"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Em escuta #46







WHITE DENIM Fits [Full Time Hobby, 2009]

Figura de proa do actual revivalismo garage, este trio texano regista na segunda proposta um claro passo evolutivo, aventurando-se muito para além das guitarras estridentes e da sujidade intrínseca. Ao estilo dos velhos discos em suporte de vinilo, Fits divide-se em duas partes distintas: uma primeira mais enérgica e directa, com os riffs de pontas afiadas e as vozes ululantes a dar o mote; e um lado B mais contido, a convidar à viagem sensorial, aqui a ali polvilhada por ritmos funk e melodias sob o Sol da costa Oeste. Lá no alto, Arthur Lee estará a erguer o polegar em sinal de aprovação. [8,5]


A SUNNY DAY IN GLASGOW Ashes Grammar [Mis Ojos, 2009]

Ao segundo álbum, este numeroso colectivo de Filadélfia, alinhado nas novas correntes shoegazing, mergulha de cabeça em Loveless, o marco histórico dos My Bloody Valentine. Ashes Grammar propõe um lote de mais de duas dezenas de temas de durações variáveis entre os escassos segundos e os 5/6 minutos. A intenção será criar um todo, uma espécie de sinfonia aquática feita de camadas de overdubs e vozes angelicais. Em mais de uma hora de disco, há momentos inspirados pela mola propulsora da percussão e a aridez das guitarras ("Shy", "The Wihte Witch"). Outros há que rasam a fronteira do onirismo bacoco. [6,5]


TAP TAP On My Way [Stolen, 2009]

Paralelamente aos Pete & The Pirates, Tom Sanders edita sob o moniker Tap Tap, projecto caracterizado pela aura tresloucada herdada de finais dos sixties comum àquela banda, embora aqui em registo menos esfuziante. On My Way revela uma capacidade inata do autor para canções de uma pop happy-sad imaculada, prenhes de inocência e romantismo juvenis, vagamente nerdish, e em formato semi-acústico. A percorrer estas onze semi-baladas gingonas há aquele "sentir" marítimo que associaríamos às bandas de Liverpool (The Coral, The La's) se não soubéssemos que o rapaz é de Reading. [8,5]


SILK FLOWERS Silk Flowers [Post Present Medium, 2009]

Antes das investidas operáticas dirigidas por Jim Steinman, o som dos Sisters of Mercy era uma missa negra pautada por batidas que gelavam os ossos. É precisamente esta faceta da persona Andrew Eldritch que este trio de Brooklyn invoca no seu disco de estreia, no qual a electrónica mais básica e primeva serve de matéria-prima. Aqui e ali pressente-se que o espírito de Ian Curtis tenha sido também convocado para este ritual macabro. Densamente negro e intencionalmente imperfeito, a par da sensação de estranheza, Silk Flowers deixa a ideia de haver ainda algumas arestas por limar. [7]


ART BRUT Art Brut vs. Satan [Cooking Vinyl, 2009]

Depois de uma tentativa semi-falhada de uma maior subtileza, os Art Brut recuperam o humor corrosivo tipicamente british, com Eddie Argos a assumir-se como um Mark E. Smith mais sóbrio, mas igualmente contudente. Vale bem a pena uma leitura atenta das letras, com tiradas cáusticas, muitas vezes auto-críticas, sobre a sociedade actual e o vasto universo pop-rock. Neste particular, destaca-se a paródia hilarinate ao purismo lo-fi de "Slap Dash For No Cash". Na música, frenética, os The Fall marcam mais uma vez presença nas guitarras frenéticas e na propulsão contaginate da bateria. A brincar, a brincar, os Art Brut estão cada vez mais sós no lote de sobeviventes do contingente neo-postpunk. [8]


THE CLIENTELE Bonfires On The Heath [Merge, 2009]

Há em "I Wonder Who We Are", o tema que abre o novo disco dos Clientele elementos de géneros que me causam imediata rejeição, quando integrados em canção pop: bossa nova, soft jazz, e flamenco. Mais à frente, os mesmos géneros são aflorados em doses distintas, juntamente com os sopros mariachi, em um ou outro tema. O resto é a elegância feita melancolia pop a que Alasdair McLean já nos habituou - e que o mundo teima em ignorar - a espraiar-se . A confirmarem-se os rumores de uma possível dissolução da banda, uma despedida condigna pedia disco mais equilibrado. [7]

domingo, 29 de novembro de 2009

Ruffalo on the Lakes









No actual establishment da Sétima Arte, Mark Ruffalo será seguramente um dos actores com percurso mais coerente. Eu "descobri-o" na pequena curiosidade que é You Can Count On Me, vi-o brilhar secundariamente no delirante e comovente Eternal Sunshine Of The Spotless Mind, e fiquei definitavente rendido quando o vi espalhar talento no colossal Zodiac. Em breve, espero "ouvi-lo" em Where The Wild Things Are, o mais recente delírio de Spike Jonze. No meio de tantas solicitações como actor, Ruffalo arranjou ainda tempo para se estrear como realizador em Sympathy For Delicious, filme com estreia marcada nos states para Janeiro próximo e que relata o drama de um DJ a quem um acidente deixa paralisado. Para além do próprio realizador, o elenco conta ainda com Orlando Bloom, Juliette Lewis e Laura Linney.
Como celebração da causa rock, o filme conta com música de bom-gosto a cargo dos Besnard Lakes, banda cuja melancolia cinemática terá provocado em Ruffalo um momento epifânico durante o torpor de uma gripe. Do colectivo canadiano espera-se também novo álbum para os primeiros meses do próximo ano. Por cá, ainda ressoa frequentemente o último opus de Jace Lasek e Olga Goreas:


The Besnard Lakes "For Agent 13" [Jagjaguwar, 2007]

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Discos pe(r)didos #32



















SPACEMEN 3
The Perfect Prescription
[Glass, 1987]

Com um estatuto seminal em permanente crescendo, os Spacemen 3 (S3) têm um legado relativamente escasso mas de elevado valor. A escolha da obra maestra não é consensual, com a maioria a eleger o virulento Playing With Fire (1989), outros, menos, a preferirem o cerebral Recurring (1991). Com alguma relutância, inclino-me para o antecessor de ambos - The Perfect Prescription. É neste ponto que as personalidades musicais - então sintonizadas - de Sonic Boom (Peter Kember) e J Spaceman (Jason Pierce) atingem o zénite de uma etapa de escavações nas memórias do rock mais desalinhado que haviam iniciado ainda adolescentes. As drogas traçam uma linha condutora ao longo de todo o disco, de uma estrutura semi-conceptual, ou não fosse esta a banda que tinha por mote "taking drugs to make music to make music to take drugs to". Consequentemente, as diferentes atmosferas reflectem as vivências de um junkie, indo de estados eufóricos e de deslumbramento ao buraco negro da ressaca. As vozes surgem em murmúrios, sibilantes, enfraquecidas pelo torpor narcótico. Pierce encarna o crente temerário, enquanto Kember, quase declamatório, tende para um cinismo amargurado. No plano musical, cada um dá algumas pistas sobre o trabalho desenvolvido nos projectos futuros, com os temas protagonizados pelo primeiro a tanger a América negra dos blues e do gospel, e o segundo a chamar a si a via espectral do kraut rock.
As guitarras ultra-amplificadas geralmente associadas aos S3 primam em ...Prescption pela quase total ausência. Assim, e perante a supressão quase absoluta de percussões, a trip intuitiva assistida a químicos é proporcionada por acordes contínuos de guitarras em distorção, órgãos avulsos, ocasionais arranjos de cordas, e raras intromissões de sopros. A excepção é a inaugural "Take Me To The Other Side", descarga eléctrica evocativa de Roky Erickson, uma das figuras assumidas como tutelares pela banda. O mesmo que algumas reedições recuperam na inclusão de uma longa e luminosa versão de "Rollercoaster", dos seus 13th Floor Elevators. Outro dos renegados da causa rock citados (os S3 eram uma banda reverencial às suas fontes inspiradoras, com já deu para perceber) é Mayo Thompson, personagem omnipresente no espectro marginal da música popular dos últimos 40 anos, através de uma versão de "Transparent Radiation" (dos Red Crayola), aqui fundida com o intro de "Ecsatasy Symphony". A dupla de temas siameses, semi-sinfonia para guitarra acústica e secção de cordas de efeito mesmerizante, é inclusive a peça central deste disco que se inicia em efusão delirante ("...Other Side"), relata passeios de amena cavaqueira com o Filho do Criador ("Walkin' With Jesus", "Ode To Street Hassle"), e termina em sobredose tóxica ("Call The Doctor").
Juntamente com Playing With Fire, e volvidos que estão mais de 20 anos desde a edição de ambos, ...Prescription está mais na ordem do dia que nunca, com a sua presença a diluir-se em muitas das mais estimulantes expressões musicais deste início de século: desde o contingente drone, passando pelas diferentes correntes abstraccionistas, até aos novos praticantes do psicadelismo.


"Ecstasy Symphony / Transparent Radiation"


"Take Me To The Other Side"


"Ode To Street Hassle"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Vaga fria vs. Vaca fria















Algumas apostas recentes da Matador Records já me faziam temer pelo rumo a seguir por aquela que foi, nos últimos quinze anos, a mais relevante das editoras independentes. Quem não consumiu avidamente as compilações do selo nova-iorquino que incluíam bandas tão entusiasmantes como Pavement, Yo La Tengo, Guided by Voices, The New Pornographers, Helium, Come, ou Bailter Space? O último sinal de derrocada é dado agora, com a rendição da Matador à recente tendência para a recuperação dos sons sintetizados que há quase trinta anos eram considerados futuristas, mais concretamente à facção humanóide da coisa. Fala-vos da recente edição de Love Comes Close, álbum de um colectivo intitulado Cold Cave, que vem rotulado de experimentalista mas que se limita à prática de sonoridades electrónicas primitivas. As vozes são duas: a dele grave e com ar de caso, a dela com a aparente lascívia que garante um lugar cativo nas pistas de dança dadas a modas passageiras.
Fonte privilegiada garanta-me que uma das próximas contratações da Matador dá pelo nome de Euryth..., perdão, Editors...

http://www.myspace.com/coldcave

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Singles Bar #38



















ANOTHER SUNNY DAY
You Sould All Be Murdered
[Sarah, 1989]

"One day, when the world is set to rights
I'm going to murder all the people I don't like
The people who have left me down without reserve
The people who are cruel to those that don't deserve
The people who talk too much
The people who don't care
The people whose lives are going nowhere"

Em 1987, o fim súbito dos Smiths foi motivo de algumas convulsões junto dos jovens tímidos, letrados e sensíveis que tinham encontrado nas palavras de Morrissey expressão para a sua desilusão perante um mundo cruel e injusto. Neste clima de luto carregado, multiplicaram-se os projectos gerados pela devoção ao quarteto de Manchester, alguns com bastante graça, outros nem por isso. No primeira categoria temos que incluir os londrinos Another Sunny Day (ASD), mais do que uma banda, o veículo de expressão musical para Harvey Williams, figura que após a curta carreira deste projecto esteve ligado a várias outras bandas simbólicas do chamado twee pop (The Field, Mice, Trembling Blue Stars, Blueboy).
O legado dos ASD resume-se a pouco mais do que um punhado de singles, todos eles editados pela Sarah Records - casa intimamente ligada ao "género" twee - e posteriormente reunidos na compilação London Weekend (1992), recentemente reeditada pela louvável Cherry Red para gáudio deste que vos escreve. Do lote de temas de uma leveza triste e hiper-romântica registados por Williams, destaca-se "You Should All Be Murdered", no qual o pacifismo aparente da voz esconde o desejo de extermínio de todos aqueles que fazem do mundo um lugar cinzento. Se o tom vitriólico disfarçado de doçura, qual lobo na pele do cordeiro, é o mesmo que habitualmente associamos a Morrissey, então o que dizer do fade in inicial reminiscente de um tema intitulado "Some Girls Are Bigger Than Others", ou dos floreados da guitarra característicos de um indivíduo que ficou conhecido como Johnny Marr? A propósito de "... Murdered", alguma má-vontade poderá sugerir termos como "cópia", ou até o mais gravoso "plágio". Porém, perante melodia tão insidiosamente cativante, as reservas das pessoas de bom-gosto revelam-se rotundamente ineficazes.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Gorilas na névoa















Foto: Benjamin Hoste

Imaginem uns Arcade Fire mais submissos à folk, ou uns Fleet Foxes com algum groove, ou ainda uns Ra Ra Riot menos exuberantes. Imaginem também a harmonia dos Beach Boys corrompida pela percussão nervosa dos Talking Heads. No ponto nebuloso onde estas sonoridades avulsas se intersectam poderiam estar os Local Natives, uma banda com mais personalidade do que a mixórdia de referências possa fazer prever.
Rezam as crónicas que este quinteto californiano recebeu rasgados elogios aquando da sua passagem pela edição deste ano do South by Southwest. Mas, pelos vistos, não os suficientes para conseguir um contrato discográfico em território pátrio. Já na Europa - leia-se Reino Unido -, Gorilla Manor, o álbum debute, tem edição assegurada pela ressuscitada Infectious Records. Averte-se que a audição deste disco de uma pop não excessivamente barroca pode proporcionar algum calor nesta estação fria.

http://www.myspace.com/localnatives

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Duetos #17


Uma especial, da era americana da fóreidi...



Ultra Vivid Scene feat. Kim Deal "Special One" [4AD, 1990]

terça-feira, 17 de novembro de 2009

All the people I like are those that are dead #1


Uma nova rubrica de periodicidade irregular em louvor daqueles que partiram deixando marca indelével da sua passagem por este mundo.


JOHN McGEOCH
[1955-2004]

Embora caracterizado pelo radicalismo experimentalista, o período post-punk não rejeitou em absoluto as qualidades técnicas dos seus protagonistas. No capítulo das seis cordas, Ketih Levene (Public Image Ltd.) e Andy Gill (Gang of Four) são dois dos mais destacados executantes. A estes, porém, sobrepõe-se John McGeoch, guitarrista que, além de ter colaborado em alguns dos mais importantes projectos do "movimento", viu a sua técnica ser admirada e/ou copiada por notáveis que lhe sucederam, tais como The Edge, Johnny Marr, Dave Navarro, ou Jonny Greenwood.
Nascido na Escócia, onde passou a infância, John Alexander McGeoch mudou-se com a família para a capital inglesa em plena adolescência. Aquando do auge do furacão punk, o jovem John era estudante universitário na cidade de Manchester. Foi aí que um amigo comum o apresentou a Howard Devoto, este acabado de abandonar os Buzzcocks. Juntos criaram as bases dos Magazine, a banda que Devoto tinha em mente para ir além das limitações dos três acordes do punk. Ao primeiro álbum (Real Life de 1978), a banda logrou alcançar os seus intentos, injectando de ambição artística um período em que a rudeza era palavra de ordem. A crítica foi unânime na aclamação e o público teve uma reacção relativamente positiva. Com o decorrer do tempo, o entusiasmo de McGeoch foi esmorecendo, até ao ponto da ruptura definitiva após a edição do terceiro álbum, o igulamente superlativo The Correct Use Of Soap (1980). Na parte final da sua permanência nos Magazine, McGeoch aceitou o convite (juntamente com outros colegas de banda) para colaborar nos Visage, veículo synthpop do "carreirista" Steve Strange. Embora este tenha sido o projecto mais bem sucedido comercialmente em que McGeoch se envolveu, foi aquele em que a sua colaboração foi mais discreta.
Com o abandono dos Magazine, iniciou novo capítulo como membro de pleno direito nos The Banshees, com os quais gravou três álbuns. O período passado sob o comando de Siouxsie Sioux coincide com o pico criativo da banda e, porventura, com o auge da carreira de McGeoch. Após um colapso nervoso motivado pelo stress da preenchida agenda de concertos, e pela ingestão abusiva de bebidas alcoólicas, Siouxsie viu-se obrigada a prescindir dos seus serviços.
Em 1983, reuniu-se com o baterista John Doyle, antigo companheiro nos Magazine, e com ex-elementos dos escoceses The Skids para formar The Armoury Show, banda de existência breve com a qual gravaria o álbum Waiting For The Floods (1985), bem recebido pela crítica mas ignorado pelo público. Em 1986, a atravessar dificuldades económicas, e juntamente com Doyle, aceitou o convite de John Lydon para integrar a formação dos Public Image Ltd., com os quais ficou até à dissolução em 1992, tornado-se assim o membro mais duradouro na banda além do próprio Lydon. Ironicamente, a passagem de McGeoch pelos PiL coincidiu com a fase mais desinteressante daquela que terá sido a mais emblemática banda do post-punk.
A partir de 1995 e até à data da sua morte, que surgiu de forma inesperada durante o sono, abraçou uma carreira de enfermeiro. Neste período, a produção musical resumiu-se a colaborações pontuais com John Keeble (Spandau Ballet) e Glenn Gregory (Heaven 17), e algumas peças por encomenda de canais televisivos.


Magazine
"Shot By Both Sides" [Virgin, 1978]



Visage
"Fade To Grey" [Polydor, 1980]



Siouxsie & The Banshees
"Christine" [Polydor, 1980]



The Armoury Show
"We Can Be Brave Again" [Parlophone, 1985]



Public Image Ltd.
"Seattle" [Virgin, 1987]

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

September songs















Kurt Vile - não, não é gralha ortográfica - é guitarrista nos The War on Drugs, uma banda que no ano passado me surpreendeu com um disco que combinava, de forma improvável mas eficaz, a pompa de Springsteen, a militância panfletária de Dylan, e a deriva sónica de uns My Bloody Valentine. Paralelamente e na semi-obscuridade, Vile tem uma obra a solo da qual Childish Prodigy é já o quarto álbum. Lançado em Setembro último, este é o primeiro trabalho editado com selo da Matador Records, editora que dá algumas garantias de maior visibilidade. No novo registo, o músico continua a revelar alguma empatia com a grandiloquência do Boss, mas também com o tom semi-declamado de um Lou Reed contador de histórias. Já em temas como "Blackberry Song" verificam-se incursões pelo fingerpicking de John Fahey, tal como hoje é professado por Ben Chasny et al.. Do todo, sobressai um compositor personalizado que rejeita os espartilhos da rotulagem freak folk. Dentro de menos de um mês, estarei na capital espanhola para conferir aquilo que ele e a sua banda - The Violators - valem ao vivo. Admito que as expectaivas são algo elevadas...

http://www.myspace.com/kurtvileofphilly


domingo, 15 de novembro de 2009

Ao vivo #42
















Foto: Miss C.

Swell @ Lounge, 13/11/2009

Do serão da passada sexta-feira fica um sentimento dividido. Por uma lado há uma enorme satisfação de, durante aproximadamente uma hora, estar a escasso metro e meio de uma banda que aprendi a gostar vai para uns bons quinze anos, tempos em que sentia na pele o isolamento da interioridade. Por outro, fica alguma amargura por ver o actual estatuto dos Swell reduzido a concertos com entrada gratuita em salas exíguas. Em todo o caso, louve-se a iniciativa das gentes do Lounge que, no espaço de menos de um ano, trouxeram até nós David Freel & C.ª.
Como esperado, o alinhamento do concerto assenta basicamente em temas do catálogo mais recente e obscuro - e aqui faço mea culpa - dos Swell. A única incursão até aos tempos áureos dá-se através do belíssimo "Sunshine Everyday". No entanto, isso é um mal menor, pois as canções deste Freel fisicamente envelhecido continuam a reflectir as agruras de uma vida feita de sonhos desfeitos e alimentada por ténues esperanças. Com um público dedicado e em tais condições de proximidade física, toda a acção decorre, obviamente, num ambiente familiar, com David Freel e os dois jovens músicos que o acompanham a interagir amíúde com a ssistência.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Mixtape #2: Keeping It Foolish Since 1989


Quem costuma visitar o sítio oficial da Slumberland Records decerto que já terá reparado que, entre o dias 4 e 17 do corrente, o mesmo encontra-se sem quaisquer actualizações. Os motivos desta suspensão de novidades prendem-se com as comemorações do 20.º aniversário desta editora responsável pela implementação dos sons twee e fuzz pop - mais comuns no Reino Unido - em território estado-unidense.
Fundada em Washington D.C., a Slumberland teve um início de vida auspicioso, revelando alguns nomes marcantes no cenário indie norte-americano da primeira metade da década passada, sobretudo oriundos da mesma zona geográfica. Com o avançar dos noventas, e com o gosto dos melómanos apontado para outras coordenadas estéticas, foi perdendo algum fulgor, ao ponto de, na alvorada do novo século, ter entrado num hiato editorial relativamente prolongado. Já em anos recentes, recuperada daquele estado de vida latente, a Slumberland tem estado no centro de alguns dos "fenómenos" revivalistas mais caros a este escriba.
Para assinalar a ocasião, nada melhor que uma compilação que resume estas duas décadas de História. Ao todo são 22 temas ordenados cronologicamente, com a particularidade de todos eles (e muitos outros) estarem disponíveis para download gratuito no sítio oficial da editora. Para vos facilitar a vida, este vosso servo seleccionou o lote disponível à distância de um clique. Para aceder a este firmamento pop, basta seguir a "pista" indicada a seguir ao alinhamento.

  1. VELOCITY GIRL - "I Don't Care If You Go" (1990)
  2. BLACK TAMBOURINE - "Black Car" (1991)
  3. SWIRLIES - "Sarah Sitting" (1992)
  4. LILYS - "Tone Bender" (1992)
  5. SLEEPYHEAD - "Fairyboat" (1993)
  6. BOYRACER - "The Useless Romantic" (1994)
  7. JUPITER SUN - "Violet Intertwine" (1994)
  8. HOOD - "Fashion Mistake Of The Decade" (1995)
  9. THE ROPERS - "Revolver" (1995)
  10. HENRY'S DRESS - "Hey Allison" (1996)
  11. NORD EXPRESS - "Cover" (1997)
  12. THE AISLERS SET - "My Boyfriend (Could Be A Spanish Man)" (1998)
  13. THE SATURDAY PEOPLE - "Slipping Thru Your Fingertips" (2000)
  14. 14 ICED BEARS - "Inside" (2001)
  15. THE LODGER - "Let Her Go" (2007)
  16. CRYSTAL STILTS - "Love Is A Wave" (2009)
  17. THE PAINS OF BEING PURE AT HEART - "Come Saturday" (2009)
  18. LIECHTENSTEIN - "This Must Be Heaven" (2009)
  19. THE SCHOOL - "And Suddenly" (2009)
  20. SIC ALPS - "L. Mansion" (2009)
  21. THE BATS - "Face Inside The Sun" (2009)
  22. FRANKIE ROSE - "Thee Only One" (2009)

http://www.mediafire.com/?fg4glzjzwnh

Ao vivo #41













Black Lips + The Sticks @ Caixa Económica Operária, 11/11/2009

A veia consumista arrasta-me amiúde para gastos supérfluos. Caso mais recente, são os € 10,00 despendidos para ver os Black Lips, uma banda com a qual nunca simpatizei particularmente e que é, tão somente, responsável por um dos piores discos que me foram dados a ouvir nos últimos tempos. Os rapazes têm fama de folgazões, mas no fundo não passam de um bando de mitras - ou gunas, como diriam os meus amigos da Imbicta - armados em engraçadinhos. Têm tiradas de humor pré-ensino secundário do género "Eu dou-lhes a garrafa de água porque não gosto. Eu só gosto de cerveja.". Musicalmente, lembram fugazmente os Pixies antes de estes aprenderem a tocar e, diz-se, são veneradores da obra dos Seeds e dos 13th Floor Elevators. Pela parte que me toca, sugeria-lhes que, nas idas para o trabalho (nas obras, obviamente), ouvissem os White Denim. Talvez assim aprendessem algo de útil para praticar nos tempos livres. Felizmente que a sensatez de uma véspera de dia de labuta, e a aversão a seres acéfalos, não me retiveram durante mais que quatro temas. Da curta e penosa - quase masoquista - experiência retiro mais algumas conclusões pouco abonatórios para um o povo norte-americano...

A noite estaria totalmente perdida não fosse uma banda chamada The Sticks. Com os elementos em constante partilha de instrumentos (guitarra, baixo e micro-bateria), este trio britânico é exímio na recuperação das sonoridades surf rock, facção "psicótica", em temas bem esgalhados - mas harmoniosos - que dificilmente ultrapassam o minuto e meio de duração. Tudo somado, sem correr o risco de cair na repetição, fica-se pelos 20/25 minutos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Coelhos nadadores















Depois de The Midnight Organ Fight ter sido um dos discos mais saudados por estas bandas no ano passado, os escoceses Frightened Rabbit (FR) têm já agendado o sucessor The Winter Of Mixed Drinks para o primeiro trimestre do ano que vem. Em antecipação, já na próxima semana, chega ao mercado o primeiro single promocional do álbum. Numa primeira abordagem, a combustão lenta do tema em questão fez-me temer que os FR se tivessem aproximado do universo habitado por bandas inócuas como os Snow Patrol. Porém, escutas posteriores revelaram a envolvência e as imperfeições deliberadas que colocam os FR a milhas de distância dos conterrâneos pastosos. Deixo-o agora à vossa consideração:


"Swim Until You Can't See The Land" [Fat Cat, 2009]

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Singles Bar #37




















THE LIBERTINES
What A Waster [Rough Trade, 2002]

"What a waster, what a fucking waster
You pissed it all up the wall
Round the corner where they chased her
(...)
When she wakes up in the morning
She writes down all her dreams
Reads like the book of revelations
Or the Beano or the unabridged Ulysses
(...)
What a divvy, what a fucking div
Talking like a moron, walking like a spiv
I was laying in bed paying my rent
Knocking on the door for something"


Menosprezados por uma larga falange, sobretudo com o avolumar de "notícias" relativas aos hábitos pouco recomendáveis de Pete Doherty na imprensa sensacionalista, o que é certo é que os Libertines acabam por ser uma das mais influentes bandas britânicas da década prestes a findar. Beneficiando da recuperação do bom e velho rock'n'roll operada pelos Strokes do outro lado do Atlântico, o quarteto londrino mostrou aos jovens músicos concidadãos que a palavra de ordem era rockar. Dos que colheram a mensagem, os Arctic Monkeys são apenas o caso mais visível.
Já com alguns anos de experiência em pequenos palcos, deram-se a conhecer a um público mais vasto com "What A Waster", primeiro single que acaba por representar, quer lírica, quer musicalmente, aquilo que seria a curta e tumultuosa carreira da banda: enquanto a letra fala de vidas marcadas pelos narcóticos (em calão inglês, o vocábulo waster define aquele que consome drogas em quantidades apreciáveis), o suporte instrumental revela a filiação em três nomes que, de forma peculiar, definiram o sentir inglês - The Jam, The Clash e The Smiths. Tal como os seus mestres, os Libertines tinham alguma apetência para a crueza realista e uma visão algo romatizada de uma Inglaterra extinta. Na última das estrofes acima transcritas, cantada pelo mais contido Carl Bârat, somos levados a pensar que as palavras tenham como destinatário o seu camarada de armas.
Registado em estúdio por Bernard Butler, o single deverá ser o registo da banda com uma produção mais limpa. Posteriormente, o ex-guitarrista dos Suede chegou a iniciar as sessões de gravação do primeiro álbum. Incompatibilizado com a conduta pouco disciplinada da banda, acabaria por dar o lugar ao ex-Clash Mick Jones, o qual acabaria por ser o arquitecto da rudeza anárquica que define o "som Libertines".


domingo, 8 de novembro de 2009

For all the fucked up children of the world #10


Retrato do artista Nicholas Edward quando jovem.



The Birthday Party "Nick The Stripper" [4AD, 1981]

sábado, 7 de novembro de 2009

I was waiting for my mag





















Cliente fiel da Uncut vai para dez anos, tenho vindo a notar um decréscimo de interesse dos conteúdos nos últimos quatro/cinco, de certa forma em sintonia com produção musical. Neste período, repetem-se as capas com os Stones, com o Springsteen, com o Dylan, com os Grateful Dead, ou com os Beatles, ao ponto de deixar o mais indefectível verdadeiramente enfastiado. E, no caso dos últimos, sei do que falo... O bater-no-fundo terá mesmo sido a lista dos 150 "melhores" álbuns da década publicada na edição do mês passado, com escolhas de gosto duvidoso dignas de uma Q...
E, eis que a redenção surge já no mais recente número, com a melhor edição da revista em mais de meia década. Na capa, os incontornáveis Velvet Underground, no interior um artigo com os primeiros anos da relação artística e pessoal algo acrimoniosa de John Cale e Lou Reed, nas palavras do primeiro, e, para mais, recheado com fotos inéditas. Há ainda outras matérias de interesse com Edwyn Collins; Purple Rain (o filme) do pequeno génio que dá (ou dava?) pelo nome de Prince; o making of do clássico indie "Freak Scene", dos Dinosaur Jr.; o maverick Graham Coxon; a história resumida das Slits, a propósito do regresso das percursoras do movimento riot grrrl; e ainda a resenha da reedição comemorativa dos 20 anos de Bleach, o primeiro álbum dos Nirvana, com depoimentos de alguns intervenientes. A cereja no topo do bolo é o habitual CD gratuito, provavelmente o melhor dos doze anos e meio de história da revista, com quinze temas a prestar vénia ao legado de Reed, Cale & C.ª. Entre as escolhas criteriosas desta "revolução de veludo" contam-se temas fabulosos de Suicide, Smog, Vivian Girls, The Feelies, Thee Oh Sees, Loop, The Black Angels, e esta pérola das eminências escocesas que ousaram combinar a rugosidade dos VU com o acetinado da soul para "inventar" o indie pop:


Orange Juice
"Blue Boy" [Postcard, 1980]

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Good cover versions #28









NIRVANA "Love Buzz" [Sub Pop, 1988]
(Original: Shocking Blue, 1969)

Em Haia, na Holanda, surgiram em finais da década de 1960 os Shocking Blue, uma banda alinhada com os sons da pop psicadélica que chegavam de São Francisco, em particular com os Jefferson Airplane, com os quais eram insistentemente comparados. Tinham até uma vocalista - Mariska Veres - cuja beleza exótica rivalizava com a de Grace Slick. Fora da terra natal, alcançaram sucesso considerável com "Venus", o mesmo tema que anos mais tarde daria a fama às Bananarama.
Deles é também o original daquele que viria a ser o primeiro single da então desconhecida banda do underground norte-americano que, poucos anos mais tarde, e para o bem e para o mal, mudaria para sempre a face da indústria musical. Estranho, no mínimo, se atentarmos que a América pós-hardcore era, por norma, avessa à imagética do flower power. Apesar das adaptações na letra para um intérprete masculino, os Nirvana mantêm a estrutura original de "Love Buzz" intacta. Contudo, a pulsão constante do baixo de Krist Novoselic e a voz alienada de Kurt Cobain são o bastante para radicalizar a versão. Já o interlúdio de sitar do original, é aqui suprimido e reduzido a um breve devaneio guitarrístico.
Há pouco tempo, em conversa com um conhecido que julgo musicalmente esclarecido e conhecedor da obra dos Nirvana, descobri que, à semelhança de muitas outras pessoas, ele desconhecia que "Love Buzz" não era um original dos Nirvana. Para que não restem dúvidas, hoje, e a título excepcional, apresentam-se versão e original.


Nirvana


Shocking Blue

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Discos pe(r)didos #31



















THE JESUS AND MARY CHAIN
Automatic [Blanco y Negro, 1989]

À data da sua edição original, Automatic cometeu a proeza pouco louvável de alienar boa parte do público e da crítica favoráveis aos Jesus and Mary Chain, eles que tinham adquirido o estatuto de seminais com Psychocandy (1985) e já tinham visto alguns ânimos refrearem-se com o sucessor Darklands (1987). Analisado com objectividade, este terceiro disco mais não é do que o passo natural a seguir àqueles dois, ou até mesmo a súmula de ambos, com o lado eruptivo do primeiro e o controlo de impulsos do segundo. Para esta reacção algo distanciada, terão contribuído, entre outros, três factores: i) a imersão no ideário e em sonoridades de proveniência norte-americana, elementos aos quais o público europeu dito "alternativo" era então pouco receptivo; ii) o elemento sintético que advém do facto de, à excepção do tema "Gimme Hell", todas as batidas terem origem numa caixa-de-ritmos, com os irmãos Reid a encarregarem-se dos restantes instrumentos, recorrendo, inclusive, a algumas linhas de baixo sintetizadas; iii) a escolha do explosivo e neurótico "Blues From A Gun" - imagine-se o clássico "20th Century Boy", dos T. Rex dilacerado por vagas de distorção - para single promocional , à rebelia da editora que escolhera o poppy "Halfway To Crazy", provavelmente o tema mais leve dos JAMC até à data se não existisse "Drop", também aqui incluído.
Porém, o tempo - esse justiceiro - encarregar-se-ia de enquadrar devidamente Automatic, um disco conciso e unidimensional que, não só esteve na vangurada do pendor dançante assumido pelo rock de finais de oitentas, mercê do recurso às tais batidas sintéticas, como antecipou a "invasão americana" de inícios de noventas. Rico em referências a drogas e a comportamentos transgressores em geral, tão recorrentes no léxico dos JAMC, Automatic deve ser apontado, a par dos seus antecessores, como o terceiro vértice do triângulo que tão bem define esta banda deveras carismática. Do seu alinhamento, facilmente se elege um punhado de temas para figurar na antologia da obra dos manos tumultuosos originais. Oiça-se, por exemplo, o inaugural "Here Comes Alice" que, movido por um groove monstruoso, exala sensualidade vestida de negro. Ou o faiscante "Coast To Coast", que sugere o paralelismo entre a deriva na estrada e as trips derivadas de substâncias ilícitas. Ou então o contundente "UV Ray", pura diversão assistida a químicos. Ou, por fim, o galopante "Head On", declaração de amor incondicional da qual os Pixies se apoderariam para uma avassaladora versão, eventualmente superior ao original.
Por ironia do destino, o tal single difícil é a matriz do "som JAMC" adoptada por inúmeros projectos contemporâneos - sobretudo nos Estados Unidos - que fazem da distorção e da electricidade as matérias-primas de eleição. Já os temas mais leves e, portanto, desenquadrados do restante alinhamento, serviram de prenúncio a Stoned & Dethroned (1994], o semi-falhado disco "acústico" dos JAMC.


"Here Comes Alice"


"Blues From A Gun"


"Head On"

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Amar e morrer em Manhattan
















Formaram-se em Leeds, no norte de Inglaterra, em 2006, e de então para cá renderam um álbum, meia dúzia de singles, uma extensa compilação retrospectiva, e um DVD, todos capazes de interessar aos amantes das melodias pop imersas em fuzz. Em Julho deste ano, amigavelmente e com o dever cumprido, decidiram pôr um ponto final na aventura The Manhattan Love Suicides. Agrupados aos pares, os seus membros seguiram caminhos separados: Caroline McChrystal (voz) e Darren Lockwood (guitarra) nos Aisla Craig, A.J. Miller (baixo) e Rachel Barker (bateria) nos The Medusa Snare. Além disso, os dois primeiros continuam a ocupar-se com a gestão da Squirrel Records, que edita todos os projectos. Em ambos os casos, há já obra gravada. Pelo que nos é dado a escutar, prossegue o tributo aos nomes que marcaram a era dourada do indie pop, desta feita com as referências a diversificarem-se além da Santíssima Trindade Mary Chain - Shop Assistants - The Primitives.

http://www.myspace.com/ailsacraigmusic

http://www.myspace.com/themedusasnare

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Em escuta #45 - Especial EPs







DEERHUNTER Rainwater Cassette Exchange [Kranky / 4AD, 2009]

Nas letras dos Deerhunter, e apesar de uma certa ambiguidade, há uma temática que parece recorrente: a tomada de consciência da mortalidade. Talvez seja por pressentirem que o tempo lhes escasseia que Bradford Cox e seus pares editam discos em catadupa, seja na banda principal, seja com os inúmeros projectos paralelos. O novo lote de cinco temas é o apêndice perfeito a Microcastle, o soberbo álbum do ano passado, ou seja, resquícios de garage, de dream pop, de shoegazing, de melodias beatlescas, de pop de câmara, e do mais que vier à rede, tudo congeminado numa sonoridade que não é de mais ninguém. Simultaneamente estranho e acolhedor, tal como o seu antecessor, Rainwater Cassette Exchange é um disco obrigatório. [8,5]


THE MARY ONETTES Dare [Labrador, 2009]

É certo e sabido que os suecos conhecem, como ninguém, a fórmula para criar canções imediatas e facilmente trauteáveis. Não menos certa é alguma incapacidade dos músicos daquele território escandinavo para criarem algo de original. No caso dos Mary Onettes, é obvia a ancoragem nas sonoridades melodramáticas que fizeram escola em meados da década de 1980. Desta feita, e em particular nos dois primeiros do trio de temas, deixam de lado algum negrume e limitam-se a reproduzir o dramatismo light que os noruegueses a-ha conseguiram fazer chegar às massas. Não faltam sequer os excessos da produção típica da época. Já no derradeiro "God Knows I Have Plans" cometem a proeza de citar milhentas bandas middle-of-the-road do mesmo período, poucas delas de boa memória. [6]


SUPERCHUNK Leaves In The Gutter [Merge, 2009]

Após um hiato considerável, dedicado a projectos paralelos e à gestão da cada vez mais gigantesca Merge Records, os Superchunk regressam para reclamar o ceptro do punk pop conquistado entre a primeira metade e meados da década passada. Aos primeiros arranhares da guitarra, seguidos da voz jovial do compincha Mac McCaughan, no inaugural "Learned To Surf" percebemos que a ausência serviu para refrescar ideias. No três temas seguintes, acentuam-se o picanço das guitarras rasgadinhas e aquela aura juvenil tão característica, com "Screw It Up" a traçar uma ligeira inflexão para territórios do power pop. Para o final, e em jeito de bónus, somos presenteados com uma belíssima versão acústica do primeiro tema que comprova que as melodias mais singelas podem ser as mais eficazes. [8]


THE DRUMS The Drums [bootleg, 2009]

Surf Pop made in NYC?! E porque não?! Com este jovem quarteto é possível invocar o espírito juvenil de um Brian Wilson e enquadrá-lo segundo as premissas da new wave, cortesia do recurso frequente aos teclados retro, outrora descritos como futuristas. Em escassos oito temas melodiosos que arrisco catalogar como intemporais, os The Drums conseguem um dos melhores elogios da adolescência registados em disco - fala-se de amizade, de miúdas, de praia, do escapismo do surf, de mais miúdas e das desilusões por elas causadas e, claro, de dúvida e incerteza. Ao derradeiro e subliminarmente inocente "Instruct Me" somos convidados a presenciar o cruzamento genético do citado Wilson com um tal de Black Francis. Estes miúdos estão fadados para altos vôos! Vai uma aposta? [8,5]


THE CAVALCADE Meet You In The Rain [edição de autor, 2009]

Da pequena e chuvosa cidade de Preston, no noroeste de Inglaterra, chegam-nos estes The Cavalcade, um quarteto apostado em preservar as melhores memórias do tempo em que o indie pop ainda se orgulhava de ser realmente independente. Embora citando descaradamente bandas The Field Mice e Felt, ou até os Smiths dos primórdios, o refinamento compositivo e o sentido melódico permitem-nos apreciar estes quatro temas como algo mais do que um produto derivativo, demarcando claramente os Cavalcade de muitos projectos contemporêneos a enveredar pelas mesmas sonoridades. Há por aqui romantismo melancólico em dose suficiente para seduzir os corações esternamente jovens e puros. [9]

domingo, 1 de novembro de 2009

O último uivo do Lobo

ANTÓNIO SÉRGIO
1950-2009

"O histórico radialista António Sérgio, o homem que foi a voz do "Lobo", morreu hoje de madrugada, aos 59 anos. A notícia foi confirmada ao PÚBLICO por Luís Montez, dono da rádio para a qual trabalhava actualmente, a Radar FM. Segundo Montez, António Sérgio terá morrido na sequência de um ataque cardíaco." - in Público

Ouvi pela primeira vez este tema no mítico Som da Frente. É simplesmente uma das músicas da minha vida e, segundo sei, também da do António.


Ride
"Dreams Burn Down" [Creation, 1990]