou a muitos radares. A proposta, algures entre a vertente mais minimalista do post-punk e a facção feminina do college-rock de finais de oitentas, não poderia estar mais distante do espalhafato das Mika Miko. Digamos que as guitarras, que desenham linhas cristalinas na densidade do baixo, evocam os Cocteau Twins, enquanto a voz de Stephanie Chan assume os tiques de Souxsie com a tonalidade de uma Kristin Hersh dos melhores momentos dos Throwing Muses. Os onze temas que compõem Noctiluca não são propriamente imediatos, pela sua aparente semelhança entre si aos primeiros contactos. Mas logo, com a insistência, revelam-se canções distintas de uma indie-pop (ou post-pop, como já lhe chamaram), ao mesmo tempo presa a vários passados, como bem assente no presente.

 
"Jukebox Adieu" [Post Present Medium, 2012]

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Good cover versions #71











DEAN BLUNT & INGA COPELAND - "Baby" [Hyperdub, 2012]
[Original: Donnie & Joe Emerson (1979)]

2 by Dean Blunt and Inga Copeland on Grooveshark

Há discos que, depois de décadas exclusivos do culto de uns quantos geeks, caem no conhecimento público, que se não é global, é pelo menos mais alargado. Um desses discos é Dreamin' Wild, álbum único dos irmãos Donnie e Joe Emerson, gravado na pós-adolescência em estúdio próprio na quinta pacata onde viviam isolados do reboliço dos grandes centros. O estúdio tinha sido prenda do pai, um entusiasta da paixão dos filhos pela música. Um disco fascinante pela sua inocência, derivada obviamente do meio em que foi concebido, Dreamin' Wild procurou inspiração nos programas radiofónicos de então, resultando num meio caminho entre o soft-rock e a blue-eyed-soul. No ano passado, fruto do crescente interesse em seu redor, conheceu finalmente uma reedição bastante divulgada nos meios especializados.

Parte desse interesse súbito ficará a dever-se ao facto de, no espaço de poucos meses, "Baby", o seu tema mais representativo, ter sido alvo de duas versões de outras tantas figuras do presente. Uma delas, provavelmente a mais divulgada, pertence a Ariel Pink. A outra, talvez a melhor porque com maior cunho pessoal, pertence à dupla Dean Blunt & Inga Copeland, que antes editava como Hype Williams, nome que abandonaram talvez para evitar problemas legais (ou confusões) com o mais requisitado realizador de videoclips da actualidade. Ele, inglês, é uma das principais figuras da electrónica actual e um obcecado pela perfeição, ela, estoniana, tem sido companheira em muitos dos frequentes lançamentos. Na revisitação de "Baby" estão bem patentes as origens dubstep de Blunt, com batidas narcóticas, soturnas e algo repetitivas sobre as quais Inga canta a letra com outro ar angelical diferente do de Donnie Emerson. Daí resulta um novo tema, uma canção de amor desolada por oposição ao enternecedor original.

domingo, 20 de janeiro de 2013

A dança moderna


















Talvez só com rival à altura em Mark E. Smith, David Thomas é um dos maiores agitadores da história do rock. Em meados da década de 1970, entre a pedrada no charco dos Velvet Underground e a miríade de ideias propiciadas pela "revolução" punk, em Cleveland, Ohio, fundou os Pere Ubu, banda cujo único propósito era gravar um par de singles e depois extinguir-se. O plano inicial foi alterado, e há 35 anos precisos editaram The Modern Dance, disco de referência na facção mais obtusa do rock que deixou descendência, porém incomparável com os Pere Ubu, ainda hoje únicos no seu reduto. Designaram-nos de avant-garage e de art-rock, mas estes ou quaisquer outros rótulos pecarão sempre por defeito na definição de um projecto verdadeiramente expressionista. Desde aquele disco charneira não houve nem pontos altos nem pontos baixos, apenas um conjunto já considerável de trabalhos à margem das tendências do momento e constantes alterações na formação (ainda assim relativamente menos que nos The Fall, do citado Smith), com David Thomas como único elemento constante.

Lançado há coisa de duas semanas, Lady From Shanghai, que do clássico noir de Orson Welles usa apenas o título, é o décimo sétimo registo de estúdio de uma carreira que desafia quaisquer estereótipos. Anunciado pelo seu principal instigador como um "disco de dança", e apesar da importância do elemento electrónico, sem descurar a instrumentação mais ortodoxa, não será propriamente o disco que esperamos ouvir num serão dançante. É, contudo, relativamente acessível para os padrões dos Pere Ubu. A porta de entrada dá-se com "Thanks" que, disfarçado de temas de boas vindas, aproveita a melodia do clássico disco para atirar um subversivo "You can go to hell, go to hell, my belle". A voz de David Thomas, num tom mais falado que cantado, ora sussurrante, ora possuída por um espírito maligno, ainda é usada como um verdadeiro instrumento, naquele modo tão peculiar que ensinou a um tal de Black Francis uma série de truques. Mais uma espécie de ensaio reflexivo, com muitas ambiguidades impenetráveis, com visões muito próprias o mundo em seu redor, Lady From Shanghai tem muito que possa fazer dele mais do que um disco para admiração do habitual geek, do rocker "académico", ou do crítico estudioso. Se não for pedir-vos muito nestes estranhos tempos (ainda para mais de crise) em que isso já deixou de fazer parte dos hábitos de consumo, se só poderem comprar um disco neste ano, comprem este. De preferência acompanhado de Chinese Whispers, o livro/manual de 100 páginas no qual Thomas explica todo o processo de concepção e gravação de Lady From Shanghai. O álbum de música entendido como manifesto artístico, lá está...


"414 Seconds" [Fire, 2013]

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Discos pe(r)didos #68









THE TELESCOPES
The Telescopes
[Creation, 1992]




Formados na recta final de oitentas, os The Telescopes chegaram tempo de ser contemporâneos dos Spacemen 3 e dos Loop e, por conseguinte, também eles pioneiros no retorno à face mais marginal do rock que, nos tempos que correm, é matéria de revisitação constante. Uma espécie de parentes pobres do "movimento", distinguiam-se daqueles, que faziam da repetição motivo para a trip mental, por usarem o ruído como arma de arremesso.

O volte-face deu-se ao segundo álbum, homónimo mas também conhecido como Higher'n'Higher, que marcou a sua estreia na Creation Records, então a editora de referência do espectro indie. Segundo Stephen Lawrie, o vocalista e líder de sempre, The Telescopes tinha como propósito a busca do "som perfeito" por via da subtileza, enveredando por canções dignas desse nome que fazem da fragilidade a sua característica mais marcante. Os adeptos da violência sónica do passado não deverão esconder o choque ao entrar no disco com "Spalshdown", tema melódico distante de afronta do álbum de estreia que se inicia com guitarra acústica e até piano. A voz de Lawrie, que outrora estava em consonância com a rispidez da música, apresenta-se agora distante, quase dormente. Temas como "High On Fire", "Yeah", ou "Ocean Drive", têm balanço digno de nota, propondo uma variante atmosférica da "onda" baggy que um par de anos antes tinha assolado o Reino Unido. Aventam o que poderia ter sido o segundo disco dos Stone Roses, se acaso John Squire tivesse preterido os delírios zeppelianos a favor das referências aos Love e aos Byrds. Num mar de acalmia dominante, "Flying", que foi acertadamente escolhido para single promocional, e "To The Shore" são injecções narcóticas que propiciam o toldar dos sentidos. Ambos os temas, num registo de psicadelia planante, terão servido de matriz à sonoridade de uns Verve, que então davam os primeiros passos ainda distantes da grandiloquência que lhes deu a fama.

Passível de um maior desenvolvimento e depuramento, a proposta de The Telescopes não conheceu sucessão imediata, já que a banda, com alguma surpresa, se desintegrou em 1994. Por iniciativa de Stephen Lawrie, com uma formação substancialmente alterada, o regresso deu-se em inícios do novo século. Desde então, o percurso tem sido discreto, à margem das tendências badaladas pela imprensa e dos fazedores de hypes, mas ainda - ou talvez até mais - com a mesma vontade de desafiar os estereótipos rock na procura do tal "som perfeito".

Splashdown by The Telescopes on Grooveshark

Flying by The Telescopes on Grooveshark

High on Fire by The Telescopes on Grooveshark

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Not fade away

















Nas últimas três décadas de música popular, há duas bandas cujos nomes são indissociáveis: Sonic Youth e Yo La Tengo. Ambas nasceram na mesma área geográfica e fizeram do ruído das guitarras ferramenta predilecta, partilharam muitas vezes palcos e elogios mútuos, e assumiram-se ambas como os porta-estandartes da nação indie norte-americana. Com antiguidades equiparadas, mas com ligeira vantagem para os Sonic Youth, vão-me perdoar os incondicionais destes se afirmar que os Yo La Tengo souberam envelhecer melhor, reinventando-se nesta fase "madura" e, consequentemente, mantendo a relevância de outrora. Ninguém me irá negar que os trabalhos mais recentes dos de Nova Iorque, dos quais o futuro é ainda incerto, já eram o repisar de uma fórmula que nada acrescentava ao glorioso passado. Enquanto isso, e salvo o pontual tiro ao lado, os Yo La Tengo evoluíam para um misto de manipulação do ruído e doçura mellow com uma surpreendente coerência que faz da audição de cada novo disco (ou cada concerto) o renovar de uma paixão duradoura.

Editado ontem, mas já com algum tempo de disponibilidade para audição, Fade é o décimo terceiro álbum do trio de Hoboken, nos seus 45 minutos de duração um manifesto de contenção quando comparado com muitos dos seus trabalhos mais recentes, e um disco para juntar ao seu rol de imprescindíveis, juntamente com o tríptico de meados de noventas. As canções aveludadas e outonais, se bem que menos soulful que nos antecessores, têm a parte de leão, como se Fade fosse uma reactualização do soberbo Painful (1993) suprimido de uma boa parte da distorção. As excepções são "Ohm", o magnífico tema de abertura cantado pelo trio em uníssono que, na sua harmonia, poderia ser uma canção soalheira dos Byrds insuflada de fuzz, e o jangly "Paddle Forward", reminiscente do já clássico "Sugarcube". O restante é feito da serenidade habitual, mas sempre renovada com novos truques, num par de temas pontuada pelo charme da secção de cordas, noutros tantos pelos sopros, e ainda pela pulsação kraut de "Stupid Things", algo de novo no infindável léxico dos Yo La Tengo. Pese embora o embalo neste mar de tranquilidade, cada audição de Fade é garantia de revelação de muitos pormenores que se escondem na aparente fragilidade, que tanto podem ser uma guitarra dissonante em fundo, como um som estranho de proveniência incógnita. Uma palavra de apreço, então, para o produtor John McEntire, o guru do "som de Chicago" que, como alguém já disse, soube extrair das canções de Fade toda a complexidade da sua simplicidade.

 
"Ohm" [Matador, 2013]

 
"Before We Run" [Matador, 2013]

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

First exposure #51















TELEMAN

Das cinzas (?) dos Pete & The Pirates, um novo projecto. Ainda a inteligência ao serviço da pop...

Formação: Thomas Sanders (voz, gtr); Jonny Sanders (sints); Pete Cattermoul (bx)
Origem: Londres, Inglaterra [UK]
Género(s): Pop, Indie-Pop, Synth-Pop
Influências / Referências: Pete & The Pirates, The Beach Boys, Kraftwerk, The Velvet Underground, Django Django

 
"Cristina" [Moshi Moshi, 2013]

domingo, 13 de janeiro de 2013

Life on Marr?

















Em reacção às constantes perguntas sobre os Smiths, Johnny Marr disse um dia que estranhava que não o questionassem mais sobre os The The, banda com  a qual, efectivamente, passou um período de tempo bem mais longo. Aceita-se a recusa em querer alimentar o mito em torno de uma das mais propaladas rupturas da pop, mas também se compreende quem o interroga, até porque é incomparável a dimensão histórica de uma e outra banda, bem como a importância do seu papel em cada uma delas. 

Antes dos The The, se bem se lembram, este que é um dos mais requisitados músicos da pop dos últimos 30 anos, já se tinha envolvido nos Electronic, projecto em parceria com Bernard Sumner que, segundo consta, terá provocado a ira de Morrissey, tal era a antipatia do vocalista pela "família" New Order/Joy Division. Mais recentemente, sem vedetismos, integrou-se de corpo e alma em bandas como Modest Mouse e The Cribs, que abandonou sem animosidades quando bem entendeu. No capítulo das colaborações, a lista é infindável, e conta com favores de resultados variáveis com amigos como Talking Heads, The Pretenders, Bryan Ferry, Billy Bragg, Kirsty MacColl, Neil Finn, Lisa Germano, ou Edwyn Collins. E há ainda para referir, na ressaca da britpop, o projecto pessoal de má memória intitulado The Healers, que nos leva a pensar que Marr obtém melhores resultados quando não é ele o coordenador principal.

Por isso, e pelo respeito por um músico de excepção, é com algum temor que aguardo a chegada de The Messenger, o primeiro álbum a solo previsto para o próximo mês. Para já, o tema-título, em rodagem há já algum tempo, deixa-me relativamente sossegado. Não é que esteja sequer perto do nível do melhor que Johnny Marr já nos proporcionou (alguém dia alguém estará?) mas, não só nos assegura que o homem tem voz para a coisa, como é uma canção digna desse nome neste tempo em que elas escasseiam. Além disso, tem um trabalho de guitarra, assente na melodia e sem exibicionismos inúteis, típico de um génio discreto. Ora oiçam:

 
"The Messenger" [Warner Bros., 2012]

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cimeira de pasteleiros












Já que rumámos à Escócia no post anterior, por lá vamos ficar por mais uns breves instantes para vos falar de boas novas dessa "instituição" chamada The Pastels. Apesar da aparência de eterno adolescente do mentor Stephen McRobbie, a.k.a. Stephen Pastel, talvez seja preciso referir que esta aventura já leva umas três décadas de existência. É claro que tem sido um percurso com longas paragens, que até ao momento, para além de uma catrefada de singles, rendeu apenas quatro álbuns de originais. Mas, apesar dos hiatos prolongados, o núcleo duro, que além de Stephen inclui a baterista e vocalista Katrina Mitchell, tem estado sempre próximo para um possível regresso da vida ociosa.

Tanto quanto nos faz saber a Domino Records sem, no entanto, especificar uma data, o próximo regresso está marcado para o ano corrente. Acontecerá com Slow Summits, o álbum que sucede a Illumination e interrompe uma hibernação de dezasseis anos, se descontarmos uma banda sonora para um filme de David Mackenzie (The Last Great Wilderness, de 2002) e o disco em colaboração com os japoneses Tenniscoats (Two Sunsets, de 2009). A editora avança também com o curto teaser que se apresenta mais abaixo que, de tão curto, deixa indefectíveis como este que vos escreve num estado de ansiedade exasperante, só atenuada porque nos promete aquele mel refinado do qual já tínhamos saudades. Ou, ainda citando a Domino, o optimismo de que 2013 tanto necessita.


Pernas para andar

















Fazer balanços de um ano musical ordenando os discos da nossa preferência tem os seus riscos. Um deles, menos grave, é a possibilidade de determinado disco, cotado em alta na data do balanço, venha posteriormente a descer na nossa consideração. Risco mais grave é o de deixarmos de fora óptimos discos que ainda nem sequer tínhamos ouvido no final do ano visado ou, pior do que isso, discos aos quais não demos a devida atenção na altura certa.

Nesta última "categoria" tenho de incluir Cokefloat!, álbum de estreia dos PAWS (assim mesmo, com maiúsculas) que merecia ter feito boa figura nos melhores de 2012. Isto se não tivesse ficado um um ror de tempo em stand-by, mesmo atendendo a que pertence a uma trio vindo de terras com tão boa tradição como são as da Escócia. Para se falar de Cokefloat! é imperioso referir novamente a recuperação tão em voga das sonoridades de inícios de noventas, quando os jovens elementos dos PAWS ainda gatinhavam e muitas bandas não tinham qualquer receio de usar as guitarras para armar um chinfrim. Não obstante algumas referências aos tutelares Dinosaur Jr. e Sonic Youth, o disco tem como ponto de orientação principal a punk-pop enérgica dos Superchunk. No entanto, e tal como os ingleses Yuck antes deles, os PAWS sabem como urdir uma boa melodia orelhuda, algo que terão colhido dos ensinamentos dos conterrâneos Teenage Fanclub. Além disso, não se coíbem de, aqui e ali, enveredarem pela berraria de uns Nirvana ou, muito frequentemente, pelo sarcasmo em registo lo-fi de uns Pavement ou de uns Urusei Yatsura. Claro que podemos sempre questionar se o mundo precisa de mais um disco pejado de referências óbvias. Eu respondo que sim, quando se tem em mãos um trabalho preenchido com canções todas elas desempoeiradas, das mais dignas desse nome na produção recente.

"Bloodline" [live @ Fat Cat Session, 2012]

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O jogo das diferenças #14



THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE
Electric Ladyland
[Reprise, 1968]



FUGAZI
Instrument Soundtrack
[Dischord, 1999]

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tarte com creme















Sobre os escoceses Veronica Falls, alguém disse um dia que soavam tão britânicos que pareciam americanos. A provocação, carregada de ironia, ficou a dever-se à constatação da existência de uma enxurrada de bandas dos states a recuperar hoje em dia as sonoridades de finais de oitentas, da jangle e da twee-pop que emergiram a partir da C86 e que tiveram origem no Reino Unido.

O mesmo se pode aplicar aos londrinos The History of Apple Pie, um quinteto já com cerca de dois anos de rodagem. Neste período, lançaram um promissor trio de singles preparatórios para o primeiro álbum, a sair perto do final do mês corrente. O disco, intitulado Out Of View, integrará todos os três temas já conhecidos. A julgar por estas amostras, é de esperar um trabalho que, a partir das referências supra citadas e do primeiro álbum dos My Bloody Valentine, alinha por aquela noise-pop carregada de sacarina que fez história em inícios de noventas. Se estão já à espera de uma derivação dos xoninhas The Pains of Being Pure at Heart, esclareço-vos que os History of Apple Pie parecem ter o sangue na guelra que falta àqueles, em parte derivado da ingenuidade falsa da vocalista Stephanie Min, uma pequena com ascendência asiática com voz doce e insinuante. Sejam optimistas e pensem antes num transplante dos Velocity Girl de boa memória para a actualidade, o que parecem mais elogioso e ajustado.

 
"Mallory" [Roundtable, 2011]

 
"Do It Wrong" [Marshall Teller, 2012]

domingo, 6 de janeiro de 2013

Astronomy domine

















Na viragem dos oitentas para os noventas, antes de os Nirvana terem preparado o mainstream para a assimilação do american underground, os Big Dipper foram uma das vítimas da falta de preparação das multinacionais para lidar com tais sonoridades. Porém, antes do único e falhado disco por uma major,  que acabou por ditar o fim da banda, lançaram, com selo da Homestead Records, um par de álbuns que os afirmou como um dos nomes de referência do espectro indie ianque daquela época. Nem sempre com igual reconhecimento deste lado do Atlântico, diferenciavam-se da maior abrasividade de muitos dos contemporâneos com uma abordagem mais melódica, com referências jangle-pop, power-pop, e algumas pinceladas de psicadelia.

Em 2008, após a edição de uma antologia, um quarteto composto pela quase totalidade da formação original da banda, das primeiras a emergir da incontornável "cena" de Boston, regressou aos palcos para os obrigatórios concertos em nome da promoção e da nostalgia. Pelos vistos, a reunião inicialmente pensada como temporária reacendeu o entusiasmo que a má experiência de quase duas décadas antes esmoreceu. De tal forma que, já na recta final do ano passado, os Big Dipper lançaram o álbum Big Dipper Crashes On The Platinum Planet, uma vez mais pejado de referências à astronomia, uma tradição da banda que vai muito além do próprio nome. Lançado com alguma discrição nestes tempos em que a boa pop de guitarras parece votada ao desprezo pelos fazedores de modas e tendências, o novo disco está ao nível dos pergaminhos dos seus autores. Com uma dúzia de temas, recupera a marca identitária de uma power-pop, vagamente raivosa, entoada a duas vozes, na circunstância as de Bill Goffrier e de Gary Wailek. A dupla também se entende às mil maravilhas nos diálogos de guitarras, às vezes ríspidas, mas sempre com uma dose energética que já pouco se usa. Um bom exemplo é "Guitar Named Desire: The Animated Sequel", o magnífico tema de encerramento que é uma sequela/remake do tema que fechava Heavens (1987), o histórico álbum de estreia. A capa de ...Crashes On The Platinum Planet ficou a cargo de um tal Robert Pollard, um entusiasta que tem os Big Dipper como um das bandas predilectas. O mesmo que vê o favor retribuído com um tema-homenagem, por acaso - ou talvez não - feito da mesma reverência em regime lo-fi às memórias da British Invasion que fizeram a fama dos Guided by Voices.

 
"Robert Pollard" [Almost Ready, 2012]

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mil imagens #35



Morrissey - Long Island, Nova Iorque, 1991
[Foto: Kevin Cummins]

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Singles Bar #80









ELVIS COSTELLO
Less Than Zero
[Stiff, 1977]





Less Than Zero by Elvis Costello on Grooveshark

Hoje olhado como um dos representantes da chamada "burguesia pop", não só pela produção musical acomodada, como pelos laços matrimoniais, Elvis Costello foi, em tempos, um dos compositores e músicos mais inconformados dos muitos surgidos no Reino Unido após a explosão punk. Símbolo maior daquilo a que convencionou chamar-se new-wave, este londrino nascido Declan MacManus, cedo se destacou na "cena" pub rock com uma escrita acutilante, demonstrativa de um observador da sociedade sem papas na língua.

Apresentou-se ao mundo com "Less Than Zero", tema que integraria o seu primeiro álbum, e logo aí fez questão de assumir uma postura de desbocado, capaz de causar algum incómodo em certos sectores da sociedade britânica. A inspiração para este tema partiu de uma entrevista concedida à BBC por Oswald Mosley, na qual este antigo líder da extrema direita britânica durante a década de 1930, que defendia ideias semelhantes às de Adolf Hitler na mesma época, procurava demarcar-se de tão tenebroso passado. Sem uma referência propriamente directa ao visado, mas com uma letra deveras inteligente, Costello tem um efeito contundente naquele sector político, ainda matéria para muitos outros temas do início de carreira. "Less Than Zero" marca o início de uma longa e proveitosa colaboração do músico e do produtor (e também músico) Nick Lowe. É o começo de uma linguagem muito própria, com a evidência dos tempos e dos ritmos inspirados pelo reggae, mas com uma sonoridade que também evoca o rock'n'roll depois de apropriado pelos brancos. O impacto da new-wave britânica, e em particular de Elvis Costello, na juventude norte-americana fica bem patente na escolha de Less Than Zero para título do primeiro romance de Brett Easton Ellis, também ele um observador atento e crítico da sociedade circundante, no caso da face negra por detrás do verniz da juventude da classe alta.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Mixtape #21 [Especial Aniversário]: Do You Love Me Like You Used To?


[Foto: Jan Lukas, 1963]

Não é habitual ser um mãos largas a dar prendas com esta frequência. Mas hoje é um dia especial, e a meia dúzia que vai aterrando por aqui de quando em quando merece. É que hoje cumprem-se seis anos exactos desde que embarquei nesta coisa do April Skies. O tempo tem escasseado, e a frequência de "postadelas" tem-se ressentido, mas permanece intacta a vontade de continuar. Por agora, e rematando a retrospectiva de 2012, deixo-vos uma pequena compilação com vinte dos temas que mais gozo me deram ouvir ao longo do ano. Para não estar a chover no molhado, deixei de fora alguns nomes mais "badalados". Espero que seja do vosso agrado e que continuem desse lado. Obrigado!


  1. LOWER DENS - "Propagation"
  2. TASHAKI MIYAKI - "Best Friend"
  3. BEST COAST - "Do You Love Me Like You Used To"
  4. DEAN BLUNT & INGA COPELAND - "Baby"
  5. FRANKIE ROSE - "Night Swim"
  6. MELODY'S ECHO CHAMBER - "I Follow You"
  7. TEEN - "Electric"
  8. SWEARIN' - "Fat Chance"
  9. JAPANDROIDS - "Continuous Thunder"
  10. CLOUD NOTHINGS - "No Future/No Past"
  11. METZ - "Headache"
  12. SAVAGES - "Husbands"
  13. CLINIC - "Seamless Boogie Woogie BBC2 10PM (RPT)"
  14. THEE OH SEES - "Flood's New Light"
  15. TY SEGALL - "The Hill"
  16. THE FRESH & ONLYS - "20 Days & 20 Nights"
  17. THE BABIES - "Mean"
  18. SEAPONY - "Tell Me So"
  19. JULIA HOLTER - "In The Same Room"
  20. LAUREL HALO - "Thaw"