"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Em escuta #35



















ANIMAL COLLECTIVE
Merriweather Post Pavillion [Domino, 2009]

Com uma progressiva aproximação ao formato canção consumada no fulgurante Feels (2005), dos Animal Collective (AC), um projecto avesso à estagnação, esperava-se no registo de há dois anos o passo em frente. Porém, tal não sucedeu. Embora recheado de excelentes canções, Strawberry Jam mais não era do que reflexo pálido e polido do seu antecessor. O grande salto surge agora, mais tarde do que o esperado, com o novo Merriweather Post Pavillion (MPP), certamente o disco que mais tinta tem feito correr neste início de ano.
Não se pode dizer que o segredo do sucesso esteja nos ingredientes da receita, que não variam grandemente em relação a um passado recente. Já o mesmo não de pode dizer das suas dosagens. Por conseguinte, os sons sintetizados e electrónicos ganham proiminência na miscigenação com as guitarras (discretas), as batidas tribais de origem geográfica indeterminada, e as vozes infantilóides que, embora emotivas, transmitem uma sensação de profunda felicidade. O resultado da combinação destes elementos é algo propiciador de estados próximos do transe.
Embora funcionando como um todo quase indivísivel, convém destacar em MPP alguns temas que sobressaem após sucessivas audições: o celebratório "My Girls", apropriadamente escolhido para primeiro single, que resume o disco na perfeição; o arrítmico "Daily Routine"; o misterioso e quase-kinksiano "Taste", em que os AC parecem questionar o papel de símbolos de um mundo globalizado no refrão "Am I really all the things that are outside of me?"; e o harmonioso "No More Runnin", onde fica provada inequivocamente a herança dos Beach Boys que os AC não têm como negar. As evidências são tais que, à primeira audição, esperava a entrada de um "God only knows what I'd be without you" a qualquer instante.
Este último tema seria o final perfeito, caso não fosse seguido da freakalhice inconsequente de "Brothersport" que, além de algo irritante, prolonga MPP para uma duração que me parece excessiva.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Duetos #9















Quando a música produzida no Canadá se tornou o zeitgeist da blogosfera, já eles tinham alguns anos de estrada. Praticantes de uma sonoridade resultante do improvável cruzamento de Springsteen com os Fugazi, consta que foram notados por pouco mais que meia dúzia de gatos pingados. A este propósito, lembro que nunca é tarde para se corrigir uma injustiça. Ela, por seu lado, é quase uma estrela. Dona de uma daquelas vozes bonitas e certinhas, faz música tão útil ao bem-estar das populações como o vírus do subtipo H5N1, ou os programas do José Figueiras. O tema, escrito pelos irmão Gibb (os Bee Gees, nem mais!), foi originalmente gravado em 1983 nas vozes do inenarrável Kenny Rogers e da voluptuosa Dolly Parton. Embora todos os indicadores apontem em sentido contrário, o resultado final é uma bela versão merecedora de um vídeo digno desse nome:


Constantines + Feist "Islands On The Stream" [Arts & Crafts, 2008]

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Discos pe(r)didos #22



















IKARA COLT
Chat And Business [Fantastic Plastic, 2002]

Hoje caídos no esquecimento, os Ikara Colt foram um grupo londrino formado por quatro estudantes de Artes que, na alvorada do novo século, esteve na linha da frente na recuperação das sonoridades que marcaram o período pós-punk. Isto antes da "estética" ter sido amansada até à boçalidade que hoje ostenta, para proveito de editoras e gáudio de DJs.
Chat And Business, o longa-duração de estreia do quarteto, caracteriza-se pelo interessante despique entre os riffs contundentes de Claire Ingram e as invectivas oportunas do vocalista Paul Resende, tudo condimentado por subtis apontamentos de electrónica obtusa. Surpreendentemente, o disco resulta numa descarga de energia capaz de rivalizar com uns Motörhead, enquanto presta a devida vénia a alguns dos mais interessantes projectos nascidos na Grã-Bretanha de finais da década de 1970, sem que, com isso, os Ikara Colt percam um pingo da sua identidade. Por exemplo, "City Of Glass" é melodia nervosa e fracturada na senda dos The Fall. "At The Lodge", por seu turno, tem a frieza mecânica característica dos Joy Division. Já a sofisticação abstraccionista dos Wire é presença constante e pouco dissimulada.
Na edição que possuo, Chat And Bussiness faz-se acompanhar do EP Basic Instructions, editado poucos meses após o álbum, mas já revelador de significativos progressos na construção de uma sonoridade mais coesa e personalizada. É muito provável que bandas do presente, como os These New Puritans, tenham recolhido daqui alguns apontamentos.


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

10 anos é muito tempo #11



















BONNIE 'PRINCE' BILLY
I See A Darkness [Palace/Domino, 1999]

Com discos espalhados por toda a década de 1990, tanto em nome próprio, como nas várias reencarnações do projecto Palace, Will Oldham era no final do século um nome merecedor de culto na espectro americana/alt-country/neo-folk/lo-fi/sadcore. A afirmação definitiva surgiria no final dessa década com I See A Darkness, onde pela primeira vez se apresentava como Bonnie 'Prince' Billy, nome sob o qual tem desde então editado com uma frequência fora do vulgar. Invocando heranças de Dylan e Nick Drake, particularmente na simplicidade depurada das canções, I See A Darkness, surpreende na forma como, a partir de arranjos minimalistas, é possível gerar algo de tão denso, quase exasperante. Para a criação destas atmosferas muito contribui a temática que percorre todo o disco: a morte, abordada ora com algum dramatismo trágico, ora com uma elegante graciosidade.
Logo no inaugural "A Minor Place", e em jeito de despedida, faz-se uma espécie de balanço de uma vida, marcada por alegrias e tristezas, risos e lágrimas. O tema-título (poucos anos depois "popularizado" por Johnny Cash com a colaboração do próprio Oldham) enaltece o valor da amizade, particularmente nos momentos difíceis. Quase de seguida, em "Death To Everyone", lembra-nos, cruelmente, que um dia a nossa hora há-de chegar. Nas linhas "Death to everyone is gonna come / And it makes hosing much more fun" fica patente a marca de uma certa ironia que caracteriza a escrita de Oldham. Com traços de folk celta e ritmos reggae (!), "Madeleine-Mary" é momento atípico do disco. No seu timbre peculiar, Oldham consegue aqui a sua melhor performance vocal. Para o final, "Raining In Darling" é uma rara canção de amor em menos de dois minutos. Tempo insuficiente para recuperar da claustrofobia criada pelos temas precedentes


"A Minor Place"

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Second coming


Para a salvação dos comuns mortais, o Messias desceu de novo à Terra. É negro e tem super-poderes, o que comprova tanto a tese de Malcolm X, como as sagradas escrituras. Os sinais desta segunda vinda do Redentor começam a manifestar-se:

(Som & Imagem aqui. Blaarrrgh!)

Playing Kiss covers, beautiful and stoned



















WILCO
Yankee Hotel Foxtrot [Nonesuch, 2002]

Com a vinda dos Wilco a Portugal, para dois concertos, fica cumprido um dos meus desejos para este novo ano. A primeira data é no Theatro Circo, em Braga, a 30 de Maio; no dia seguinte, a banda de Jeff Tweedy desce à capital para um concerto no Coliseu dos Recreios.
Esta boa nova surge precisamente na altura em que aquele que é um dos mais fortes candidatos a álbum da década me aconchega os tímpanos com alguma frequência. O disco, tal como têm sido estes últimos dias, é cinzento. Mas, a espaços, um raio de sol desponta por entre as nuvens:


"Heavy Metal Drummer"

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

R.I.P.

JOÃO AGUARDELA
(1969-2009)

Faleceu ontem, vítima de cancro, João Aguardela. Embora não sendo particularmente apreciador da sua obra, reconheço em Aguardela o espírito aventureiro, sempre disposto a impregnar a música de raiz portuguesa de modernidade, primeiro com os Sitiados, depois com o projecto muito pessoal Megafone, e mais recentemente com A Naifa. Tinha apenas 39 anos. É em momentos destes que recordo as palavras de Renato Russo, também ele demasiado jovem quando nos deixou:

"E há tempos nem os santos
Têm ao certo a medida da maldade.
E há tempos são os jovens que adoecem."
- Legião Urbana in "Há Tempos" [1989]

Ao vivo #34















Foto: Cristina Pinto Pinto / Blitz


The Fall @ Casa da Música, 17/01/2009

Volvidos mais de trinta anos desde o início da aventura, os The Fall são hoje uma verdadeira instituição, estatuto algo paradoxal para uma banda que sempre primou pela independência. Não espanta pois, que o concerto do passado sábado fosse aguardado com as expectativas em alta.
Uns singelos quinze minutos depois da hora prevista, Mark E. Smith e a banda que o acompanha desde 2006 entram em palco. Logo aí, surgem as primeiras manifestações entusiastas de um público que sabe ao que vai. Como esperado, Imperial Wax Solvent, o magnífico álbum do ano passado, tem lugar de destaque no alinhamento da noite. Deste disco, e dos temas apresentados, destacam-se o autobiográfico "50 Year Old Man", o quase irreconhecível "Wolf Kidult Man", e "I've Been Duped". Neste último, num sinal condescendência de Smith para com a actual companheira, a teclista Elena Poulou assume a voz e protagonismo. Também os restantes elementos da banda, uma verdadeira máquina de ritmo frenético, seriam, à vez, mimados por um mestre de cerimónias estranhamente afável. Apesar do aparente bom humor (para os parêmetros smithianos, entenda-se), Smith não deixou de se passear pelo palco, qual supervisor, alterando o volume dos amplificandores, ou metendo a mão nos teclados. Mas, se conforme referido, o último disco deu o mote, foi ao antecessor que os The Fall foram repescar "Reformation!", devaneio impregnado de espírito kraut que constituiu o ponto alto de um concerto onde só faltaram alguns temas do glorioso período dos The Fall na década de 1980. Ainda assim, foi tão bom quanto o repasto que antecedeu espectáculo, e no qual marcaram presença alguns dos mais dignos bloggers da nossa praça. Por sinal, quase todos eles com estabelecimento estável na área da Invicta.

Para finalizar, não poderia deixar de elogiar esta iniciativa periódica designada por Clubbing, pois constitui uma excelente forma de atrair público mais jovem ao belísimo edifício da Casa da Música. Poderia (e deveria) servir de exemplo ao CCB (leia-se Centro de Cultura Brasileira).

Ao vivo #33















Damon & Naomi + Noiserv @ ZdB, 16/01/2009

Com uma sala relativamente composta por saudosistas dos Galaxie 500 (G500), a mítica banda que deu notoriedade ao casal, Damon & Naomi iniciaram o concerto com uma versão do clássico "Song To The Siren" (segundo o ser eucarionte ao meu lado, uma cover dos This Mortal Coil...). Sem ser brilhante, este terá sido o momento alto de um concerto que se prolongou de forma tímida, descolorida e algo enfadonha. Longe vão os tempos da melancolia pueril herdada da banda precedente que marcaram More Sad Hits, o primeiro ábum após a dissolução dos G500. No tempo presente, a dupla parece mais apostada em revisitar alguns tiques da folk britânica de finais de sessentas, sobretudo nas (poucas) canções interpretadas por Naomi Yang. Poucas porque, ainda assim, a senhora consegue imprimir algum brilho, por contraponto ao tom monocórdico das canções com voz do marido Damon Krukowsi, outro que não deveria ter saído de detrás de uma bateria (olá Dave Grohl!). Uma noite para mais tarde não recordar, mas que em nada abala a minha imensa paixão pela música dos G500.

Antes do duo bostoniano, a audiência da ZdB foi brindada com a música de Noiserv, one man project de David Santos, em camapanha de produção ao seu álbum de estreia. Nas canções melancólicas do jovem cantautor pressentem-se influências que vão de Badly Drawn Boy a Tom Waits, e até alguns parentescos com alguns projectos apadrinhados pela portuense Bor Land. Na maioria dos casos, os temas acusam ainda alguma inexperiência, sobretudo na ausência de uma linha melódica condutora. Um pequeno senão que, estou certo, será suprimido com o tempo. Tal como alguns indejáveis maneirismos de um outro David, o Fonseca...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Hoje...

... é dia de rumar a Norte:


The Fall "Hit The North" [Beggars Banquet, 1987]

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Singles Bar #29



















CLEARLAKE
It's Getting Light Outside [Domino, 2006]

"It's good to see you
It's been a while
You've had your life
And I've had mine

It's good to notice
All the ways we change
But even better
How we stay the same

I'd love to know
So tell me everything
I want to know exactly how you've been
Before you know
We'll forget the time
And turn around and find we've talked all night
It's getting light outside"

Do imenso número de projectos constantes no catálogo da Domino Records, os Clearlake serão por certo dos menos reconhecidos pelo grande público. Nada que impeça este quarteto de Brighton, Inglaterra, de ter já três álbuns editados, e de com um quarto - Dark Blue - estar previsto lá mais para a Primavera. Quem já teve a felicidade de ouvir quaisquer um destes discos, terá certamente constatado o gosto da banda pelas canções de corte clássico, enriquecidas pelas letras inspiradas do vocalista Simon Pegg.
"It's Getting Light Outside" é o tema que fecha com chave de ouro Amber, o mais recente registo longa-duração do Clearlake, e que, por acaso, está longe de ser o melhor. Com uma melodia que seduz pela simplicidade, a canção convoca a memória dos The Smiths e dos Beautiful South, ou até Shangri-Las. A letra fala daquelas reencontros com velhos amigos em que a conversa flui e o tempo passa sem que nos demos conta.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Diz-se que...

... os Xutos comemoram hoje trinta anos e dois dias de existência. Que se fodam os Xutos!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Good cover versions #16












MY BLOODY VALENTINE "Map Ref. 41ºN 93ºW" (WMO, 1996)
[Original: Wire (1979)]

Apanhados no comboio do punk, os Wire cedo mostraram vontade de fugir às sonoridades mais rudimentares. Ao debute Pink Flag, ainda filiado na corrente dos três acordes, segui-se um par de álbuns que, com uma boa dose de experimentação, desbravaram novos caminhos para a canção pop. Os proveitos comerciais desta música aventureira foram escassos, ou praticamente nulos. Já em termos de reconhecimento dos seus pares, os Wire gozam desde então de uma legião de admiradores e seguidores que trespassa géneros e gerações. A prova é Whore, o disco de tributo lançado em 1996 e que envolveu nomes tão diversos como Bark Psychosis, Lush, Fudge Tunnel, Lee Ranaldo, Laika, Band of Susans, Godflesh, ou My Bloody Valentine (MBV). A estes últimos coube recriar "Map Ref. 41ºN 93ºW", single histórico do não menos histórico álbum 154. Curiosamente, nesta versão que é, até ver, o último tema novo de Kevin Shields e C.ª desde Loveless, os MBV surgem mais próximos da pop distorcida do já distante Isn't Anything (1988) do que da desconstrução sónica do colossal disco de 1991.


Who the fuck?













Embora a Matador Records insista em manter algum secretismo, é ponto assente que os Condo Fucks são um embuste do trio Yo La Tengo (YLT), uma das bandas mais emblemáticas da editora novaiorquina, com a qual têm uma ligação de mais de 15 anos. Planos a longo prazo para este novo projecto desconhecem-se. Sabe-se apenas que, dentro de dois meses, é editado Fuckbook - título com uma clara alusão a Fakebook, o disco de versões dos YLT lançado em 1990 -, o primeiro ábum dos Condo Fucks. Desta feita, revisitam-se originais de gente como The Flamin' Groovies, Richard Hell, The Troggs, ou The Kinks.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

10 anos é muito tempo #10




















SMOG

Knock Knock [Drag City, 1999]

E ao sétimo álbum Bill Callahan assume em definitivo um som mais "profissional", em detrimento das gravações lo-fi que constituíam os discos anteriormente lançados sob o alter ego Smog. Tal como no anterior Red Apple Falls (1997), Jim O'Rourke é chamado à cadeira da produção. Terá sido provavelmente por influência do wunderkind de Chicago que Knock Knock foi, até à data, o disco com maior gama de recursos na carreira de Smog, contrastando com a dominância do lado acústico do passado: feedback, beats, guitarras eléctricas, violinos, pianos, e até coros infantis, fazem a cama ao expressivo - mas nunca excessivamente emotivo - barítono de Callahan. Daí resulta um equilíbrio de forças entre duas facetas de um mesmo personagem, uma mais bucólica, outra mais visceral, sarcástica até. Embora a atmosfera significativemente menos carregada que em anteriores ocasiões, não faltam em Knock Knock os habituais temas mais lúgubres que povoam as pequenas narrativas de Bill Callahan: ciúme, vingança, crime e castigo, relações desfeitas, morte, e alienação.
Juntamente com um conjunto de discos que deverão surgir por aqui nos próximos tempos, Knock Knock teve um lugar de destaque na banda sonora da minha primeira experiência de vida na grande cidade.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Novo Testamento





















Ainda no domínio das leituras, chegam boas novas neste início de ano: Simon Reynolds, jornalista inglês que fez nome no extinto Melody Maker, e actual colaborador do New York Times, da Wire, e da Uncut, volta ao local do crime, quatro anos depois da "bíblia" Rip It Up And Start Again. O novo tomo, que deve ser visto como um complemento daquele, é um conjunto de apreciações do autor e entrevistas com alguns dos principais protagonistas do cenário post-punk: David Byrne, Edwyn Collins, Ari Up, James Chance, Phil Oakey, Jah Wobble, entre outros. Totally Wired chega às lojas britânicas a 5 de Fevereiro próximo.

O pacote peeliano

















JOHN PEEL Margrave Of The Marshes - His Autobiography [Corgi Books, 2006]
VÁRIOS ARTISTAS John Peel: Right Time, Wrong Speed 1977-1987 [WMTV, 2006]

Possivelmente refugo natalício, por entre os últimos gadgets tecnológicos, e pela módica quantia de € 12,95, encontra-se disponível numa cadeia de lojas com origem em terras gaulesas o pacote que acima se ilustra.
Apesar de ainda não ter ultrapassado a centena de páginas de leitura, diria que o livro por si só justifica o investimento. Inacabado aquando da morte do nosso radialista preferido de todos os tempos, em Outubro de 2004, Margrave... foi concluído por quem melhor o conhecia: a esposa Sheila Ravenscroft. Na parte já "devorada", pontuda pelo humor seco que era marca de água de John Peel, relatam-se as desventuras de um jovem de meados do século XX enquanto "vítima" do sistema de ensino britânico.
Já a compilação em formato de CD duplo, é apenas uma das muitas que se seguiram ao desaparecimento de John Peel. Vale sobretudo como documento, pois os 38 temas alinhados (Joy Division, The Cure, The Wedding Present, Laurie Anderson, The Jesus and Mary Chain, Scritti Politti, The Jam, The Fall, Associates, Half Man Half Biscuit, The Smiths, The Wild Swans, Gang of Four, The Slits, etc.) não acrescentam muitas novidades à minha "colecção" de discos. Esta é uma das poucas:


Buzzcocks "What Do I Get?" [United Artists, 1978]

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

2 meses, 10 discos


À parte as surpresas que naturalmente surgirão, uma dezena de discos que nos/vos poderão manter entretidos nos primeiros meses do ano. Indicam-se igualmente os links onde podem ser escutadas algumas amostras. No final, fica um videozinho do mais desejado do rol.












ANIMAL COLLECTIVE Merriweather Post Pavillion [Domino, 12 Jan.]
http://www.myspace.com/animalcollectivetheband

IT HUGS BACK Inside Your Guitar [4AD, 19 Jan.]
http://www.myspace.com/ithugsback

A.C. NEWMAN Get Guilty [Matador, 20 Jan.]
http://www.myspace.com/acnewman

PSYCHIC ILLS Mirror Eye [The Social Registry, 20 Jan.]
http://www.myspace.com/psychicills

FRANZ FERDINAND Tonight: Franz Ferdinand [Domino, 26 Jan.]
http://www.myspace.com/franzferdinand

MAGNETIC MORNING A.M. [Friend or Faux, 27 Jan.]
http://www.myspace.com/magneticmorning

A CAMP Colonia [Reveal/PIAS, 02 Fev.]
http://www.myspace.com/acamptheband

THE PAINS OF BEING PURE AT HEART The Pains Of Being Pure At Heart [Slumberland, 03 Fev.]
http://www.myspace.com/thepainsofbeingpureatheart

HOWLING BELLS Radio Wars [Independiente, 09 Fev.]
http://www.myspace.com/howlingbells


ASOBI SEKSU Hush [Polyvinyl, 17 Fev.]
http://www.myspace.com/asobiseksu


The Pains of Being Pure At Heart "Everything With You"

R.I.P.

RON ASHETON
(1948-2009)

Anteontem, foi encontrado sem vida, em sua casa, Ron Asheton, guitarrista (e baixista) dos The Stooges, o incendiário colectivo de Detroit liderado por Iggy Pop, responsável, na transição dos sixties para os seventies, por lançar as primeiras sementes daquilo que ficou conhecido por punk. Há informações não confirmadas de que Asheton poderia já estar morto há vários dias, vítima de ataque cardíaco. O rock'n'roll fica mais pobre de cada vez que desparece um dos seus embaixadores.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Reedições em loop





















Há demasiado tempo indisponíveis no mercado, foram finalmente reeditados, por iniciativa da Reactor, os dois primeiros álbuns dos Loop: Heaven's End (1987) e Fade Out (1988). Em ambos os casos, ao alinhamento original foi adicionado um CD de faixas bónus, na sua maioria remisturas. Fora deste programa de reedições ficou, para já, A Gilded Eternity (1990), terceiro e último longa-duração do projecto londrino liderado por Robert Hampson.
Praticantes de um drone rock psicadélico, com nítidas influências post-punk, kraut e No Wave, os Loop conheceram, na recta final da década de 1980, considerável aclamação no meio indie britânico, com várias passagens pelo programa do histórico John Peel na BBC. Algumas afinidades com os contemporâneos Spacemen 3 valeram-lhes, por parte destes, inflamadas acusações de copismo. Com diversas mexidas na formação no período da sua curta carreira, cessaram funções em 1991, com o quarteto de então a dividir-se em dois projectos distintos: Main e The Hair and Skin Trading Company. Destes últimos, prometo voltar a falar num futuro próximo.

http://www.myspace.com/loopuk

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

1984: They were watching us

















Há 25 anos, lembro-me vagamente, nas edições de início de ano, eram vários os jornais portugueses que traziam à capa Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, a obra maior de George Orwell. A ideia era estabelecer paralelismos entre o mundo de então e a distopia imaginada pelo romancista britânico enquanto a Europa sarava as feridas da II Guerra. Apesar da vigência da Guerra Fria e do apogeu do reaganismo, em 1984, o mundo era, felizmente, bem menos cinzento do que nas profecias de Orwell. No universo da música popular, por exemplo, a febre criativa detonada pelo furacão punk conhecia um estádio de elevado desenvolvimento, dando origem a novas linguagens pop que deixariam marca nas décadas seguintes. Na altura, um puto a par de pouco mais do que o lixo que povoava os tops de vendas, desconhecia muitas destas movimentações. Porém, movido por uma imensa curiosidade, descobriria gradualmente muitas das obras-primas desse ano. Entre confirmações e estreias auspiciosas, muitas delas tornadas clássicos, vinte exemplares da excelsa colheita de 1984:

- COCTEAU TWINS Treasure [4AD]
- DAVID SYLVIAN Brilliant Trees [Virgin]
- ECHO & THE BUNNYMEN Ocean Rain [Korova]
- FELT The Strange Idols Pattern And Other Short Stories [Cherry Red]
- THE GO-BETWEENS Spring Hill Fair [Beggars Banquet]
- HÜSKER DÜ Zen Arcade [SST]
- JULIAN COPE Fried [Mercury]
- LLOYD COLE & THE COMMOTIONS Rattlesnakes [Polydor]
- MINUTEMEN Double Nickels On The Dime [SST]
- THE PALE FOUNTAINS Pacific Street [Virgin]
- PREFAB SPROUT Swoon [Kitchenware]
- PRINCE & THE REVOLUTION Purple Rain [Warner Bros.]
- R.E.M. Reckoning [I.R.S.]
- THE REPLACEMENTS Let It Be [Twin/Tone]
- ROBYN HITHCOCK I Often Dream Of Trains [Midnight Music]
- THE SMITHS The Smiths [Rough Trade]
- THE SMITHS Hatful Of Hollow [Rough Trade]
- THE SOUND Shock Of Daylight EP [Statik]
- THIS MORTAL COIL It'll End In Tears [4AD]
- U2 The Unforgettable Fire [Island]

A título meramente ilustrativo, deixo-vos a estreia absoluta em televisão de uma banda do Sul dos Estados Unidos, mais propriamente da Geórgia. Na altura, o sucesso planetário era apenas uma miragem. Nas palavras do baixista, o tema em questão era, à data, "demasiado novo para ter um nome":


R.E.M. "So. Central Rain (I'm Sorry)"
[Live @ Late Night with David Letterman, 06/10/1983]

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

E vão dois...


Neste dia, há precisamente dois anos, nasceu o April Skies. Graças ao carinho e ao apoio dos ilustres visitantes (poucos mas bons), e quase seiscentos posts depois, o entusiasmo permanece inabalável. A todos, um sentido agradecimento. E contem comigo para, pelo menos, mais dois anos. Quanto mais não seja, porque ainda há muitas ideias por concretizar.
Por tudo isto, apesar do clima de fim de festa generalizado, por cá continua a haver motivos para celebração...


Celebration "Evergreen" [4AD, 2007]

Agenda de Janeiro

Além do já noticiado concerto dos The Fall na Invicta, há mais dois acontecimentos imperdíveis no primeiro mês do novo ano. 2009 promete...















Quem? DAMON & NAOMI
Quando? 16 de Janeiro
Onde? Galeria Zé dos Bois, Lisboa
Quanto? € 8,00
MySpace
















Quem? EVANGELISTA
Quando? 30 de Janeiro
Onde? Galeria Zé dos Bois, Lisboa
Quanto? € 8,00
MySpace

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Mais desejos de Ano Novo

Que 2009 traga um novo 12 de Julho, ou coisa do género...


Dead Kennedys "Saturday Night Holocaust" [Live @ Houston, Texas - 1984]

"I drive down to the disco
Pompadour and pink lamme
I bow and blow the doorman
He parts the chain, says join the game

A quick line in the girls room
To the bar for the electrodes
A coin into the right slits
Tape my temple watch me go

Now I want your perfect Barbie-doll lips
And I want your perfect Barbie-doll eyes
Slip my fingers down your Barbie-doll dress
Up and down your spandex ass"