"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Going blank again #39















BRIGHT CHANNEL

Origem: Denver, Colorado (US)
Período de actividade: 2002-2007
Influências: Ride, Swervedriver, Echo & The Bunnymen, The Cure
A ouvir: Bright Channel (Flight Approved, 2004)

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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Singles Bar #25

















TALULAH GOSH
Talulah Gosh [53rd & 3rd, 1987]

Every day she wakes up
Her life will be a movie
All the things she does, written in her diary
But when the day is done, she cannot tell the truth

Pretend her life's exciting
Pretend she'll never lose

Talulah Gosh was a film star for a day
Talulah Gosh was a top celebrity
You can lie to everyone
But please, please don't lie to me

Now she is a popstar
With her own TV show
Tells them all her stories
And hopes they'll never know

Do gosto pelos girl groups de sessentas, alguma northern soul, o punk bublegum dos Ramones, e as bandas post-punk escocesas da editora Postcard, a Grã-Bretanha de meados da década de 1980 via nascer o género que ficou conhecido como twee pop, imortalizado pela célebre cassete C86, suplemento áudio do primeiro número do semanário NME do ano de 1986. Nos meses que se seguiram, multiplicaram-se a um ritmo alucinante os projectos protagonizados por gente jovem, sensível e letrada, seguidora de bandas como Primal Scream, The Pastels, ou Shop Assistants.
Coube aos Talulah Gosh, provavelmente a banda mais paradigmática da nova ordem pop, realizar o sonho de assinar pela editora de Stephen Pastel, uma espécie de guru da comunidade twee, pela qual editariam um punhado de singles antes de implosão em 1988. "Talulah Gosh", o tema, tem todos os ingredientes, talvez no seu estado de maior refinamento, que fizeram a fama da banda liderada por Amelia Fletcher: guitarras chocalhadas, mas harmoniosas, vozes cândidas, e uma ingenuidade desarmante. Tanto o tema como o nome da banda foram inspirados por uma entrevista de Clare Grogan, ocasionalmente actriz e vocalista dos Altered Images, influência mainstream confessa do quinteto de Oxford.
Na década seguinte, a ferida aberta deixada pela morte precoce dos Talulah Gosh seria sarada por duas transfigurações: primeiro os Heavenly, depois os Marine Research. Isto, para além das aparições de Fletcher como convidada dos Pooh Sticks, The Wedding Present e Hefner. No nosso tempo, uma boa fatia da pop produzida na Suécia faz questão de manter bem vivo o espírito da coisa.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

20 anos de motins adolescentes


















SONIC YOUTH
Daydream Nation [Enigma/Blast First, 1988]

Cumprem-se neste mês os vinte anos da edição original de Daydream Nation, o quinto álbum de estúdio dos Sonic Youth (SY), marca indelével em toda a produção dita alternativa subsequente, tanto em solo norte-americano, como além-fronteiras.
Último suspiro da No Wave nova-iorquina, os SY souberam, nos diversos registos editados durante a década de 1980, gerir uma aproximação gradual ao centro, sem nunca descurar o público que se movia nas franjas da música popular. Resultante desse work in progress, e com o caminho desbravado por bandas como Dinosaur Jr. e Hüsker Dü, Daydream Nation é a afirmação definitiva da marca-registada SY, uma amálgama dinâmica de diferentes linguagens e sensibilidades: melodias cativantes de indie pop ("Teen Age Riot", "Candle"), fúria punk-noise ("Silver Rock"), ou experimentalismo puro ("Providence").
Ao longo de 70 minutos - duração pouco usual em discos do "género" -, por entre citações literárias que vão dos omnipresentes poetas beat a autores sci-fi como William Gibson, o quarteto insinua o dealbar de uma nova geração, uma nova América Sónica. Contrariando os mais cépticos, três anos volvidos, o eclodir do teen spirit nas ondas da rádio confirmava a profecia...

"Teen Age Riot"

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ao vivo #27















The Lemonheads @ Santiago Alquimista, 24/10/2008

Quando sabemos de antemão qual vai ser o alinhamento de um concerto que aguardamos com expectativas em alta, é natural que se perca algo do factor surpresa. Nada que um Evan Dando, agora à frente da mais recente encarnação dos seus Lemonheads, visivelmente inebriado e indisciplinado não resolva. A dada altura, foi o próprio a admitir, no português possível, que 'tava maluco.
Como já terá dado para perceber, face às condições oferecidas, o concerto não foi um primor técnico. Ao ponto de durante a interpretação de "Different Drum" (um das Canções da vida deste escriba, para que conste) Dando ter passado mais tempo a fumar do que a cantar, falta que o baixista tentou suprir sem grande sucesso. Mas que se lixe! Quem é que quer saber de técnica quando estamos a escassos dois metros de um dos nossos "ídolos", em óptima companhia, e a ouvir uma boa vintena de canções dos melhores anos da nossa juventude?

Ao vivo #26















No Age + Lucky Dragons @ ZdB, 23/10/2008

Na passada quinta-feira, a sala da ZdB foi pequena demais para acolher os interessados em assistir ao concerto de uma das mais interessantes bandas do momento presente. Os propiciadores deste acontecimento raro por estas paragens. foram os californianos No Age que, depois de um início tímido, com que de reconhecimento, incendiaram a sala com seu rock desviante, herdeiro das velhas glórias do underground ianque, prenhe de distorção e energia juvenil. Igualmente enérgica foi a resposta do público, principalmente das faixas etárias mais baixas. Os escassos números de shoegazing sub-aquático, na linha de uns My Bloody Valentine do tempo do histórico Loveless, que noutro contexto seriam momentos de desafio, proporcionaram nesta ocasião alguns minutos de relaxamento no meio de tamanha agitação. O final, ao som "Everybody's Down", foi verdadeiramente apoteótico, com o guitarrista Randy Randall a voar sobre o público, e o vocalista/baterista Dean Allen Spunt na frente do palco, agarrado ao suporte do microfone em poses de rock star. Momentos para mais tarde recordar...

No final do concerto dos No Age, certamente que já poucos se lembrariam da banda da primeira parte, os também californianos Lucky Dragons, discípulos das electrónicas minimalistas em progressão e especialistas em sessões de tédio. Como já sabia ao que ia, durante as hostilidades (nunca o termo fez tanto sentido) optei por ficar sentado no chão, como que a guardar forças para o prato principal. Nestas circunstâncias, do palco avistei apenas as imagens pseudo-artísticas que iam sendo projectadas. Já depois do final da contenda, vislumbrei dois rapazolas, duas aves-raras na melhor tradição do bad hair-styling, que teriam, se assim o desejassem, lugar cativo na formação dos of Montreal.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Coast to coast

Da Califórnia ao Massachusetts, em 24 horas.

Hoje:

No Age "Eraser" [Sub Pop, 2008]

Amanhã:

The Lemonheads "If I Could Talk I'd Tell You" [Atlantic, 1996]

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Going blank again #38

Foto: Jeremy Liebman

PSYCHIC ILLS

Origem: Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2003-
Influências: My Bloody Valentine, Spacemen 3, The Velvet Underground, Suicide
A ouvir: Dins (The Social Registry, 2006)

My Space

NOTA: Mirror Eye, o novo álbum, chega em Dezembro.

10 anos é muito tempo #10


















SILVER JEWS
American Water [Drag City/Domino, 1998]

"In 1984 I was hospitalized for approaching perfection
Slowly screwing my way across Europe, they had to make a correction."
- in
"Random Rules"

Em 1998, American Water assinalou o regresso de Stephen Malkmus ao convívio com David Berman, com o qual tinha iniciado a aventura Silver Jews quase dez anos antes. Por ironia, este acabaria por ser o disco da afirmação dos Silver Jews como o catalisador da poesia oblíqua de Berman. Até então, eram entendidos como o projecto paralelo dos Pavement.
American Water é obra de difícil catalogação, capaz de conquistar tipos de público supostamente afastados: desde os devotos de Townes Van Zandt e Johnny Cash, aos consumidores de indie rock mais empedernidos. Em termos líricos, Berman optou desta feita por dar alguma trégua aos assuntos pessoais, preferindo discorrer como observador errático das maleitas da sociedade americana. As tiradas, muitas vezes ambíguas, são incisivas, quase cáusticas.
Provavelmente, a característica que mais seduz em American Water, e o torna uma obra-mestra intemporal, é a sua capacidade de se adaptar ao ouvinte nas mais diversas situações, horas do dia, ou estações do ano. Para isso, muito contribuirá o não rotundo às convenções estilísticas. Oiça-se em paralelo com Terror Twilight (1999), o menosprezado último suspiro dos citados Pavement.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Name checking songs

Induzido pela pequena preciosidade que se apresenta mais abaixo, ocorreu-me listar uma série de canções que citam artistas e/ou bandas pop/rock no título. Num breve exercício de memória, surgiram-me as vinte e três que se apresentam. Muitas por paródia, a maioria por reverência, serão certamente milhares. Conto, pois, com a colaboração dos estimados visitantes deste blogue para os devidos aditamentos. Estejam à vontade: a caixa de comentários é vossa.

  • ABC “When Smokey Sings” [1987]
  • Art Brut “These Animal Menswear” [2005]
  • Belle and Sebastian “Like Dylan In The Movies” [1996]
  • Billy Bragg “Levi Stubbs’ Tears” [1986]
  • Camera Obscura “Lloyd, I’m Ready To Be Heartbroken” [2006]
  • The Dandy Warhols “Cool As Kim Deal” [1997]
  • Hamell on Trial “John Lennon” [2001]
  • Help She Can’t Swim “What Would Morrissey Said?” [2004]
  • Islands “Don’t Call Me Whitney, Bobby” [2007]
  • The House of Love “Beatles And The Stones” [1990]
  • The Jesus and Mary Chain “Mo Tucker” [1998]
  • The Jesus and Mary Chain “Bo Diddley Is Jesus” [1987]
  • Let’s Wrestle “Song For Abba Tribute Record” [2007]
  • Let’s Wrestle “I Want To Be In Hüsker Dü” [2007]
  • Mogwai “Punk Rock / Puff Daddy / Antichrist” [1999]
  • Mogwai “I’m Jim Morrison, I’m Dead” [2008]
  • The Posies “Grant Hart” [1996]
  • The Replacements “Alex Chilton” [1987]
  • Scritti Politti “Wood Beez (Pray Like Aretha Franklin)” [1984]
  • Sleater-Kinney “I Wanna Be Your Joey Ramone” [1996]
  • Sonic Youth “Tunic (Song For Karen)” [1990]
  • Times New Viking “Times New Viking vs. Yo La Tengo” [2008]
  • The Wombats "Let's Dance To Joy Division" [2007]

Let's Wrestle "I Want To Be In Hüsker Dü" [Stolen]

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Novas dos Vikings

Mal refeitos que estamos desse portentoso pedaço de distorção que é Rip It Off, e os Times New Viking (TNV) voltam à carga. A nova investida do trio de Columbus, Ohio, surge sob a forma de um EP de cinco faixas intitulado Stay Awake, com saída para o mercado agendada para amanhã.
Para quem ainda não se tenha dado conta, relembro que os TNV são dos mais dignos representantes do novo ruído ianque, e uma das mais sérias apostas da Matador Records nos tempos mais recentes. Pela amostra disponibilizada há algumas semanas, julgo que continuam no trilho certo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza

Gang of Four "To Hell With Poverty" [Live @ Old Grey Whistle Test, BBC, 11/04/1981]

"In my arms we shall begin with none of the rocks well there's no charge
In this land right now some are insane a million charge
To hell with poverty we'll get drunk on cheap wine
To hell with poverty the check will arrive we'll turn the boast again
To hell with poverty the check will arrive we'll turn to boast again
In my arms we shall begin with none of the rocks and there's no charge
In this land right now some are insane a million charge
To hell with poverty we'll get drunk on cheap wine
To hell with poverty"

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Filhos de um Ford Mustang

Nascidos em 1990, na cidade inglesa de Oxford, os Swervedriver espalharam as suas melodias espiraladas por toda a década passada. Devido à data de nascimento, ao gosto pela distorção, e à ligação contratual à Creation Records, foram precipitadamente catalogados de shoegazers. No entanto, nas suas canções reveladoras de um invulgar fascínio por automóveis, denotavam claras afinidades com o espírito mais libertário do rock'n'roll, conforme professado por gente como The Stooges, MC5, Sonic Youth, Dinosaur Jr., ou Spacemen 3.
Este ano, quase uma década volvida desde a primeira morte, os Swervedriver voltaram ao activo para uma digressão por terras do Tio Sam, onde sempre tiveram maior acolhimento do que na pátria. Para assinalar este aplaudido regresso, a editora Hi-Speed Soul Records prepara, para inícios do ano que vem, um aliciante pacote de reedições que inclui os três discos gravados pelos Swervedriver para o selo de Alan McGee, remasterizados e expandidos. A saber: Raise(1991), Mezcal Head (1993), e Ejector Seat Reservation (1995).
Para recordar - ou descobrir - deixo-vos aquele que foi, à data, o promissor primeiro single. destes antepassados dos BRMC.

"Son Of Mustang Ford" [Creation, 1990]

Going blank again #37












MALORY

Origem: Dresden (DE)
Período de actividade: 1995-
Influências: Slowdive, Lush, Blonde Redhead, Cocteau Twins
A ouvir: Not Here, Not Now (Clairecords, 2006)

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terça-feira, 14 de outubro de 2008

Discos pe(r)didos #20


















THE TRIFFIDS
Born Sandy Devotinal [Mushroom, 1986]

De todos as notáveis bandas reveladas na Austrália de oitentas, os Triffids serão, provavelmente, a mais injustiçada pela memória colectiva. Formados em 1978, na cidade de Perth (a mais isolada metrópole do mundo, na parte ocidental da ilha-continente), desde logo se afirmaram pela verve de David McComb (1962-1999), compositor genial, vocalista e guitarrista, poeta maldito, e eterno romântico viciado em álcool e heroína. Se os primeiros registos serviram para marcar a diferença relativamente ao restante contingente post-punk, pelo reconhecido cunho literário das canções, Born Sandy Devotional foi a confirmação definitiva de uma banda de excepção, a obra-prima anunciada.
Segundo reza a lenda, na preparação deste álbum, os Triffids passaram um longo período de isolamento no deserto australiano. Já com as canções escritas, sob a influência daquela atmosfera, rumaram a Londres, onde, sob a supervisão de Gil Norton (que já trabalhara com os Echo & The Bunnymen e viria a ser o produtor quase exclusivo dos Pixies) gravariam os dez temas que compõem Sandy Devotional. Com a edição sucessivamente adiada, o disco chegaria às lojas na Primavera de 1986, para gáudio da generalidade da imprensa especializada. Hoje, passados mais de vinte anos da sua concepção, continua a fazer todo o sentido o fascínio gerado por esta obra assombrada, nostálgica, e até derrotista, mas, simultaneamente bela, celebratória, e grandiosa.
A entrada pela porta grande dá-se com "Seabirds", como quase todas as restantes, uma canção de perda, adornada por arranjos de cordas elegantes, em contraponto ao irromper constante da bateria galopante. "Estuary Bed" é sobre as memórias - emocionais e físicas - associadas aos locais onde se viveram momentos marcantes. A presença da pedal steel aflora o lado americano que, mais tarde, tomaria outras proporções na obra dos Triffids. Na sua aparente alegria, "Chicken Killer" esconde o testemunho tenebroso de alguém que precisa de apagar as memórias, nem que tenha de se tornar um homicida. Cantado pela teclista Jill Birt, em tom infantil, "Tarrilup Bridge" é uma nota de suicídio e, paralelamente, uma celebração da vida. "Lonely Stretch" é feito daquela tensão que tem norteado a carreira do compatriota Nick Cave. Já "Wide Open Road" será a melhor descrição de uma vida acossada pelo ciúme. "Life Of Crime", entoada em crooning, descreve o estado de loucura induzido por uma paixão não correspondida. No fundo, "Stolen Property" é o resumo perfeito de Sandy Devotional: uma ode à fidelidade. Em remate esperançado, "Tender Is The Night" é um dueto amoroso de Birt e McComb, uma espécie de hino de reconciliação.
Segundo palavras do próprio David McComb proferidas ao Melody Maker aquando da edição do disco, todos os temas têm um destinatário comum: a tal Sandy do título. Nome verdadeiro ou ficcionado, terá sido certamente alguém que lhe deixou marcas profundas.

"Wide Open Road"

Good cover versions #12

BRAKES
"Sometimes Always" (Rough Trade, 2005)
[Original: The Jesus and Mary Chain (1994)]

Os Brakes são uma espécie de super-grupo indie da cidade Brighton que integra, além do líder e ex-teclista dos British Sea Power, Eamon Hamilton, elementos das bandas The Electric Soft Parade e The Tenderfoot.
O primeiro disco do colectivo (Give Blood, de 2005) é um divertido conjunto de canções curtas, com um sentido de humor a roçar o sarcasmo, e no qual coabitam o punk, o country-rock, o punk-funk, e o indie-pop.
A cereja no topo do bolo é esta simpática versão do tema que assinalou a colaboração única de Hope Sandoval com a banda dos irmãos Reid.
Se no original "Sometimes Always" tem alguma da sensualidade dos duetos de Lee Hazlewood com Nancy Sinatra, na versão dos Brakes aspira apenas a ser um vitaminado número power-pop, com ligeiro travo punk. A fazer as vezes de Sandoval estão Becky e Julia Rose, duas da Pipettes. Na letra, as deixas da(s) voz(es) feminina(s) foram convenientemente alteradas para a primeira pessoa do plural. Desta feita, são duas as senhoras que imploram ao vocalista Eamon que as receba de novo nos seus braços...


segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Ipsis verbis

















É mais ou menos consensual que a pop vive um período de revisionismo, em que a originalidade escasseia. Ainda assim, são muitos os casos em que, a partir da fusão de influências dispersas, nasce algo de novo. E depois, é claro, há os casos de mera clonagem.
Neste segundo grupo caem, inevitavelmente, as Ipso Facto, a nova contratação da Mute Records. Em entrevistas, as miúdas gostam de citar Captain Beefheart, The Stranglers, ou Sonic Youth. No entanto, e tal como a foto sugere - atentem bem na segunda a contar da esquerda -, ouvi-las significa viajar no tempo, até aos dias em que Siouxsie Sioux ostentava o título de rainha das trevas.
As canções, diga-se em abono da verdade, são suficientemente apelativas. Mas a questão que se impõe é a seguinte: será que o mundo precisava de uma falsificação tão perfeita?...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

California über alles

Há uma série de miúdos que, a partir das garagens da Califórnia, parecem apostados em revolver o cadáver do rock'n'roll a partir das entranhas. Foram mantidos na obscuridade durante algum tempo, mas agora tomaram de assalto as ruas e os lares dos melómanos mais esclarecidos.
A dupla conhecida como Sic Alps já tem alguns anos de estrada e acaba de editar o segundo longa-duração, o qual, beneficiando da conjuntura, tem merecido um inesperado destaque nos media mais improváveis. Descendente directo das linhagens punk-DIY e lo-fi, U.S. EZ é um conjunto de catorze temas curtos, em que uma pop transviada convive saudavelmente com algum psicadelismo e uma boa dose de non sense. Prevejo que seja um regalo para os saudosistas dos Swell Maps, dos Pavement, ou dos Guided by Voices.
O melhor de tudo isto é que, no próximo mês, os Sic Alps estarão de regresso ao nosso país para três datas: as duas primeiras são em Lisboa e Porto (7 e 8, respectivamente), numa triple bill com os mui recomendáveis Six Organs of Admittance (de Ben Chasny) e Wooden Shjips; no dia 9, rumam sozinhos à mais bela e setentrional capital de distrito de Portugal para um concerto com a chancela do meu caro camarada Nuno.

Going blank again #36
















Origem: Buffalo, Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2004-
Influências: Ride, Chapterhouse, Slowdive, The Cure, Cocteau Twins
A ouvir: Hide Your Eyes (White Rabbit, 2005)

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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Singles Bar #24







UNKLE ft. IAN BROWN
Be There [Mo' Wax, 1999]


You don't wanna go there
Let me lead you by the hand
You don't wanna be there
Over the sea and down to land

As I look into your eyes
I pay no mind
I found the way
To get inside you
I'd give you peace of mind

Am I see you falling?
Am I see you falling?
I might see you falling beautiful
The same

Em 1998, a euforia inicial criada em torno da música produzida na cidade de Bristol começava a esvaziar-se. Psyence Fiction, o primeiro álbum dos UNKLE, surgia como uma espécie de balão de oxigénio para o género que convencionou designar-se por trip hop. Nesta altura, os cabecilhas do projecto eram James Lavelle (patrão da Mo' Wax) e Josh Davis (mais conhecido por DJ Shadow), dois figurões nas tendências da música electrónica de então. Não menos ilustres eram os convidados que davam voz às peças de corte-e-colagem da dupla: Thom Yorke, Richard Ashcroft, Mike D dos Beastie Boys, Damon Gough (o eminente Badly Drawn Boy), entre outros. De então para cá, já sem a colaboração de DJ Shadow, Lavelle tem retomado o projecto com alguma frequência, mas sempre sem o brilho da estreia, um caso sério de sucesso crítico e comercial.
Não obstante a relevância de Psyence..., os UNKLE merecem um lugar na posteridade, sobretudo, por uma canção, que por acaso nem consta do alinhamento do álbum. "Be There" é o retomar de "Unreal", um faixa instrumental incluída em Psyence..., a que Ian Brown - o ex-vocalista dos Stone Roses - adicionou letra e voz. Esta colaboração acaba por resultar como o casamento perfeito: no meio das trevas sugeridas pela parte instrumental - elaborada a partir de um engenhoso trabalho de sampling -, a voz e as palavras de Brown, naquele estilo inconfundível, surgem como as de um profeta salvador. No fundo, "Be There" encerra em si os temores e as esperanças da espécie humana num período não muito distante da História - o abeirar do ano 2000.


quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Macrocastle

Algures no decorrer do ano passado, após o abandono do guitarrista Colin Mee, circularam boatos de que os Deerhunter tinham acabado. Logo a seguir, em jeito de desmentido, foi dito que a banda de Atlanta iria entrar num hiato indefinido. Felizmente, tudo não passou de uma série de rumores infundados e, menos de um ano depois, a banda de Atlanta edita o terceiro longa-duração. O formato físico de Microcastle chega às lojas apenas em finais deste mês. No entanto, graças à edição digital do disco em inícios de Agosto, foi já possível a este que vos escreve ouvi-lo vezes sem conta.
Embora não concorde, até compreendo aqueles que acusaram os Deerhunter de recorrer ao abstraccionismo como disfarce de alguma incapacidade para escrever canções dignas desse nome. Já não posso compreender gente que os rejeitou apenas por serem demasiado falados na imprensa especializada - o chamado hype (para mim um conceito tão ininteligível como o da mística benfiquista). Aos primeiros, asseguro que Microcastle é capaz de satisfazer o consumidor de "canções" mais exigente, estando por isso a anos-luz do anterior Cryptograms (2007). Se este argumento não bastar para vos convencer a ouvi-lo, acrescento que é apenas um sério candidato a disco do ano. Já ao grupo dos amantes da exclusividade, sugiro que se dediquem ao que de melhor se faz na cena rock do Uzbequistão...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Uma imensa massa de água

O primeiro contacto que tive com os californianos Bodies of Water (BoW) foi através da imagem ao lado, colocada no sítio da editora Secretly Canadian com o intuito de promover A Certain Feeling, o seu segundo e mais recente álbum.
Depois de procurar mais informação, fiquei a saber que o grupo assenta no núcleo duro constituído pelo casal David e Meredith Metcalf, à volta do qual se reúnem diversos colaboradores, entre eles Adam Siegel, que já passou pelos Eels.
Em termos estritamente musicais, e ao contrário do que a imagem possa sugerir, descobri que os BoW não são um bando de recicladores da música dos Talking Heads de há três décadas. São antes senhores de uma sonoridade que poderia ter resultado de um encontro imaginado dos Arcade Fire com os The Mamas & The Papas, sob a supervisão de Daniel Smith, líder dos Danielson. No final, o resultado é bem mais valioso do que a soma das partes. O melhor é ouvir.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Em escuta #33
















THE WALKMEN
You & Me [Gigantic, 2007]

Gostando-se ou não, ninguém pode retirar aos The Walkmen o mérito de soarem como nenhuma outra banda no panorama actual. Tivesse o quinteto nova-iorquino enveredado por qualquer uma das "tendências" recentes, e poderia já ter conquistado um maior número de adeptos. Isso significaria, no entanto, a perda da identidade de uma das mais carismáticas e honestas bandas nascidas nesta década, que a cada dois anos já habituou os escassos - mas devotos - seguidores a um novo e excelso álbum.
You & Me é já o quarto longa-duração, e embora não seja uma descaracterização daquilo que lhes conhecíamos, mostra uns The Walkmen apostados em romper com o passado recente, marcado pelo poder de explosão de Bows + Arrows (2004) e pelas derivações dylanescas de A Hundred Miles Off (2006). Por conseguinte, este novo disco, poderá ser entendido como um retomar da contenção formal do longínquo Everyone Who Pretended to Like Me Is Gone (2002), executado por uma banda cada vez mais experiente e mais confiante nas suas potencilaidades. Significa pois, que durante a audição de You & Me é muitas vezes sugerida a imagem de um fim de noite passado no bar de um hotel para losers. As melodias são sustentadas pelo órgão omnipresente e pela bateria, contida mas certeira, muitas vezes tocada com vassouras. Neste clima de paz aparente, as investidas das guitarras cortantes e da voz expressiva de Hamilton Leithauser conferem um dramatismo quase violento.
Em termos líricos, o disco tem como linha condutora a temática das viagens, evidenciada desde logo no título de muitas das canções ("Dónde Está La Playa", "Seven Years Of Holidays", "Postcards From Tiny Islands", "Canadian Girl", "New Country"), entrevendo-se na personagem encarnada pelo vocalista uma espécie de turista emocional, alguém que está em constante fuga, do mundo em redor e de si próprio.
Como já terá dado para perceber, You & Me não é um disco de fácil digestão. Contudo, com alguma perserverança, pode até criar dependência em ouvidos menos treinados. Sem querer particularizar dentro de uma obra que vale pelo seu todo, não poderia deixar de destacar "The Blue Route", "If Only It Were True", e "On The Water" como algumas das melhores canções do corrente ano. Sobretudo esta última:


sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Going blank again #35














AIR FORMATION

Origem: Brighton (UK)
Período de actividade: 1998-
Influências: Slowdive, Flying Saucer Attack, Spacemen 3, Spiritualized
A ouvir: Daylight Storms (Club AC30, 2007)

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Duetos #6

Ainda sob a influência do post de ontem, regressa esta rubrica há demasiado tempo arredada deste blogue.
O tema escolhido foi escrito por William Reid, mas cantado pelo seu irmão Jim, e por aquela que ficou conhecida como cantora dos inolvidáveis Mazzy Star. Rezam as más linguas que, à data, a moça terá conquistado o coração do autor da letra e música, o que, bem vistas as coisas, é compreensível.
Para breve, fica prometida uma simpática versão deste mesmo tema na rubrica correspondente. Até lá, deixam-se embarcar neste pequeno road movie em terras da América do Norte:

The Jesus and Mary Chain & Hope Sandoval "Sometimes Always" [blanco y negro, 1994]

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

4 horas de pensamento negativo*

Fazendo uso da sua principal faculdade, que é reeditar e/ou compilar, a editora Rhino (do grupo Warner) acaba de colocar no mercado The Power Of Negative Thinking: B-Sides & Rarities, box set de quatro discos que reúne muitos dos temas gravados pelos Jesus and Mary Chain que não se encontram nos álbuns de originais.
É certo que muitos destes temas estão reunidos em Barbed Wire Kisses (1988) e The Sound Of Speed (1993), duas compilações simples com o mesmo tipo de material. Mas não é menos certo que o material restante fará as delícias dos seguidores mais completistas da obra dos manos Reid, constituindo até um interessante filme das várias etapas da vida do grupo, já que os temas estão ordenados cronologicamente.
Ao todo são 81(!) temas, por entre outtakes, demos, versões alternativas de canções dos álbuns, e um número considerável de versões de originais de gente tão variada como Can, Beach Boys, Syd Barrett, Subway Sect, Prince, Bo Diddley, The Temptations, Leonard Cohen, 13th Floor Elevators, ou Howlin' Wolf. Há uma delas que não resisto a partilhar com o meu vasto auditório:



* Este post só foi possível - pelo menos com esta actualidade - graças ao valioso contributo do camarada Olavo, a quem gostaria de endereçar um sincero e especial agradecimento.