"Please don't think of us as an 'indie band' as it was never meant to be a genre, and anyway we are far too outward looking for that sad tag." - Stephen Pastel

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Gritos primários - Pt. 3













... e ao segundo álbum - homónimo - os Primal Scream metiam os Byrds na gaveta e assumiam o rock'n'roll por via da audição massiva dos MC5 e dos Stones. A aventura haveria de conhecer futuros desenvolvimentos de forma mais ou menos cíclica. Do disco, além desta tema, pouco mais há que mereça menção.
Nada faria prever que, alguns meses volvidos deste segundo fracasso consecutivo, os Primal Scream surgiriam renascidos e capazes de escrever uma das mais belas páginas da História da música popular.

"Ivy Ivy Ivy" [Creation, 1989]

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Gritos primários - Pt. 2

A segunda parte desta pequena "epopeia" teria obrigatoriamente de passar por "Gentle Tuesday", primeiro momento de alguma visibilidade para os Primal Scream e single de apresentação para Sonic Flower Groove (SFG), o primeiro longa-duração.
Neste tema e em todo o disco, a banda aperfeiçoa-se na técnica de reciclagem de memórias byrdsianas, não só na música, como também na roupa e nos penteados.
Pressentindo o potencial de penetração no mercado de SFG, Alan McGee, o patrão da Creation, celebrou uma joint venture com a multinacional WEA, de forma a garantir uma distribuição decente a este e outros discos. Estava enganado, e as expectativas saíram goradas. Ainda assim, SFG é um disco que ainda hoje se ouve com algum agrado. O culto a que foi votado por estas bandas à data da sua edição valeria aos Primal Scream a primeira passagem por palcos portugueses.

"Gentle Tuesday" [Elevation, 1987]

terça-feira, 29 de julho de 2008

Gritos primários - Pt. 1

Em antecipação ao "acontecimento" da próxima sexta-feira, proponho uma visita à infância dos Primal Scream, em três actos anteriores à revolução operada em Screamadelica e a todo o mediatismo que daí adveio.

"Velocity Girl" (1986) conheceu primeira edição na propalada compilação NME C86, cartão de visita para um rol de bandas que marcariam um período de ouro da pop independente. Poucos meses depois, na sequência da recepção calorosa que o tema recebeu, seria incluído como lado B de Crystal Crescent, segundo single da carreira dos Primal Scream na emergente Creation Records.
A anos luz daquilo que é hoje, "Velocity Girl" apresenta um jovem Bobby Gillespie (acabadinho de gravar o clássico Psychocandy como baterista dos The Jesus and Mary Chain) já a piscar o olho às tendências da segunda metade dos sixties, num exercício twee pop apostado em seguir as pisadas dos Pastels, espécie de gurus do género. Pura inocência açucarada em menos de 90 segundos...



Em escuta #32


















WOLF PARADE
At Mount Zoomer
[Sub Pop, 2008]

Poderá um disco relativamente conseguido ser sentido como uma desilusão? Quando esse disco é o sucessor de Apologies To The Queen Mary (2005), o fulgurante álbum de estreia dos Wolf Parade, isso é algo que pode muito bem acontecer.
Tenho dedicado a At Mount Zoomer inúmeras audições, não fossem as altas expectativas dar origem a um juízo precipitado mas, concluído o período de apreciação, o raio do disco não deixa mais do que uma sensação de satisfação moderada.
O início até é promissor, com "Soldier's Grin" a remeter-nos para o urgência galopante de alguns temas de Apologies.... Segue-se o belíssimo "Call It Ritual"(aqui avançado há mais de três meses), tema curto, com uma voz planante e emotiva, e umas pianadas a fazer lembrar os Spoon. A partir daqui, os focos de interesse acrescido escasseiam. A excepção é "California Dreamer", peça central do disco e inebriante nos altos e baixos de intensidade. Tudo o resto deixa a desconfiança de que as duas mentes criativas do colectivo canadiano (Spencer Krug e Dan Boeckner) terão dedicado demasiado tempo aos projectos paralelos, descurando a unidade e a coesão que os caracterizavam enquanto Wolf Parade. Alguns temas ("Fine Young Cannibals", "Kissing The Beehive") têm a agravante de se estender para além do limite recomendado, perdidos em sinfonismos bacocos.
Por enquanto, os Wolf Parade poupam-nos à voz-de-cana-rachada à la Supertramp mas, no futuro, precavendo amargos de boca, convém estarmos preparados para qualquer eventualidade.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Singles Bar #22


















THE WEDDING PRESENT
My Favourite Dress
[Reception, 1987]

"The tender caresses that bring out the man
I can't still be drunk at five, oh I guess I surely can
Slowly your beauty is eaten away
By the scent of someone else in the blanket where we lay (ohh)

There's always something left behind
There's always something left behind
Maybe next time

Uneaten meals
A lonely star
A welcome ride in a neighbour's car
A long walk home
The pouring rain
I fell asleep when you never came
Some rare delight in Manchester town
It took six hours before you let me down
To see it all in a drunken kiss
A stranger's hand on my favourite dress (ohh)

That was my favourite dress you know
That was my favourite dress (ohh)"

Revelados na mítica compilação C86 do semanário New Musical Express, os The Wedding Present (TWP) foram desde logo uma banda acarinhada pelo influente John Peel. Num período em que os The Smiths caminhavam para um fim dramático, constituíam a alternativa a toda uma geração devota das canções da dupla Morrissey & Marr. Mas, se o quarteto de Manchester fazia gala de uma certa fragilidade, já os TWP eram adeptos do rock sujo e musculado, inspirado tanto no lado mais rugoso do post-punk britânico (The Fall, Gang of Four, Josef K), como pelo que de melhor se fazia em matéria indie rock do outro lado do Atlântico. Em David Gedge, vocalista, guitarrista, letrista e principal compositor, revelava-se um exímio comentador das agruras das relações afectivas, com a crueza típica da classe operária expressa na forte pronúncia nortenha (os TWP vinham de Leeds), mas com tiradas dignas de um poeta.
My Favourite Dress foi o single de antecipação a George Best, o longa-duração de estreia, e poderá ser visto como o paradigma do som TWP: melodias circulares de guitarras ruidosas e a confissão de um homem corroído pelo ciúme e pelo vazio da perda. Com alguma raiva e muito ressentimento.



domingo, 27 de julho de 2008

Mil sons valem mais do que uma imagem


















THEE OH SEES
The Master's Bedroom Is Worth Spending A Night In
[Tomlab/Castle Face, 2008]

Por detrás de uma imagem de gosto duvidoso (um parente afastado dos Caretos de Podence?!) esconde-se um dos mais deliciosos conjuntos de canções dos últimos meses. The Master's Bedroom... assinala a estreia sob nova designação do projecto "mutante" de John Dwyer, figura já com vasto currículo no underground californiano. Os 15 temas, divertidos e perversos, reflectem um melting pot de uma miríade de sonoridades, do passado e do presente: psychobilly, surf music, noise rock, garage, lo-fi, jangle pop, e até psicadelismo west coast! A produção à maneira antiga, com muito eco e reverberação, confere um charme vintage à coisa. A espaços, podem fazer lembrar o lado rudimentar dos Pixies dos primórdios, ou até mesmo uns Blood on the Wall com défice de adrenalina, sem que isso belisque de forma alguma a originalidade do projecto.
Mais um para engrossar a lista dos recomendáveis de 2008...

Thee Oh Sees no MySpace

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Meio século sónico



















Thurston Joseph Moore
completa hoje 50 anos de vida. Na impossibilidade de o fazer pessoalmente, a gerência do tasco envia daqui um grande abraço ao aniversariante.

Going blank again #27

THE MEETING PLACES

Origem: Los Angeles, Califórnia (US)
Período de actividade: 2001-
Influências: Slowdive, My Bloody Valentine, Ride, Moose, Pale Saints
A ouvir: Numbered Days (Words-On-Music, 2006)

MySpace

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O vale era místico
















De tão prolífero que tem sido sob a capa Bright Eyes, Conor Oberst conquistou já o direito a ter um ou outro gesto de vaidade. Assim, não espanta que o último rebento do wunderkind leve o seu próprio nome.
Conor Oberst (CO) foi gravado durante uma estadia na cidade mexicana de Tepoztlán, conhecida como destino de inúmeros UFO freaks, acompanhado por uma série de músicos amigos - entre eles gente dos Rilo Kiley e dos próprios Bright Eyes - reunidos sob o apropriado epíteto de The Mystic Valley Band.
À semelhança do anterior Cassadaga (2007), CO é uma espécie de disco de viagem, resultante de mais um retiro imposto pelo próprio com o intuito de contrariar a espiral de auto-destruição que caracteriza muitos talentos precoces. Uma vez mais, os sons acústicos dominam e a voz, embora mais contida, preserva toda a sua expressividade. Entre as influências assumidas está não só omnipresente Dylan, mas também a escassa obra a solo de Evan Dando.
O disco chega à lojas apenas em inícios de Agosto mas, até lá, pode ser escutado aqui.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Duetos #5

Ainda sob o efeito das "comemorações" de há dois dias, Mark Linkous reincide no April Skies. Desta vez vem acompanhado por uma senhora com fama de solícita...

Sparklehorse & Polly Jean Harvey "Piano Fire" [Capitol, 2001]

terça-feira, 22 de julho de 2008

Em escuta #31


















PRIMAL SCREAM
Beautiful Future
[B-Unique, 2008]

Numa carreira que leva já mais de vinte anos, são mais as vezes que os Primal Scream mudaram de rumo estético do que aquelas que Liz Taylor mudou de marido. Beautiful Future, a nova aventura de Bobby Gillespie e seus pares, resulta em certa medida como uma compêndio dos géneros anteriormente abordados. Nem sempre com sucesso, diga-se. Mas, a quem conta já com dois álbuns históricos tudo se perdoa. Dois anos após o sofrível Riot City Blues, espécie de remake pálido do incompreendido Give Out But Don't Give Up (1994), eis que, não obstante alguns desvios menores, regressam ao trilho certo.
O pontapé de saída deste álbum, que é já o nono de uma carreira errante, dá-se com o tema-título, pop optimista, cheio de boogie, e uma espécie de recado aos que já decretavam a morte da banda. Segue-se-lhe, em registo Primal Scream vintage, "Can't Go Back", tema altamente apelativo que combina com sucesso a pulsão rock e os ritmos dançantes, justificando a escolha para single de apresentação. "Uptown" e "The Glory Of Love" introduzem os ritmos funk. O primeiro leva o nome de um tema de Prince e é nitidamente devedor do "pequeno génio"de Minneapolis. O segundo, com laivos kraut, remete-nos para Evil Heat (2002). Na sujidade negra de "Suicide Bomb", igualmente de filiação teutónica, encontramos um dos pontos altos de Beautiful Future. "Zombie Man" é o inevitável e dispensável número Stones. Depois, é suster a respiração para o belíssimo "Beautiful Summer", pop imaculada com malha de guitarra irresistível.
Para a parte final do disco ficam guardadas as colaborações dos convidados mediáticos: Lovefoxxx, Linda Thompson e Josh Homme. Com a frontwoman das CSS, Gillespie tenta fazer de "I Love to Hurt (You Love to Be Hurt)" - sem sucesso - a reedição do dueto com Kate Moss na versão do clássico "Some Velvet Morning". Já a lenda folk, numa colaboração algo inesperada, contribui para que "Over And Over" seja o grande momento de todo álbum. E o mais bonito, também. Por último, resta dizer que os solos de Homme fazem tanta falta a "Necro Hex Blues" como os últimos discos dos Queens of the Stone Age fazem ao mundo. Muito pouca, por sinal.
Amputado de alguns momentos de menor inspiração, Beautiful Future teria condições para entrar para o lote dos obrigatórios dos Primal Scream. Assim, restam a meia dúzia de temas irrepreensíveis que permitem aspirar a um futuro bonito, e uma forte convicção de que devem resultar muito bem em palco. Para conferir dentro de poucos dias...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

10 anos é muito tempo #7

















SPARKLEHORSE
Good Morning Spider
[Parlophone/Capitol, 1998]

As atmosferas criadas neste segundo álbum dos Sparklehorse estão intimamente ligadas à experiência vivida pelo seu mentor antes da sua gravação: em 1996, durante uma tournée de suporte aos Radiohead, Mark Linkous foi vítima de uma overdose de substâncias tóxicas, um cocktail de anti-depressivos, álcool e heroína. Este episódio, quase fatal, provocou um período de inconsciência de várias horas, durante o qual, os membros inferiores suportaram o peso do corpo. As lesões provocadas implicariam uma lenta recuperação preso a uma cadeira de rodas.
Criação de um homem renascido para a vida, Good Morning Spider (GMS) situa-se naquela área nebulosa entre o sono e o despertar, o sonho e a realidade, a vida e a morte. Musicalmente, GMS reflecte também um caleidoscópio de diferentes orientações estéticas. Combinando alta e baixa fidelidade, instrumentos orgânicos e interferências electrónicas, Linkous constrói um conjunto de canções que percorrem a fúria ruidosa, a melancolia profunda, a doçura de autênticas canções de embalar, e a pop escorreita com laivos de americana. O resultado tem tanto de belo como de comovente, não deixando de ser corpo estranho no catálogo de uma multinacional.
Para ilustrar a obrar maior dos Sparklehorse, revelação de um compositor de excepção por estes dias algo menosprezado, deixo-vos um dos temas de eleição para encerramento das minhas raras incursões pela área do deejaying:

"Sick Of Goodbyes"

domingo, 20 de julho de 2008

Duerme ahora feliz, feliz

SERGIO ALGORA
(1969-2008)

"A pop espanhola dos anos 90 não pode ser entendida sem El Niño Gusano. O grupo mesclava a pop de melodia irresistível com umas letras surrealistas de uma forma extremamente pessoal, convertendo-se numa banda única, difícil de catalogar, e de grande influência para os que se seguiram. O seu vocalista, e responsável por aquelas letras incomparáveis, Sergio Algora faleceu na madrugada do dia 8 de Julho em Saragoça aos 39 anos de idade." in Diario Publico

Nascido e criado em terras raianas, tive desde muito cedo um contacto privilegiado com a cena indie do país vizinho, que é, ao contrário do que se pensa deste lado da fronteira, uma das mais fervilhantes de toda a Europa. Não terão conta as horas passadas na sintonia da incomparável Radio 3, estação pública que me revelou inúmeras bandas espanholas. De entre todas, sempre tive um carinho especial pelos aragoneses El Niño Gusano, banda que julgo estar ao nível do melhor da produção anglo-saxónica. Após a dissolução, em 1999, e antes da falha cardíaca fatal, Sergio Algora fundou ainda os igualmente recomendáveis Muy Poca Gente e La Costa Brava.

El Niño Gusano "Pon Tu Mente Al Sol" [Grabaciones en el Mar, 1996]

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Going blank again #26














RINGO DEATHSTARR*

Origem: Austin, Texas (US)
Período de actividade: 2005-
Influências: The Jesus and Mary Chain, My Bloody Valentine, Slowdive, Primal Scream
A ouvir: Ringo Deathstarr EP (SVC, 2007)

MySpace

* A música é bem melhor do que o nome...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mercúrio a subir

Mais de três anos depois do frouxo The Secret Migration, os Mercury Rev estão de volta aos discos, não com um, mas sim dois álbuns de originais: a 29 de Setembro sai para as lojas Snowflake Midnight, no mesmo dia em que Strange Attractor é disponibilizado para download gratuito no sítio oficial da banda desde há muito fixada nas Catskill Mountains, estado de Nova Iorque.
Jonathan Donahue e Grasshoper, os dois principais instigadores, descrevem o "disco convencional" (uma vez mais produzido por Dave Fridmann) como algo de inocente, intuitivo, mas simultaneamente perigoso e apaixonado, revelador das forças de simetria e do caos que comandam a Vida. Considerações metafísicas à parte, de palpável, para já, temos "Senses On Fire", o primeiro tema divulgado deste novo disco: exercício kraut que faz a ponte entre os devaneios sónicos dos primeiros tempos e os ambientes pastorais abordados do soberbo Deserter's Songs (1998) em diante. É com algum regozijo e muita expectativa que vos apresento o melhor pedaço de música da história recente dos Mercury Rev. Ready or not, here I come:



P.S.: A 29 de Novembro próximo, os Mercury Rev "aterram" na Aula Magna da UL, naquele que será o encerramento da sua digressão europeia. Perspectiva-se a reedição de um dos melhores concertos da minha vida...

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Da Nova Zelândia com humor

Foto: Amelia Handscomb

Bret McKenzie e Jemaine Clement são dois comediantes neo-zelandezes já com dez anos de carreira como Flight of the Conchords (FotC), uma espécie de folk duo com que fazem os seus espectáculos. O crescente sucesso além-fronteiras dos seus números humorísticos de palco, valeu-lhes em 2004 um contrato com a reputada BBC para um show radiofónico. Em 2007 dá-se o salto para o pequeno ecrã com uma série para a HBO, transmitida por cá no canal por cabo FX.
Em cada episódio da série retratam-se as peripécias do duo de músicos que tentam a sua sorte em Nova Iorque, sempre com muitas canções pelo meio.
Alguns desses temas foram agora compilados num álbum homónimo lançado pela Sub Pop Records, editora já reincidente em discos de comédia, género com um mercado significativo nos Estados Unidos.
Com um humor inteligente e ácido, as canções dos FotC parodiam uma miríade de situações, muitas vezes ligadas ao mundo da música: a cena hip hop, o reggaeton, as baladas xaroposas, o sexismo de alguma soul, e a supressão de palavras ofensivas em músicas censuradas, mas também, a aprendizagem de línguas através de dicionários para turistas, ou o futurismo outrora associado à chegada do ano 2000. Percorrendo mais géneros do que um disco dos Magnetic Fields, os 15 temas de FotC revelam-se também um óptimo quiz musical à medida que vamos reconhecendo traços da música de nomes como Marvin Gaye, Black Eyed Peas, David Bowie, Radiohead, Pet Shop Boys, Prince, Shabba Ranks, Barry White, ou até mesmo os Sparklehorse! Portanto, algo do género das Fake Songs de Liam Lynch, mas com muito mais substância.
Enquanto não se decidem pela sua aquisição, que pode proporcionar muitos momentos de boa-disposição ao vosso Verão, podem ouvir FotC na íntegra aqui. Como isco, deixo-vos um camaleão muito especial.

"Bowie" [HBO, 2007; Sub Pop, 2008]

terça-feira, 15 de julho de 2008

Ao vivo #23




















Bonnie 'Prince' Billy @ ZdB, 12/07/2008

Na prateleira contam-se dois discos da fase Palace, o disco gravado a meias com Matt Sweeney, e três álbuns do alias Bonnie 'Prince' Billy (B'P'B), algo que faria de mim um expert de qualquer outro artista, mas que representa apenas uma pequena parcela da obra de Will Oldham.
Como tal, não conhecendo uma boa parte das canções que preencheram o concerto do passado sábado, depreendo que muitas pertençam ao último Lie Down In The Light, disco que ainda não ouvi mas do qual tenho lido recensões bastante elogiosas.
Como muitos, imaginava Oldham um ser soturno, algo que se ficará a dever ao imaginário que povoa as suas canções. Quando entra em palco, de calças arregaçadas e chinelos, qual apanhador de conquilhas, percebemos o quanto essa imagem pré-concebida era falsa. À medida que vai cantando, com aquela voz profunda, que ao vivo supera a captação em disco, ergue o braço que se encontra livre, revira as mãos, e chega até a ensaiar alguns passos de dança, revelando uma faceta teatral inaudita. Para desfazer definitivamente uma réstia de dúvida, na apresentação dos músicos que o acompanham (um percussionista, um contra-baixista, uma violinista, e um guitarrista, com estes dois últimos a darem também um contributo nas vozes), tem até algumas tiradas de um apurado sentido de humor.
E o que dizer das quase duas horas de música no seu estado mais puro, interpretada de forma irrepreensível e com uma paixão invulgar? Pouco há para dizer, muito para sentir, como alguém já disse noutras ocasiões.
No alinhamento escolhido, B'P'B foge ao óbvio, não tocando alguns dos seus temas mais populares, como "I See A Darkness" e "The Way". O público, que mais uma vez esgotou a sala da ZdB, ordeiro e rendido, não reclama, limita-se a aplaudir. Já perto do final, viria a cereja no topo do bolo, com uma interpretação em estado possuído de "Carry Home", original dos grandes Gun Club do malogrado Jeffrey Lee Pierce, tema que já mereceu um soberba versão de Mark Lanegan, outro intérprete do lado obscuro da América. Para a despedida, estava guardado um "boa noite" com pronúncia de fazer inveja a José António Camacho.
Talvez porque o bilhete não fizesse qualquer menção ao facto, não sabia que o espectáculo exigisse indumentária adequada. Envergando uma t-shirt amarela, não pude evitar alguns olhares de soslaio...
Sensivelmente à mesma hora que Will Oldham destilava magia, consta que, nos subúrbios de Lisboa, um cidadão do país da folha de acer escrevia uma parte da História dos concertos em Portugal. É nestas alturas que gostava de ter o dom da ubiquidade...

Good cover versions #9









DROP NINETEENS "Angel" (Caroline, 1992)
[Original: Madonna (1984)]

Depois de anos a penar em bandas medíocres (olá Breakfast Club!) e clubes nocturnos de má-fama, ao segundo disco, Madonna alcançava finalmente o almejado sucesso planetário. Por esses dias, Mrs. Ritchie não era ainda a raposa matreira da actualidade, sempre disposta a sugar muitas das ideias de gente mais jovem em proveito próprio. Os primeiros passos na construção do ícone deram-se com temas imberbes, de letras algo tolas, como é o caso do tema em apreço. À data da sua edição em single - em 1985 - "Angel" obteve um sucesso considerável, um pouco a reboque dos anteriores sucessos extraídos do álbum Like A Virgin. Hoje, compreensivelmente, é um tema algo esquecido da carreira de La Ciccone.
Oriundos de Boston, os Drop Nineteens foram, quase em exclusivo, representantes da (primeira) vaga shoegazing em território norte-americano. Na sua curta vida, em momento algum estiveram perto do chamado sucesso, embora Delaware seja um dos melhores exemplares daquele género que marcou os primeiros anos da década de 1990. É precisamente nesse longa-duração de estreia que podem encontrar este remake completamente adulterado de "Angel", no qual a melodia simples do original é substituída por carradas de distorção. A voz, doce e afogada nas paredes de ruído, ao bom estilo shoegazer, acaba por disfarçar a vulgaridade da letra, criando até um certo efeito hipnótico derivado da repetição abusiva do refrão.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ao vivo #22

Optimus Alive!08, 10/07/2008

Passados todos os testes à paciência de qualquer pessoa sensata (compra de bilhete da CP, compra do bilhete do dia pela módica quantia de € 45,00, primeiro controlo das entradas, segundo controlo igualmente caótico e dispensável, terceiro controlo para apresentação do bilhetinho, ufff!), com cerca de meia hora de antecipação, lá estava eu dentro do recinto do Alive! pronto para o único concerto que me arrastou aos subúrbios lisboetas numa tarde de quinta feira. Outros não tiveram a mesma sorte...

Atendendo à mole humana que o recinto receberia horas mais tarde, a hora marcada para o concerto dos Spiritualized poderá até ter sido a mais propícia para disfrutar da música de Jason Pierce & C.ª em condições decentes. À parte alguns putos barulhentos a reservar lugar para assistir à revolução encenada marcada para o fim da noite, a assistência do primeiro concerto "a sério" no palco principal era constituída por escassos conhecedores da obra de Pierce. Como seria de esperar num espectáculo com estas características, em palco são poucos os sinais daquela grandiosidade que assoma nos discos dos Spiritualized, compostos na ocasião apenas pelo quinteto nuclear, ao qual se juntam, na maioria dos temas, duas cantoras negras nos coros gospel. Como seria de esperar, o concerto que os trouxe a Portugal foi baseado no recente Songs In A&E, do qual tocaram, entre outros, "Sweet Talk", logo a abrir, e o single "Soul On Fire". Não obstante as limitações impostas pela curta duração do show, houve ainda algumas viagens ao passado. Logo ao segundo tema, Pierce transporta-nos até ao longínquo ano de 1992 com o sublime "Shine A Light", causador daquilo a que se costuma chamar pele-de-galinha neste que vos escreve. Mas os verdadeiros momentos de apoteose ficariam guardados para a parte final, primeiro com uma versão expandida do clássico "Come Together" e, mesmo a fechar, o explosivo "Take Me To The Other Side", creditado aos míticos Spacemen 3, banda prévia de Pierce. Com doses bem medidas de quase-silêncio e espasmos deliberados de ruído, os cinquenta minutos de concerto provocaram alguma desorientação na grunhice junto às grades que, ora em sinal de estupefacção, ora de reprovação, ia observando, alternadamente, palco e público. [8,5/10]

Depois de os ter visto há quase um ano no Sudoeste, a motivação para ver os The National era moderada. Ainda assim, optei pela banda de Matt Berninger, em detrimento dos MGMT que, à mesma hora, actuavam no palco secundário. Com menos histeria na plateia do que o esperado, na primeira metade do concerto ficaram patentes algumas das lacunas da voz de Berninger, demasiado "enrolada" e a denotar alguma inaptidão aos temas mais calmos. Será essa, aliás, a grande pecha do último Boxer, mais evidente em audições repetidas. Já na metade final, beneficiando também de uma banda que parece entrar nos eixos, os The National estiveram ao seu melhor nível em temas como "Abel" ou "Mr. November". [6,5/10]

Do circo Gogol Bordello fiquei para ver apenas o que julgo ser a parte de um tema. As mudanças de ritmo constantes e despropositadas, não permitem ter muitas certezas. Pelo canto do olho, deu para ver que os cobre arrecadados já deram para o velhinho comprar um violino de fazer inveja à Vanessa Mae. Verifiquei também que o palhaço-mor tinha também umas calças novas. Escusado será dizer que o público reagiu à altura dos acontecimentos, ou não fossem os Gogol Bordello a banda ideal para festivais, conforme Decreto-Lei publicado em Julho de 2007... Mano Negra, já alguém ouviu falar?! [1/10]

Sem que tenha feito muito por isso, com esta são já duas a vezes que os suecos The Hives se atravessam no meu caminho. E, se querem que lhes diga, não me importo nada que haja uma terceira. Divertidos, enérgicos, inteligentes, estes rapazes, embora não o pareça, trazem a cartilha do rock'n'roll na ponta da língua. Figura de proa é, obviamente, o frontman Howlin' Pelle Amqvist com as suas tiradas de um humor requintado, não raras vezes, impregnadas de alguma provocação, nem sempre inteligíveis para a maioria do público. Na memória ficam as respostas adequadas a dois dos presentes, impacientes pelo segundo número circense da noite. Atrás de mim, alguém que parecia estar a apreciar o concerto, reagiu à atitude do vocalista como se este tivesse acabado de cometer um crime de lesa-pátria. Será, talvez, nestas reacções que se vislumbra a obra dos cinco anos de pontificado de Scolari... E, pergunto eu, será que alguém se deu conta do tributo descarado aos Ramones em "Return The Favour"? Atendendo à quantidade de t-shirts dos ditos, não deixa de ser pertinente a pergunta. [7,5/10]

A única incursão pelo palco secundário aconteceu já na parte final do concerto dos Hercules and Love Affair, uma dos mais patéticos "fenómenos" do ano. Pelo que vi, esta malta gosta de misturadas de alguns dos sons que fizeram abanar os corpos nas últimas décadas: disco sound, uma pitada de funk, mutant disco, e acid jazz. Os resultados são inconsequentes, para não dizer catastróficos. Ah, mas a enguia de vestidito azul era bem vistosa... [1,5/10]

Enquanto engolia a última cerveja da noite, acabei por ficar para ver um pedacito do principal motivo de tamanha afluência de público no primeiro dia do Alive!: os Rage Against the Machine, banda que, em tempos de gosto indefinido consumi em doses moderadas. Hoje, quem me conhece, sabe que no que toca a Public Enemy prefiro os originais - os pretos - e não a versão mal-amanhada-made-by-MTV-para-brancos-que-não-apreciam-hip-hop. Aborrecido, previsível, poseur, monótono, são alguns dos adjectivos que me ocorrem, e que me podem valer o linchamento público... [2/10]

sábado, 12 de julho de 2008

Duetos #4

Assinalando a segunda noite consecutiva dele, na mesma sala onde ela brilhou há coisa de um mês e tal. As expectativas são, obviamente, altas...

Scout Niblett & Bonnie 'Prince' Billy "Kiss" [Too Pure, 2007]

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Going blank again #25


















THE VANDELLES

Origem: Brooklyn, Nova Iorque (US)
Período de actividade: 2005-
Influências: The Jesus and Mary Chain, Spacemen 3, The Beach Boys, Ramones, The Velvet Underground
A ouvir: The Vandelles EP (Safranin Sound, 2007)

MySpace

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ladies and gentlemen, I'll be floating in space

Até hoje, estive indeciso. Mas, no final, a paixão pela música de Mr. Spaceman falou mais alto, mesmo a horas impróprias para o seu consumo nas condições desejáveis.
Assim sendo, amanhã lá estarei para incrementar os dividendos de uma promotora que ignora por completo o estatuto das bandas que contrata. Sobre os restantes dias não me pronuncio, mas a ordem das bandas no primeiro dia do Alive! 2008 tem tanto de autista, como de demonstração inequívoca da vontade de capitalizar o recente fenómeno nationalista, para posterior oferta às massas ad nauseum. Qualquer leigo da Economia chegaria à mesma conclusão: concertos com bandas baratas, de preferência populares, traduzem-se em maiores ganhos.
E eu que nunca pus em causa a dedicação do Sr. Covões à música... Só é pena que, neste País, abundem exemplares da mesma espécie...


Spiritualized "Come Together" [Dedicated, 1997]

terça-feira, 8 de julho de 2008

O que diria Shakespeare?

No activo desde 2005, os Titus Andronicus (TA) só agora chegam ao debute em formato longo. Quando ouvimos The Airing Of Grievances, e nos damos conta da maturidade evidenciada por estes cinco rapazes na casa dos vinte e poucos, só podemos concluir que o período de estágio foi proveitoso. Mistura enérgica de citações que vão dos Guided by Voices a Springsteen (ou não fossem os TA oriundos de New Jersey...), do indie rock clássico ao lo-fi, com uma voz a fazer lembrar o wonder-boy Conor Oberst em dia de má-disposição, The Airing... é, para já, uma das estreias recentes mais aplaudidas por estas bandas. E, ao contrário do que se possa pensar, muito mais do que a soma das partes.
No que respeita a referências "culturais", esta rapaziada não se fica pela tragédia de Shakespeare à qual foram buscar o nome: nas nove canções que compõem o álbum, poderão encontrar, entre outras, alusões a pintores renascentistas flamengos e a escritores absurdistas fraco-argelinos.
I'll play it loud, if you don't mind.

Titus Andronicus no MySpace

They used to call him tricky kid

Não obstante a desorientação que se seguiu aos quatro primeiros discos (Nearly God incluído), Tricky será sempre o "meu" génio de Bristol, e um dos poucos músicos que consigo ver como tal nas últimas duas décadas.
É pois com agrado que observo o regresso do maverick ao trilho certo com o oitavo álbum de originais, e primeiro para a Domino Records. Ao bom estilo biográfico trickiano, Knowle West Boy é, simultaneamente, um tributo ao bairro onde nasceu e cresceu, e aos sons que constituíram a banda-sonora desses primeiros anos de vida. Isto, trocado em miúdos, significa uma miscelânea esquizóide de rock, música jamaicana, urgência post-punk, hip hop tresmalhado, pianadas maradas a la Tom Waits, homenagens mais ou menos óbvias aos grandes The Specials, e até uma versão de um original de Kylie Minogue! Tudo, é claro, abrilhantado por um selecto rol de vocalistas convidadas.
Aviso desde já os mais entusiasmados que o novo disco não é propriamente um novo Maxinquaye, mas que é muito bom, lá isso é! Para ouvir repetidamente sem contra-indicações e com alguma saudade...

Tricky no MySpace

segunda-feira, 7 de julho de 2008

For all the fucked up children of the world #5

Sleater-Kinney "Jumpers" [Sub Pop, 2005]

"My falling shape will draw a line
Between the blue of sea and sky
I'm not a bird
I'm not a plane

I took a taxi to the Gate
I will not go to school again
Four seconds was
The longest wait."

O uivo do falcão

A imagem acima reproduz a capa de Batcat, o extended play que antecede em quinze dias The Hawk Is Howling, o sexto álbum dos escoceses Mogwai com edição prevista para 22 de Setembro.
Este EP tem a particularidade de contar com a colaboração do lendário Roky Erickson numa das suas três faixas. Quanto ao álbum, a julgar pelo tema disponível no MySpace, parece evidenciar um maior recurso às ferramentas electrónicas em abono da melodia.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Going blank again #24














SCREEN VINYL IMAGE

Origem: Washington DC (US)
Período de actividade: 2007-
Influências: My Bloody Valentine, Curve, Suicide, The Jesus and Mary Chain, cold wave electronica
A ouvir: The Midnight Sun EP (Safranin Sound, 2007)

MySpace

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Terceiro colapso

Foto: David Needleman

Para além de serem um dos nomes que engrossa o catálogo da Sub Pop Records, os nova-iorquinos Oxford Collapse são também uns dos principais responsáveis no presente pela revitalização do indie pop mais "académico". Na currículo têm já alguns EPs e dois álbuns, anunciado-se a edição de um terceiro para o próximo mês, Bits de sua graça.
Depois de passarem os olhos pelo vídeo deste tema irresistível do anterior Remember The Night Parties, suponho que queiram vasculhar mais aqui.

"Please Visit Your National Parks" [Sub Pop, 2006]

terça-feira, 1 de julho de 2008

Renascidos a 4 de Julho

Foto: Rob Bennett / The New York Times

Conforme noticia a edição online do The New York Times, os míticos The Feelies regressam à vida nesta semana. Para já, o renascimento desta banda surgida em 1977 no estado de Nova Jérsia, resume-se a três concertos: hoje e amanhã em Hoboken (terra-natal dos Yo La Tengo, também no estado de NJ) e sexta, 4 de Julho, em Nova Iorque a abrir para os Sonic Youth. Este último concerto resulta de um convite de Thurston Moore, lembrando-se da especial apetência dos Feelies dos primeiros tempos para tocar em dias feriados.
Para que conste, lembro que os Feelies deixaram uma descendência comum à dos Mission of Burma - de que vos falei ontem - muito por obra do seminal disco de estreia: Crazy Rhythms, de 1980. No entanto, o line-up da actual formação é o mesmo da última aparição pública, em 1992, não integrando Anton Fier, o baterista que abandonou o barco logo após a edição daquele disco para se dedicar aos Golden Palominos.
Resta acrescentar que os ingressos para as três datas da banda liderada por Glenn Mercer esgotaram num ápice.

"Crazy Rhythms" (live)